Charlotte DarkShadow

— QUEREM PARAR DE ME SEGUIR? — eu gritei para a rua toda ouvir.

— Mas eu moro por aqui também — disse Frank.

— E eu não tenho nada para fazer — apontou Joshua.

Eu bufei. Agora eu tinha o Tico e o Teco atrás de mim como duas sombras. As pessoas nunca eram minhas amigas porque queriam. Ou era por causa do dinheiro da minha família, ou então era porque todo mundo afirmava que eu “tinha uma aparência divina” ou então era porque eles foram obrigados a conviver comigo (como Colby e James).

— Sério, eu ainda não entendo porque vocês querem ser tanto meus amigos — eu murmurei.

— Porque eu sou novo por aqui e porque você parece ser uma pessoa muito legal— falou Frank.

Joshua assentiu.

Eu parei em frente à minha rua e virei-me para eles.

— Adeus — eu disse com uma voz mórbida.

— Tchau tchau! — acenou freneticamente Joshua.

— Tchau, Charlotte, até amanhã — despediu-se Frank.

Andei até a minha casa e comecei a procurar a minha chave. Ela sempre desaparecia, meu pai ficava me dizendo que era porque eu não era muito organizada, mas eu sabia melhor.

Eram os duendes.

— Droga de serezinhos imprestáveis — eu amaldiçoei. — Cadê. A. Porra. Da. Ch...

Estava no meu bolso.

Murmurei mais algumas palavras não muito bonitas e entrei em casa.

Um doce cheiro de lavanda entrou pelas minhas narinas e me fez relaxar na hora. Nada melhor do que estar em casa.

Meu pai provavelmente estava fora no trabalho e minha mãe já deveria ter saído de lá. Olhei no relógio. Ela logo estaria em casa.

Fui para o meu quarto e, depois de fazer o dever de Física (porque tão difícil, oh Newton), eu desci as escadas e fui comer alguma coisa na cozinha.

Fiz um sanduíche de pasta de amendoim com geleia e fiquei na sala assistindo TV até a minha mãe chegar em casa.

— Oi, filha — ela disse tirando a bolsa do seu ombro.

— Oi mãe — eu falei de boca cheia.

— Modos, Chars, modos — ela revirou os olhos.

Eu revirei os olhos de volta.

— Seu tio ligou, ele está vindo nos visitar amanhã.

— Tio Allan e tio Dylan estão vindo para cá? — eu falei surpresa. — Nathan também está vindo?

— Acredito que sim. Eles tiraram férias.

Eu sorri.

Nathan é o filho adotado de meus tios. Eles moram na Holanda, porém sempre quando podem, eles vem nos visitar. Nathan é quatro anos mais velho do que eu. Está cursando História, ele é calmo e um pouco sério como meu tio Dylan, mas era uma ótima companhia. Ele é moreno dos olhos verdes.

Minha mãe desapareceu por alguns minutos e depois reapareceu com uma lata de coca-cola e um sanduíche de queijo na mão.

— E como foi o seu dia hoje? — ela disse de boca cheia.

— Modos, mãe, modos — eu revirei os olhos.

Minha mãe tacou uma almofada em mim.

***

Eu tinha decidido. Eu ia para a batalha na escola, pela manhã. Eles queriam uma amiga? Tudo bem, mas ia ser do meu jeito.

— Tchau pai. Tchau mãe — eu disse colocando a mochila nas costas.

— Você está levando algo para comer? Hoje é o seu período integral já que tem educação física.

— É lógico. É comida, eu nunca esqueço a comida.

Meu pai riu.

— Ela puxou isso do seu lado da família — ele implicou com a minha mãe.

— Não começa — minha mãe o atiçou com uma colher de madeira.

Eu e meu pai saímos correndo.

***

Assim que eu cheguei à escola, avistei Frank e Joshua.

Eles tinham quase todas as aulas iguais a minha. Sentei atrás de Joshua como no dia anterior.

Ambos me viram e sorriram, além de darem bom dia.

— Olha — eu suspirei. — Se vocês querem ser meus amigos, tudo bem. Porém...

— Vish, lá vem — sussurrou Joshua.

— Vocês tem que seguir essa lista.

Eu coloquei uma folha na frente deles.

Coisas para não se fazer comigo:

Me abraçar

Ficar grudado em mim

Atrapalhar a minha escrita

Tentar me fazer coisas que eu não quero fazer

ME CHAMAR DE CHARLIE

— Por que a última coisa está tudo em maiúsculo?

— Porque é um erro que tem gente que faz questão de cometer — eu murmurei.

— Okay — Joshua disse.

Frank assentiu com um sorriso.

Eu olhei desconfiada para eles. Eles eram muito legais para simplesmente quererem ser meus amigos.

— Você é muito desconfiada das pessoas, sabia? — disse Joshua.

— Eu tenho razões de ser — eu falei e antes que alguém pudesse perguntar alguma coisa, o professor entrou na sala.

***

Tem muitos motivos para eu odiar educação física: o fato das pessoas virarem animais numa selva, o fato de eu ficar suada, o fato de eu ter que mexer meu bumbum sedentário...

Porém, o fato de ver os meninos jogando basquete certamente NÃO era um deles.

Eu não sou pervertida. Eu não estava olhando com luxúria para eles. Eu apenas estava apreciando a boa vista. Eles podiam olhar para o meu lindo traseiro e para as minhas bolas de cima, mas eu não posso olhar para o corpinho sexy deles?

Não era justo.

Então, ali eu estava, na arquibancada, apenas observando tudo de camarote.

Nossa escola tinha um time de basquete bastante forte. Colby e James estavam nele.

James era mais alto que Colby e tinha mais agilidade, por isso ele tinha mais posse da bola, porém Colby era mais veloz, por isso ele sempre estava roubando a bola do outro time e passando.

Joshua estava sentado do meu lado observando o jogo enquanto bebia um suco de abacaxi.

— Eu queria que as meninas tivesse jogando — ele soltou um muxoxo.

Eu revirei os olhos.

— Eu não. Estou apreciando demais a vista.

Foi a vez dele revirar os olhos.

Percebi que alguém tinha sentado do meu outro lado.

— Oi, Charlotte, eu vim falar com você porque eu queria sabe se...

— Cai fora, Malcon — eu disse sem olhar para ele.

O menino saiu com o rabo entre as pernas. Joshua assobiou.

— Você certamente é má com as pessoas. Por que isso?

Tomei um gole de seu suco.

— Porque as pessoas sempre estão falando comigo atrás de algo, Joshua. Malconzito ali só quer ser meu amigo porque ele quer conseguir alcançar meu pai através de mim.

— Como você sabe?

— Colby me contou.

— E nele você confia?

Eu dei de ombros.

— Eu o conheço desde que éramos pequenos e ele não tem motivos para querer alguma coisa de mim. Sem contar que ele sempre me ajudou, desde pequena. Ele muitas vezes é o olho que eu não tenho.

Suspirei.

— Eu nem sei por que ele me atura. Muitas pessoas tentam chegar até mim através dele. Deve ser um saco — eu roubei outro gole do suco de Joshua.

— Isso apenas significa o quanto sua amizade vale a pena. Viu? Você não é um monstro.

Eu fiz uma cara feia para ele. Joshua riu.

***

— Então, como eu fui? — Frank perguntou limpando o suor numa toalhinha.

— Hm? — eu perguntei.

Estávamos, os três, sentados numa mesinha no refeitório. Joshua quis comprar outro suco já que eu praticamente acabei com o dele e eu queria comprar um pão de queijo.

— Eu perguntei como eu fui, no jogo sabe — Frank explicou.

— Você estava lá? — eu perguntei surpresa.

Joshua deu risada e Frank soltou um muxoxo.

Colby Haynes

James falou alguma coisa que fez eu e nosso amigo, Raymond, rir.

Ray era meio que um ponto entre James e Charlotte. Ele tinha uma língua afiada também, mas não muito e era calmo e divertido como James.

O garoto tinha cabelo preto e olhos castanhos. Assim como nós, ele estava no time.

— Ih, Colby, parece que seu posto de melhor amigo passou pra outro — ele brincou apontando para Charlie que estava sentada com dois novos caras.

Eu balancei a cabeça negativamente para Raymond. Eu estava feliz por ela, afinal ela não tinha amigos.

Mas eu não podia deixar de sentir uma certa chateação e um sentimento de que eu realmente tinha sido trocado. Ignorei isso.

— Vamos lá cumprimentar — Raymond me puxou. Eu suspirei. James não disse nada, só seguiu.

— Olá, DarkShadow — Ray cumprimentou Charlie.

Ela fez um curto aceno com a cabeça para ele. Até que ela estava de bom humor.

— Oi Charlie — eu acenei. Ela bufou.

— Hey, Chars.

— Oi, James.

— Por que James é o único que você cumprimenta? — Ray perguntou, fingindo-se ofendido.

Charlote sorriu diabolicamente.

— Porque ele não me enche o saco.

Eu ri.

Nós cumprimentamos seus novos amigos, Joshua e Frank, e começamos a falar bastante coisa. Frank queria tentar entrar para o time e eu achei a ideia boa porque ele era bem grande. Seria ótimo na defesa.

Chars estava comendo seu pão de queijo em silêncio até que eu roubei uma mordida.

— Sai, diabo — ela resmungou.

Eu dei risada.

— Agora, Charlie, é assim que você fala com seu amigo?

Ela sorriu ironicamente pra mim.

— Está certo. Como eu pude errar? Sai, seu filho da...

— Modos, Charlotte — Joshua brincou.

Ela mostrou seu dedo e continuou comendo. Eu ia zombar dizendo que sua mão era muito pequena quando uma voz atrapalha nossa conversa.

— Colby! Eu nem te vi hoje.

— Quem deixou a vaca sair do pasto? — eu ouvi Charlotte murmurar.

— Justine — eu disse seriamente. — Como vai?

Ela sorriu para mim enormemente.

— Eu vou ótima. Tão ótima que eu vim falar com você — ela piscou os olhos como se fosse atraente.

— Alguém me mate, por favor — Chars grunhiu.