[SAO] Tales Of Aincrad Vol. 1 - O Guardião Solo escrita por Akihiro Tamura


Capítulo 2
Capítulo 2 - O Jogo da Morte


Notas iniciais do capítulo

Nesse capítulo irei mencionar cenas que já
foram mencionadas na Light Novel Oficial e até mesmo no anime.
Trata-se de um outro ponto de vista de
uma cena existente sobre como tudo começou.



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SWORD ART ONLINE - TALES OF AINCRAD

Capítulo 2 - O Jogo da Morte

"Vai, vai!"

Rapidamente meu corpo se ajusta com a ajuda do sistema e sou empurrado com a minha espada em direção ao monstro Javali. Parecia fácil depois de descobrir que o sistema praticamente não me permitia errar um golpe de habilidade.

Graças ao jogador que se auto intitula Hirawo eu tive conhecimento do sistema de skills nesse jogo. "Infinitas skills, cara", ele disse e isso me assustou um pouco levando em conta o último jogo que joguei.

Esse mundo ainda é novo pra mim, parece tão real mas ao mesmo tempo artificial. O campo de visão e essa sensação de ar seco deixa a desejar mas ao ficar muito tempo conectado você começa a confundir o que é real e o que não é.

"Ei, Hirawo! Vamos avançar! Não vamos derrotar esses Javalis para sempre, não é?!"

"Calma Hiro, temos que secar essa fonte antes que esses campos fiquem infestados de jogadores, logo todos vão logar e vai ficar impossível de conseguir algo por aqui!"

É verdade, esses campos tem criaturas fracas e, ao mata-las você ganha um número considerável de pontos de experiência, o que é muito importante em jogos de RPG.

"Ta certo, vamos nessa!"

Não tenho intenções de morrer mas estou cansado, meu HP está extremamente baixo e estou sentindo fome… Sentir fome dentro de um jogo é surreal.

"Ei, Hirawo, acho que vou deslogar, estamos a muito tempo…"

Um som estrondoso e agudo se espalha por todo o campo como se um grande sino tocasse em cima de nossas cabeças. Acredito que por uma correção do sistema, o sino tocando no centro do mapa acaba se espalhando de forma regular por todo o mapa.

"O que é isso?"

Por um momento eu pensei em responder, mas a resposta seria óbvia demais, apenas um barulho. Esse barulho devia significa algo, talvez um evento?

Eu nunca havia notado na beleza desse mundo, estava tão focado nas batalhas que desde o momento em que pisei nesse mundo corri para os campos próximos a cidade e lutei incansavelmente.

As curvas, quase não se pixels; O céu é uma mistura de azul, branco e vermelho em algumas partes; as nuvens parecem flocos de neve transparentes dançando com o vento; Ah, o vento, esse sim foi bem trabalhado, de todos os que eu mencionei antes é o único que realmente pode ser sentido. É seco e gelado mas de todos os avanços tecnológicos que eu acompanhei no estudo da VR, esse foi um dos maiores, a possibilidade de transmitir sensações para o sistema neurológico através de um dispositivo de Imersão Total, é realmente incrível.

Rapidamente o meu tour visual pela paisagem foi interrompido por uma luz branca que me cercou e cegou, logo imaginei que seríamos desconectados do servidor mas vagarosamente minha visão ofuscada foi retornando ao normal.

A paisagem parecia diferente.

O céu estava mais escuro e as nuvens passavam mais rápido. Na verdade pouco podia ser visto do céu com aquela superfície imensa agraciando a minha vista. Fui observando ao meu redor e percebi o chão feito de blocos retangulares… Eu só podia ter sido teletransportado para a praça da cidade inicial, mas por quê?

Notei também que a cidade ja estava repleta de jogadores, todos exautados e assustados sobre algo. Havia muito barulho, estava me tirando do sério.

Avistei Hirawo correndo até mim, ele dizia algo mas eu não conseguia entender.

"Hiro, eu não consigo deslogar!"

Entendi, provavelmente é um evento para explicar um bug, é óbvio, como não pensei nisso antes? Em MMOs normais aparecem pop-ups para explicar certos acontecimentos mas na estréia de um jogo, um bug perigoso como esse deveria ser explicado pessoalmente por algum gm.

Abro o menu de interação para vasculhar, tento me concentrar mas…

"HIRO!", Hirawo grita constantemente meu nome fictício em meus ouvidos virtuais.

"Hiro, você consegue ver o botão para deslogar? Muitas pessoas estão comentando que não há um procedimento de segurança para deslogar em uma situação como essa!".

"HIRO!", ele grita mais uma vez.

A voz de Hirawo está realmente baixa, como se ele estivesse a quilômetros de distância de mim e não é um erro do sistema, é apenas uma reação da Imersão Total para com os meus sinais neurológicos, eu estava tão imerso no sistema que não prestei atenção nos dados a minha volta, como por exemplo a existência de uma pessoa gritando incansavelmente ao pé do meu ouvido.

Hirawo estava nervoso e não percebia que eu estava inquieto e imerso em meus próprios pensamentos. Em todos os estudos sobre Imersão Total que eu participei nunca havia visto algo como isso, um bug no sistema que impossibilitaria um jogador de desconectar.

"HIRO, me escuta!"

Esse cara está me tirando do sério.

"Oi, Hirawo, desculpa, eu estou refletindo..."

"Hiro, os minutos não passam... O que vai acontecer agora?"

Apesar de estar Hirawo estar inquieto provavelmente todos na praça pensaram juntos a mesma coisa. E provavelmente se existisse um medidor de curiosidade no meu NerveGear, este estaria sobrecarregado.

Meu pensamento foi interrompido por uma voz alta vindo de algum jogador no meio da multidão.

"Ah… Olhem para cima!"

Hirawo automaticamente olhou para cima.

Nesse momento toda a inquietação ao redor da praça desapareceu. Por mais que eu estivesse curioso, aquele ruído se esvaindo do ambiente fez diferença em minha percepção. Olhei ao redor e notei que a praça estava perfeitamente preenchida, como se até o número de jogadores no servidor tivesse sido calculado para o acontecimento desse evento.

"Hiro olha o céu, deve ser um evento!"

Seus olhos brilharam como o de uma criança. De fato ele tinha razão, o céu estava diferente. Todo o campo de visão acima de nós havia sido coberto pela cor vermelha, dividindo-se em blocos com as seguintes palavras se cruzando: "Anúncio" e "Aviso do Sistema".

Todos esperavam por algo… Algo inesperado aconteceu, então.

Saindo do céu que estava todo coberto pela cor vermelha, uma espécie de gel vermelho escorregava em direção ao chão. A velocidade que descia era tão lenta que deu ênfase a sua espessura, provavelmente pegajosa como sangue quase seco.

Antes de tocar ao chão o liquido retornou em direção ao céu, se dividindo em várias linhas e parecia estar tomando uma forma. Devo admitir me deu fadiga esperar todo o processo terminar, como estudante de computação eu via tudo aquilo como uma animação feita para dar ênfase a algo, como o prólogo de um livro.

o líquido gosmento aos poucos foi se transformando em um manto, vermelho obviamente. Tomou a forma de um ser humanóide de aproximadamente 20 metros de altura com o manto cobrindo seu rosto.

Na verdade eu não sei se existia um rosto, afinal aquele manto se formou de um líquido e acredito que não seria desnecessário ser criada uma forma ali dentro, seria apenas desperdício de data.

"É um GM, Hiro!!! Será que ele vai anunciar um evento?"

Hirawo havia jogado na fase de testes e parecia reconhecer o manto, para mim era apenas um manto assustador, se não fosse uma animação, claro.

"É um GM?"

"Por que não tem um rosto?"

Sussurros como esse podiam ser ouvidos por toda a praça, a criatura parada a cima dela ainda não havia esboçado nenhuma reação.

Com o aumento estrondoso de barulho ao redor da praça seu braço direito se levantou, como se estivesse pedindo calma aos jogadores. O manto escorre para baixo como se fosse ainda líquido e uma mão, que como uma luva flutuante não estava ligada a corpo nenhum, apareceu e direcionou a sua mão sobre todos, como se estivesse pregando algo. Em seguida o braço esquerdo fez o mesmo.

Nesse momento estava ali um ser estranho, denominado por todos como um GM com suas mãos levantadas sobre cerca de dez mil jogadores. Esperavamos ele falar algo mas era impossível ver suas feições, como um jogo de adivinhação.

Uma voz baixa, calma e meio rouca devastou as expectativas. Acredito que todos esperavam um ancião, um tom de desespero ou até mesmo algo rotineiro e rápido, mas não uma voz calma e baixa.

"Jogadores, bem vindo ao meu mundo."

Meu mundo?

Certamente era um GM, ou algum dos programadores, talvez um pedido de desculpas ou agradecimento, mas com todos os fatores pareceu meio rude dentro do contexto.

O ser de manto vermelho abaixou seus dois braços e prosseguiu com o comunicado.

"Meu nome é Kayaba Akihiko. Agora, eu sou a única pessoa que pode controlar esse mundo."

"Kayaba… Akihiko?"

Meu corpo relaxou e esse nome me acalmou por instantes, eu não sabia por quê exatamente mas o fato de ser alguem conhecido em uma situação estranha pareceu me confortar.

Kayaba Akihiko trabalhava com o meu pai na área de desenvolvimento em Imersão Total. Ele era um gênio e atuou tanto como designer quanto como físico na criação da primeira e segunda geração dos dispositivos de Imersão Total, incluindo o Nervegear.

É também o idealista, desenvolvedor e designer desse jogo.

Eu pensei ter entendido tudo nesse momento. Akihiko veio dar boas vindas aos jogadores e seu tom de voz condiz com seu comportamento, ele sempre foi muito sério, meu pai havia o convidado para se reunir com nossa família a anos atrás em diversos jantares e ele sempre preferiu a solidão. Meu pai dizia que o ideal de uma Imersão Total era baseado na Imersão de Kayaba nos estudos, parecia uma piada mas eu conseguia ver essa realidade por baixo daquele jaleco branco e aqueles óculos, sempre refletindo algo. Era quase impossível ver seus olhos.

Apesar de sério e nunca tomar a frente de situações como essa, Akihiko estava realizando um sonho, talvez seu maior sonho de criar um mundo dentro da realidade virtual, e por isso a sua compostura poderia ser diferente.

As próximas palavras de Akihiko distorceram toda a teoria que eu havia criado em segundos.

"Eu acho que a maioria de vocês descobriu o fato de que o botão sair desapareceu do menu principal. Este não é um bug. É tudo parte do sistema de “Sword Art Online"."

Essas palavras curtas me fizeram engolir em seco, por um momento eu raciocinei tudo e desacreditei. Meu instinto me assustou, recorri ao óbvio, não fazia sentido nada daquilo.

"O que? Do que ele está falando?" Hirawo parecia desapontado com todo esse drama sem nenhuma luta, ele é um garoto um tanto inquieto.

"Até você chegar ao topo deste castelo, você não pode sair por sua própria vontade." Kaiaba prosseguiu com seu discurso.

"Castelo?"

Não faz sentido, não há castelo nenhum. Mas antes mesmo que eu pudesse sussurrar algo todos fizeram a mesma pergunta em voz alta. De repente todo o alvoroço de antes voltou, todo o silêncio fora rompido por perguntas em diferentes tons de voz.

Todo e qualquer tipo de barulho foi cortado novamente pela voz de Akihiko, novamente.

"Igualmente, a suspensão ou o desmantelamento da NerveGear vinda do exterior é estritamente proibida. Se estas coisas forem tentadas…"

Ele estava de volta, o silencio. As pessoas finalmente começaram a fazer feições assustadas e todo o pensamento absurdo sobre as palavras de Akihiko passaram pela minha cabeça novamente, como se pudesse prever suas próximas palavras.

Incrível como o silêncio correu rápido por dez mil bocas, como se ele ordenhasse animais, como se todos esperassem algo cômico.

Mas não foi bem isso o que aconteceu.

"Os sensores de sinais nos seus NerveGears vão emitir um forte pulso eletro-magnético, destruindo seu cérebro e parando todas as suas funções básicas."

Olhares de jogadores por toda a praça se fintaram, igualmente com Hirawo e eu.

Rapidamente o silêncio se rompeu, de forma mais brusca dessa vez. Pessoas resmugando por todos os lados, alguns insinuavam e ameaçavam, ofensas e desordem tomaram conta do local.

"Seu maluco, me tira daqui!"

"Eu tenho um encontro as 7, isso só pode ser piada!"

"O que? Você está louco?"

Algumas pessoas começaram a rir e acalmar a outras.

"Calma, isso é uma brincadeira, é impossível prender alguém em um jogo."

"Ha, ha, ha!! Tudo bem, é um evento engraçado, então?!"

Eu estava sério, como estudante de engenharia da computação e parte de uma equipe de desenvolvedores para Imersão Total, eu sabia dos riscos da parte elétrica do NerveGear. Era possível, realmente.

"Matar a gente?"

Falei em voz alta e só então caiu a ficha. Qual seria o sentido dessa brincadeira, por quê alguém tão importante como Akihiko faria algo tão sem sentido como matar pessoas? E se alguém tirasse por acidente o NerveGear da cabeça de um jogadores, mesmo que ele tenha seguido as regras?

"É impossível, esse homem está louco, Hiro. Não é possível a gente morrer no mundo real, por quê na verdade nem estamos aqui.."

Hirawo me olhava, seus olhos estavam profundos, ele esperava um consolo, mas eu não consegui acenar ou fazer nenhuma expressão de tranquilidade, na verdade eu estava imerso em meu raciocínio.

"Na verdade Hirawo, o NerveGear é similar a um forno que utiliza microondas… Poderia facilmente fritar nosso cérebro com a quantidade de energia necessária, e mesmo se alguém desligar da fonte de energia ele possui uma bateria interna… Mas isso é completamente insano."

"O QUE? Por que alguém criaria uma tecnologia dessas?"

"Foi ele quem criou, Hirawo."

Meus braços fizeram sombra sobre meu rosto, deixando um ar de insatisfação, a verdade é que era triste admitir isso enquanto apontava para o suposto criador do Nervegear, Kayaba Akihiko.

"Para ser um pouco mais especifico, deslocar a fonte de eletricidade por mais de 10 minutos, desligar o sistema por mais do que 2 horas ou qualquer tentativa de destrancar, desmantelar ou destruir o NerveGear, caso alguma dessas condições ocorrerem a sequência de destruição cerebral irá iniciar. O governo e a mídia mundial já sabem dessas condições.

E apenas para tomar nota, já houveram alguns casos de parentes ou de amigos que ignoraram os avisos e tentaram forçar a retirada dos NerveGears. Como resultado… "

A voz deu uma pausa, meu coração pulou pela boca, metaforicamente. Talvez no mundo real realmente tenha pulado para fora da boca, pois senti dificuldade para respirar.

"Lamentavelmente, 213 jogadores já saíram desse jogo e do mundo real para sempre."

Sem reação nenhuma contornei meu olhar lentamente para Hirawo que parecia desesperado. Ajoelhou-se sobre o chão, seus olhos esbugalhados e suas mãos sobre a cabeça, estava pior que eu. De certa forma eu não acreditara tanto em Kayaba Akihiko por mais desesperador que fosse. Ainda queria acreditar que era tudo uma piada.

Em seguida risadas se espalharam por toda a praça, as pessoas pareciam estar fora de si, rindo para esconder o desespero ou tentando acreditar no inacreditavel.

"213 jogadores, 213 pessoas morreram, aqui e agora?" Hirawo não parava de repetir essa pergunta.

"Hiro, é impossível não é? só pode ser uma brincadeira de mal gosto, ninguém deveria morrer em um jogo, as pessoas tem responsabilidades, tem uma vida lá fora, famílias, amigos, animais de estimação..."

Os olhos de Hirawo vibravam quase como se quisessem sair do lugar, suas mãos pairavam sob sua cabeça e suas pernas não tinham forças para levantar. O desespero de Hirawo parecia contagioso e comecei a me sentir estranho também, mas me mantive forte.

"Jogadores, não há com que se preocupar quanto aos corpos que vocês deixaram no outro lado. Nesse momento, todas as emissoras de televisão e rádio assim como a internet noticiam a situação e as inúmeras mortes. O perigo de terem seus NerveGears retirados já desapareceu. Nesse momento, usando as duas horas que os dei, todos estão transportando vocês para hospitais ou instalações similares para terem o melhor tratamento. Então vocês podem relaxar... e se concentrar em terminar o jogo."

"Terminar o jogo?"

Uma voz cortou o céu forte como um relâmpago, expressando a indignação de todos.

Algum jogador na multidão finalmente questionou esta loucura.

"O que você está dizendo? Terminar o jogo? Você quer que joguemos em uma situação como essa?"

"Isso não é mais um jogo!" Akihiko respondeu com um tom rude, soando quase como um tapa.

"Mas eu sei que todos vocês entendem que Sword Art Online não é mais um simples jogo. É uma segunda realidade. E a partir de agora nenhuma forma de reviver nesse jogo vai funcionar. No momento que seu HP chegar a 0 seu avatar irá morrer para sempre e ao mesmo tempo seu cérebro no mundo real será destruído pelo NerveGear."

Eu não conseguia acreditar à princípio mas por final enfraqueci e aceitei. Meu mundo lutava para não desmoronar, meu controle estava preso por uma linha muito tênue e a qualquer momento poderia ceder.

Mas eu me mantive forte.

Olhei ao redor novamente, os jogadores, agora eufóricos continuavam a questionar e Hirawo, já de pé, apenas olhava para o chão, desolado.

Alguns sussurros soava pela praça, juntando as palavras "jogo" e "morte".

"Jogo da morte." Sussurrei chamando a atenção das pessoas a minha volta que continuaram a repetir e repetir até o nome se tornar forte na multidão.

"Jogo da morte."

"Jogo da morte."

"Jogo da morte."

"Jogadores, existe apenas um modo de se livrar desse jogo, como eu havia dito antes. Vocês devem seguir em direção ao topo de Aincrad, no centésimo andar e derrotar o chefe final que reside ali. Todos os jogadores que continuarem vivos vão imediatamente sair do jogo. Eu dou a vocês a minha palavra."

O silêncio voltou junto com desespero, agora os olhos vibrantes se alocaram nos rostos da multidão.

Então o castelo qual Akihiko se referia é composto por cem andares, qual o andar onde estamos seria o primeiro apenas e faltariam noventa e nove.

"O quê? Foi quase impossível passar do primeiro chefe na fase de testes, imagina passar de cem!"

Eu já havia ouvido falar que era realmente difícil mas Hirawo era extremamente habilidoso nesse jogo e foi um dos jogadores com nível mais alto na fase de testes. Se ele achou quase impossível, provavelmente era.

"Hiro, nós passamos apenas de cinco chefes e morríamos diversas vezes para conseguir, foi estressante demais, isso não pode ser real."

Enquanto Hirawo parecia desesperado os jogadores ao redor da praça pareciam confusos. Medo não era o que eu conseguia absorver naquela atmosfera, era mais um misto de confusão com insanidade, as pessoas pareciam estar com um pé na dúvida entre o medo real ou apenas um evento extremamente exagerado.

Por mais que eu tentasse eu não estava aceitando a situação, achava impossível não haver um jeito de sair desse mundo, um procedimento de segurança ou alguma falha.

Eu me esforcei tanto para entrar na faculdade, no emprego, me dediquei para ser aceito na equipe de desenvolvimento e agora tudo isso seria privado de mim por causa de um jogo que eu nem mesmo queria jogar?

Como todas as vezes, meu raciocínio foi cortado pelo voz calma e nada emotiva que vinha de dentro daquele robe vermelho.

"Então eu os mostrarei uma evidência que essa é a única realidade. Dentro dos seus inventários está um presente meu. Por favor, confirmem isso."

Rapidamente, assim como todos os jogadores fiz o gesto com as mãos que ativava o comando de acesso ao menu de interação, barulhos de sinos tomaram conta de toda a praça.

Acessei meu inventário e havia um item que antes não estava ali, bem no topo da minha lista de pertences. Seu nome era:

Espelho de mão?

Com um receio repentino acionei o item para cria-lo em forma de objeto. Hirawo agora parecia estar mudando de posição e pareceu animado novamente, ou pelo menos mais esperançoso. Desconfio que nesse momento ele imaginou que por ter um item no meio desta confusão, talvez fosse uma quest e tudo não passasse de um mal entendido.

O objeto tomou forma de um espelho retangular em minhas mãos.

O segurei, girando e prestando atenção em suas curvas, procurando algo que não estava lá.

Hirawo agora, novamente confuso balançava o objeto ao ar, esperando alguma reação inusitada.

Nada acontece.

Até que…

Subitamente todos na praça foram cobertos por uma luz, parecida com uma aura com um tom de transparência e logo eu mesmo fui engolido ela.

Não vejo nada.

Conto os segundos dentro dessa luz e repentinamente todos na praça voltamos ao normal.

Não exatamente ao normal…

Todos estavam bem diferentes, como se houvessem trocado todos de lugar e eu não reconhecesse ninguém mais a minha volta. Hirawo havia sumido, uma menina espirituosa parecida uma amazona ao meu lado também havia sumido.

"O espelho de mão..."

Esqueci que havia um item em minha mão e quando o trouxe até a altura do meu rosto reparei que as minhas mãos agora eram finas e minha altura para com o chão havia aumentado, o meu mau pressentimento só não foi maior que o meu espanto ao olhar o objeto de frente.

Meu avatar agora havia dado lugar ao meu rosto do mundo real, minhas feições e até a minha altura. Eu não podia acreditar no que estava vendo, era incrível o quão real essa realidade poderia chegar.

"Hiro, é você?"

Hirawo não era o tipo de garoto mais esperto da classe mas ele reparou tão rápido quanto eu que agora ele no jogo representava ele no mundo real.

Sua aparência era de um menino de 14 anos, estatura baixa e com nariz empinado como o de um rato, o bravo guerreiro medieval de antes deu espaço a uma criança inexperiente e frágil. Sua voz também mudou, na verdade…

"Oi, Hirawo. Sim, so-sou eu."

Não é possível, a minha voz havia igualado com a do mundo real também, o que é péssimo levanto em consideração o quanto eu não gostava da minha voz.

"Hiro, o que isso significa?"

Hirawo parecia desesperado de verdade agora.

"Talvez o capacete tenha usado seus sensores de sinais de densidade para escanear nossos rostos, e a calibração do corpo tenha pego nossas formas e alturas."

O processo de calibração do NerveGear mede o quanto você precisava mover a mão para medir seu corpo e é utilizado para deixar todo o processo de visão em primeira pessoa e movimento corporal mais realista, deixando o tempo de resposta do usuário para com a Imersão Total bem sincronizado, utilizando as medidas do corpo real. Assim o cérebro processaria o movimento com a mesma intensidade que está acostumado a processar com o corpo fora do NerveGear.

"Mas por quê, Hiro, por quê?"

Hirawo em um movimento de desespero afrouxou o aperto em suas mãos, deixando seu espelho cair no chão e se despedaçar. Sua vista continuou focada para o além como se estivesse esperando uma resposta divina.

"Fique calmo, tudo vai ser explicado em instantes."

Hirawo ignorou o meu comentário, fui um pouco frio em minha resposta por não saber exatamente o que falar.

"Vocês devem estar se perguntando “por que?”. Por que eu, Kayaba Akihiko, o criador do NerveGear e desse jogo, estou fazendo algo como isso? É algum tipo de ataque terrorista? Ele está fazendo isso para nos fazer de reféns?"

Como ele consegue falar com esse tom de calma mesmo em uma situação tão sensível como essa?

"Nenhuma dessas razões é o motivo de eu estar fazendo isso. Não apenas isso.

Para mim, não há uma razão ou propósito. O único motivo é essa situação em si como sendo o proposito de tudo."

O que? Ele está dizendo que...

"Criar e assistir esse mundo são as únicas razões de eu ter criado o NerveGear e Sword Art Online. E agora, está se realizando."

Após um intervalo breve, os jogadores mal tiveram tempo para refletir e a voz calma e sem expressão de Akihiko voltou a falar.

"Com essa explicação finalizo o tutorial oficial de Sword Art Online."

Espera aí. Ele não pode simplesmente ir embora assim!

"Jogadores... Eu os desejo boa sorte."

E assim o robe começou a se desmanchar em uma chuva de sangue, ideológica claro, representando o significado desse jogo.

"Estamos todos em um Jogo da Morte?"

"A minha vida se resume a um número?"

Frases como essa sendo repetidas pela multidão enquanto o robe se desmancha lentamente pelos céus, juntamente com as notificações do sistema.

Como se fosse piada uma música de fundo começou a tocar vindo de algum NPC instrumentista, o jogo parecia ter continuidade.

Não pode ser.

E como uma despedida do princípio de um apocalipse, a reação assustada de dez mil jogadores finalmente tendo início.

"Isso é uma piada, certo? O que é isso? Isso é uma piada não é!?"

"Pare de brincar! Me deixe sair! Me tire daqui!"

"Se você não voltar aqui eu vou te processar!!!"

"Não! Você não pode! Eu tenho que encontrar uma pessoa logo!"

"Eu não gosto disso! Eu quero ir para casa! EU QUERO IR PARA CASA!!!!"

A atmosfera foi dominada por um ar de indignação, ameaças, clamores e todo tipo de gritos.

Tentei ficar com a mente fria e não cair ao desespero. Em uma situação assustadora como essa o melhor a pensar seria que tudo tem um jeito, é apenas um jogo afinal de contas.

É apenas um jogo, não é?

"Hiro, eu vou sair daqui!!!"

"O que? Onde você vai, Hirawo?"

Hirawo correu pelo meio das pessoas, seu nível era mais alto que o meu mas ele correu como se quisesse que eu o seguisse.

Eu o segui.

Passamos por muitos becos e nos distanciamos muito dos outros jogadores, eu ainda não havia tido tempo para processar toda a situação e não tava entendendo porquê e o que Hirawo estava fazendo.

Corremos por cerca de trinta minutos até que finalmente chegamos a borda de um penhasco, como se fosse o fim do mapa. Provavelmente era o fim do mapa, de fato.

Hirawo parou na borda e tirou sua espada da bainha.

"Hiro, isso só pode ser uma farsa. Eu vou morrer aqui e provar que isso tudo é uma farsa, vou reviver na cidade inicial e então acalmar a todos, eu sinto que preciso fazer isso."

"Não, Hirawa, não faça isso, a gente não sabe ainda o que pode acontecer se você morrer aqui."

"Por mais que eu não acredite nessa besteira não é bom arriscar, vamos voltar pra cidade, Hirawo!! Além do mais mesmo que você esteja certo, se não fosse todo esse susto você teria ficado horas e horas seguidas jogando, é melhor pensarmos um pouco antes."

Hirawo parecia inquieto e insano, seu rosto estava pálido mas de alguma forma eu o toquei e ele fechou os olhos e abaixou a cabeça.

"Tudo bem, Hiro..."

Nesse momento eu não sabia se ele iria pular ou recobrar a consciência, o tempo demorou a passar.

"Então tá, vamos voltar para a cidade."

Ufa.

Voltamos caminhando lentamente e conversando sobre nossas vidas fora do jogo. Foram cerca de quarenta e cinco minutos de caminhada e por um momento esqueci todo o desespero e nervosísmo.

Hirawo me contou sobre seu irmão mais novo, como ele gostava de esportes e como sua mãe desejava que Hirawo se dedicasse a esportes também, porém seu sonho era ser programador de jogos.

Contei a ele sobre minha experiência no ramo e o influenciei a vir trabalhar comigo quanto saíssemos do jogo, foi uma longa conversa animadora.

Até que…

"Olha, Hiro, aqueles jogares estão pensando em se suicidar também, devemos ir lá?"

Avistamos uma fenda de metal próximo a cidade e um jogador maior apontando para a fenda, como se estivesse mostrando algo a outros menores. Corri em direção a fenda arrastando Hirawo pelos braços, devíamos impedi-los de cometer suicídio afinal a teoria de Akihiko era totalmente válida.

"Esperem, esperem!!!" Eu falei.

"O quê? Por que?"

"A teoria de Akihiko é totalmente válida, o NerveGear pode matar alguem se tiver uma fonte de energia! É melhor esperarmos por mais..."

Fui interrompido por um deles.

"De acordo como a estrutura do NerveGear, se uma pessoa sair sistema ela automaticamente recobraria a consciência. Eu participei da criação, não tem como eu estar errado."

Hirawo olhou atentamente para o rapaz, ele aparentava ter por volta dos 30 anos, parecia ser uma pessoa séria e responsável mas hesitava em pular para provar a sua teoria e estava convencendo outras pessoas mais novas a pularem. Percebi isso, provavelmente era somente um malandro tentando se aproveitar.

"Se você acredita tanto nisso por quê não pula?" Perguntei.

"Eu acredito!!" Disse Hirawo em tom de desespero.

"Não, Hirawo, já conversamos sobre isso, eu não acho que..."

"Eu acredito nele, ele trabalhou no projeto, ele provavelmente sabe do que está falando"

Hirawo correu para a fenda com toda a sua velocidade, eu tentei ferozmente ir atrás dele mas os 3 níveis de diferença entre nós fez total diferença, ele parecia um leão assustado e eu um elefante cansado.

"HIRAWO, ESPERA, POR FAVOR!! Não faça isso!!!"

De nada adiantaram meus gritos de desespero, Hirawo correu até a fenda e se atirou com toda a sua destreza e agilidade, eu pude ver tudo como se estivesse em camera lenta. Seu corpo friccionou os joelhos e com o movimento de impulsão ele girou os pés no sentido anti-horário, obtendo força para girar seu corpo. Com o movimento finalizado e a beira de um abismo, Hirawo apenas esperou a queda enquanto sorria para mim.

Pude ler em seus lábios.

"Nos vemos do outro lado, amigo."

Meus olhos não podiam acreditar no que viam.

Corri até próximo à fenda, pensei em me jogar para tentar pega-lo mas era tarde de mais. Ao me aproximar pude ver pixels em formato de polígonos flutuando em direção aos céus.

Eu havia acabado de conhece-lo e não conseguia entender aquela dor no peito ao ver sua vida esvaindo diante de meus olhos. Me senti fraco, sem poder fazer nada para alterar o que acabara de acontecer.

A dúvida se ele sairia do jogo ou não, se ele sobreviveria...

De alguma forma eu percebia que ele sabia o que estava fazendo.

Ele desistiu? Por que?

"Por que, Hirawo?"

"HIRAWO!!!!"

Gritei para aliviar a dor mas não adiantou muito.

Por mais que eu soubesse que havia uma remota possibilidade de Akihiko estar blefando, o sentimento de perda me consumiu.

"A Praça!"

Como um ultimo suspiro de esperança, me surge um pensamento: Hirawo poderia ter renascido no centro da praça inicial.

Corro para lá como se a minha vida dependesse disso e, enquanto corro,meus pensamentos à mil quilômetros por hora geram mais perguntas.

Por que Kayaba Akihiko faria algo assim?

Por que caso eu morra aqui, eu morro na vida real também?

Por que Hirawo desistiu?

Por que esse mundo existe?

Durante o caminho cruzei com centenas de jogadores desnorteados, jogados pelas ruas e esperando algo que nunca iria acontecer, um salvamento ou uma resposta. Era uma cena triste, becos com jogadores presos em um mundo que não compreendiam, pensando que a apenas 3 horas atrás estavam com suas famílias.

A praça estava logo ali a minha frente, somente alguns passos, eu até conseguia vê-la mas parecia não chegar nunca. Talvez o sentimento de compaixão que eu sentia pelas pessoas da cidade fazia o tempo passar mais devagar.

Então...

"CHEGUEI!

HIRAWO!!!"

Eu grito incansavelmente procurando por alguma pista pela praça onde os iniciantes surgem ao início do jogo. Procuro por toda a praça.

Nada. Ele não está aqui.

Derrepente os sons ao meu redor se tornam mais nítidos e começo a perceber comentários dos jogadores, pessoas cochichando sobre diversos assuntos mas dois em questão me chamaram muito a atenção.

O fato de terem visto de longe um garoto cair pela a fenda e sobre um nome de jogador ter sido cortado da sala de ressurreição.

Cortado?

Não conseguia entender o que eles diziam, mas eu estava realmente preocupado com o significado disso tudo.

Parei um rapaz que passava correndo e o perguntei sobre a tal sala. Ele me informou onde era a sala de ressurreição mas disse não ter nada lá alem de nomes agora.

Não dei muita atenção e corri para lá o mais rápido possível.

Ao chegar me deparei com algo que me doeu, a crueldade na criação desse sistema era tanto que a cada descoberta nova eu sentia como se fosse disparado um soco bem no meio da minha sanidade.

"Entendi..."

A sala de ressurreição agora nada mais era que um espaço enorme e quase vazio, se não fosse pelo grande monumento de metal. Lá estava escrito apenas o nome "HIRAWO" seguido das seguintes informações: Suicídio às 3:00 PM.

Meu corpo travou, aquilo significava que ele não voltaria mais.

Como uma ficha caindo em um poço longo que finalmente chegou ao chão, eu finalmente me dei conta da real situação.

Meu corpo agora é essa forma poligonal e esses números são a minha vida. Não importa o que eu faça nesse mundo, se esses números acabarem eu serei nada mais do que estatística. Eu não tinha notado isso até agora mas Hirawo me mostrou, de uma forma triste e traumatizante mas eu entendo.

Hirawo foi o meu primeiro amigo, ele confiou em mim e era apenas uma criança além de um excelente jogador. E eu deixei aquilo acontecer com ele.

Na verdade graças ao sistema eu não tive como impedi-lo.

Kayaba, por quê?

Me mantive estático observando o painel imenso por quase 2 horas, sentado sob o chão. Meu corpo estava cansado e as lágrimas escorriam, eu tentava segurar mas de alguma forma elas despencavam pelo meu rosto como uma cachoeira.

Esse foi o primeiro dia e eu já perdi tanto…

Eu lutava contra as lágrimas e contra a vontade de morrer.

Preciso me recompor, preciso descobrir uma maneira de sair daqui antes que mais pessoas se machuquem mas...

Algo não me deixava levantar. Eu estava fraco demais para fazer qualquer coisa e na verdade a única coisa mais forte que toda a dor que eu estava sentindo era a dúvida cruel sobre a pergunta:

"Por que, Kayaba Akihiko?"


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Notas finais do capítulo

• Javali - Monstro chamado Frenzy Boar no mundo de Aincrad. Seria equivalente a monstros de gelatina em alguns MMOs.

• Golde de Habilidade / Skill - Golpes que com a ajuda do sistema ajudam o jogador a mirar e gerar um maior numero de dano ao oponente do que ataques normais.

• Pontos de Experiência / XP - São pontos ganhos ao concluir ações como batalhar ou treinar. Ajudam no desenvolvimento do avatar do jogador.

• Deslogar - Desconectar do servidor.

• Píxel - Menor elemento em um dispositivo de exibição, relativo ao átomo no mundo virtual.

• Pop-Up - Janela informativa que surge em websites e jogos.

• Imersão Total / Fulldive - Definição da tecnologia usada para ficar imerso no mundo virtual.

• GM - significa "Game Master" ou "Mestre do Jogo", são como administradores em um servidor.

• Quest / Aventura - São missões, geralmente dadas por NPCs.



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