Após algumas horas de caminhada, eles encontraram a Taberna. Já era quase de noitinha quando chegaram nela. Os três ficaram perdidos com tamanha movimentação. Era maior do que a Taberna Rideway. Procuravam o balcão no meio de tanta gente, mas não encontraram. Por outro lado a atendente e dona da Taberna, já os havia localizado.

— Quem são aqueles forasteiros? — murmurou a morena para si mesma. Passando os olhos por eles, viu um gordo, uma "garota" baixinha e um garoto baixinho. Ele era bonitinho (talvez até chegasse a ser bonito, em sua opinião), mas o que realmente a chamou atenção nele foi o logo de seu escudo. Era um logo da alta realeza de Bengdom. Ele deveria ser um nobre rico. Um duque, marquês ou até quem sabe se ela tiver sorte um príncipe! Um dos filhos da já doente rainha Marissa III... Sem falar que além disso tudo, ele tinha uma cara de tonto, logo era perfeito para o velho golpe da barriga que a tiraria da miséria. E mesmo que ele não se casasse com ela (o quê ela duvidava porque esse não tinha cara de conquistador barato como a maioria dos nobres e sim de bom moço virgem) teria de dar um bom dinheiro para o filho deles, uma espécie de pensão. Se não desse o quê ela tinha a perder, afinal? Sua virgindade já era um barco zarpado a tempos e apesar da Taberna não render tanto quanto ela gostaria, pois queria viver num luxo que só, mas rendia. Ela se aproximou do trio.

— Olá... — disse num tom entre o doce e o sensual para o baixinho que tinha o escudo. Ele não parecia ter notado, mas sua amiga loirinha torceu o nariz para ela. Ela nem ligou. A menina não era nem de longe uma concorrência de verdade, desarrumada daquele jeito. — Bem vindos a Taberna V. Eu sou Valerie, a dona e atendente. O quê desejam?

— Queríamos saber se tem algum curandeiro por aqui. Acabamos de passar por uma árdua batalha e estamos muito feridos.
— Ah, pobrezinho... — disse Valerie se aproximando dele e o

tocando no braço e no rosto. — Você está bem? — perguntou delicada. Sam revirou os olhos e respondeu:

— O bambambam aí se saiu sem ferimento algum, já o gordo e eu...

— Bambambam? — perguntou Freddie com a sobrancelha erguida.

— Gordo? — perguntou Gibby ofendido. — Eu não sou gordo, eu sou fortinho!

— Tá, certo, muuuuito forte. — ironizou Sam, mas Gibby não pareceu notar, pois abriu um sorriso.

— De qualquer jeito, sim, nós temos um curandeiro bem ali que por menos de vinte moedas de prata pode cuidar dos ferimentos dos dois. — disse ela educadamente. Sam e Gibby se afastam, apesar de Sam estar estranhamente relutante em deixa-la sozinha com Freddie. — Vão se hospedar aqui? — perguntou Valerie para Freddie.

— Hm, não sei ao certo. Dependendo do preço... Temos de poupar gastos para a missão, sabe? — disse ele.

— Se é assim... — disse ela se aproximando dele. — Acho que posso arranjar três quartos pra vocês por um precinho bem de amigos... — disse esfregando o braço de Freddie de forma sensual que não passou despercebida pelo rapaz. — Ou mais que isso. — sussurrou no ouvido dele de forma rouca. Ele estava confuso. Estaria ela flertando com ele? Provavelmente não, pensou lerdamente, mas eu certamente gostei do tratamento especial.

•••

Valerie ofereceu três quartos para o trio por um preço realmente baixo. O de Freddie era o mais luxuoso, por alguma razão "desconhecida". Sam já estava suspeitando das intenções da garota, mas Gibby e Freddie ainda lerdavm. No café da manhã do dia seguinte, a comida de Freddie também parecia ter mais qualidade.

— Então... — disse Valerie de aproximando dos três durante o café da manhã. — Por quanto tempo ficarão aqui?

— Saímos hoje mesmo. — falou Sam enquanto mastigava. Valerie não conteve uma cara de nojinho ao ver a comida na boca dela.

— Glup, não sei não, Sam. Eu to me sentindo um pouco mal. Bem que a curandeira Luna disse pra eu repousar ontem e eu não repousei... — disse Gibby. Ou talvez alguém tenha dado comida estragada pra você e pra loirinha..., pensou Valerie maliciosa. Por alguma razão, enquanto Gibby já parecia estar doente, Sam permanecia normal. Provavelmente ela tinha um estômago mais forte do que Valerie pensava. Droga!, ela pensou. Terei de usar o plano B.

— Sério que está se sentindo mal? Talvez seja melhor repousar e saírmos mais tarde... — sugeriu Freddie.

— Você é tão bondoso! — admirou-se falsamente Valerie. E fraco, completou em pensamento. Freddie sorriu diante de seu comentário.

— E fraco. — disse Sam em voz alta ainda comendo de boca aberta. Freddie a encarou feio. Gibby se despediu dos outros e foi repousar. — Bem, diferente do Gibby eu estou bem. Parece que hoje seremos só nós dois, não é Freddonho? — disse Sam como uma indireta nas entrelinhas para Valerie que entendeu o que ela quis dizer. Freddie por outro lado boiava e mal notava as segundas intenções das duas.

— Bem, na verdade tem umas meninas que tem ajudado outras meninas a se arrumar melhor e passar uma coisa do oriente, a chamada maquiagem. Bem que você está precisando. — disse Valerie como uma sugestão amistosa, no ponto de vista de Freddie. Só que não. Sam trincou os dentes. Por que aquela garota a incomodava tanto? Ela só queria alguma coisa com Freddie, mas esse era tapado demais para perceber e levava tudo na amizade. Será que era isso que a incomodava? O fato da garota gostar de Freddie? Nah, não era isso. Ao menos para Sam não era isso.

— Parece ser um programa legal para mulheres. — disse Freddie. Mulheres gostam de se arrumar, não é?, pensou confuso. Ele não sabia nada de mulheres. Se elas gostam tanto por que Sam está com uma feição de raiva?

— Freddie concorda. — disse Valerie e fez um movimento com a mão chamando as garotas que arrastaram Sam, mesmo sobre protestos da loira. — Parece que somos só nós dois... — disse sugestiva.

— Pois, é. — disse Freddie ainda perguntando-se o porquê de Sam ter ficado com raiva.

•••

Algumas horas depois, Valerie ainda não havia conseguido deixar seu interesse por Freddie claro. Ao menos pra ele. Assim ficava difícil aplicar um golpe... Além de bom moço, ele tinha que ser um bom moço lerdo. Mas, é claro, pensou indignadamente entediada.

— Mas, então... Qual é a heróica missão na qual você está metido?

— Vou salvar a donzela Carly Shay para poder me casar com ela.

— Mnnn, pff. Pra quê salvar uma donzela, de qualquer forma? Existem muitas soltas por aí que não precisam ser salvas... — disse ela enrolando o cabelo com os dedos. Freddie riu.

— Você não entende, minha família quer que eu me case especificamente com essa donzela. — tentou explicar inocentemente a ela.

— Acho que a sua família não se incomodaria se você voltasse casado com uma donzela muito mais bonita do que ela. Se é que me entende... — disse ela num tom tão flertante que dessa vez Freddie entendeu.

— O quê você quer dizer com iss...? — antes que Freddie pudesse concluir a sua pergunta, um vulto passou por entre ele e Valerie, puxando-o para longe enquanto falava "Com licença aí, dona, mas vou roubar esse idiota". — Epa! — disse Freddie ao ouvir o idiota. Após poucos, porém largos, passos o vulto finalmente parou de andar e Freddie reconheceu que era Sam. Suspirou.

— Ah, é só voc... Nossa! — tentou disfarçar a surpresa sem sucesso ao ver que ela estava muito mais bonita do que de costume. Com a pele mais pálida, os cabelos mais claros e os lábios mais rosados. Até que a tarde de beleza com as meninas da taberna te fez bem, pensou ele, mas não disse nada. A última coisa que queria agora era demonstrar cobiça por uma mulher quando claramente se casaria com outra. Mas, essa missão não estava sendo nada fácil levando em conta o quanto que Sam estava bonita, em sua opinião.

— Eu sei. Essa foi a pior. tarde. da. minha. vida. — disse ela de forma pausada e raivosa. — Acredita que aquelas loucas colocaram sangue-sugas em mim para "clarear a minha pele"? Eu perdi sangue, isso sim! Mas, essa não é a questão... Eu falei com Gibby, ele está melhor, nós já podemos sair daqui a.go.ra.

— Mas, agora? Não quer ficar a noite aqui? Poderíamos dormir melhor aqui do que a relento. — Sam bufa.

— Certo, sua lerdestade vou te explicar melhor: a doida da Valerie está arrastando asa pra você e se nós ficarmos aqui ela pode acabar aprontando pro seu lado!

— Não acho que ela aprontaria pra cima de mim, ela é uma boa moça e... Sério que ela tá arrastando asa pra mim? — perguntou felizinho. Em seu próprio ponto de vista não se achava muito bonito. Era muito baixo e tinha feições muito infantis e pouco másculas para um homem. Certo, até ele tinha que admitir que seus pequenos olhos sonolentos tinham um quê sexy, mas pra ele não parecia ser o suficiente. Sam bufou.

— Por quê ela arrastaria asa pra você? Af, mas você é um pamonha mesmo! Ela te acha atraente, oras! Aposto que a maioria das pessoas acham. — Sam deixou escapar a última e corou instantaneamente. Freddie também corou. — Caham. Quero dizer, salvo a mim. — Freddie revirou os olhos e suspirou.

— Certo, vamos logo. Temos que salvar Carly para eu me casar com ela. — Mesmo que Valerie estivesse sendo só um pé no saco na jornada por estar dando em cima de Freddie, ela tinha razão num ponto que Freddie balançou a cabeça para esquecer.

"Acho que a sua família não se incomodaria se você voltasse casado com uma donzela muito mais bonita do que ela.".

Mas, não era Valerie que ele tomava de exemplo.