Para Skyler a semana passou se arrastando, Darren havia dito para esperar até que ele arranjasse um jatinho para Ucrânia, com um pai rico isso não seria um obstáculo muito grande. O que tirava o sono da ruiva era Alex, o marido era esperto, se não tomasse cuidado logo ele perceberia que algo estava errado. Uma fagulha de desconfiança era o suficiente para incendiar a fúria de Alexander. Skyler se policiava para parecer normal, tentava retribuir os carinhos de Strauss, o que lhe causava náuseas.

...

Skyler colocou algumas roupas dentro de uma mochila velha, não levaria todas as suas coisas, queria deixar os anos ao lado de Alex para trás. Precisava apenas do essencial e de algumas joias dadas pelo marido, as venderia para fugir com a família. Parte de suas roupas seriam doadas ao lar das Madres no Bronx, uma instituição de caridade que cuidava de jovens mães, Skyler era voluntária, às vezes doava suas roupas antigas para as garotas do lar.

Ser livre novamente era o que Skyler mais queria, não podia ficar mais nem um segundo dentro do covil que chamou de casa durante tanto tempo, a ruiva observou as águas do rio que separava uma ilha da outra, uma tempestade de aproximava, o céu cinzento a chamava para casa, aquele não era seu lugar, nunca fora. Skyler apoiou a cabeça contra a madeira da janela, sentia o cérebro pesar, tantos pensamentos lutando por sua atenção. Não via a hora de ver os pais, os irmãos, os sobrinhos, levaria todos consigo para bem longe das garras de Alexander, queria poder levar Darren também, não gostava de imaginar o que Alex faria com o pobre garoto.

A porta se abriu, mas Skyler não se virou.

— Para onde levará essas coisas? – Alex pegou um dos sacos.

— Irei doar para o Lar das Madres, faz tempo que não levo nada para as garotas. – Skyler continuou de costas, temia que seu marido visse que estava mentindo.

— Não sei por que se importar tanto com aquelas garotas.

— Alex! – Fingiu repreender. –Entendo como é se sentir abandonada, sem ninguém, quero que elas tenham uma chance, assim como eu tive com você. – Tentou sorrir, não suportava ter que dizer aquelas palavras.

— moya lyubov*, não demore muito, quero que jante comigo essa noite.

— Claro, estarei de volta antes do jantar. – Skyler praguejou mentalmente, se Alex a esperasse logo perceberia que ela sumiu, deixando menos tempo para fuga.

— Boa garota. Deixarei que escolha o restaurante. – Alex se aproximou para dar um beijo na testa da esposa.

Espero que sua próxima refeição seja no inferno Alexander, pensou Skyler com rancor.

...

Peter escondeu o novo passaporte de Skyler dentro do casaco, seus planos haviam tomado uma direção diferente do que Darren havia pensado para fuga. Peter não pretendia arriscar seu pescoço por uma garota qualquer, já tinha pensado em tudo, nada poderia sair do planejado senão teria problemas com o amigo e com Alexander.

Darren se afundou no banco do motorista, Skyler estava atrasada e isso não podia ser boa coisa. O movimento ao redor do carro de Peter era estranho, o Bronx não é o lugar mais amigável da cidade, um carro como o de Peter chamava muita atenção, o tipo perigoso de atenção.

— Sua garota está atrasada. – Peter exibiu o relógio para Darren.

— Eu sei, vinte minutos atrasada.

— Vamos embora enquanto dá tempo. – Peter sugeriu maldoso.

Darren se voltou para Peter com cara de poucos amigos.

— Nós prometemos ajudar e nós vamos. – Seus olhos verdes adotaram um brilho vil.

— Ok, entendido.

Foram precisos mais alguns minutos antes de Skyler aparecer, ela usava um moletom cinza e um boné para esconder os cabelos vermelhos, carregava consigo apenas uma mochila azul escura um pouca desbotada. Darren destravou as portar para Skyler entrasse na parte de trás do carro.

— Finalmente. – Peter foi sarcástico.

— Eu precisava entregar algumas coisas para as madres antes. – Skyler havia doado algumas de suas roupas para a ONG.

— Parem de discutir. – Darren saiu com uma arrancada, tinham pouco tempo.

— Qual o plano?- Skyler se posicionou entre os bancos da frente.

— Simples. Você vai embarcar em um jatinho para Ucrânia e entrar no país com esse passap... – Peter fingiu procurar pelo passaporte.

— O que foi? – Darren perguntou preocupado.

— O passaporte não está aqui.

— Procure de novo. – Skyler pediu apreensiva.

— Devo ter deixado no hotel. – Peter estava enganando bem, estava saindo como o planejado.

— E agora? – Darren perguntou.

Peter passou a mão pelo queixo recém-barbeado, fingiu pensar em uma solução.

— Você tem que ir até o meu apartamento buscar o passaporte. – Peter disse finalmente.

— E por que não você? – Darren não tirava os olhos da rua.

— Porque sou eu quem conhece o piloto, pedirei que adie um pouco o voo.

— Tudo bem. Deixarei vocês, depois irei para o hotel.

— Não demore. – Skyler segurou o braço de Darren com força.

— Não irei.

Como o combinado Darren deixou Skyler e Peter no pequeno aeroporto próximo a saída da cidade. Teria pouco tempo para ir e voltar, sentiu falta de sua Harlley, com certeza era mais veloz com a moto. Peter levou Skyler até onde estava o avião que a levaria de volta para casa, a aeronave estava pousada ainda no hangar sem sinal do piloto.

— Entre e espera lá, é mais seguro do que você ficar aqui fora. – Peter indicou a escada do jatinho.

— Dobre*.

— O que?

— Tudo bem.

Peter revirou os olhos, não entendia nada de ucraniano. Skyler entrou no jatinho, Peter foi em direção a um pequeno prédio de tijolos vermelhos no outro canto da pista de pouso, era uma espécie de escritório dos pilotos. Como Peter havia previsto não tinha ninguém no prédio, o hangar era de Gael e não havia nenhum voo agendado para aquele dia. O rapaz sentou em uma das poltronas caramelo de frente para tv, pegou o controle e ligou em um canal qualquer, não pode evitar o sorriso sombrio que brotou em seus lábios.

...

Darren revirou o apartamento de Peter, não havia muitos lugares onde guardar um passaporte, ele não estava em nenhum dos quais Darren procurou. Uma das malas de Peter se chocou contra a parede quando Darren a chutou para longe.

O garoto ligou para o dono do apartamento.

— Darren? – A voz de Peter soou preguiçosa no telefone.

— Onde está? Não o encontro em lugar algum.

— Oh não, eu devo ter guardado no cofre do hotel.

— Onde? – Darren deu um soco no balcão do bar, estava começando a ficar com raiva dos descuidos de Peter.

— No cofre, seu idiota. No armário, tem um fundo falso de madeira, a senha é vinte, quatorze, onze.

— Certo, até daqui a pouco. – Peter desligou o telefone.

...

— Eu não teria tanta certeza. – Peter discou o numero da recepção do hotel. – Bom dia, aqui é Peter Cotton, o hóspede do 101. Acho que tem alguém no meu quarto, recebi um aviso de tentativas para abrir o cofre. Será que vocês poderiam verificar, por favor. – A moça do outro lado da linha disse que mandaria alguém imediatamente. – Obrigado, tenha um bom dia.

Peter desligou o telefone, tudo estava saindo como o planejado, Darren ficaria preso por mais algum tempo no hotel até que conseguisse explicar o motivo de estar no quarto de Peter, Skyler não desconfiava de nada, faltava apenas Alexander Strauss fazer sua parte, mesmo que involuntariamente. Peter pegou a bolsa que havia deixado mais cedo em um armário destrancado.

— É hora do show.

...

Skyler estava sentada em uma das cadeiras na pequena mesa, o interior do jatinho era bem confortável, poltronas espaçosas, uma mesa para refeições, uma pequena cozinha bem abastecida, fora o frigobar e uma televisão com um numero infindável de programas e filmes. Era uma das aeronaves favoritas de Gael. Peter subiu as escadas e fechou a porta atrás de si.

— O Darren vai demorar um pouco, mas não se preocupe, avisei o piloto, ele disse que quando estivermos prontos basta ligar.

— Espero que Darren apareça logo. – A jovem franziu o cenho. – Alexander logo vai vir atrás de mim.

— Não se preocupe.

Peter pegou seu celular, o colocou para gravar sem que Skyler percebesse, o rapaz fingiu ver algo na tela do aparelho.

— Agora me conte como você conheceu Alexander, como veio parar aqui em Nova York. A Ucrânia é tão longe, imagino que sinta fala de casa.

— Da! Se sinto.

Skyler contou tudo para Peter, o rapaz sabia como deixar alguém confortável o bastante para se abrir, ouvia tudo com atenção, fazia comentários gentis, às vezes quando Skyler ameaçava começar a chorar segurava a mão dela, um ouvinte atencioso. Peter gravou várias partes de sua conversa com Skyler, iria usar aquilo contra Alexander em breve.

— Oh querida imagino que tenham sido anos terríveis, porém acabou, vamos te levar para casa.

— Obrigada, por tudo. – Skyler deu um sorriso doce.

— De nada. Tenho que fazer algumas ligações, com licença. – Peter se levantou da mesa e saiu do jatinho.

Do lado de fora ligou para Alexander.

— Alô? – Alexander atendeu.

— Tenho novidade para você. – Peter disse rindo.

— Diga logo, tenho mais o que fazer.

— Melhor me ouvir, tenho um vídeo muito bom para compartilhar.

Alexander bufou no telefone, não gostava dos joguinhos de Peter, o achava muito dramático.

— Estou te enviando. Daqui a pouco ligo novamente.

Peter desligou o telefone e esperou mais alguns minutos, não era um vídeo muito longo, apenas a parte onde Skyler diz sobre os esconderijos para drogas espalhados pela cidade. Peter retornou a ligação para Alex.

— Gostou do vídeo? Eu tenho muitos outros.

— Para onde você levou minha esposa, seu filho da puta? – Alex estava transtornado, Skyler sabia demais.

— Você beija sua mãe com essa boca suja? Primeiro pague o que deve, depois eu liberto sua esposinha. – Peter riu de sua própria genialidade, havia enganado todos sem o mínimo esforço, conseguiria convencer Alex a pagar logo o que devia para Gael. – Um carro com homens do meu chefe vai parar na frente da boate daqui meia hora, deixe o dinheiro com eles e assim que eu receber o sinal deles irei libertar a ruivinha.

— E os vídeos?

— Apagarei todos. Não se esqueça: daqui meia hora em frente a ciano.

— Eu vou matar você por isso. – Alex sibilou.

— Seja um bom garoto Alex, pague suas dividas.

— Você está falando com o Alexander? – Skyler estava parada atrás de Peter.

— Droga!

Peter desligou o telefone e se voltou para a garota, ela tinha lagrimas nos olhos e parecia bem assustada. Por um momento ela pensou em sair correndo pela pista, talvez algum funcionário da pista a visse.

— Não tem ninguém aqui. – Peter adivinhou os pensamentos de Skyler assim que percebeu que ela olhava para a porta do hangar. – Volte para dentro.

— Não!

— Por favor, não torne meu trabalho mais difícil.

— Você vai me entregar para o Alexander, eu ouvi. Darren não vai permitir, ele vai voltar e vai me levar para Ucrânia, sei que vai! – Ela chorava como uma criança perdida.

Peter tirou sua arma da cintura e a apontou para Skyler.

— Entre, ou causarei um estrago nesse seu belo corpinho.

— Você não teria coragem. – Blefou a ucraniana.

Peter atirou no chão a poucos centímetros do pé de Skyler.

— Ai,ai,ai entre logo, ou o próximo será no seu pé e eu nunca erro um tiro.

Skyler vacilou por alguns segundos.

— ENTRA LOGO NA PORRA DO AVIÃO VADIA BURRA! – Peter estava furioso.

Skyler fez o que Peter pediu, ele não estava brincando iria atirar se a garota não o obedecesse a sua ordem.

Peter era um preferidos de Gael por ser o mais inteligente dos seus homens. Enquanto os outros apelavam para a violência, Peter sempre tinha uma saída inteligente para oferecer. Gael gostava do estilo de agir de seu cobrador, era um rapaz com um futuro promissor.

...

— Cara, eu já disse que o Peter me deu a chave! – Darren disse para um dos seguranças que o acompanhava.

— É que veremos. – O segurança respondeu mau humorado.

— Cotton, seu idiota cretino. – Resmungou Darren.