Corpóreos escrita por Mey


Capítulo 5
Corpóreo




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Já passava das uma da manhã e lá estava eu, projetando-me em minha mente mais uma vez. Mas dessa vez, eu começaria a por meu plano em ação.

− Olá Arthur. – A insider se balançava de um lado ao outro fazendo seu vestido preto rasgado balançar junto – Algum motivo em especial para estar aqui hoje? – Ela perguntava com um sorriso travesso no rosto.

Aproximei-me puxando seu rosto para perto pela nuca.

− Queria agradecer por toda a ajuda em entender tudo isso. – Sussurrava próximo ao seu ouvido, em seguida beijando seu pescoço. Ela tremia um pouco com a aproximação, mas aquilo só mostrava como as coisas estavam indo bem – Agora entendo algumas coisas que talvez jamais tivesse entendido se não fosse por você.

Ela soltava uma risada.

− Sim, sim! Mas diga alguns exemplos. – Ela pedia cheia de orgulho de si própria, como se fosse assim tão inteligente... Agora parecia tão indefesa.

− Por exemplo... Que a mente é minha. – Mentalizando um tremor, toda a caverna estremecia, era como um terremoto. Senti seu leve desconforto enquanto poeira caía do teto da caverna – E que faço dela o que eu quiser... – Uma fenda abria-se no teto da caverna e agora o céu azul límpido podia ser visto – E você não poderá fazer nada. – Sorri.

Com um passo para trás ela cambaleou.

− Sim, e aonde quer chegar com isso? – Perguntava com uma grande interrogação em sua expressão nevoada, expressão essa que se tornou pavor ao notar que correntes prendiam seus pés e mãos. Correntes que vinham de algum lugar ainda escuro na caverna.

A luz que vinha do alto brilhava sobre mim, e ali, eu me sentia deus.

− Antes que pergunte... Isso não é uma brincadeira. – Com um gesto de mãos fiz com que as correntes a levantasse um metro do chão.

– E eu sei que você não pode fazer nada. – Sorri fazendo um novo gesto para que as correntes a batesse contra o chão, três vezes, antes que a suspendesse no ar novamente. Sua expressão me lembrava aquela que estava em meu rosto há certo tempo atrás enquanto assistia um dos seus destruir minha família. Com um novo gesto empurrei-a contra a parede com força fazendo-a tossir pingos de sangue.

– Não é como se eu quisesse que você fizesse algo, certo? Vocês já fizeram o bastante nesse mundo. – Resmungava criando mentalmente uma gaiola de aço envolta da insider que gemia enquanto tentava escapar das correntes.

– A partir de agora, você fará muito... Por mim. – Disse por fim ao soltá-la das correntes deixando-a de joelhos da jaula suspensa.

− Por que isso? Eu achei que... – Sua voz ecoava em minha mente, seus lábios não se moviam.

Continuei sorrindo, ali estava meu objetivo cada vez mais próximo.

− Já lhe contei minha história? – Perguntei puxando uma cadeira imaginaria de frente para a mulher que agora me encarava com ódio.

− Então... – Comecei, deixando claro que a noite seria longa.

[ ... ]

Já havia me divertido um pouco em meu interrogatório. Alguns cortes, algumas torturas psicológicas... Não era como se minha insider pudesse morrer de decepção, ou de qualquer coisa. Sorri com o fato. A caverna estava pouco iluminada como sempre, alguns livros empilhados em cima de uma mesa de madeira bem de frente para a grande jaula suspensa. Eu precisava admitir, as vezes me perdia um pouco por passar tempo demais ali, por isso decidi que voltar a realidade seria bom por um momento, e foi o que fiz.

Não passava das seis da tarde, o sol se punha no horizonte como se jamais fosse levantar novamente, uma caminhada era uma ótima ideia naquele momento. Com o celular no modo offline com a lista de reprodução pronta, calcei meu par de tênis e rumei a lugar nenhum. Corria sem destino, apenas por correr, quando aquele flash cinzento cruzou meu caminho em um instante que pareceu uma eternidade. De repente era como fazer parte de um sonho sem ser o sonhador, era como estar em um mundo alheio, me sentia um intruso. E provavelmente era.

− Corpóreo.

Uma voz ecoou por todos os lados. Não sabia de quem ou de onde era, nem mesmo se era masculina ou feminina, era apenas intensa.

− Você morrerá.

A voz ecoou novamente deixando apenas um rastro cinzento em minha visão que logo desapareceu com a sensação de estar sufocando.

Lá estava eu, parado no meio de uma estrada para qualquer lugar, e minhas dúvidas poderiam ser respondidas bem ali.

− Você não deveria ter feito isso. - Minha pequena insider cuspia as palavras enquanto sua imagem se formava em minha frente, tinha no rosto estampado um sorriso sombrio. Por algum motivo aquilo me incomodava, e eu nunca suportei incômodos.

Uma lança de cristal atravessou o frágil corpo da menina duas vezes enquanto eu me aproximava da jaula suspendida que ainda se formava em minha visão.

− Quem estava aqui? O que planeja? - Perguntei alguns segundos antes de seu pulso esquerdo começar a ser corroído com o ácido que borbulhava nas correntes que a prendiam. Magníficas coisas as que a mente pode criar.

Seus gemidos de dor deixavam claro que não diria nada. Mais ácido, espalhando-se por todas as correntes, por todo seu corpo. No começo meu próprio corpo ardia, mas o ardor era suportável, assim como a cara de dor da pequena ruiva era... Motivacional.

− O que é um corpóreo? - Perguntei sem paciência.

Sem resposta. Apenas silêncio. Talvez fosse o momento de tentar algo um pouco mais radical.

Olhava atentamente em seus olhos e todas as suas memórias passavam como um filme, um doloroso filme em minha mente. Meus olhos queimavam, seus gritos de dor eram atordoantes, mas nada se comparava àquilo. Talvez para todos eles fosse fácil entrar na mente de um humano, mas aceitar um humano revirando suas lembranças, emoções e sentimentos era uma tortura pior que pudesse suportar.

− Você... - Ela balbuciou − Está... Morto.

− Ainda não.

Tudo havia sumido, eu estava sozinho de novo, o sol já havia tomado seu caminho. Por um tempo prendi a respiração, as memórias da insider passavam por minha mente.

"Corpóreo. O corpo que domina a mente e o espírito" a voz desconhecida ecoava em minha mente, vindo diretamente do consciente daquela criatura que vivia em mim.

"Você morrerá" as vozes se misturavam, era como sonhar acordado. Ao mesmo tempo era como se tudo fosse real.

"Você está morto"

Antes que pudesse perceber, minha mente apagava lentamente.


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