Incondicional escrita por Selena West


Capítulo 8
Cometa Harlley


Notas iniciais do capítulo

Ciao! Mais um capítulo saindo do forninho rsrsrs.

Aproveitem ;)



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Tradicionalista, a academia Buckston exigia que seus alunos usassem uniformes, para os garotos terno e calça azul escuro com o brasão da escola bordado sobre o peito, camisa branca e gravata preta. Para as garotas as mesmas cores, em uma saia de pregas que batia na altura dos meus joelhos e um tailleur.

O brasão era composto por um escudo dourado com três estrelas em cima, dentro do escudo uma águia carregava um salmão em suas garras, no fundo atrás da águia uma montanha se confundia com desenho de um lago, era uma gravura bonita e rica em detalhes, Não fazia ideia de qual seria o significado dela.

Vesti meu uniforme e me olhei no espelho, fiz um coque simples, fiquei parecendo uma aluna de intercâmbio vinda da caretolândia. Odiei aquele uniforme, parte por parecer algo vindo da década de 20 e parte por ser um aviso constante de que minha vida nunca mais seria a mesma, eu não seria a mesma. Na Franklin high school nunca precisei usar uniformes, era livre para expressar toda minha singularidade.

...

Desci para tomar café junto com os outros. Essa era a única refeição que fazíamos juntos. No almoço e no jantar eu comia na cozinha, foi bem difícil convencer a Edwiges, ela ficava dizendo que eu estava atrapalhando o serviço e que meu lugar era na sala de jantar. Não queria comer naquela mesa enorme, era estranho demais.

Darren e minha mãe trocaram de lugar, suspeitei do motivo, o que levaria Darren querer se sentar ao meu lado se no dia anterior ele havia dito que a minha cara fazia o leite dele azedar. Aposto que minha mãe estava por trás disso.

Sentei no meu lugar de sempre, dessa vez ao lado de Darren e de frente para minha mãe. O Darren ficava lindo no uniforme da academia Buckston, seu cabelo estava penteado em um topete e cheio de gel, me fazia lembrar o cabelo do James Dean, era tão injusto eu parecer uma idiota e ele ficar deslumbrante com aquela roupa. Darren se virou para mim e me pegou o olhando, fingi que nada havia acontecido.

Minha mãe não disse nada durante o tempo que ficamos na mesa, porém seu sorriso condescendente entregava que havia algo omisso na troca de lugares. Só não entendia o motivo e como ela conseguiu convencer o Darren se comportar, ele deixou bem claro que não gostava de mim e da minha mãe.

Terminamos o café juntos. Esperei mamãe para me dar carona. Ela apareceu na sala com de mãos dadas com Bree que usava um uniforme azul e branco semelhante ao meu, exceto pela ausência do tailleur.

— Você ainda está aqui? - Minha mãe perguntou surpresa.

— Sim, estou te esperando. - Era o óbvio.

— Vou levar a Bree, eu te disse isso ontem.

— Não, você não disse.- eu não estava ficando louca. Eu me lembraria se ela tivesse dito que eu iria ter arranjar outro jeito de ir para escola. As atitudes dela ficavam cada vez mais suspeitas.

Mamãe bateu com o indicador nos lábios.

— Eu podia jurar que falei. Bem, agora já prometi a Bree, não posso levar as duas, não daria tempo. Você não se importa? - Mamãe olhou o relógio e levou Bree para a porta.

Atitude suspeita de novo.

— Não, tudo bem. Vou de trem.

— Eu sabia que você entenderia.

Ela passou por mim, deu um beijo em minha testa e saiu com Bree dando risinhos. Seja lá o que minha mãe tinha em mente eu não estava gostando nada daquela história.

Assim que sai pela porta, Darren me atingiu com um capacete vermelho. O peguei no ar por sorte, aquela coisa quase acertou meu nariz.

— O que significa isso? Cansou de me acertar com suas palavras, agora vai me agredir também? – Joguei o capacete de volta para ele, Darren o pegou com mais agilidade do que eu.

— Vou te dar uma carona.

Fiquei sem saber o que responder. Primeiro a minha mãe toda estranha e depois Darren me oferecendo uma carona. Algo não cheirava bem.

— Morrison. Só estou tentando ser legal. – Ele deu o pior sorriso falso do mundo.

— Comigo? A Morrison? A golpista, sem graça e sem sal?– Perguntei incrédula. Darren estava tramando algo.

Darren começou a rir sozinho, o que me irritou profundamente.

— Para com isso. Me fale a verdade agora. – Exigi.

— Sua mãe me viu pegando a Ferrari clássica do meu pai, ele me mataria se descobrisse. Então sua mão trocou o silêncio dela por eu ser menos chato com você. Simples assim.

Eu não podia estar ouvindo aquilo. Minha mãe estava acobertando Darren, pior ainda estava o chantageando. Mais esperta do que eu pensava, eu teria contado ao Jeremy só pelo prazer sádico de ver o Darren se ferrando.

Ponderei os riscos de andar de moto com Darren, o garoto não era confiável, nem mesmo com a minha mãe envolvida. Estava decidido, eu iria de trem, apenas três estações mais uma pequena caminhada, nada demais. Não iria arriscar ser deixada no meio do caminho ou levada para um lugar desconhecido.

Darren subiu na moto e estendeu o capacete para mim.

— Anda logo, não tenho o dia todo.

— Não, obrigada. Prefiro ir pelo metrô. - Coloquei minha mochila e sai andando em direção ao portão.

Darren veio atrás de mim com a Harlley.

— Morrison, não seja estupida. Você nunca vai chegar na hora. – Ele alertou.

Respirei fundo, contei até dez.

— Vou dizer que você foi legal, mas eu não quis a carona por ter medo dessa monstrenga. – Acenei para a moto dele. – Ficamos os dois felizes. Você pode conviver com isso?

Darren pareceu ponderar minha proposta. Ele iria aceitar, me levar na sua garupa devia ser a ultima coisa que queria fazer.

— Beleza. Não se esqueça de dizer que fui muito simpático. – A voz dele saiu abafada por causa do capacete.

Eu ri.

Parei assim que percebi o que estava fazendo. Darren era meu inimigo declarado em uma hora e na outra estava me oferecendo carona, me fazendo rir. As coisas estariam finalmente mudando? Eu esperava que sim, estava cansada de brigas e provocações.

Parei de imaginar coisas e sai correndo, se não andasse logo chegaria atrasada. A Buckston não tolerava atrasos, não iria começar meu primeiro dia com o pé esquerdo. A primeira impressão é a que fica.

...

A estação do metrô ficava a quatro quarteirões de distância da casa. A entrada para o subterrâneo era simples, com ladrilhos verdes e brancos, com um corrimão de ferro com desenhos art nouveau. O cheiro não era dos melhores, no entanto em comparação com as estações do subúrbio era perfume francês. Comprei minha passagem no guichê, a moça que me atendeu parecia estar tendo um dia péssimo, jogou as moedas de volta com uma cara ameaçadora quando disse "bom dia pra você também”. Passei pela catraca e esperei o trem ao lado de uma moça com um bebezinho fofo.

Não demorou muito para o trem passar, estava meio cheio, sem lugares para sentar. Entrei e fiquei em pé próxima a porta de saída. Do meu lado uma senhora sorria excessivamente para mim, depois de um tempo comecei achar o comportamento dela estranho, mudei de lugar. Dei de cara com um garoto que também usava o uniforme da Buckston. Ele era alguns centímetros mais baixo do que eu, seu cabelo ruivo estava bagunçado em baixo de sua toca de lã verde. Seus olhos azuis eram rápidos e um pouco intimidadores.

— Oi. Você também é da Buckston? – Acho que ele não sabia como puxar assunto comigo, por isso perguntou a coisa mais óbvia que veio a sua cabeça.

— Sim, assim como você. Sou Summer. – Estendi a mão para ele.

— Sou David. – o ruivo apertou minha mão com pouca força. – Achei que fosse o único que pega metrô para escola.

Pensei em contar toda minha história, mentira, não pensei.

— Minha mãe não pode ir me levar. E o motorista... Bem, não gosto de motoristas. – David olhou para mim como se eu fosse um et. – Gosto de me virar sozinha. E você?

Tentei tirar os holofotes da conversa de cima de mim.

— Sou a favor do planeta. Faço parte de um grupo que está deixando os carros em casa pra diminuir o buraco na camada de ozônio. As pessoas parecem não entender que nosso planeta é finito e se não tomarmos atitudes contra as agressões a mãe natureza, logo não teremos mais um planeta para vivermos.

— Triste, coitado do nosso planeta. – Eu disse sem muito interesse. Eu não era exatamente a melhor amiga do planeta, também não era defensora do desmatamento, só preferia ficar na minha e deixar os protestos por conta de pessoas como David.

— Você está em qual ano? – Mudei de assunto antes que ele me convidasse para abraçar uma árvore no central park.

— Apesar de ser menor do que a maioria dos garotos sou último ano. – Ele riu de si mesmo. – E você?

— Segundo, mas é meu primeiro ano na Buckston, estudava em uma escola pública antes. – Porque eu sempre falo demais?

— Escola pública é? Nossa, boa sorte. Irão te comer viva lá.

Aquele comentário foi muito desagradável. Me virei para a porta, ignorei o David o resto da viagem. Meu animo baixou consideravelmente, todas as esperanças de me dar bem sumiram. Prometi a mim mesma que não contaria mais de onde eu tinha vindo, mas sabia que Darren o faria por mim. Eu estava perdida.


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Notas finais do capítulo

Adooorón carros e motos, sério, principalmente os clássicos



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