Incondicional escrita por Selena West


Capítulo 54
Bem-vindo ao Bonobo




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A paisagem de Nova Yorke deu lugar a uma longa estrada. Dentro do carro apenas o rádio emitia algum som, Darren dirigia concentrado e eu apenas fitava a janela esperando que chegássemos logo. Não era uma viagem longa, mas a cada quilômetro que percorríamos, mais distante eu ficava das coisas que conhecia, do que me trazia segurança, estava indo em direção a tantas incertezas que meu coração angustiado não conseguia suportar.

— Você está com fome? – Darren finalmente falou, sua voz saiu rouca. – Morrison?

Recolhi meus joelhos para junto do meu peito, os movimentos malucos que meu estômago estava fazendo não iria me deixar comer uma ervilha sequer.

— Não.

— Ok, mas eu estou morrendo de fome. – Antes que eu pudesse dizer algo Darren parou em pequeno restaurante na beira da estrada, o grande letreiro no estacionamento dizia “Bem-vindo ao Bonobo”, que tipo de restaurante tem o nome de um macado?

— Vou ficar aqui. – Afundei no banco do carro.

Darren me encarou por alguns segundos, talvez tentasse entender a minha atitude tão grosseira enquanto ele estava se comportando tão bem, o que era bem surpreendente.

— E deixar você fugir com o carro? De jeito algum. – Darren balançou o dedo diante dos meus olhos. – Está muito frio aqui fora Morrison, sem o aquecedor você congelaria antes que eu pudesse terminar o meu hambúrguer.

— Não estou com fome! – Protestei contrariada.

— Vamos! Não seja mimada Morrison. – Darren fez beicinho como uma criança.

— Não quero ir.

Um golpe de ar gelado entrou pela porta aberta de Darren, estremeci com o frio. Odiei ter que concordar com aquele idiota, não poderia ficar ali esperando.

— Mudou de ideia? – Perguntou lendo meus pensamentos.

— Tanto faz, vamos logo. – Peguei minha bolsa no banco de trás e segui Darren até a lanchonete decorada com móveis vintage.

O ambiente era agradável, talvez apreciasse mais se não estivesse em uma viagem tão controversa e na companhia de Darren. Uma sorridente garçonete veio nos receber na porta, ela usava um uniforme amarelo com avental branco, bem típico, seus longos cabelos estavam presos em uma trança tão apertada que senti dor de cabeça por ela. A moça se chamava Tina e nos serviria, Darren deu seu usual sorriso sacana para a garçonete quando ouviu essa última parte. Não duvido que se fosse possível eles se agarrariam ali mesmo, a garçonete pareceu ter gostado de Darren também, o que não era incomum, Darren é muito bonito.

— Meu Deus, como você pode ser tão patife? – Revirei os olhos assim que Tina foi em direção à cozinha.

Darren gargalhou tão alto que fiquei desconcertada.

— Patife? Você é a minha avó jovem que veio do passado me visitar? – Ele vasculhou o meu rosto em busca do menor sinal de que eu tivesse achado alguma graça e não tinha. – Qual é Morrison? Só se vive uma vez.

— Estamos indo encontrar meu pai que pode estar morrendo nesse exato momento. – Era difícil verbalizar a situação, colocar em palavras era tornar real a eminente morte do meu pai.

— Seu pai, não meu. – Darren sendo Darren.

— Não esperava nada diferente vindo de você. – Cruzei os braços com tanta raiva que quase me atrapalhei no meio do movimento.

— Como assim? – Darren pareceu genuinamente ofendido.

Respirei fundo lutando contra a vontade de pular no pescoço daquele insolente.

— Você está sempre afastando as pessoas, ignorando o sentimento dos outros, se não é sobre Darren Ferris não é importante. Percebi o garotinho egoísta que você é assim que nossos pais se conheceram, ao invés de ficar feliz por Jeremy, você só pensou em como atrapalharia a sua vida.

 Tomei um gole de água para continuar.

 – Novidade meu caro, quem sofreu fui eu, enquanto os Ferris continuaram com suas vidas, me mudei para uma casa que vale mais do que tudo que eu e minha mãe tínhamos, enfrentei um bando de rico esnobes e a fúria de Darren. Passei os últimos meses enfrentando uma loucura após a outra, até mesmo um namorado interesseiro que nunca me amou de verdade, enfrentei tudo isso sem descontar nas pessoas. Sabe, não é porque sua mãe te machucou que você tem carta branca para machucar os outros, o mundo não gira ao seu redor, se parasse de sentir pena de si talvez conseguisse ver algo além dessa sua visão míope do mundo.

Parei de falar ao perceber que Darren não estava respondendo, apenas me encarava com seus olhos verdes profundamente magoados. Teria eu ido longe demais?

— Me per... – Comecei.

— Vamos apenas comer nossa comida e ir embora, Summer. – Me chamou pelo nome, Darren nunca havia se referido diretamente a mim como Summer, eu devia ter tocado seu ponto fraco.

— Darren? – Tentei, ele apenas mordeu um pedaço generoso do seu hambúrguer.

Comi poucos pedaços da minha torta, não estava realmente com fome, fiquei mal por ter dito tantas palavras duras para Darren, estava fazendo justamente o que repreendi o rapaz por fazer, estava usando minha dor para atacá-lo. Não era justo, sabia disso, porém era complicado lidar com tantas emoções de uma vez, se Darren era capaz de fazer piada, eu não tinha o mesmo sangue frio.

Comemos sem trocar sequer uma palavra, estava tão quieto quanto no carro, mas esse silêncio era diferente, Darren estava propositalmente me ignorando. Deveria ficar feliz por saber que teria paz durante o resto da viagem, não foi o que aconteceu, fiquei preocupada com a forma como o tratei, por algum motivo estranho não queria vê-lo tão distante e me chamando de Summer, não queria toda aquela formalidade.

— Darren! – Peguei em seu braço fazendo com que parasse no meio do estacionamento. – Desculpa.

— Não Summer. – Seu olhar estava direcionado para além de mim.

— Por que não? – Fiquei meio desapontada por ele não me perdoar.

— Porque você está certa. – Sua voz foi quase um sussurro.

Darren se desvencilhou de mim com um pequeno movimento ágil, fiquei parada no mesmo lugar sem saber realmente como reagir ao que havia acontecido, Darren havia concordado comigo, uma parte de mim se ressentiu por ele acreditar que era realmente aquela pessoa horrível.


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Notas finais do capítulo

Estou tentando terminar essa história, juro!


Beijos
S.W.



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