— Ainda não acredito que você e o enviado do satã estão namorando. – Carly disse desacreditada.

— Não estamos namorando... Não oficialmente. – Estávamos juntos há mais de duas semanas, no entanto Darren achou melhor esperar mais um pouco para contar para a nossa família.

— É loucura! Até pouco tempo atrás você e o Darren se matariam na primeira oportunidade. – Carly fez um sinal com as mãos simulando que sua mente havia explodido. – Mal posso expressar a minha indignação.

— Hey! – Dei um chute leve em seu tornozelo.

— É difícil acreditar que o Darren tenha mudado tanto em tão pouco tempo. Convenhamos que ele nunca demonstrou um senso de decência muito apurado.  Perdoe-me, não consigo confiar completamente nas intenções dele.

Eu entendia a preocupação da minha melhor amiga, sabíamos que Darren havia feito muitas coisas ruins para mim desde que nos conhecemos, ainda era meio complicado processar o que sentia por ele. Passei meses desejando que Darren simplesmente desaparecesse e passei a  mal conseguir conter o sorriso que brota em meus lábios quando o vejo.

— Você me deu força para sair com ele. Lembra? – Provoquei.

— Achei que ele aprontaria algo, não que vocês fossem viver uma versão do romance Lannister. – Fiz uma careta para a menção dos personagens de Game of Thrones. – Desculpa, sei que vocês não são irmãos, mas sua mãe e Jeremy os veem dessa forma. Como vai ser agora?

— Não pensei muito sobre isso ainda.

Kate e Jeremy se esforçavam tanto para que parecêssemos uma família, Bree poderia ser como uma irmã mais nova para mim, mas Darren nunca seria, nem antes do nosso encontro, muito menos agora. Como seria eu e meu namorado vivendo sob o mesmo teto e nossos pais casados? Meu padrasto seria o meu sogro? Era tudo tão confuso.

— Summer! – Carly me tirou dos meus devaneios.

— Sinceramente? Estou com medo da reação da minha mãe. – Confessei.

— Tudo que Kate quer é que todos vocês sejam uma família de verdade. – Carly fez sua cara de preocupação. – Querida, espere até que Darren prove ser confiável e que te ama de verdade, que não está brincando com você e seus sentimentos.

— Carly...

— É sério! Não quero ser a amiga megera, mas o histórico do Darren não é bom, talvez seja melhor deixar o relacionamento de vocês em segredo... Por enquanto.

Não queria admitir que Carly tivesse razão, era doloroso pensar que Darren havia mentido sobre seus sentimentos.

— Eu terei cuidado. Não se preocupe. – Dei um sorriso amarelo.

— Eu estou do seu lado, não se esqueça.

— Obrigada. – Abracei Carly. – Tenho que ir, Darren está me esperando.

Me despedi de Carly e fui até o estacionamento do shopping para pegar o meu carro. Darren disse que teria uma surpresa para mim, havia me mandado apenas um endereço por mensagem, ele era tão atencioso aos detalhes, quem diria que a fera tinha um coração? Dirigi até o endereço enviado, era um jardim em bairro calmo mais afastado da cidade. Estacionei o carro e mandei outra mensagem para Darren.

“Onde vc tá?” Perguntei.

“Siga as luzes” Foi tudo o que ele disse.

Fui até o pequeno portão de ferro que dava acesso ao jardim, estava destrancado, procurei pelas luzes que deveria seguir. Olhei para cima e lá estava uma fileira de lâmpadas presa aos galhos das arvores que delineavam o caminho de pedras. As segui imaginando o que Darren estaria aprontando dessa vez, nós havíamos saído algumas vezes e ele sempre tinha alguma surpresa, nunca tínhamos um programa comum. Assim que, finalmente, cheguei até onde Darren estava vi uma toalha de pique nique, recordei o dia que Eric me levou até a praia, não era o melhor momento para recordar do meu ex, onde aquele babaca estaria agora? Não importava, eu tinha o melhor namorado do mundo e não precisava mais pensar no Eric.

 Darren veio ao meu encontro e me beijou, ele cheirava tão bem.

— Eu fiz algumas pesquisas. – Darren deu um sorriso travesso.

— Pesquisas? – Indaguei desconfiada.

— Sim, olhei seu perfil no facebook. – Ele deu de ombros, isso ainda me irritava um pouco.

— O senhor estava me stalkeando*? – Dei uma gargalhada.

Darren revirou os olhos teatralmente.

— Stalkear é coisa de garotinhas. Eu pesquisei qual era seu filme favorito. – Darren apontou para o telão onde a primeira cena de Bonequinha de luxo estava pausada.  – Sua comida favorita também, aliás, é uma das coisas mais sem graças do mundo.

Olhei para o macarrão com queijo que estava em cima da toalha estendida no chão.

— A Edwiges fez esse macarrão com muito carinho.

— O cheiro está ótimo. – Sorri ansiosa para experimentar. – Foi muito atencioso da sua parte.

— O meu lado cavalheiro é igualmente proporcional ao meu lado desprezível. – Darren disse constrangido.

— Seu lado desprezível é só uma máscara. – Cerquei sua cintura com os meus braços. – Darren Ferris, você é uma ótima pessoa.

— Não tenho tanta certeza, mas eu me esforço. – Dessa foi sincero. – Sente-se.

Fiz o que ele pediu e sentei em uma das almofadas que estavam na beira da toalha. Darren serviu um pouco do macarrão para mim, estava realmente gostoso. As palavras de Carly faziam cada vez menos sentido, Darren estava provando que era possível mudar, ele não era um ser horrível como queria que todos pensassem, seu passado havia sido duro e afastar todos era mais fácil do que ter de lidar com todos os problemas, eu o entendia, também não tinha vontade de falar sobre o meu pai. Mamãe tentou conversar, e tudo o que eu disse foi que não queria ter nada a ver com aquela família. Darren era bom, só precisava de alguém que o mostrasse isso.

Meu namorado deu play no filme e nos ajeitamos nas almofadas para ver uma das obras primas de Audrey Hepburn. Darren acariciou os meus cabelos enquanto assistíamos o filme, era bom ter ele por perto.

— Tenho que admitir que foi melhor do que pensei que seria. – Darren comentou enquanto subiam os créditos finais.

— É um ótimo filme. – Me virei e dei um beijo rápido na bochecha dele.

— Mereço mais do que isso. - Darren deu seu sorriso sacana usual.

Ele veio até mim e segurou meu rosto e com a outra mão me puxou para mais perto, nossos lábios eram um só, se moviam em um ritmo sincronizado, coloquei minhas mãos em suas costas. Darren me puxou para o seu colo, passou a mão pela minha coxa, continuou subindo até que eu tive que o interromper.

— Hey! Vamos com calma, cowboy.

Darren suspirou.

— Foi mal. Você me deixa maluco, Morrison. – Sua risada saiu baixa.

— Ainda não é o momento e estamos a céu aberto.

— Não curte um perigo?

Dei um tapa leva em seu braço.

— Nem um pouco.

— Não tenho pressa, espero uma vida inteira for preciso.

— Não vai ser tanto tempo.

 Darren colou sua testa na minha.

— Morrison. Não sei se você se senta da mesma forma e sei que é meio cedo, mas sempre soube que era o que o sentia. Eu te amo.

Fiquei alguns segundos encarando o verde profundo dos seus olhos, tão perto, tão meu.

— Eu também te amo, Ferris.