Bitolar escrita por Morango do Nordeste


Capítulo 11
Capítulo 11 - O mesmo lugar, três homens.


Notas iniciais do capítulo

Ficou curtinho também, mas não podia me demorar mais, pois o próximo vai ter importantes revelações.



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– Ayla? O que está acontecendo aqui?

O braço da mesma formigava intensamente. Murilo parecia prestes a atacá-la. Mas então uma voz interrompeu o contato e finalmente o homem soltou o braço. Ela soltou a faca que apertava firmemente na mão esquerda alguns segundos depois.

O jovem de cabeça raspada se aproximou e perguntou:

– Tudo bem com vocês dois?

Ayla não encarou Murilo e disse:

– Acho que vai ficar assim que eu for embora.

Prestes a sair, ela pegou a bolsa e o rapaz disse:

– Espera, Ayla. Eu te acompanho. Só vou comprar cigarros.

Murilo acabou por movimentar-se, e jogando um dinheiro sob a mesa, disse:

– Pode ficar. Estou indo. Mas pode ter certeza de que vamos conversar de novo.

Ele passou rápido por ambos e sem olhar para trás bateu a porta da lanchonete. Ayla inspirou profundamente e reparou que os olhos do outro homem estavam fixados em seu rosto. Ela reparou bem e então se lembrou:

– Enzo... Obrigada.

Ele pagou o maço de cigarros e se aproximou dela, tocando de leve na bochecha. Ele ficou um tempo exageradamente longo olhando-a. Até que finalmente disse em um murmúrio:

– Graças aos deuses você está viva. Eu pedi tanto um milagre... Nada tinha mais sentido. Então, sou eu que preciso de agradecer por continuar no mesmo plano e inacreditavelmente na mesma cidade que eu.

Ayla sentiu-se constrangida. A adoração era palpável. Ele dava a impressão de que beijaria seus pés e a carregaria no colo por quilômetros pela oportunidade de tocá-la.

– Eu...

– Shiu... Não precisava falar nada... Eu te entendo.

Ela não se sentia confusa. Ele estava tão confiante e sério que ela realmente acreditava que ele a entendia. E que poderia ser um amigo.

– Acho que você precisa de um amigo que não fique fazendo perguntas. E mais ainda, precisamos de algo mais forte que coca pra engolir os desaforos daquele playba.

Ayla quase o agarrou em um abraço. Mas se limitou a gargalhar enquanto dizia:

– Ainda são duas da tarde...

– Não no Japão.

Ele sorriu divertido, e Ayla viu a intensa melancolia aplainar. Foi contagiante. Ela sorriu de volta. Em pouco minutos eles estavam sentados em uma mesa, bebendo Lagoa Azul em meio a fumaça dos cigarros.

Ayla sentia-se solta. Ele não perguntava sobre o que tinha ocorrido e ela ria. Se envaidecia com os elogios e o tempo passava. Até que uma pergunta mexeu com questões mais complicadas:

– Você amava Lagoa Azul. Por que não se empolgou quando pedi?

Ayla sorriu de um jeito meio triste, e olhando para o fundo do copo disse:

–Esse tempo que passei fora...

Ela deu mais um gole no drink esperando recordar que aquela era sua bebida favorita. Nada. O gosto era bom, mas ela não amava.

–Me mudou de um jeito que nem eu entendo.

Enzo pegou a mão dela e disse:

– Olha, eu te entendo. Sei que está confusa e tem que ficar em silêncio. Eu não queria falar isso, mas estou mais assustado com esse professor obsessivo do que com o louco do Isaac. Mas tome cuidado com os dois, ok? Nem todos entendem que você é um espírito livre.

Ayla sorriu e não retirou a mão do leve contato que mantinha com o bonito jovem.

– Olha, eu gostei disso. Essa nossa amizade. Acho que você é o único que está me entendendo sem me cobrar respostas.

Enzo perdeu a tristeza em seus olhos e disse:

– Claro que sim. Somos amigos, não é? Estou aqui pra te apoiar.

Um sininho bateu e automaticamente os olhos de Ayla se voltaram para a porta do estabelecimento, onde ela viu um Conrado muito sério que observava as mãos de Ayla e Enzo entrelaçadas. Conrado respirou forte e se aproximou dizendo:

– Por que não me falou que estava aqui?

Enzo se levantou e disse:

–Acho que vocês tem muito a conversar. Até mais.

Ele deu um leve beijo no canto dos lábios da mesma e se despediu com um leve aceno. Logo em seguida acendendo um cigarro.

Conrado o observava como um leão observaria sua presa. Ayla não sabia se ria ou se ficava preocupada. Quando o mesmo finalmente havia sumido das vistas de ambos, Conrado tornou a perguntar:

– Por que não me disse que estava aqui? E me explique aquela ligação louca.

Ayla suspirou profundamente e começou a rodar o canudo no copo vazio, então disse:

– O Murilo ficou me cercando na escola. Ficou insistindo pra que eu viesse com ele passar um tempo. Ele já tinha reclamado de você, então não quis que ele soubesse que era você no telefone. Estava tudo bem, mas ele começou a falar umas coisas loucas e eu fiquei nervosa. Estávamos discutindo e o Enzo chegou, me salvou e passamos um tempo conversando.

Conrado retraiu os ombros e pareceu prestes a gritar. Então enfiou a cabeça entre as mãos e passou alguns segundos contando baixinho. Ayla riria se não soubesse imediatamente assim que terminou de falar que estava encrencada.

– Você ficou louca? Sabia que os dois são suspeitos?

– Sim, eu sei, mas eu queria investigar e...

– Você não é detetive. Você se colocou em risco. E nem se deu ao trabalho de avisar o idiota aqui onde estava.

Conrado bufou e olhou pro lado. Ele ocupava o mesmo lugar que tinha sido de Enzo, e anteriormente, de Murilo. Mas com nenhum dos dois ela tinha sentido essa necessidade louca de se explicar e de acertar as coisas.

– Me desculpe. Eu deveria ter te passado uma mensagem com o nome do lugar.

– Era o mínimo, não é? Perdi duas horas procurando você em todos os lugares que vendem comida nessa cidade.

– Ei. Você está bravo comigo?

– Estou revoltado. É diferente.

– Revoltado?

– Meu pai vai ficar louco com isso. Mas não vai dizer “a” com você, porque na cabeça dele você continua sendo uma menininha de vestidinho rosa e lacinhos que vai pro maternal.

Ayla soltou uma leve gargalhada e disse:

– Eu vou falar que a culpa é minha, ok?

Conrado a encarou por alguns minutos, mas por fim disse:

– Não é só isso. Fico me perguntando se você é a mesma de antes.

Ayla pensou um pouco, enquanto se perdia no olhar angustiado do homem a sua frente. Por fim disse:

– Estou descobrindo quem sou. Mas sei que não estou jogando com você, se é isso que te preocupa.

Ele parecia meio quebrado. E disse num quase apelo:

– Estou deixando você entrar na minha vida de novo. Não quero ser só mais um na sua coleção de conquistas.

Ayla riu e pegando no braço direito dele disse:

– Ei, eu que supostamente deveria dizer isso, não?

Ainda sério, ele disse:

– Não. Não sei o que temos. Mas não somos peguetes. Também não somos amigos.

Ela ficou extremamente séria de repente e disse:

– E o que você quer?

– Só sei que não quero ser feito de bobo de novo por você. E também, não quero viver em guerra.

Ayla sentiu seu coração disparado. Mas antes que pudesse perguntar ou falar qualquer coisa, ele se levantou e a puxou pelo braço, dizendo apressado:

– Vamos embora. Quero que você fique de castigo no seu quarto o resto do ano.

– Chefe?

– Fala Juarez.

– Chegaram as informações do cartão do Ônix.

Hamilton levantou o olhar da tela do computador e observou que seu parceiro parecia levemente assustado:

– E o que foi que você achou para estar com essa cara?

– É melhor o senhor mesmo conferir.

Juarez estendeu o papel com a fatura do cartão e conforme o olhar do investigador corria, ele sentia que sua sensação estava correta:

– Ele não estava na cidade nos dias que entraram na Lan House com o nome dele.

– Você não aprece surpreso, chefe.

– E você, está?

Juarez deu de ombros e por fim disse:

– Não. Não fazia sentido nenhum. Um cara rico, indo numa Lan House ameaçara a menina que ficava? Se ele estivesse mesmo planejando fazer algo, não teria usado o próprio nome pra entrar lá.

– Precisamos investigar mais. Deixar o tempo correr e esperar. Quem quer que seja o assassino, em breve ele se mostrará. Com certeza a volta da Ayla o abalou.

– Mas o senhor também não parece preocupado. O que está escondendo de mim?

– Nada, meu caro Juarez. Só sei que mais cedo do que imaginávamos, vamos ter novas informações.

Hamilton sentou-se na cadeira de escritório macia, e cruzou os dedos, mantendo um leve sorriso por debaixo do grosso bigode, que começava a ser salpicado por fios cinzas.

Sua expressão incógnita escondia sua satisfação com a última mensagem que havia recebido em seu e-mail. Um número de telefone celular que o levou até uma importante testemunha. Alguém que estava longe e tinha se disposto a vir até aqui, somente para ajudar na investigação do caso.

À cerca de três horas de distância, uma menina de cabelo loiro escuro, com mechas pink, verde limão e azul piscina, subia em um ônibus, usando uma touca bege com pompom, maquiagem muito preta nos olhos, calças largas azuis escuras e uma mochila de coelhinho.

E dentro dessa mochila, a mais vital e importante pista sobre o misterioso caso se encontrava embrulhada dentro de um lenço cor de rosa.

A menina pegou o telefone e rapidamente discou dizendo:

– Mano, tô indo praí. Vai me pegar na rodoviária. Tô saindo agora. Mas vê se larga de ser muquirana e paga um taxi. Não tô afim de andar nem um pouco.

A menina suspirou algumas vezes enquanto ouvia a voz incessantemente questionadora:

– Tá, tá bom.. Só vai me pegar, ok? Beijo, Enzo.

A menina acomodou-se no lugar destinado e olhando para janela, tocou uma gotícula de água que escorria pela janela.

– Só não queria que tivesse escondido tanta coisa de mim. Faria as coisas mais simples.

Ela percorreu o mesmo caminho da gota pela janela, até que ela ficou longe de seu alcance, então suspirou pesadamente, e acomodou sua cabeça na mochila de coelhinho.


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Notas finais do capítulo

Bom, gente, teremos apenas mais quatro capítulos. E talvez um especial... Estou bem ansiosa com a resolução do mistério, já que cheguei na reta final sem que desconfiassem do assassino. Darei uma pista importante agora: Ele já apareceu em outros capítulos.
Queria muito agradecer a quem tem lido e comentado. Cada comentário trás uma luz nova pra mim, e só por isso chegamos até aqui.
Minha vida agora deu uma normalizada, acredito que o próximo capítulo vai sair rápido.
beijinhos



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