Incondicional escrita por Selena West


Capítulo 36
Acidentes acontecem - Darren


Notas iniciais do capítulo

Ciao!
Um capítulo recorde, ainda tive que resumir muita coisa, não queria fazer mais um capítulo sobre o passado de Darren. Tomara que vocês tenham paciência para ler hihihi

Boa leitura.



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Para muitas pessoas o dia de seu aniversário é uma data especial, não para Darren Ferris, desde que sua mãe havia morrido esse dia significava ficar sozinho com alguma babá até seu pai chegar e talvez o levar para jantar fora, Jeremy tentava seguir a tradição da falecida esposa, só que esquecia todo ano o aniversário dos filhos, era lembrando sempre por Sue que era apenas uma empregada. Com o tempo Darren foi perdendo a vontade de comemorar e acabou se tornando apenas mais um dia como qualquer outro.

Naquela tarde abafada de março Darren estava fazendo quinze anos, porém a rotina do garoto foi a mesma de todos os dias, levantou as seis da manhã como todos os outros garotos, tomou café no refeitório com Peter e seus outros amigos e foi para aula, não disse a ninguém que era seu aniversário, não gostava de festas e muito menos de felicitações falsas, queria distância de bolos e presentes. Passou o dia se forçando a não dormir durante as aulas.

No almoço se sentou na mesma mesa que Peter e seus amigos, Darren foi convidado para se sentar com eles desde a noite que foram para Lubec onde se tornaram amigos, Peter gostava de Darren o achava estranho e interessante ao mesmo tempo, além de ter um senso de humor negro hilário. Vicent apelidou Darren de mascote por ser o mais novo, no inicio o menino pensou em protestar, porém com o tempo percebeu que se quisesse continuar andando com os novos amigos era melhor para de reclamar do modo como o tratavam.

Vicente jogou uma de suas almondegas em Darren.

— Que cara é essa mascote? Parece que morreu alguém.

— Não amole ele Vincent. – Peter defendeu o amigo. – Hoje é aniversário dele.

Darren encarrou Peter com os olhos arregalados.

— Como você sabe disso?

— Tenho minhas fontes, não é toa que me chamam de mestre.

— Ninguém te chama de mestre. – Paul replicou.

— Então é melhor começarem a chamar. – Peter apontou seu garfo para Paul.

— Temos que levar o mascote para comemorar. – Jake levantou seu copo para um brinde. – Hoje é o dia dele.

Darren sentiu o estômago revirar, não queria comemorar seu aniversário, achava que ninguém descobriria que ele estava ficando mais velho, tinha esperança de que ficasse em segredo, a Josh River não tinha a mesma mania irritante de sua antiga escola de pendurar uma folha no mural com o nome dos aniversariantes do mês, o que o ajudava a manter oculto o seu aniversário.

— Não gosto de festas. – Darren estava na defensiva.

— Tenho algo melhor do que balões e um bolo para você. – Peter planejava uma festa diferente para Darren, sem as frescuras usuais de festinhas, ele também não era um grande fã de aniversários.

— Isso ai mascote, vamos te embebedar um pouco. – Paul socou o ar com os punhos.

...

Quantas pessoas são necessárias para fazer uma festa de aniversário? Para Darren Ferris seus amigos já eram pessoas demais, por mais que tentasse dizer a Peter não gostaria de ir a lugar nenhum o outro não dessistia da ideia de fazer uma comemoração, Peter era bem teimoso. Gostando ou não Darren teria uma festa de aniversário.

A SUV de Jake estava no lugar de sempre, pronta para mais uma fuga. Peter deu o sinal para que todos pulassem o muro que separava o jardim da frente do estacionamento, a má iluminação do lugar ajudava a disfarçar os fugitivos nas sombras dos enormes carvalhos. Um banco encostado no muro servia como apoio para subirem, do outro lado uma arvore servia como apoio para a descida. Jake foi o primeiro a pular seguido por Darren, Vicent, Paul e Peter.

O dono da SUV deu partida em seu Jeep Cherokee.

— Vamos Peter! – Paul apressou.

— Fiquem calmas putinhas. Estou esperando o presente do mascote chegar.

— Você tem cinco minutos.

O aniversariante suspeitou que qualquer que fosse o seu presente não poderia ser boa coisa, Peter tinha um talento especial para fazer coisas que deixava Darren desconcertado, e seu presente de aniversário não poderia fugir dessa regra.

O rapaz de olhos negros fitou a escuridão do estacionamento, ela estava atrasada, tinha sido bem claro sobre o perigo de ficar no estacionamento da escola, odiava pessoas que não sabiam ser pontuais. Peter olhou pela décima vez o seu relógio de pulso caro, Jake até desligou o carro, estavam ali parados a um bom tempo.

— Peter, sua última chance, entre logo na porra do carro. – Paul estava cansado de esperar, não queria ser pego pelo diretor, seus pais o matariam se ele fosse expulso da escola.

— Cara, só mais uns minutos. – Nem Peter tinha mais certeza se valia a pena esperar, antes que mudasse de ideia e entrasse no Jeep ela apareceu. – Ai está o presente do nosso garoto.

Darren forçou os olhos para conseguir enxergar quem vinha na direção deles, se surpreendeu ao ver uma garotas se aproximando, temeu que tipo de presente Peter havia lhe arranjado.

— Lisa? – Vicent foi o primeiro a reconhecer a filha do homem que entregava os mantimentos na Josh River, às vezes ela vinha com o pai ajudar o velho a descarregar o caminhão junto com seus dois irmão mais velhos.

— Oi garotos. – Deu um sorriso tímido. Lisa tinha cabelos pretos como uma noite sem estrela, seu rosto era fino e delicado com traços suaves, ela usava um vestido branco rodado com uma jaqueta jeans por cima, nos pés botas de cano baixo, era bonita de uma maneira peculiar. Darren nunca havia falado com Lisa, seus irmãos eram como águias sobre a moça, não deixavam ninguém chegar perto da caçula.

— Linda como sempre. – Peter prendeu as mãos dela entre as suas e as beijou. – Conhece meu amigo Darren Ferris? – Apontou para o garoto encostado na traseira do SUV.

— Não tive a oportunidade, vocês não me chamaram mais para ir ao Lobos. – Lisa fez biquinho para Peter.

— Falta nossa. – Vicent disse a garota.

No verão que passou no Maine Peter se aproximou dos irmãos de Lisa, se tornaram bons amigos, Bernardo e Kayle eram caras legais, Peter os chamou uma vez para ir a Lubec, no entanto os irmãos eram certinhos demais para sair com um aluno do ensino médio para beber, o inverso de Lisa que era uma garota divertida e cheia de ânsia por liberdade. Quando conseguiu que os irmãos a deixassem conversar com Peter descobriu logo que ele ia para Lubec, praticamente ameaçou Peter para conseguir ir junto. Nenhum dos garotos tentou algo com ela, era uma regra para que não houvessem brigas entre eles.

Lisa deu um beijo no rosto de cada um de seus amigos.

— Hoje é aniversário do mascote. – Peter começou. - Não acha que ele merece um beijo de aniversário?

— Claro. – Lisa sorriu de uma forma que deixou Darren assustado. Ela agarrou sua nuca e o beijou, não era o seu primeiro beijo, entretanto foi um dos melhores que já recebeu, Lisa tinha beijado muitos caras sua experiência era bem mais extensa do que a de Darren.

— Aonde iremos? – Jake ligou o Jeep Cherokee.

— Para cachoeira. Hoje iremos dançar sob a lua rapazes. – Peter empurrou todos para dentro do carro.

— Você é fala como um viado. – Paul zombou.

O banco de trás era pequeno para quatro pessoas, Paul e Vicent eram grandes demais.

— Lisa, vá no colo de Darren. – Peter mandou.

— Não preci... – Darren tentou impedir, no entanto Lisa foi do mesmo jeito, ela se apoiou nos joelhos do garoto que ficou preocupado com as reações que seu corpo poderia manifestar.

A cachoeira ficava a poucos minutos da escola, uma pequena trilha levava a clareira onde uma queda d’água corria para o sul. Jake acendeu os faróis auxiliares de Jeep para luminar o caminho, era um lugar estranho para festas.

Peter tomou a frente do grupo e os guiou, no lugar escolhido montou com Jake e Paul uma tenda grande, em baixo colocou cadeiras dobráveis, uma caixa térmica azul, um pote grande cheio de pacotes de salgadinhos, uma mesa pequena de plástico.

— Um pouco de luz. – Peter acendeu as lanternas penduradas com silver tape.

— Dá pra ver que foi um garoto que arrumou tudo isso. – Lisa abriu o pote onde estavam estocados os salgadinhos. – Cadê a comida de verdade?

— Está segurando ela.

— Peter, espera mesmo fazer uma festa com cheetos? – Jogou um pacote para Vicent que o pegou no ar.

— Não tenho um desconto pela decoração? – Peter deu um sorriso sacana.

Darren acompanhou o olhar de Lisa que foi direto para as lanternas presas na tenta com fita adesiva. Na verdade ele preferia que fosse daquele jeito, não iria suportar fitas e balões, apesar de estar empolgado com a pequena comemoração na cachoeira, não havia mudado de opinião sobre seu aniversário.

— Preciso de uma bebida. – Paul atacou a caixa térmica.

— Espere por nós. – Vicent e Jake se juntaram a ele.

Todos se sentaram nas cadeiras dobráveis em volta das bebidas e do pote de salgadinhos, conversavam animados sobre como a vida era uma droga. Darren descobriu que Jake era filho ilegítimo de um politico famoso, Vicent e Paul pertenciam a uma família a beira do colapso, a mãe deles vivia para organizar concursos de misses infantis e o pai passava mais tempo fora do que em casa, Lisa era a única que pertencia a uma família estruturada, o que a chateava era a vida parada que levava, amava aos seus pais, mas seu sonho era ir para uma grande cidade ser estilista ou escritora, talvez os dois.

Jake, Vincent e Peter jogavam cartas de forma barulhenta, Paul apenas assistia estava comendo o seu quinto pacote de salgadinho. Darren e Lisa foram deixados de lado sozinhos.

— Qual o motivo para sua aversão terrível a festas de aniversário? – Lisa perguntou do nada.

— Traz recordações ruins da minha mãe e meu pai nunca lembra quando é. Acho que nunca gostei realmente desse dia.

— Seus pais são o motivo então?

— Pode ser. – Darren se afundou na cadeira. – De qualquer maneira não gosto muito de festas, não faz diferença se comemoro ou não.

— Cara que chato. Eu amo o dia do meu aniversário, é o único que meus irmãos me deixam em paz, meus pais sempre me fazem algum tipo de surpresa, é realmente o meu dia. – Por um momento Darren invejou a família de Lisa.

— Parece legal. – Deu um gole em sua cerveja para disfarça seu tom seco.

— É sim, e quero que você vá ao próximo, é só em outubro, mas já está convidado. Você pode vir tomar café da manhã com a gente, andar de trator, comer a melhor torta da sua vida, conhecer minha família maluca, e meu cachorro, vai adorar o Ted, ele sabe fazer vários truques, tipo pegar a bola e fingir de morto, vou te dar o primeiro pedaço do bolo, ai, minha mãe piraria com isso, todo ano é ela quem ganha, às vezes meu pai.

— Hey, calma, eu vou. – Darren riu da animação de sua nova amiga.

— Desculpa, eu falo demais quando me empolgo, é um defeito muito feio. – Fingiu estar brava consigo mesma.

— Não se preocupe. – Darren bateu sua garrafa contra a de Lisa. – Estarei no seu aniversário com certeza, parece ser o evento do ano, não perderia por nada.

— Mentiroso. – Disse e mostrou a língua.

A bebida estava começando a fazer efeito quando os rapazes decidiram que queriam nadar, as águas da cachoeira eram rasas e calmas, a correnteza era quase inexistente.

Paul tirou sua camisa e calça para mergulhar.

— Bela cueca. – Lisa gritou ao ver a peça do bob esponja.

— Eu sei que gostou. – Paul balançou o traseiro na direção dela, então pulou para junto dos outros garotos.

— Sua vez. – Lisa disse para Darren que ainda estava sentado ao seu lado.

— Nem pensar, não vou tirar minhas calças na sua frente. – Seu rosto estava corado, Lisa achou fofo, ao contrário dos amigos, Darren era um garoto com inibições.

— Por quê? Sua cueca não pode ser pior do que a do Paul. – A risada dela ecoou entre as árvores.

— Acho que não bebi o suficiente para isso.

— E se eu for também? – Colocou a mão na coxa do aniversariante.

Lisa levantou da cadeira, jogou suas botas para o lado e tirou o vestido pela cabeça, Darren esqueceu como respirar, era a primeira vez que via uma garota só de roupas intimas, seu coração batia loucamente contra o peito. Com passos rápidos Lisa chegou a beira da água, entrou aos poucos estava gelada.

— Estamos esperando. – Peter disse a Darren.

— Não vou.

— Por favor. – Lisa pediu melosa.

Darren suspirou alto, ainda acabaria em uma enrascada por sempre ceder às garotas. Levantou para tirar suas calças, desabotoou o cinto e a baixou o jeans de uma vez só, depois foi a vez da camiseta, correu como doido em direção a água, quanto menos vissem sua quase nudez melhor. O garoto congelou até o osso com o choque térmico que levou, o frio o fez tremer levemente o queixo, Lisa se aproximou e o abraçou.

— Melhor? – Perguntou contra o pescoço dele.

— Muito.

— Beija logo. – Incentivou Jake. – Não vamos olhar.

Todos se viraram de costas para o casal, Lisa riu da cena. Darren segurou o rosto de Lisa próximo ao dele, era capaz de sentir a respiração dela contra seus lábios, beijou ela com cuidado no inicio, mas pode se conter por muito tempo, afundou sua boca a dela, passou seus braços em volta da cintura fina da garota e colou contra si, Lisa puxou o cabelo da nuca de Darren, ele soltou um gemido baixo. Os rapazes quebraram sua promessa e viraram de volta dando gritos, assovios e jogando água nos dois. Darren poderia se acostumar com festas de aniversário como aquela.

Peter subiu em uma pedra grande para se exibir.

— Olhem para o seu mestre. – Bradou.

— Essa pedra é muito baixa. Posso subir ainda mais alto. – Lisa esnobou, ela conhecia cada pedra da cachoeira.

— Está esperando o convite formal? Suba logo! – Peter desafiou.

Lisa se soltou de Darren para subir em uma pedra alta e escorregadia próxima a queda d’água, tinha habilidade de sobra, conseguiu chegar ao topo em poucos minutos.

— Eu tenho a força. – Disse fazendo posses de modelo de halterofilismo.

— Também posso subir ai.

— Está esperando o convite formal? – A moça imitou o tom do amigo.

Peter começou a escalada com bem menos habilidade.

— Cuidado! – Darren gritou de baixo, uma queda da pedra poderia ser fatal, havia muitas outras rochas por ali, alguma ocultas pela água.

— Sei me cuidar. – Lisa mandou um beijo para Darren.

Peter alcançou o topo da pedra, o espaço era limitado, não havia onde colocar o pé com segurança. Lisa sorriu para o garoto.

— Você não aguenta não ser o centro das atenções, não é? – Provocou a garota de cabelos negros.

— Disse a senhorita que passou a noite cercando Darren Ferris como um cão atrás da caça. – Peter tinha os mesmos cabelos escuros, que estava quase chegando na altura do queixo.

— Não era esse o intuito? Que eu ficasse com Darren? – Lisa estava ficando nervosa, Peter queria ofender ela de qualquer maneira.

— Para dar uns beijos, fazer o mascote deixar de ser virgem, só isso, não querer virar namorada dele, acha que não ouvi sua conversinha sobre seu aniversário?

— Peter, qual seu problema? Não vê que não pode controlar tudo? Pare de brincar com aqueles meninos, de trata-los como suas vadias.

— Minha vadias? São meus amigos!

Lisa tocou o ponto fraco de Peter, dedes que era uma criança queria que todos fizessem suas vontades, os pais ausentes diziam aos empregados que Peter precisava de atenção total, o menino Cotton era malévolo e sádico, aprontava todo tipo de maldade para os empregados e colegas da escola, com uma personalidade cativante sempre conseguia o que desejava, um mestre em oferecer exatamente o que os outros cobiçavam, como se entrasse nas mentes das pessoas. Os professores descreviam Peter como volúvel, tinha dias que ele era um pequeno lorde inglês e outro que era impossível lidar com seu gênio. Quando os pais viram que não poderiam manter Peter em casa por causa dos problemas que ele causava com os empregados e familiares, Antony e Juliet enviaram o filho para Josh River na esperança de que ele melhorasse seu comportamento. No colégio Peter juntou uma legião de admiradores, Vicent, Paul e Jake eram os seus amigos favoritos por se tornarem influenciáveis com um pouco de álcool, e Darren era seu novo favorito, sua personalidade fraca o tornava um ótimo seguidor, sabia que o estilo de vida que levava enfeitiçava o Ferris. Suportava Lisa apenas por causa dos outros, ela conquistou os amigos, e achou que se a fizesse ficar com Darren teria a desculpa que precisava para afastar ela de vez de seu grupo, o problema foi Darren ter realmente gostado da morena o que impediria de afastá-la.

Lisa ria com desdém.

— Eu não teria tanta certeza, tire a bebida e as fugas no meio da noite e o que sobra de Peter Cotton? Nada além de um garotinho mimado, nenhum deles gosta realmente de você, por que nenhum deles conhece o verdadeiro Peter.

Lisa apontou o dedo para Peter, que sem pensar muito empurrou seu braço para longe, levou segundos para que Lisa percebesse que estava caindo, seu grito cortou a noite. Darren olhou para cima a tempo de ver a queda, os outros estavam distraídos jogando águas e rindo alto, só perceberam o que aconteceu quando Lisa atingiu a água. Vicent foi o primeiro a sair nadando em direção a garota, seu irmão gêmeo o seguiu junto com Jake. Peter desceu depressa da pedra, escorregou algumas vezes, mas chegou inteiro.

Paul pegou o corpo de Lisa e com alivio constatou que ela ainda respirava.

— Lisa? – Chamou. – Lisa? – Tentou de novo.

— Ela está sangrando. – Jake apontou para o sangue na mão de Paul.

— Merda. – Paul lavou a mão na água.

— Leva ela para fora. – Darren falou, ainda estava em choque com o acontecido.

Os rapazes saíram todos correndo em direção à tenda. Peter alcançou Darren que havia ficado para trás.

— Não acredito que a empurrou. – As palavras de Darren acertaram Peter como adagas.

— Lisa escorregou.

— Mentira! Eu vi vocês discutindo lá em cima. – Apontou para pedra alta. – Como pôde?

— Não fiz nada disso, ela se desequilibrou. – Peter sentiu medo, ele não queria que Lisa caísse, foi um acidente lamentável, se Darren contasse a alguém iriam querer investigar, e Peter acabaria preso. – Porque eu a empurraria?

Sem saber o que pensar Darren não respondeu, não podia acusar Peter sem ter certeza do que viu. Na margem do rio Jake tentava estancar com sua camisa o sangue de Lisa, Paul a vestiu novamente do jeito que pode, iriam lava-la ao hospital o mais rápido possível. Darren se ofereceu para ir com Jake e Paul, Peter e Vicent ficariam para limpar a sujeira. O Jeep não parecia rápido o bastante, no banco de traseiro Darren tentava parar o sangramento que escorria sujando suas mãos. O desespero tomou conta de seu coração, pensava nas consequências daquela noite, no que poderia acontecer com Lisa, como a família dela reagiria, como Jeremy reagiria quando soubesse, pensou na frieza de Peter que não parecia nem um pouco abalado com o ocorrido.

O celular de Paul tocou, o aparelho vibrava sobre o painel do carro.

— É o Peter. – Vicent constatou ao pegar o telefone. – Alô...ok, tudo bem, não precisa gritar.

— Estou no viva voz? – A voz do Peter soava anasalada.

— Sim. – Respondeu Jake.

— Ótimo. Queria combinar algumas coisas. – Peter fez uma pequena pausa. – Não podemos nos meter em encrencas, então se perguntarem como Lisa caiu digam que ela subiu na pedra para se mostrar e acabou escorregando. Entenderam?

— O único que pode se meter em encrenca aqui é você, Peter. – Darren acusou.

— É só dizer o que pedi, ok?

— Que seja, não pode ficar pior do que isso. – Darren olhou para Lisa que estava pálida e fria.

— Não se esqueçam, sem contradições. –Peter desligou.

— Ele sequer perguntou sobre a Lisa. – Jake disse nervoso.

O hospital de Lubec era um pequeno prédio de madeira pintado de amarelo claro, uma ambulância estava parada na entrada e alguns enfermeiros jogavam conversa fora na recepção. Foi um caos assim que Paul entrou com Lisa nos braços, uma maca surgiu do nada para socorrer a moça. Uma enfermeira alta com um coque mal feito com vários fios soltos fazia um monte de perguntas que os garotos mal conseguiam responder, a mulher aconselhou que eles chamassem os pais de Lisa. Jake voltou para o carro, procuraria o celular de Lisa na jaqueta que ela usava.

Darren sentou em um banco no canto, estava perdendo o controle, colocou a cabeça entre as pernas e respirou fundo, precisava se acalmar ou iria enlouquecer. A noite foi longa, Jake conseguiu ligar para os pais de Lisa, que chegaram em pouco tempo, os irmãos dela queriam agredir os garotos, foram preciso muitos seguranças para acalmar os ânimos. Um policial apareceu pouco tempo depois da confusão, fez um monte de perguntas para todos, inclusive para Peter e Vincent que chegaram depois. O dia estava quase amanhecendo quando até o diretor apareceu no pronto socorro, Darren continuava em seu canto na mesma posição, queria poder sumir dali.

Mais tarde os médicos informaram que Lisa sobreviveria. Porém estava em coma por conta de um traumatismo craniano, eles só poderiam avaliar os danos com exames mais detalhados. A mão de Lisa chorou como uma criança, todos estavam em choque com as noticias. Peter agradeceu secretamente, se Lisa acordasse e dissesse o que aconteceu de verdade na pedra era muito provável que ele fosse parar na delegacia para explicar o ocorrido.

...

Jeremy apareceu na cidade alguns dias depois para levar Darren embora, ele e os outros envolvidos foram expulsos por violarem o toque de recolher e fugirem no meio da noite. Darren foi embora sem pestanejar, a única coisa que pediu ao pai fosse que arcasse com os custos do tratamento de Lisa, o que Jeremy concordou de imediato e ficou orgulhoso pela atitude do filho de querer ajudar Lisa.

Darren nunca mais viu Vicent, Paul e Jake, eles também voltaram para suas casas. Achou que também não veria mais Peter, nem gostaria, não confiava mais no cara que se dizia ser seu amigo.


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Notas finais do capítulo

- O quão estranho vai soar se eu disser que as vezes me sinto como o Peter e quero sumir com os amigos dos meus amigos? KKKKKKKKKKK.
— Depois vou explicar melhor o que aconteceu com a Lisa.
— Sou a única que não acha graça em bebidas alcoólicas? D:
— Ainda tem mais uns três capítulos no ponto de visto do Darren.
— Levei seis horas pra escrever isso, OMG, to ficando mole.

Beijos.
S.W.