Incondicional escrita por Selena West


Capítulo 7
Dia das garotas


Notas iniciais do capítulo

Olá, prontas para mais um capítulo?

Boa leitura.



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Passei o resto da semana dormindo com a porta do quarto trancada, depois da minha cena com o Darren temi que ele depilasse minhas sobrancelhas enquanto eu dormia. Por sorte ele não fez nada, apenas as provocações de sempre. Ele era tão imaturo, agia como aquelas crianças peste de filmes que aprontam com a nova babá, era mesmo necessário todo esse drama por que o pai dele se casou com a minha mãe. Ele poderia se vestir de preto e fazer umas tatuagens em protesto, mas me perseguir era um pouco demais.

...

Era sábado, isso significava que Carly viria me visitar para uma tarde de garotas, eu sempre ia a casa dela ou no shopping para evitar o Darren. Dessa vez ela disse que viria até a mansão, que eu não podia me deixar intimidar pelo meu irmão postiço. Ela tinha razão, havia fotos minha na sala, aquela também era a minha casa.

Acordei cedo para tomar café, como o Jeremy pediu. Desci as escadas me arrastando, levantar as oito no sábado era muita maldade. A mesa já estava posta com as guloseimas feitas pela Edwiges a cozinheira. Sentei no lugar de sempre. Estranhei o silêncio, a Bree estava com os olhos e nariz vermelho como se tivesse chorado muito.

– Bree? O que houve? – Perguntei preocupada.

– Nada. – Ela fungou ressentida.

– O Jeremy disse que não pode ir a apresentação de balé dela. – Minha mãe confidenciou.

– Eu tenho uma pequena viagem para fechar um contrato, não posso desmarcar. Sinto muito meu anjo. - Ele não pareceu muito sincero.

– Nós estaremos lá Bree. – Eu tentei animá-la.

Aquela cena cortou meu coração em pedaços, a Bree não merecia o pai que tinha. Ela é sempre tão sensível e doce, era maldade magoar os sentimentos daquela criança. Jeremy continuou seu café como se nada tivesse acontecido, se ela fosse minha filha eu mandaria o contrato para os ares, é o que minha mãe sempre fez por mim, abriu mão de várias coisas para me ver sorrir, foi o que fiz por ela quando vim morar com os Ferris. Eles precisavam aprender muito sobre amar uns aos outros.

Consegui comer apenas um pouco de cereais, o clima na mesa me deixou sem fome, o café da manhã estava se tornando uma zona de guerra de pais contra filhos. Nem mesmo meu apetite voraz era capaz de sobreviver aquela tensão toda. Pedi licença e sai da mesa antes dos outros, eu necessitava dormir mais um pouco antes de a Carly chegar para passar o dia comigo. Voltei para o quarto e me enterrei em baixo do meu edredom.

Sonhei com Eric, revivi várias vezes a nossa tarde na praia. Ele não saia de minha cabeça, me sentia tão bem por ter ele comigo. Eu o vi mais três vezes depois de nosso encontro, só que dessa vez fomos a lugares mais comuns, como o cinema e a restaurantes. Nossa relação era confusa, ele me ligava toda noite e saímos mais algumas vezes, mas eu não sabia se estávamos namorando, ele nunca pediu.

Levantei da cama por causa do som alto vindo de um dos quartos, era uma musica clássica. Vesti meus chinelos e fui ver o que estava acontecendo. Coloquei a orelha na porta do quarto da frente que era da minha mãe, não havia ninguém lá. Continuei seguindo o som e descobri que vinha da quarto de Bree. A porta estava aberta e dava para ouvir o som de risadas, a dela e do Darren. Fui espionar o que eles estavam fazendo.

Bree estava usando a roupa de bailarina que minha mãe foi com ela comprar, o coque em seu cabelo estava meio torto e havia gliter em seu rosto. Ela rodopiava no ritmo da música e sempre parava em uma pose diferente fazendo careta, Darren ria com ela toda vez que isso acontecia. Observei a cena pasma, eu achava que Darren fosse um sem coração, ele e a irmã não eram exatamente próximos, ou será que eram e eu nunca percebi?

– Vamos Bree. Pare de brincar, me mostre como vai ser a dança do recital.

– Só se você não contar para ninguém. – Bree piscou para ele.

– Eu prometo. – Ele desenhou um x no peito como selo da promessa.

Bree veio foi até o rádio para colocar a música de novo. Ela me viu escondida no canto da porta e fez cara feia.

– Xeretando, que feio hein? – Ela balançou o dedo em minha direção.

– Fui pega. Ops! – Levantei as mãos em sinal de rendição.

– Vem me ver dançar. – Ele me pegou pela mão e me sentou na cama ao lado de Darren.

Quando Darren virou pude ver que seu rosto estava cheio de brilho como o de Bree. Tirei o meu celular do bolso do pijama e tirei uma foto.

– Bela maquiagem Darren. – O flash o cegou por alguns segundos.

– É só gliter Morrison, não é maquiagem. A Bree me obrigou. – Ele sequer tentou pegar o meu celular.

– Meninos só podem entrar aqui se brilharem. – Bree disse como se aquilo fizesse muito sentido.

– Por quê?

– As garotas brilham por natureza, garotos precisam de uma ajudinha.

Tentei não rir, ela parecia acreditar mesmo naquilo.

– Bem, quero ver sua dança. – Eu disse animada.

– Antes você pode arrumar meu coque? O Darren não sabe fazer essas coisas. Ele fez o coque? Ok, eu realmente estava enganada a respeito do quanto Bree e Darren se davam bem.

– Claro.

Arrumei o cabelo dela, dessa vez ficou muito melhor. Bree reiniciou a música, um clássico lento e pouco conhecido. Ela levantou as mãos e baixou o rosto, esperou um pouco e deu três piruetas seguidas com os braços levantados, ela fez vários passos complicados com muita graça, sempre com o rosto sereno. Ela tinha muito talento para a dança. No fim de sua apresentação eu e Darren batemos palmas em pé para ela, que agradeceu com uma reverência.

Darren continuou com Bree e eu fui me vestir para receber Carly. Ela mandou uma mensagem dizendo que já estava quase chegando, fazia um tempo que eu não via a Carly, as férias estavam quase acabando e nos veríamos pouco nos próximos meses, até o recesso de natal.

Carly mandou uma mensagem dizendo que estava na frente da minha casa. Liguei para o segurança autorizando a entrada dela. Sai e a esperei na entrada, em poucos segundos o Focus amarelo apareceu no jardim, aquele carro era um atentado ao bom gosto.

– WOW, apenas WOW. – Carly disse olhando para a casa. – Você está morando com o Jhonny Depp e não me contou?

– Quem dera. – Suspirei alto, Jhonny Depp era o nosso namorado no primário a cada semana ele pertencia a uma de nós, coisa de criança boba.

– Como você está? – Ela me abraçou.

– Supreendentemente bem.

– Trouxe comida coreana, minha hal-meo-ni* insistiu. – Carly me entregou uma sacola com potes cheios de comida.

– Sua avó é sempre muito atenciosa, agradeça por mim. – A avó de Carly era dona de um restaurante coreano no centro de Nova York, às vezes eu e Carly trabalhávamos lá para ganhar algum dinheiro. A hal-meo-ni Hongki dizia que erramos lentas e não servíamos para o serviço, porém sempre deixava a gente ajudar. Ela tem quase noventa anos, os cabelos dela parecem algodão de tão brancos.

– Darei o recado. Agora me mostre esse belezura por dentro.

Mostrei a casa para Carly, exceto os quartos ocupados e o escritório do Jeremy. Ela ficou encantada com o tamanho da mansão, o lugar era realmente grande, para nós que fomos criadas em apartamentos era um castelo. O fim do nosso tour foi a piscina. Era um dos meus lugares favoritos na casa.

Passar a tarde com a minha amiga como nos velhos tempos me fez esquecer tudo o que enfrentei desde que me mudei. Ela era um dos poucos vínculos que eu consegui manter com a minha antiga vida, eu ainda tinha meus outros amigos da escola, mas não era a mesma coisa. Eu tinha que me desapegar, nunca voltaria para o apartamento em Downton Brooklyn.

– Então você e o Eric estão namorando? – Carly se virou em sua espreguiçadeira.

– Não tenho certeza, ele não pediu.

– O cara te leva para uma ilha e não te pede em namoro? Qual o problema dele? – Sempre exagerada.

– Estamos apenas saindo. – Defendi Eric.

– E como você se sente com essa situação de “Apenas saindo”? – Ela fez aspas com as mãos.

– Não me importo. – Menti.

– Duvido. – Carly me conhecia bem.

– Estou apenas curtindo o momento. – Menti de novo.

– Você não curte nada Summer. Posso contar nos dedos as vezes que você quebrou as regras, não me leve a mal, você é bem legal, mas é chata que dá sono. – Carly fingiu bocejar.

– Não sou certinha. – Protestei.

– Sim, você é.

– Não quero mais tomar sol, estou torrando, vamos entrar. – Peguei minhas coisas e Carly fez o mesmo dando um risinho debochado.

Passamos o resto do dia na sala assistindo filmes e comendo. Depois do balé, Bree se juntou a nós, ela precisava da companhia de garotas, a pobrezinha sempre viveu com homens, é impressionante ela dançar balé ao invés de jogar futebol. Aquela se parecia com uma vida que eu gostaria de ter, recebendo minhas amigas, brincando com a minha irmã mais nova, em uma casa maravilhosa, pena que pra isso ser real era preciso se livrar do Darren de uma vez por todas.

A porta da sala se abriu e todas nos viramos para ver quem iria entrar.

– Estamos sendo invadidos pela China. – Darren disse para Carly assim que a viu.

– Sou coreana, enviado do satã. – Aquele era o apelido que demos a ele quando conheci o Darren.

– Tanto faz ching-ling. – Darren deu de ombros.

Darren deu as costas e foi em direção a escada.

– Por fora tão durão, por dentro tão sozinho, não é? Me diz Darren, você tem amigos? Uma namorada? Ou sua vidinha miserável se resume a transformar a da minha amiga no mesmo lixo que é a sua? – Carly aumentou o tom de voz, Darren apenas parou onde estava sem se virar para nós. – Pobre menino rico, eu tenho pena de você que não sabe apreciar a felicidade do seu pai e respeitar duas pessoas incríveis que entraram na sua vida, e eu posso te afirmar que você só tem a perder com essa sua atitude infantil.

Darren fechou os punhos, respirou fundo. Por um momento achei que ele fosse se virar e dizer coisas horríveis, mas ele apenas subiu as escadas sem dizer nada. Não acreditei, Carly conseguiu calar meu “irmão”, coisa que eu nunca consegui fazer.

– Darren! – Bree correu atrás dele.

– Como? – Foi tudo o que eu disse.

– Ele é como um cãozinho desobediente, se você não mostrar quem manda vai continuar latindo pra você.

– Carly, por favor, não vá embora.

– Ele não é tão durão.

Eu queria ser como a Carly, corajosa, dizer tudo o que eu queria para todo mundo, ao invés de todo mundo me dizer tudo o que queria e eu ouvir calada.


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Notas finais do capítulo

Summer deixando de ser mosca morta em 5,4,3,2,1 e....
Vocês já procuraram os nomes dos lugares que eu coloco aqui? Deveriam, eles existem. No caso da Ilha e de Hampton Bays, eu dei uma de louca e ignorei a geografia, pq Nova York e Hampton ficam beeem longe uma da outra, mas né ... kkkk
Gente eu não sei falar coreano, não conheço muito da cultura, então me perdoem se eu colocar algo errado. e hal-meo-ni significa avó, mas isso vocês perceberam no texto, aposto.


Beijos.
S.W.



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