Bitolar escrita por Morango do Nordeste


Capítulo 6
Capítulo 6 - DD Love


Notas iniciais do capítulo

Mais revelações nesse capítulo. Espero que gostem.



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– Chefe?

– Fala, Juarez.

– Larga essas papeladas do caso do playboy. Tem algo bem melhor que acabou de chegar da assistência técnica.

– É o notebook?

– Isso mesmo. O Zé ainda tá aí. Ele quer te mostrar umas coisas.

Hamilton rapidamente foi até uma sala que ficava mais ao fundo da delegacia e encontrou um velho colega seu:

– E aí, Zé? Como vai a esposa e a filhinha?

– Muito bem, Hamilton. Mas vem aqui. Quero te mostrar umas coisas.

Hamilton se acomodou na cadeira ao lado de Zé e rapidamente o outro logou na conta do facebook de Ayla Dornelles.

– Ei, não tem como ninguém ver o perfil dela online, não?

– Relaxa, já dei um jeito nisso. Agora veja essas mensagens.

Zé clicou num remetente e voltou a primeira mensagem:

– DD Love? Isso não parece ser nome de pessoa.

– E não é. É um fake com inspirações na cantora Dami Lovato. Estrela da Disney. Levei uma coça pra descobrir o que era. Agora veja a data.

– Dia três do mês passado. Bom, agora vamos ler.

DD Love - Sua vagabunda, melhor largar seus pingentinhos do colar de trouxas antes que eu arrebente essa sua cara sonsa.

– Ayla não respondeu essa mensagem.

– Ela não responde por um bom tempo. Até que o dia vinte e oito do mês passado.

DD Love - Sua piranha, já te mandei largar seus brinquedinhos. Você acha que isso é brincadeira? Sei onde você tem se encontrado com o mais novo trouxa e estou a um passo de ir acabar com a festinha no chalé de vocês.

Ayla – Olha, acho melhor você parar de me perseguir. Isso é muito doente. Vai viver sua vida antes que eu resolva levar essas mensagens na polícia, ok?

DD Love – Você ainda não está me levando a sério?

Hamilton olhou uma imagem de Ayla sentada no carro de Ônix, vestida com uma roupa preta e óculos escuros. Estava escuro e o ambiente parecia ser o da garagem do chalé. Estava escrito na foto com letras brancas e garrafais “Estou mais perto do que imagina”.

DD Love – E se você for na polícia, a cidade inteira vai ver isso daqui:

Era uma colagem de Ayla beijando quatro homens diferentes. Isaac, Enzo com o cabelo ainda comprido – Hamilton sentiu como se tivesse ganhado uma aposta - Murilo e Ônix.

DD Love – Ainda vou fazer um manual de como ser uma vagabunda feito você e mesmo assim não ser taxada de piranha pela sociedade.

Ayla – Você é doente.

DD Love – Você se acha melhor do que eu? Brincando com o artistazinho? Ele é suicida, sabia, vadia? Qualquer gracinha sua em um dia que ele esqueceu o remedinho e você vai ter um corpo pra limpar na calçada daquele cortiço onde vcs trepam.

Ayla – Quem é você? Como sabe essas coisas? Para de se esconder numa tela de computador e mostra essa sua marra pessoalmente.

DD Love – Mas é claro que não. É muito divertido ver a poderosa Ayla com medinho. Tô na sua cola, vagabunda. E se você não der um jeito de libertar esses cachorrinhos rapidinho, não vão ser só uns tapinhas que vou te dar não.

Ayla – O que você quer dizer com isso?

DD Love – A vida inteira você oprimiu as pessoas e as controlou. Ninguém vai sentir sua falta se você sumir.

– Agora, preste atenção. Entrei no e-mail dela. Pensei que não fosse dar em nada, porque jovens não costumam usar e-mail. Mas a garota me surpreendeu. Ela salvou todas mensagens da DD Love e colocou para um destinatário: gdragonmyhusband@hotmail.com. A mensagem só iria ser enviada caso a conta ficasse um mês inativa. No corpo da mensagem tá escrito assim:

Não confio em mais ninguém. Mantenha isso em segredo, mas caso algo aconteça comigo, mostre isso para a polícia. Só você pode me ajudar.

– Isso tudo é muito interessante. Mas você consegue descobrir quem são essas pessoas?

– Consigo descobrir de onde elas mandam mensagens. O que já ajuda e muito. A DD Love mandava mensagens da Lan House local. É só pegar a data e a hora de alguma mensagem e ir lá que eles olham no sistema interno. Já o destinatário do e-mail, complicou um pouco. Descobri que fica a duas horas de distância da cidade.

– Mas se já podemos descobrir quem estava ameaçando, já pegamos a DD Love.

– Sim e não. Duvido que DD Love seja burra ou burro o suficiente para se entregar assim. Mas quem sabe? Você pode dar a sorte. DD Love pode não ser a assassina também.

– Como sabe que é ela?

– Eu não sei, só tive a impressão.

– Obrigado, Zé. Me ajudou muito. Essa pista é ótima.

– Por via das dúvidas, vou tentar falar com a dona do e-mail.

– Enquanto você tenta falar aí, vou na Lan House. Vamos, Juarez.

Juarez pareceu em êxtase com a possibilidade de sair da abafada delegacia um pouco. Seus olhos castanhos brilhavam intensamente.

– Vai me deixar dirigir dessa vez, né chefe? Você prometeu da última vez.

– De jeito nenhum. Você é um perigo para a sociedade.

O caminho até a Lan House foi rápido. Hamilton sentia sua ansiedade crescer a cada metro percorrido. Não ajudava muito ver Juarez quase pulando. O assistente parecia pensar que vivia num eterno CSI e que cada passo da investigação era surrealmente incrível. Ele costumava rir escondido de tanta animação, mas percebia que tal traço em seu assistente fazia o trabalho muitas vezes mais leve em situações amargas.

– Chegamos, Juarez. Fique em pose de segurança que eu converso.

A pose de segurança consistia em flexionar os músculos e utilizar uma expressão facial levemente ameaçadora.

– Boa tarde. Meu nome é Hamilton, sou investigador da polícia local e vim aqui atrás de uma informação.

– Olá. Sou Carlos e trabalho aqui. No que posso ajudar?

– Carlos, você pode me dizer quem estava online no dia vinte e oito do mês passado, às dezenove horas e trinta e quatro minutos e que ficou até dez para as oito da noite?

– Só um minuto.

Carlos começou a digitar velozmente no computador central. Hamilton sentia a cada segundo como se uma bomba fosse explodir.

– Bom, tínhamos três pessoas online nessa hora: Anna Silva, Júnior Andrade e Ônix Dumont.

– O quê? Ônix Dumont?

– Sim. Estranho, né? Essa família é milionária. Ele deve ter mais computadores em casa do que essa Lan House.

– Agora, confere aí pra mim: dia dois desse mês, às catorze horas e nove minutos.

Mais digitação nervosa e um Hamilton profundamente intrigado. Diversas perguntas se amontoavam em sua mente, gritando por respostas. Respostas que ele encontraria de um jeito ou outro.

– Cinco pessoas estavam online, Senhor Hamilton. Entretanto, só uma delas se repete.

– E quem seria?

– Ônix Dumont.

Hamilton esperava uma saída diferente, mas aquilo reafirmava uma relação estreita entre os assassinatos de Ayla e de Ônix.

– Ayla? O que está fazendo aqui?

– Ah, oi, Conrado.

Ayla rapidamente soltou o notebook que segurava e sentou-se na cama de casal que anteriormente repousava.

– Eu finalmente saí do seu quarto.

Ela sorriu meio nervosa. Mas logo o sorriso desmanchou-se em uma expressão séria.

– Eu ia te avisar, mas você não tinha chegado ainda, e estava meio tarde... Resolvi vir deitar.

– Eu estava na casa de um colega da faculdade terminando um trabalho. Por isso cheguei tarde.

Conrado permanecia em pé, meio desconsertado. Um clima estranho tinha se abatido entre os dois e não parecia fácil quebrá-lo.

– Eu soube que a pegada não era nem sua e nem do Ônix.

– Eu sei. Foi um alívio para mim.

Conrado finalmente resolveu sentar-se ao lado da menina. Parecia resignado e de orgulho totalmente ferido.

– Fui um idiota com você de novo. Me desculpe.

– Isso já está se tornando comum.

O homem deu de ombros e Ayla suspirou triste.

– Mas eu finalmente estou entendendo o que você queria dizer sobre mim.

Ayla puxou o notebook que anteriormente estava mexendo, e com alguns toques no aparelho retirou a tela de descanso. Conrado rapidamente reconheceu a rede social mais usada.

– Está se conhecendo, então?

– Não consigo acreditar que eu possa ser assim. Eu estava dando em cima de um professor descaradamente e ao mesmo tempo namorado outro. E ainda arrumava tempo pra brincar com um cara depressivo. E ainda tem toda essas história do Ônix, que por algum motivo eu queria manter secreta.

– Esse era seu estilo. Te aconselho a olhar suas conversas com a Pérola. Ela era sua grande amiga. Te dava cobertura nessa bagunça.

– Eu vi... E sabe? Eu era cruel com ela também. Sempre dava um jeito de criticar elogiando, entende?

– Sim. Você vivia colocando a menina pra baixo.

– Não é algo legal para se fazer com uma amiga.

– A relação de vocês era mais uma parceria que uma amizade.

– Acho que você tem razão.

Ayla suspirou novamente e encostou sua cabeça no ombro de Conrado. Ela parecia frágil. De algum jeito, Conrado achava-a muito sexy naquele momento. Tinha haver com o fato dela não estar tentando ser sensual, como era o costume. Aquilo o atraía e baixava sua guarda. A mão levemente calejada do mesmo, como que por vontade própria se enroscou nos cabelos castanhos.

A mesma mão, aos poucos, deslizava e tocava o pescoço arrepiando a menina. Tocando e acariciando de leve as orelhas pequenas de um jeito que estava além do carinhoso. Ayla poderia ronronar, como um gato, ou poderia atacá-lo como uma onça.

Pareceu natural, até mesmo instintivo, que ela se virasse e o beijasse com uma urgência sôfrega e intensa. Nada era pensando ou planejado em tal momento, mas os corpos se colaram e foram se inclinando até que Ayla estivesse deitada por cima dele beijando-o o pescoço com vontade e ele a segurasse com força.

A temperatura do quarto subia, e o desejo crescia junto. Os beijos eram cada vez mais urgentes, as respirações cada vez mais ofegantes e descompassadas. Ayla podia sentir a excitação firme de Conrado em sua coxa, e aquilo a umedecia de uma forma desesperante.

Nenhum dos dois pensava nos adultos que ficavam a duas portas de distância, ou em sua convivência que ficaria além do esquisito depois de tal momento. Existia apenas o fogo que era cada vez mais alimentado. Conrado puxava o cabelo dela com uma brutalidade excitante em busca de uma orelha que seria beijada.

Ayla, de algum jeito, conseguiu tirar a camisa dele com facilidade, enquanto sentia as mãos do mesmo em sua nádegas, apertando-as com uma intensidade que a fazia gemer. Em tal momento, ambos estavam sentados novamente, com seus sexos se encostando pelas roupas.

Com sua força, Conrado a jogou na cama de casal pela lateral e pulou em cima dela, buscando seu pescoço, onde mordia levemente. Ayla, entre seus gemidos tentava falar:

– Você me dá um tesão louco.

Quando Ayla acabou de falar, foi como se um alarme tivesse disparado. Conrado, ainda por cima dela, a olhou fixamente e depois piscou várias vezes seguidas. E quando finalmente pareceu ter percebido por completo onde estava, com quem e o que estava fazendo, levantou-se rapidamente em busca da camisa. Seus lábios pareciam trancados e Ayla sentia-se extremamente confusa.

– Conrado?

O menino continuava na busca pela camisa em silêncio, e Ayla sentia que o mesmo silêncio era perigoso.

– O que foi? Algum problema?

Foi como se uma corda esticada finalmente se partisse. Em tom totalmente raivoso e indignado, Conrado disse:

– Algum problema? Algum problema? O problema é você sua manipuladora diabólica! O que você estava tentando fazer, heim? Arruinar minha vida?

– O quê? Você ficou louco?

– Você é que ficou, se pensa que pode me beijar e me enfeitiçar pra dormir com você!

– Conrado? Você perdeu o bom senso?

– Você nunca mais tente isso de novo comigo, ouviu?

– Que eu tenha percebido, você estava bem animadinho também.

– É claro que eu estava, eu sou homem!

– Ah, e a culpa é minha né? Você podia ter me afastado, mas não, me segurou forte e não disse uma palavra.

– Você me atacou, sua tarada. Estou te dizendo com todas as letras que eu não quero nada com você, ouviu? Já te disse isso uma vez, mas parece que você esqueceu, não é?

A última frase, foi dita em total tom de deboche. Foi como se fogo subisse pelo o corpo de Ayla, que sentiu uma raiva ainda maior que a de ser rejeitada.

– Como pode me fazer acusações depois do que aconteceu aqui? Quem você acha que eu sou?

– Me diga você, quem você é. Anda. Quebre seu disfarce perfeito de desmemoriada.

– Eu... Eu não sou mais quem você pensa. Mas também não sou otária. Eu tentei ter uma boa convivência com você, mas tudo que consegui foram acusações e julgamentos. Estou na sua casa, mas nem por isso significa que estou morta. Sai daqui, seu babaca.

– Com o maior prazer.

Conrado saiu batendo a porta com força e Ayla rapidamente a trancou. Sentia tanta raiva, e estava tão amargurada, que sentia vontade de sair do quarto, descer as escadas e socar a cabeça de Conrado com todos os bibelôs que Flora mantinha na sala da casa. Entretanto, ela teve de se contentar em socar o travesseiro até que perdesse o fôlego.

Quando se olhou no espelho, viu-se descabelada, com a boca inchada e o pescoço cheio de vergões vermelhos. Ela teve mais um ataque de raiva contra os travesseiros e almofadas, mas por fim o corpo em recuperação pediu arrego e deitou-se na mesma cama onde quase tinha feito sexo.

Foi estranho pensar nisso. Parecia difícil conseguir dormir ali agora, se lembrando do que quase acontecera. Era difícil saber se estava mais desapontada por não ter terminado ou pelo comportamento grotesco de Conrado. Pareceu que conversar consigo mesma era necessário:

– A culpa é toda sua, sua tonta.

Mais uma vez, os travesseiros não foram poupados.


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Notas finais do capítulo

Sem trechinho do próximo capítulo porque estou sofrendo um bloqueio terrível em um trecho. Entretanto acho que consigo sair disso logo. Talvez o próximo capítulo atrase um pouco, talvez não...
Obrigada por todos os comentários.
beijinhos e até o próximo.



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