Corpóreos escrita por Mey


Capítulo 3
Still


Notas iniciais do capítulo

Finalmente, depois de um bom tempo, consigo voltar a ativa.
Agora vai!



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[6 meses atrás]

– Shhh! - Ela franzia a testa.

– Mas isso não...

– SHHH!!! - Dessa vez abriu um olho me encarando com aquela expressão de quem diz "fale de novo e eu arranco sua língua!".

Não havia muito o que discutir, tudo que podia fazer era ficar em silêncio e "limpar a mente" como Clarice ordenava. Havíamos passado os ultimas dias tentando aquela técnica de meditação, mas o objetivo ainda parecia longe - ao menos para mim.

Insiders, seres astrais com uma missão, conhecidos como divindades há séculos e descobertos primeiramente pelos egípcios. Em minha concepção: apenas invasores da mente humana. As tantas pesquisas de papai, onde apareciam referências à metafísica, classificavam tais seres como uma essência - às vezes, alma. Acima de tudo, Insiders eram parasitas especiais não apenas por serem invisíveis ou mesmo incuráveis, eram especiais pelo fato de conceder aos seus hospedeiros certa fonte de energia. Tal energia podia ser modificada e convertida em diversas formas de habilidades, habilidades estas que podem realizar coisas no plano material de acordo com sua inclinação... E a suscetibilidade da mente em que o Insider está fixado. Lembrava-me a cada momento dos olhos de minha pequena irmã enquanto tomada por um desses seres invisíveis. Por um segundo, arrepiei dos pés a cabeça, e só então notei que os olhos de Clarice repousavam sobre mim.

– Você ainda não conseguiu pois não para de pensar por um segundo. - Ela resmungava.

Apenas assenti com a cabeça. Fechei os olhos e apenas deixei que os pensamentos fluíssem até que já não estivessem mais ali. Era a terceira vez na semana, porém a primeira vez em que eu estava levando à sério. Já havia conseguido chegar a algum lugar uma vez, daquela vez eu precisava ir um pouco além. Minha respiração era a unica coisa que eu podia ouvir no ambiente, já não sabia quanto tempo havia passado quando tudo escureceu. Era como estar no centro de um buraco negro. Não havia brilho algum, nada que me levasse a uma possível saída. Apenas uma baixa e constante batida.

"Estava aqui me perguntando quanto tempo demoraria para achar sua própria mente" aquela voz sussurrava. Tentei abrir os olhos para ter certeza de que não era Clarice (embora soubesse que não era) mas era como estar em transe, meu corpo já não me obedecia.

"Lutou contra si próprio para chegar até aqui... Não estrague isso." a voz voltava a soar por cima daquela batida que, finalmente, eu reconhecia como batidas de um coração.

"É o seu. Engraçado como não notamos que algo faz parte de nós mesmos até pararmos para prestar atenção, não é?" a voz era quase infantil, doce, diria até mesmo tranquila. Era uma voz feminina e suave, porém, me inquietava.

– Então esta é minha mente... - Eu resmungava mais para mim próprio. - Nesse caso tudo que eu preciso saber deve estar em algum lugar por aqui.

"Posso ajudá-lo a desvendar os mistérios que tanto te afligem, mas não posso ajudá-lo a cumprir seu desejo. Está buscando vingança para o lado errado. Está buscando justiça contra os próprios injustiçados."

– O que sabe sobre isso? O que sabe sobre justiça ou vingança? - Pela primeira vez ergo a voz, sem ter certeza se falava de verdade ou apenas pensava - Vocês são apenas parasitas.

O silêncio retornou, mas dessa vez imagens de um lugar desconhecido surgiram ao redor. Era como se eu estivesse em uma caixa, e agora a caixa estava sendo retirada, libertando-me finalmente. A primeira coisa que podia notar era que estava em um tipo de cidade, entre prédios, em uma larga avenida talvez. A cidade era estava em ruínas, as ruas abandonadas de chão rachado contavam uma silenciosa história trágica. O céu nublado deixava tudo cinza cooperando com todo aquele cenário. Era deprimente, aquilo era minha mente... E era muito deprimente.

"Por que alguém escolheria ser parasita em uma mente como essa?" a voz sussurrou uma vez mais para que então o silêncio voltasse a tornar tudo ainda mais solitário. Uma fina chuva começou a cair, ao longe uma pequena silhueta se formou em cima de um escombro, uma garota, vestida de preto usando um capuz sobre os cabelos cor de cobre - o que por sinal, era a única coisa colorida ali. Aquela era a dona da voz, a dona dos olhos verdes que me assombravam há noites e mais noites mal dormidas. Abri a boca para falar algo, porém minha voz sumira ao notar que a minha frente tudo se fazia real e mais uma vez estava sentado no tapete encarando Clarice.

Embora tudo estivesse normal novamente... O silêncio permanecia, porém agora, havia uma certeza em mim... Eu estava caminhando na direção certa.


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Notas finais do capítulo

Peço desculpas pela demora. Problemas familiares :T
Passarei a postar todos os dias um capítulo para compensar o tempo que fiquei off.
Se gostou, ou tem uma sugestão ou até uma crítica (construtiva), sinta-se a vontade para comentar ;)
That's all folks



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