Charlotte DarkShadow

O dia estava cada vez mais estranho.

Subitamente Colby aparece no meu quarto alegando que ele precisava voltar pra casa. Eu não entendi direito o porquê, mas fazer o quê? Meninos são estranhos mesmo.

Logo depois eu recebi uma mensagem de Joshua dizendo que ele precisava de ajuda, pois estava com um problema enorme e estava na porta da minha casa. Eu estranhei.

— Não vou buscar ninguém na delegacia — já fui logo explicando.

Ele riu sem ar.

— É algo diferente disso. Apenas venha para a porta.

E logo desci as escadas – claro que quase tropeçando no último degrau e indo em direção à minha morte – e abri a porta.

Joshua estava na porta da minha casa.

Vestido de pato.

— Que merda é essa, Joshua?

— Eu estou meio que com um problema.

— Envolve drogas?

— Não.

— Envolve assassinos?

— Não.

— Envolve algo hipoteticamente perigoso que pode nos mandar para a cadeia.

— Não! — ele exclamou.

— Então você pode entrar e me contar o seu problema.

Ele entrou e antes de fechar a porta eu não pude deixar de murmurar a verdade.

— Só porque eu estou com um humor tecnicamente sociável, o garoto me aparece vestido de patinho. Mereço — suspirei.

Sentei no sofá em frente ao garoto e cruzei os braços.

— Desembucha.

Ele suspirou.

— Eu... eu estou gostando de uma pessoa.

Arqueei uma sobrancelha.

— Olha, Joshua, eu não sou perito em amor, mas eu tenho quase certeza que garotas não gostam quando garotos se vestem de patos para se declarar...

— Não, não, não é isso. Eu estou gostando de uma garota...

— Quem ela é?

— Dá pra você me deixar terminar de falar? — ele perguntou exasperado.

— Calma, moço, só estou perguntando.

— É uma garota chamada Tiana. Ela é da sala ao lado.

...

...

Error 404. Pessoa não encontrada.

— Não sei quem é não. — Disse.

— É claro que não. Você não fala com ninguém.

— Eu falo com você — eu retruquei com um olhar superior.

Ele ponderou a afirmação.

— Justo — ele disse por fim. — Enfim, eu gosto dessa garota e bem, eu estou pegando uns trampos de festas de buffet. E acontece que na festa de hoje, ela estava lá e...

— Pera pera. Você está me dizendo que no seu trabalho os caras te mandam se vestir de patinho feio?

— Hey, não é feio...

—Tem razão — eu o cortei. — É horroroso. Quanto mesmo os caras estão te dando pra fazer isso?

Joshua revirou os olhos.

— É só um mascote, Chars, não é nada demais. Continuando, eu a vi e tentei ficar longe para ela não me reconhecer...

— Porque é claro que ela ia te reconhecer com uma fantasia que ocupa seu corpo inteiro...

— Enfim — ele disse me fuzilando com o olhar. Eu reprimi os risos. — E quando eu estava saindo, ela acabou me vendo sem a cabeça de pato então eu decidi correr pra cá.

Ele deu de ombros.

Eu balancei a cabeça.

Esse garoto era uma negação.

— E agora, o que eu faço?

Eu bufei, exasperada. O que que eu fiz para merecer um garoto desses?

— Primeiro de tudo — eu disse com uma voz entediada —, comece tirando essa fantasia ridícula.

***

No dia seguinte minha cabeça estava bombardeando de coisas.

Eu estava preocupada com Colby. Sim, estranho dizer, mas meu coração era grande o suficiente para eu me preocupar com ele. Eu não queria que ele fosse embora. Ele sempre esteve do meu lado desde que nós éramos crianças.

Além disso, eu estava preocupada com o fato de Donnavan aparecer na minha escola. Eu não sabia se eu poderia suportar aquilo. Meu passado estava ÓTIMO, enterrado a sete chaves e bem guardadinho.

Muito obrigada.

Encontrei Frank na sala de aula ouvindo música.

— Hey, Chars — ele disse acenando para mim enquanto tirava os fones de ouvido.

— Onde está Joshua?

— Disse que vai chegar atrasado. Algo sobre devolver uma fantasia de pato — ele disse meio confuso.

Eu dei risada e Frank ainda continuou a fazer uma cara de confuso.

— Eu quero saber? — ele perguntou sorrindo de leve.

— Não Frank. Você não quer — eu continuei a rir e Frank balançou a cabeça.

***

— Chars? Posso falar com você um segundo?

Virei-me e dei de cara com Andrew. Ele aparentava estar meio envergonhado.

— Hey, Charlotte.

Sorri levemente.

— Oi, Andrew.

— Então, eu só queria te pedir de novo desculpas, sabe?

Revirei os olhos.

— Querido, Andrew, essa fita já está ficando velha. E não é como se tivesse sido sua culpa, eu nem te conhecia na verdade.

Eu sorri e ele sorriu de volta.

— Certo — ele assentiu. — Só para finalizar o assunto — ele deu uma rápida olhada em mim e continuou. — Eu perguntei ontem para o meu irmão sobre tudo e bem, ele parecia extremamente envergonhado. Ele se sente culpado, sabe?

Eu suspirei.

— É claro que ele se sente. Qualquer pessoa normal sentiria. Mas, na verdade, Andrew não só está se sentindo culpado por minha causa e é por isso que eu nem faço questão de tentar ver se ele quer “fazer as pazes” — eu disse fazendo aspas com os dedos — ou não. Infelizmente, Donnavan está envergonhado não porque eu era sua amiga e ele extrapolou, mas simplesmente porque ele sabia que se algo mais sério tivesse acontecido, ele teria se ferrado com toda essa história.

Andrew ia falar alguma coisa, mas eu o cortei.

— Mas como eu já disse, Andrew: deixa pra lá. É apenas uma parte do meu passado que eu quero esquecer...

— Você não pode esquecer — ele me cortou.

— O quê? — perguntei confusa. — Por quê?

— Passados ruins nos ajudam para nós ficarmos mais fortes. Além disso, Charlotte, não adianta você fugir do seu passado, ele simplesmente vai te alcançar uma hora ou outra.

Bufei exasperada. Eu já estava muito cheia e confusa de toda essa história.

— O que eu faço então? — disse sentindo toda a minha energia sair de meu corpo.

— Apenas aceite tudo — ele disse com a voz suave. — Aceite tudo porque coisas boas virão até você.

***

Já estava no intervalo e nenhum sinal de Colby.

Decidi procurar por James, afinal onde tem Maria tem João.

Encontrei Colby e James na fila da cantina. Esperei eles comprarem a comida para ir até eles.

— Hey, Charlotte — James disse.

Colby sorriu e suas bochechas ficaram vermelhas de repente.

— Colby, está tudo bem?

— Tudo está ótimo — ele disse fazendo uma careta e passando as mãos por toda a sua cara.

Olhei para James que parecia estar se segurando para dar risada.

Dei de ombros. Avistei Joshua indo até Frank que já estava sentado na mesa.

Fui até eles com um sorriso predador, pronto para zoar Josh.

— Hey, Joshua, conseguiu deixar de virar patinho feio? — dei uma olhada nele e suspirei de forma dramática. — Parece que não, né?

Joshua revirou os olhos e bagunçou meu cabelo, brincando.

Ele ia morrer por isso.

— Hey, meu cabelo não! Sabe o quanto trabalho eu tenho pra penteá-lo porque meus fios são muito finos?

Ele riu.

— Ninguém mandou você me zoar.

— Pff — eu soltei em desdém. — Como se eu não tivesse te zoado antes.

Os meninos riram.

James e Colby sentaram-se na mesa e logo todo mundo pôs a se conversar.

Olhei intensamente para Colby percebendo que parecia que ele estava fazendo de tudo para não falar comigo.

Cruzei os braços e assisti como um jogador de xadrez prestes a fazer seu próximo movimento.

Eu ia descobrir o que Colby estava escondendo. Ah se eu ia.