Encontrei Darren na beira da piscina, seus pés estavam dentro da água balançando de um lado para o outro fazendo pequenas ondas na superfície. O que ele estaria fazendo ali? Estava frio demais para nadar. Ao seu lado estava uma garrafa do bar da mansão. Afinal o que estava acontecendo? Darren sumiu a tarde inteira, não ligou, não pareceu onde marcamos para estudar e estava bêbado na piscina. Não era o garoto que eu amava, a antiga versão havia voltado, ou nunca fora embora.

Nuvens cobriam o sol fazendo com que estivesse mais escuro do que o comum para o horário. Uma penumbra envolvia meu coração, a dúvida sobre o que estava acontecendo ali. Darren prometeu que não beberia mais, foi uma das minhas condições para termos um relacionamento, ele quebrou sua promessa e eu esperava que fosse por uma ótima razão.

Sentei ao lado do meu namorado na beira da piscina, por alguns instantes Darren ignorou minha presença. Não permitiria que ele me tratasse daquela forma.

— Por que está bebendo? – Foi uma pergunta simples.

— É a minha despedida. – Darren chutou um pouco de água para cima. – Vou para o Canadá amanhã.

Fiquei estática, as palavras não queriam sair, Darren estava tão bêbado que não dizia coisas coerentes.

— Canadá? O que você vai fazer lá? – Não queria saber, não podia ser verdade.

— Morar com os meus avós. Irei terminar o colégio lá.

— Você decidiu isso hoje? Quando iria me contar? – Minha voz tomou um tom histérico. – Você pretendia me contar?

— Estou contando agora, não estou?

Darren pegou a garrafa que estava do seu lado, a virou para conferir se ainda restava um pouco da bebida, mas ela estava vazia, rolou a garrafa para debaixo de uma das espreguiçadeiras. Estava bêbado, o cheiro de álcool que exalava de seu corpo era insuportável. Impossível pensar em um estado mais lastimável do que aquele.

— Essa brincadeira não tem graça. – Estava perdendo a paciência.

— Não estou brincando, já comprei a passagem, está em cima da minha cama. Duvida? Pode ir lá olhar, eu espero.

Não precisava ir ver, sabia que não era um blefe.

— E quanto a nós? – Segurei as lágrimas que surgiam.

— Nós? Não existe “nós”. – Darren fez aspas com as mãos ao dizer nós. – Morrison. Por favor, o que temos é apenas um passatempo, sabe, diversão. Eu vou me formar e você continuará na escola, por um ano! Achou mesmo que eu iria esperar por você? Que eu adiaria minha partida?

Não pude mais segurar as lágrimas, elas surgiram como um rio que não pode ser contido.

— Ah não, você acreditou mesmo que eu iria esperar? – Darren passou mão pelo cabelo e parou na nuca. – Nossa, isso é bem constrangedor. – Ele deu de ombros. – Achei que estávamos na mesma vibe do romance proibido. Foi divertido, admita.

— Eu acreditei nos seus sentimentos por mim, me entreguei no momento mais frágil da minha vida. Você sabia o quanto estava sofrendo, o quanto meu coração estava partido. – Comecei a gritar sem me importar muito com quem iria ouvir. – Achei que depois de Eric nada mais poderia me machucar, mas ai veio você com o ombro amigo quando meu pai morreu, disse que eu poderia confiar. Como eu sou burra!

— Seu erro foi ter se superestimado. Achar que o amor pode mudar alguém? Acredita em fadas também?

Aquele era o antigo Darren, o maldoso sem coração, que não se importar em machucar as pessoas ao seu redor, não queria acreditar que tudo havia sido uma farsa, um jogo.

— Eu vi algo além da casca podre de Darren Ferris. Não é possível que todos os nossos momentos tenham sido uma mentira!

— Morrison, o problema é que eu sou podre por dentro também. Você deveria saber.

Empurrei Darren para dentro da piscina, o empurrei com toda a minha força, voou água para todos os lados, o garoto me xingou enquanto emergia.

— Agora eu sei. – Gritei, sai da área da piscina arrasada.

As nuvens adivinharam o que acontecia ali em baixo e mandou uma tempestade, a chuva começou de repente, corri para casa sem me molhar muito. As palavras de Darren ecoavam dentro da minha cabeça, se fosse um pesadelo era uma ótima oportunidade para acordar. Não acordei, não era sonho. Devia haver alguma maldição contra mim para que todo namorado que eu arranjasse fosse um completo babaca, se Eric havia sido um idiota, Darren conseguiu ser ainda pior, porque eu realmente acreditei que ele queria ficar comigo, ao contrário de Eric, Darren demonstrava que me amava, ele me disse, mas palavras nunca foram prova de nada.

Na sala estava minha mãe e Sue, as duas pararam para me observar quando entrei molhada. Sue entendeu que era sua deixa para sair da sala, minha mãe ficou me encarando com uma expressão confusa, estava esperando alguma explicação. Eu não poderia contar o que realmente me afligia.

— Darren. – Disse com raiva, apenas o nome dele seria o suficiente para mamãe entender que o seu enteado havia aprontado mais uma. Nada fora da rotina da casa.

— Vá se secar, querida. – Minha mãe sabia que não era um bom momento para conversar.

Subi as escadas batendo os pés, um ato infantil, eu sei. Queria que todos soubessem o quanto eu estava com raiva, era mais fácil lidar com o ódio do que com a mágoa. Entrei no quarto de Darren, não sei exatamente quando tomei a decisão, mas precisava ver com meus olhos a passagem, queria ter certeza, ou apenas me machucar mais. Talvez as duas coisas.

O quarto estava escuro, a chuva batia contra a janela com violência, a tempestade estava aumentando. Aproximei-me da cama, em cima da colcha verde musgo estava o que eu temia, a passagem de avião para o Canadá, apenas ida, sem volta. Darren iria mesmo partir, talvez se eu não tivesse o confrontado na piscina sequer se despediria de mim, na manhã seguinte eu acordaria e ele teria partido para sempre. Meu coração se despedaçou em milhares de pedaços e eu não acreditava que um dia ele pudesse voltar a ser inteiro.