Darren percebeu que estava em um sonho assim que viu que os moveis flutuavam de forma fantasmagórica, ainda era seu quarto com as mesmas paredes azuis, os equipamentos de esportes, os consoles de videogame, porém algo estava errado, o Darren do sonho levantou da cama e ficou parado observando o nada, e percebeu qual era aquele sonho, a dias sonhava com ela.

— Querido ainda está acordado? – Tess acendeu a luz, ela tinha a mesma aparência fantasmagórica do quarto, quase translucida. Seus cabelos escuros estavam presos em um rabo de cavalo frouxo, usava uma camisola azul com fitas brancas, era magra e alta, as maçãs de seu rosto eram proeminentes e seus lábios finos.

— Não consigo dormir.

Tess sorriu para o filho, o mesmo sorriso do qual Darren se recordava. A mãe caminhou até junto do filho e passou a mão por seus cabelos desgrenhados.

— Pobrezinho, deite em sua cama. – Darren obedeceu, Tess lhe cobriu com o edredom. – Quer que eu cante para você?

— Não estou velho demais para isso? – Disse encabulado.

— Você nunca estará velho demais para uma canção meu amor.

Tess se sentou ao lado do filho e colocou a cabeça de Darren em seu colo, era o que ela fazia todas as noites antes de ficar completamente desequilibrada. Darren sentiu que poderia chorar como um bebê. Repetiu para si mesmo que era apenas um sonho, do qual não queria acordar.

A canção era a mesma de sempre sobre uma mãe que ama demais seu filho, ela havia escrito para Darren antes dele nascer, era a musica de mãe e filho, um ato de amor incondicional, uma promessa que foi quebrada pela morte.

“Antes mesmo de você nascer

Eu já te amava meu querido bebê

Não podia ver seu rosto, mas sentia seu coração.

Queria poder pegar suas pequenas mãos.”

— Mãe? – Darren chamou. Tess continuou cantando sem parecer ter ouvido o filho.

“Irei ficar pra sempre contigo

Irei te proteger de todos seus inimigos

Guardarei teus melhores sonhos comigo.”

— Por que você foi embora? Nós precisamos tanto de você. – Tess cantou ainda mais alto encobrindo a voz do rapaz, seus braços apertaram ainda mais Darren. – Eu fiquei com tanto medo quando você morreu, achei que era minha culpa, ninguém me explicou nada.

“Estarei sempre ao seu lado

Este será nosso acordo

Mamã e Darren para sempre

Lado a lado.”

— Mãe, você destruiu nossa família, a Bree era só um neném, como você pôde? – Darren gritou.

Tess recomeçou a musica, dessa vez havia lágrimas em seus olhos, rolavam por suas bochechas descoradas, aquela era a Tess doente que não conseguia olhar para Darren sem chorar. A voz dela tomou um tom sombrio, já não cantava mais apenas repetia as palavras como um cântico sinistro, seus braços ao redor de Darren pareciam rochas, não se moviam e apertavam cada vez mais. Darren tentou desvencilhar dela, mas não tinha força suficiente, Tess não permitia.

— Pare! Está me machucando! – Se debateu na tentativa de escapar. – Mãe! Solte-me! Mãe!

— Darren acorde! – Não era mais a voz de Tess.

Kate balançava os braços de Darren para que ele despertasse.

— Foi só um pesadelo, se acalme.

Darren tirou uma mecha de cabelo da testa suada, seu coração batia rápido, um bolo se formou sem garganta o impedindo de respirar. O pesadelo era sempre o mesmo, e ele sempre acordava gritando, poderia acordar assim que visse que estava no sonho com sua mãe, entretanto não resistia a tentação de ter sua mãe novamente.

— Está se sentindo bem? Quer um pouco de água? – Darren apenas acenou aceitando. – Fique calmo, ok? Vou ir buscar para você. – Kate se levantou e saiu.

Não demorou muito tempo para Kate voltar, sempre tinha uma garrafa de água ao lado de sua cama, pegou um copo para Darren e retornou para junto do enteado.

— Beba.

— Obrigado. – A voz de Darren soou rouca.

— Estava sonhando com Tess? Com sua mãe?

Darren forçou a água descer por sua garganta seca.

— Sim, tendo um pesadelo.

— Você deveria conversar com alguém sobre isso. – Kate tomou o copo vazio das mãos de Darren e foi em direção a porta.

— Ela estava cantando... Cantando para mim, como quando... – Darren tentou dizer, era difícil pronunciar em voz alta.

Kate parou na metade do caminho, esperou Darren continuar. Finalmente ele estava confiando nela, queria que ele pudesse ver nela uma amiga e não a mulher que roubo seu pai.

— Tente começar pelo inicio do sonho. – Incentivou Kate.

— Estava aqui no meu quarto, mas não era bem o meu quarto, ele estava diferente, não sei explicar. – Darren olhava fixamente para suas mãos, se encarasse Kate não conseguiria continuar. – Foi como quando eu era criança, minha mãe veio me dar boa noite, cantou a musica que fez para mim...

— Parece um sonho bom.

— É sim, até ela se transforma na louca Tess, começar a gritar e chorar, me prender em seus braços. Ela fazia isso comigo, meu pai a proibiu de me colocar para dormir depois de uma noite em que ela me machucou por me apertar demais em seu abraço, lembro que chorei assustado por dias.

— Oh, Jeremy nunca me falou nada sobre isso.

Kate viu a dor nos olhos verdes de Darren, era tão parecido com a mãe, uma vez o Jeremy lhe disse que quando Tess morreu, ele não aguentava olhar para os olhos do filho por que via a mulher no garotinho, por um tempo evitou Darren para não reviver o sofrimento que Tess causou para família. Jeremy se arrependeu de ter pensado dessa forma e ter deixado os filhos sozinhos com babás. O reflexo de toda a dor pela qual Darren passou era seu comportamento rebelde e sua falta de capacidade de se aproximar de forma saudável das pessoas. O pai se sentia culpado, mas não sabia como concertar seus erros do passado e Darren não o deixava se aproximar.

— Esse sonho se repete toda noite? – Kate perguntou preocupada.

— Todas as noites desde que minha mãe se foi... Na verdade fazia um tempo que eu não sonhava com ela, voltou a alguns dias desde que você tentou me ajudar. – Darren olhou para Kate. – Como se o fantasma tivesse sido libertado em algum lugar da minha mente, e você foi o estopim.

— Não entendo como posso ter alguma culpa por isso, Darren, jogar a responsabilidade por seus medos em mim, não os farão menores. – Kate tinha uma ponta de irritação na voz.

— Você queria ser minha nova mãe, e eu me senti tentado em aceitar. – Darren voltou a olhar para suas mãos. – Invejo sua relação com a Morrison... Desculpe, Summer, eu nunca tive algo do tipo com a minha mãe e nunca poderei, é tão frustrante. Você querer se aproximar de mim fez todo o sofrimento que minha mão infligiu voltar à tona.

— Nunca tomaria o lugar de sua mãe, disse isso a você e também não o deixaria. Quero te ajudar, ser sua amiga, assim como sou de Summer e Bree. Amo você e sua irmã como se fossem meus filhos, entendo que é difícil aceitar um estranho em sua vida, eu mesma quase desisti de tentar te conquistar, de ganhar sua confiança, mas não o fiz, por que sabia que tudo que você precisa é de alguém que não desista.

— Obrigado. – Darren não se sentia mais coagido em construir barreiras entre ele e Kate, não tinha mais forças para isso.

— Pelo o que?

— Por ficar.

Kate se aproximou para dar um beijo no topo da cabeça do garoto.

— Agora, durma um pouco, amanhã tem aula.

— Kate?

— Precisa de algo?

— Você pode ficar aqui até eu dormir? – As bochechas de Darren coraram.

Kate deu um sorriso doce, finalmente tinha conquistado o coração de pedra.

— Claro meu bem. – Kate sentou na poltrona próxima a cama de Darren. – Boa noite.

— Boa noite Kate.