Charlotte DarkShadow

Desde pequena eu tinha mania de escrever. Sempre gostei e me sentia muito feliz, pois minha mãe sempre me encorajava com suas loucuras sobre livros. Quando eu disse que iria escrever uma história, ela me pediu que a principal da minha história tivesse o meu nome.

“Charlote deveria estar parecendo um pimentão. Todos do hotel pararam para ver o que estava acontecendo e Charlie escondeu seu rosto atrás de suas mãos por vergonha.”

Eu acabei parando de escrever já que Colby tinha sentado na minha mesa do refeitório.

— Charlie, por que você não vem sentar comigo e com meus amigos?

Eu fingi que considerei a pergunta e respondi.

— Não, obrigada. Estou bem aqui.

Colby fez um barulho estranho de desapontamento.

— Você pareceu um cavalo.

— O quê? — Ele perguntou arqueando uma das sobrancelhas.

— Esse barulho que você fez, pareceu que você era um cavalo.

Colby deu uma risada alta que me fez ter vontade de sair dali.

— Isso não é uma coisa muito delicada de se falar, sabe.

— Aé? — Eu tomei o meu suquinho. — Foda-se.

O loiro revirou os olhos, mas não disse nada. Depois de alguns minutos, eu virei-me para ele.

— Você pretende ficar aqui?

— Sim.

— Por quê? — eu perguntei como se ele fosse um idiota. O que ele era.

Ele deu de ombros.

— Porque eu gosto de ficar com você. Simples assim.

Bufei e continuei a escrever minha história.

Colby Haynes

O intervalo tinha acabado faz um tempo. Eu estava indo para a Educação Física.

— Hey, Haynes! — algum colega meu me chamou.

— Hm? — eu perguntei enquanto andava calmamente pelos corredores.

— Você sabe, você e a Charlotte estão namorando?

Eu soltei uma gargalhada. As pessoas sempre pensavam que sim.

— Claro que não, Jordan — revirei os olhos. — Nós simplesmente somos amigos de infância.

— Certo — Jordan assentiu como se estivesse num pensamento profundo. — Você sabe, será que você conseguiria me apresentar a ela? Tipo, ela é muito bonita...

Eu olhei com dó para o cara. Ele não era o primeiro a pedir isso para mim. É claro, Charlotte era linda. Ela tinha uma cara fofa, fazendo com que ela parecesse mais jovem até e tinha olhos azuis penetrantes.

Seu único problema era a personalidade.

Francamente, eu não entendia. Charlotte sempre foi bem briguenta quando pequena, mas ela era bem mais amorosa e falante. Isso mudou, alguma coisa tinha acontecido, porém eu não era idiota de perguntar.

Jordan ainda estava falando, mas eu fingi que estava escutando quando, na verdade, eu estava apenas escutando meus pensamentos.

—... Então cara, o que me diz? — Jordan me olhou com esperança.

Eu congelei. Não tinha ideia do que ele tinha falado.

— Jordan, deixe Colby em paz. Se você quer alguma coisa com DarkShadow, vá lá e pergunte a ela.

Eu suspirei de alívio enquanto me virava para olhar meu melhor amigo, James.

Eu tinha conhecido James pouco tempo depois de conhecer Charlotte. O garoto tinha olhos verdes que lembravam um gato e cabelo castanho escuro. Ele já vestia seu uniforme de educação física.

Jordan saiu meio cabisbaixo, mas eu não disse nada. Quando ele sumiu de vista eu comecei a falar com James.

— Obrigado, James.

Ele sorriu e balançou a cabeça.

— De nada, Colby. Eu sei como você fica sem ação quando alguém pede alguma coisa pra você em relação à Charlotte.

Eu suspirei.

— Eu gostaria de ajudar essas pessoas, mas não tem como — eu balancei a cabeça. — Charlie é como uma muralha, nunca soube o que realmente aconteceu para ela ficar desse jeito.

James era o que mais me entendia, porque ele conhecia a Charlie e era um dos meus amigos mais antigos. Ele me olhou confuso.

— Charlotte sempre foi assim, Colby.

— O quê?

— É o jeito dela — ele deu de ombros. — Ela sempre foi fria assim.

— Bem... não com a gente. Lembra, quando éramos pequenos e a gente ia para o meu quintal brincar de bola?

— Ela só não é tão fria conosco porque nós nos conhecemos bem — ele deu de ombros. — Mas por mim, ela sempre foi assim.

Eu não pensava dessa forma. E eu ia descobrir o que tinha acontecido. James me observava atentamente.

— O fato dela ser o próprio demônio com as pessoas não é o único motivo de você não querer que outros caras se aproximem, não é?

Olhei para ele confuso.

— O quê? Como assim?

Ele continuou me olhando atentamente até que balançou a cabeça negativamente.

— Esquece.

Dei de ombros.

— Só por favor — ele sussurrou tão baixo que eu quase não consegui ouvir. Quase. — Não demore para descobrir.

Charlotte DarkShadow

Eu estava totalmente entediada. A professora filha de uma égua de geografia não me deixava ler durante a aula.

E eu precisava o que acontecia com o Ren em A Viagem do Tigre.

Mais uma vez: professora filha de uma égua.

Suspirei e fiquei desenhando no meu caderno.

A aula tinha acabado e nós tínhamos uns dez minutos até que o próximo professor chegasse.

Eu me espreguicei como um gato e comecei a separar meu material de história. Afinal, meu professor, Sr. Paul, já chegava explicando metade da 2ª guerra mundial.

Eu corri e peguei o meu livro na minha mochila e comecei a ler intensamente. Ainda faltavam três livros para eu acabar a série.

A sala estava, como sempre, muito barulhenta.

E eu, como sempre, os ignorava.

Eu sabia o que as pessoas achavam de mim. Que eu era fria, um demônio e que eu deveria ser mais aberta e alegre.

Porém, desde aquele acampamento eu não consegui mais confiar em ninguém.

Tirando Colby e o seu amigo, James, é claro.

Eu ainda podia ouvir as risadas no chalé do acampamento e uma voz falando alto e claro:

“Idiota! Você confiou em mim? Como você pôde fazer uma babaquice dessas?”

Era simples. As pessoas ficavam nas dela e eu ficava na minha.

Por mais que não parecesse, eu nunca me meti em confusão. Eu sempre era aquela garota quieta na dela, que tirava boas notas, porém que era melhor você não falar nada senão seria a mesma coisa que você tivesse pedido para chorar como um bebê.

Isso eu puxei da minha mãe.

Meus pensamentos foram dissipados quando eu ouvi alguém do meu lado.

— Psiu! Ei, você de cabelo preto. Psiu!

Virei-me para dar de cara com o ser mais fofo na Terra.

O garoto tinha cabelo preto e seus olhos pareciam mel derretido. Mas essa não era a parte fofa. A parte fofa era que ele tinha bochechas bem gordinhas e por mais que seu corpo tinha um grande porte, ele parecia um grande urso.

Eu tive uma súbita vontade de abraçar aquele ser.

— O que foi? — eu perguntei pra ele.

Ele ficou olhando para mim até sorrir.

— Oi! — ele acenou freneticamente.

Eu olhei estranho para ele. Como se pedisse para que ele continuasse.

— Sabe, eu sou novo aqui — ele pigarreou. — Então eu queria saber se você queria ser minha amiga.

Agora isso era estranho. Era muito raro, senão inexistente, o fato das pessoas perguntarem: “Quer ser meu amigo?”. Quero dizer, pelo que eu sabia. Afinal, nunca fizeram isso comigo.

Aé, isso é porque eu não tinha amigos. Apenas dois vizinhos, um loiro e um moreno, que me enchiam o saco. Principalmente o loiro.

— E quem é você? — eu perguntei arqueando a sobrancelha.

— Eu sou Franklin. Mas eu não gosto desse nome. Então você pode me chamar de Frank.

Eu ia falar alguma coisa pra ele quando a pessoa que estava sentada na minha frente, virou-se.

— Se ele for seu amigo, eu também quero ser!

Eu dei de cara com um garoto de cabelo castanho cacheado e olhos castanhos escuros. Ele sorria e eu percebi que ele tinha covinhas.

— E quem diabos é você?

— Eu? Eu sou o Joshua.

Eu bati minha cara na minha mesa.

Que ótimo! Já não bastasse que meu dia estava lindo, eu conheci dos malucos querendo ser amigos de uma anti-social.