Incondicional escrita por Selena West


Capítulo 9
Primeiro dia


Notas iniciais do capítulo

Prontas para dois capítulos de uma vez só?

Boa leitura.



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Faltavam dez minutos para tocar o sinal e eu mal havia conseguido achar meu armário. O mapa que me deram era confuso, uma pequena planta do prédio principal com coordenadas de números e letras. A única coisa que eu sabia era que o meu armário era o 85B.

Trombei em vários alunos enquanto tentava passar entre eles. Todos estavam em seus grupos animados e contando sobre suas férias. Senti meu coração apertar, era para eu estar procurando meus amigos, ouvir como Sara e Kalvin tinha passado as férias como um casal pela primeira vez, ou a Santine contar como seu acampamento musical fora incrível, ele sempre era, ou apenas ouvir a Carly contar nossas aventuras nas férias. Eu estava sendo castigada era a única resposta pra tanta falta de sorte.

...

Consegui encontrar meu armário com muito custo, ele era do lado do banheiro masculino, totalmente desapropriado. O abri e joguei de qualquer jeito os livros que recebi na secretária. Olhei para o meu horário, a primeira aula seria de matemática do outro lado do prédio, ótimo.

Fechei meu armário e esbarrei em mais um monte de gente no caminho. A academia Buckston era dividida em dois prédios, o principal que era uma construção antiga com tijolos vermelhos e grandes janelas com molduras de madeira brancas. O chão de mármore brilhava como se tivesse acabado de ser encerado, no saguão duas escadas davam para direções diferentes, o busto bigodudo do fundador dava as boas vindas a quem chegava, uma enorme porta de carvalho que sempre estava aberta dava para o pátio. A parte de fora tinha um jardim no meio do pátio com grandes arvores e bancos de madeira. Do outro lado uma construção com a fachada de vidro com quatro andares, lá era onde ficava o refeitório, laboratórios e mais algumas salas.

O sinal soou antes de eu conseguir alcançar a portaria do prédio de vidro. Praguejei a mim mesma por ser tão lerda. Corri pelas escadas na esperança de chegar antes da professora. Por onde eu passava todos me olhavam de forma estranha, acho que era porque vários fios de cabelo escaparam do meu coque, minha gravata estava frouxa e um lado da minha camisa estava para fora da saia, e eu nem me lembro em que momento isso aconteceu. Cheguei na sala cinco minutos atrasada, a professora já estava na frente da classe explicando a lição do dia.

Bati na porta um pouco alto demais, todos os alunos se voltaram para mim curiosos.

— A senhorita está atrasada. – A professora era uma mulher alta, com nariz aquilino e pequenos olhos hostis.

Coloquei minha camisa de volta dentro da saia.

— Só cinco minutos. É meu primeiro dia, tive dificuldade em achar meu armário, por isso me atrasei e...

— Basta, não tolero atrasos. – Ela me interrompeu bruscamente.

— A senhora está sendo muito má. – Falei sem pensar, era um péssimo momento para me tornar como a Carly.

Os olhos da professora se estreitaram, era um olhar de ódio. Os alunos estavam rindo da minha impertinência. Eu nunca havia sido mal educada com um professor, pelo contrário, era sempre elogiada pelo meu comportamento exemplar. Só estava cansada de me dar mal o tempo todo.

A professora pediu silêncio e instantaneamente todos se calaram e voltaram a fazer seja lá o que estavam fazendo antes.

— Quanto a você senhorita... – A professora esperou eu dizer meu nome.

— Summer Morrison.

— Senhorita Morrison, acho que é hora de você conhecer o diretor Mckellen.

Ótimo.

— Não sei como era na sua antiga escola, mas aqui temos regras que devem ser seguidas por todos, sem exceções. – Fui advertida. Era um péssimo jeito de começar o primeiro dia de aula.

Caminhamos até o prédio antigo, o de tijolos vermelhos. A professora não soltou meu braço um segundo sequer, ele estava começando a ficar dolorido. Passamos pelo saguão em direção ao elevador em canto escondido, ela apertou o botão do último andar e subimos. As portas do elevador se abriram relevando um amplo corredor com piso de madeira escura. Nas paredes pinturas de todos os diretores da Buckston em seus 110 anos decoravam o cômodo, inclusive uma do cara bigodudo do saguão, o fundador da academia. A professora abriu uma porta de madeira e entrou em escritório cheio de mesas.

Uma moça jovem de cabelos preto chanel e com um vestido amarelo veio nos atender.

— Bom dia Senhora Gregori e... Aluna? – Ela pareceu confusa.

— Esta mocinha precisa ter uma conversa com o diretor. – A professora disse com um tom superior.

A moça suspirou.

— Jane, você não pode trazer todo aluno que se atrasa ou faz barulho de pum quando você se senta. O diretor está muito ocupado, estamos no inicio do ano letivo, temos muito trabalho por aqui. – Ela parecia ser legal, pelo menos era mais sensata do que a senhora Gregori.

A professora de matemática soltou meu braço e se aproximou da moça. O cabelo da professora Jane estava preso em um rabo de cavalo, isso fazia o rosto dela parecer mais fino e ameaçador. Fiquei ali assistindo o embate entre a senhora Gregori e a secretária, perdeu a graça depois de cinco minutos, eu estava começando a ficar entediada.

A professora pegou o telefone da mesa e o empurrou para a moça de amarelo.

— Seja uma mocinha prestativa. Anuncie que preciso falar com ele a-go-ra. – Aquela era uma mulher persistente, não sairia dali até conseguir o que queria.

— Tudo bem. Vou ligar e ver se o diretor pode te atender. – A moça pegou o telefone e discou rápido os números. Não demorou muito para o diretor atender. Após alguns segundos de conversa ela desligou. – Podem entrar.

A professora agarrou de novo meu braço e me levou junto dela. Devia haver leis sobre arrastar um aluno pela escola segurando o seu braço, eu iria processar aquela bruxa.

Passamos por algumas mesas até chegar uma porta de vidro grande, do outro lado era possível ver uma sala ampla com uma mesa de madeira, estante de livros, um armário com alguns troféus e uma bandeira do país. Sentado na mesa estava o diretor Mckellen, magro, calvo e muito elegante. Assim que entramos Mckellen se levantou para nos cumprimentou.

— Bom dia, em que posso ajuda-las? – O homem devia ter uns sessenta anos, os cabelos eram mais branco do que loiro.

— Esta aluna chegou atrasada, interrompeu minha aula e me insultou. – Ela cuspiu as palavras sobre o diretor que ouviu tudo sem esboçar reação alguma. – Exijo que medidas sejam tomadas contra esta delinquente.

Mckellen refletiu por um momento antes de falar.

— O que você tem a dizer sobre isso senhorita? – Dessa vez se dirigiu a mim.

— É meu primeiro dia aqui, ainda não sei me localizar nessa escola enorme. Corri feito uma louca pra chegar a tempo, foram apenas cinco minutos. Peço desculpa a senhora Gregori por ter dito que ela estava sendo má comigo, foi muito rude da minha parte. – Podia jurar que vi um pequeno sorriso no diretor quando disse que chamei a professora de má.

— Senhorita Morrison. – Ele disse meu nome sem eu ter contado qual era, aquilo era muito bizarro. – Temos regras simples e bem rígidas, espero que as siga e que não tenhamos mais problemas quanto a isso. Seu padrasto foi muito lisonjeiro quanto ao seu currículo acadêmico, não gostaria de ter que colocar uma advertência nele.

Jeremy havia me elogiado? Por qual razão faria isso? Nós sempre nos demos bem, isso quer dizer que nos cumprimentávamos e não discutíamos. Meu padrasto falar bem de mim para o diretor não parecia muito com o Jeremy que eu conhecia. Provavelmente minha mãe o mandou dizer algo bom ao meu respeito, era a cara dela fazer isso. Para preparar o terreno, mamãe diria.

— Nem eu gostaria disso. Irei me esforçar mais para fazer jus aos elogios. – Tentei parecer convincente.

— Perfeito. Pode voltar para aula agora. – Minha deixa para sair. – E senhora Gregori, tente resolver seus problemas na sala de aula, não posso mediar toda vez que um aluno a desagrada.

Professora apenas acenou com a cabeça e saiu da sala comigo logo atrás dela. Dessa vez eu andei do lado dela sem precisar ser arrastada, a professora parecia bem contrariada, acho que esperava que eu fosse expulsa. Para o infortúnio da bruxa o diretor era um homem bem justo. Quando chegamos a sala o sinal anunciou que era o fim da aula, o tempo foi suficiente apenas para Jane dizer que queria ver os exercícios na próxima aula. Alguns garotos me cumprimentaram na saída por não terem tido aula de matemática, fiquei na duvida se achava aquilo bom ou ruim, não queria ser conhecida como uma má aluna.

...

A ultima aula antes do almoço era de biologia, sentamos em duplas e estudamos fungos. Minha dupla era um garoto chamado Oliver, ele era legal, me ajudou a fazer o questionário, porém Oliver só falou sobre fungos durante a aula. Minhas tentativas de puxar assunto foram um fracasso, acabei desistindo e me conformando. O sinal tocou anunciando a hora do almoço. Guardei minhas coisas na mochila e entrei na fila pra sair da sala, na porta dei de cara com o Darren.

Eu não iria deixar ele me intimidar.

— Até aqui? Você nunca cansa Darren?

Recebi um sorriso sacana como resposta.

— Para de rir, não tem graça nenhuma. Me deixa em paz. – Estava quase gritando, algumas pessoas passavam olhando a cena e saiam comentando. Dane-se todos.

Uma garota passou na minha frente e deu o beijo em Darren, o mais indecente que já tive o desprazer de presenciar. Desviei o olhar até os pombinhos pararem de se beijar.

— Mandy! Senti sua falta gata.

— Terminou? – Ironizei.

A garota se voltou para mim.

— E quem é você? – O desdém na voz dela era nojento, uma versão feminina de Darren.

Eu tinha feito papel de trouxa, percebi assim que o sorriso de Darren dobrou de tamanho.

— não te interessa quem sou eu.

— Ela é filha daquela magrela que se casou com meu pai. Acredita que a Morrison acha que eu vim até aqui por causa dela?

Lancei um olhar de ódio para Darren, o que queria que eu achasse? Darren vive me perseguindo e de repente aparece na porta da minha sala, é lógico que eu iria pensar que era mais uma provocação dele.

— Cala boca. – Resmunguei.

— Essa é a sua irmã postiça? – A garota falou “postiça” como se fosse algo vergonhoso.

Darren não respondeu.

— Ele não é meu irmão. – Respondi por ele. – Minha mãe casou com o pai dele, mas isso não nos faz irmãos.

— Só faz você uma intrusa na minha casa. – Darren sempre tinha uma resposta.

Mandy riu como uma hiena. Ela era bonita, olhos azuis escuros, cabelo preto, boca carnuda e cílios grades, e aquela saia era um palmo mais alta do que a minha, eu podia provar. Os dois se abraçaram e saíram em direção ao refeitório. O David estava certo, eu não sobreviveria muito tempo na Buckston, não sem mudar de atitude.


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Notas finais do capítulo

- É estranho escrever sobre o ensino médio quando fazem 4 anos que já me formei kkk.
— Minha Amandas que me perdoem, mas sempre acho minhas vilãs com cara de Amanda/Mandy.

E ainda tem mais hoje galera.



Beijos.
S.W.



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