As coisas finalmente estavam começando a parecer normais na minha vida, eu tinha novos amigos, estava indo muito bem na escola, a Amanda havia me deixado em paz, o Erick não era mais um problema. Tinha até um par para o baile de outono, não que eu quisesse ir, só me pareceu uma maldade não aceitar o convite do meu parceiro de laboratório e projeto de biologia. Oliver até que era um cara legal e engraçado, por isso aceitei ir ao baile com ele. Fui convidada por que a  namorada de Oliver que estava morando na Inglaterra não conseguira vir para acompanha-lo.

Minhas amigas estavam histéricas com o baile, não paravam de comentar sobre como seriam seus magníficos vestidos, confesso que achava todo aquele papo uma chatice, eu iria comprar meu vestido um dia antes do baile, talvez alugasse um em alguma loja no centro da cidade. Hilary encomendou o dela de uma estilista irlandesa, Ginger havia comprado o seu traje em uma loja com nome francês complicado demais para ser pronunciado, e adivinhem: era preto, Ivy já tinha seu vestido escolhido desde o inicio das aulas, estava guardado em seu armário, apenas esperando o baile de outono. Eu admirava a animação daquelas garotas, nunca conseguiria ficar tão genuinamente feliz por ir a um baile da esnobe academia Buckston.

...

As garotas estavam na minha casa para um grupo de estudo, teríamos uma semana de provas antes do baile, e Ginger havia dado a ideia de nos reunirmos para colocar a matéria em dia, ofereci minha casa para o encontro, na maior parte do dia ela ficava vazia e silenciosa, o lugar perfeito.

Estávamos estudando a física quando Ivy teve a ideia mais estranha de todas.

— Summer? – Ivy se sentou do meu lado na cama.

— Sim.

— Quão louco seria pedir para ver o quarto do Darren? –Ela segurou minha mão entre as suas, piscou várias vezes com um ar afetado.

— Seria muita loucura. Darren me proibiu de entrar lá depois que eu fiz. – Disse séria.

— Ele nunca vai saber, prometo que vai ser rápido.

Revirei os olhos.

— Como você pode ser apaixonada por aquele troglodita?

— Eu gosto de homens indomáveis, são muito sexy. – Ivy suspirou alto.

— Na verdade, nós também gostaríamos de ver o habitat natural de Darren Ferris. – Hilary disse encabulada.

— Não há para ver. – Tentei diminuir as expectativas.

Ginger deu um sorriso malicioso.

— Sendo assim não tem problema dar uma espiada rápida. – Aquela tinta roxa não fazia bem aos neurônios dela.

— Vamos logo. – Ivy estava extasiada com a ideia de invadir o quarto do seu amado Darren.

Oh Deus, eu era amiga de loucas, todas queriam ver onde Darren Ferris dormia. Lugar que sinceramente não tinha nada de especial, apenas o quarto de um garoto, sem graça e comum. Não fazia ideia do fascínio que o babaca causava nas alunas do colégio, como se ele fosse o bad boy de um filme para adolescentes, o problema era que o bad boy não passava de um garoto mimado, totalmente sem limites.

A contra gosto levei minhas amigas até o quarto do meu “querido irmão”, não entrava lá desde meu dia de fúria, na verdade estava quase tudo como antes. Exceto o espaço onde ficavam os globos de neve que foram substituídos por um capacete de MotoCross e uma luva de beisebol. Ivy olhou o ambiente com cuidado, estava absorvendo cada detalhe do quarto. Posso jurar que vi sua pupila dilatar quando tocou uma jaqueta que estava jogada sobre uma cadeira.

— É como vocês imaginavam? – Perguntei.

— Na verdade imaginei que tivesse algumas paredes pretas, ossos de animais domésticos e uma cama redonda giratória. – Ginger sentou na cama de Darren. – Esse quarto é muito comum, nada assustador, sequer parece ser de Darren. Onde está o caixão?

— Ele não é um vampiro. – Respondi.

— Se fosse, não me importaria de emprestar o meu pescoço para um lanchinho noturno. – Ivy jogou seus cabelos teatralmente, fechou os olhos e ficou fazendo gemidos constrangedores.

Hilary continuava explorando o cômodo e olhou de perto os consoles de videogame.

— Olha a quantidade de jogos nessa estante, um nerd.

— Darren é apenas um mal educado, não um bandido ou vampiro. – Dei de ombros.

— Oh meu Deus! – Ivy gritou de dentro do closet, corremos para ver o que ela havia encontrado, talvez eu estivesse errada sobre o que Darren guardava em seu quarto. Deparamo-nos com Ivy olhando para a gaveta de cuecas de Darren, uma cena no mínimo doentia.

— Você precisa de tratamento. – Ginger disse.

Ivy pegou uma cueca preta e a esticou nas mãos.

— Posso imagina-lo usando ela, tão gato, tão sensual.

— Sério, se você encostar o rosto nisso ligo agora para o hospício. – Ginger disse segurando a risada.

— Coloca de volta. – Usei o mesmo tom que a Kate usava comigo para dar broncas. – Ivy, por favor.

As outras duas garotas começaram a rir loucamente. Ivy se negava a colocar a maldita cueca de volta na gaveta. Sabia que não era uma boa ideia trazer elas para o quarto do Darren.

— Eu vou ficar com isso. – Ivy colocou a peça no bolso do casaco e sorriu satisfeita.

— Você ficou maluca? Coloca isso de volta na gaveta! Se o Darren desconfiar que entramos aqui... Pior se ele descobrir que você roubou uma cueca dele, nem sei o que Darren é capaz de fazer. – Eu estava realmente desesperada, no entanto Ginger e Hilary estavam vermelhas de tanto rir.

— Ele não vai sentir falta de nada, tem várias iguais a essa, ou você acha que o bonitão conta as cuequinhas toda noite antes de dormir? Que tipo de doente seu é o seu irmão?

— O mesmo tipo que você. Coloca a cueca na gaveta!

— Não!

Ginger e Hilary explodiram em outra onda de gargalhadas, eu riria também se não estivesse com muita raiva do comportamento infantil de Ivy.

— Meu Deus! Como vou esconder que vocês entraram no quarto do Darren?

— Tarde demais, eu já descobri. – A voz de Darren soou mais sombria do que de costume.

As risadas de Hilary e Ginger cessaram imediatamente, vi o rosto de Ivy corar como um tomate maduro, eu sabia que entrar naquele quarto iria dar merda. Contei até três antes de me virar.

— Posso saber por que não fui convidado para reunião no meu aposento? – Esperei pelo sorriso debochado, mas ele não veio, os seus olhos verdes possuíam uma expressão selvagem.

— Acho melhor irmos embora. – Ginger se escapuliu pela fresta entre a porta e Darren, Hilary e Ivy fizeram o mesmo. Darren sequer olhou para as garotas, ficou me encarando daquele jeito maníaco que estava começando a me assustar.

— Até mais Darren, sinto muito pela invasão. – Ivy se desculpou antes de sair.

— Ah claro, abandonem o campo de batalha. – Disse amargamente para minhas amigas que fugiam pela porta do quarto.

— Ainda estou esperando a explicação?

Olhei para Darren com mais atenção, dessa vez percebi que seus cabelos estavam revoltos, suas roupas sujas de terra, uma de suas mãos estava suja de sangue, mas ele não parecia estar ferido, o sangue era de outra pessoa.

— O que você fez? – Perguntei receosa, sabia que Darren não era um bom rapaz, porém ferir alguém era grave, um novo nível de maldade.

Darren encurtou a distancia, estava a poucos passos, quando ele suspirou pude sentir o leve hálito alcóolico.

— Não é da sua conta. – Senti um arrepio na espinha, que diabos, porque ele me assustava tanto?

— É da conta do seu pai. O que Jeremy diria se soubesse que você bebeu e bateu em alguém? Você matou o outro cara? E se ele foi até a polícia e te denunciou? É um foragido agora? Você terá que terminar o ensino médio na cadeia? Você sabe o que caras maus da prisão fazem com garotinhos ricos?

Não estava em posição de fazer provocações, mas as palavras saíram da minha boca antes mesmo que eu pudesse impedir. Darren não me faria mal como fez com o pobre coitado dono do sangue.

— Você faz perguntas demais Morrison, precisa esfriar a cabeça. – Darren deu seu sorriso de deboche usual.

Só me dei conta do que Darren pretendia quando já estava sobre seu ombro, mesmo bêbado Darren era mais rápido do que eu. Esperneei, dei alguns socos nas costas dele e não adiantou nada, Darren continuou indo em direção ao banheiro de seu quarto.

— Darren! Me solta! – Bati novamente em suas costas.

— Morrison, se acalme. – Ouvi o barulho do chuveiro sendo ligado. – É só água.

— Não se atre... – Não consegui terminar a frase. Darren me colocou no chão do box bem baixo do jato frio de água. – Seu imbecil!

Darren tentou se levantar e eu o puxei pelo colarinho da camisa fazendo ele quase cair em cima de mim, por reflexo ele apoiou o braço na parede atrás de mim, e então o momento mais bizarro do dia aconteceu, nós ficamos ali em baixo do chuveiro gelado nos encarando, estávamos tão próximos que eu conseguia ver todos os pontinhos castanhos próximos de sua íris.

O rosto de Darren era uma mistura de confusão e dor, ele se aproximou ainda mais deixando apenas o ar separar os nossos rostos, se ele chegasse um pouco mais perto acabaríamos nos beijando. Fiquei perturbada com ideia de beijar Darren, como se algo incontrolável ganhasse vida em mim, suprimi esse pensamento, afinal era o Darren, o cara que me odeia, que se pudesse me mandaria para China sem passagem de volta, eu realmente estava enlouquecendo naquela casa.

Darren acordou de seu transe e deu um soco na parede como da vez primeira vez que entrei em seu quarto.

— Droga, Morrison. – Disse entre dentes e se levantou.

— Idiota. – Peguei um pote de shampoo e joguei em suas costas, Darren parou por alguns segundos, porém desistiu da ideia de revidar e saiu do banheiro.

Fechei o chuveiro e peguei uma toalha para me enrolar, minha roupa estava encharcada. Fiquei parada no meio do banheiro pensando no que havia acabado de acontecer, não era o primeiro momento estranho que eu e Darren tínhamos, porém esse o foi o de longe o pior de todos, como se estivéssemos nos vendo pela primeira vez. Eu nunca pensaria em Darren sem ser como meu irmão de mentira irritante, como eu poderia sequer cogitar a hipótese de beija-lo?