Três anos antes.

Escola para garotos Josh River.

Darren lia na cama, tinha um teste de inglês no dia seguinte e teria que estudar muito se não quisesse levar outra bomba, não que se importasse muito com isso, só não queria repetir de ano e ter que ficar mais tempo na escola. Desde que se mudou para a Josh River a vida dele havia se tornada uma porcaria, se mudou para um lugar no meio do nada no interior do Mine. Não tinha amigos, porque Darren não era muito de falar com os outros garotos, estava longe de Bree e as regras rígidas do colégio estavam o enlouquecendo, a única coisa que não tão ruim era não ter um colega de quarto, a cama ao lado estava desocupada desde o primeiro dia de aula.

O aposento era simples paredes brancas, uma janela que dava para os fundos onde ficava a horta, a decoração era composta por duas camas de madeira com lençóis azuis, escrivaninhas estavam arrumadas uma ao lado da outra perto da porta, todos os quartos tinha seu próprio banheiro, era proibido pendurar qualquer coisa nas paredes o que dava um ar de impessoalidade aos dormitórios.

A porta se abriu em um estrondo, um garoto que Darren nunca havia visto antes entrou com malas debaixo dos braços, ele praguejava em voz baixa enquanto lutava com suas coisas.

— Cara, uma ajudinha cairia bem. – O garoto de cabelos escuros comentou.

Darren permaneceu calado, era tímido com estranhos, aliás, com quase todo mundo, mandá-lo para o colégio Josh River era uma tentativa de Jeremy de transformar o filho em alguém menos esquisito, pelo menos era nisso que Darren acreditava. O garoto abaixou o rosto e fingiu estar lendo o livro sobre autores ingleses, seus cachos caíram sobre seus olhos, eles não viam uma tesoura há quase um mês.

— Ok, eu me viro. – O rapaz correu os olhos pretos como ônix pela cama vazia encostada na parede, sem chance dormiria ali, ele queria a que estava sob a janela. Então jogou suas malas sobre a cama de seu novo colega de quarto. – Essa cama é minha, caí fora.

— O que? Não!

— E ele fala. – O outro garoto ironizou.

Era só o que faltava, um idiota para dividir o quarto comigo, lamentou Darren sem pronunciar as palavras em voz alta para o invasor.

—Peter Cotton? – A inspetora, Bertha, chamou na porta. Bertha era uma mulher corpulenta, baixinha e com uma longa trança castanha, ela estava sempre usando um avental cheio de bolsos onde guardava de tudo. – Ah, vejo que já conheceu seu novo colega de quarto. – Disse sorrindo assim que viu Darren escondido atrás de seu livro.

— Sim, estávamos negociando as camas. – Peter deu um sorriso ingênuo.

Bertha semicerrou os olhos desconfiados, conhecia Peter o suficiente para saber que ele não negociava nada.

— Não perturbe o rapaz. Fique com a cama vaga e pare de causar confusão.

— Terei que dizer de novo que o incêndio não foi minha culpa? Acidentes acontecem o tempo todo. – Era uma mentira deslavada, Peter havia desafiado Morgan Jones a dar curto na fiação do quarto enfiando uma borracha com clipes presos nela no buraco da tomada, iludido com a possibilidade de andar com a turma de Peter o garoto aceitou o desafio e acabou causando um pequeno incêndio no quarto.

— Por sorte eu estava fazendo a ronda noturna e vi a fumaça a tempo de impedir que uma tragédia acontecesse. - Bertha se benzeu. - Vocês poderiam ter morrido.

— Que exagero. - Peter respondeu.

— Vá dormir senhor Cotton e se comporte.

A inspetora saiu do quarto desejando boa noite, havia mais dormitórios para visitar. Peter jogou sua mochila sobre a cama encostada na parede.

— Dessa vez você venceu. – Estendeu a mão para um cumprimento. – Sou Petter Cotton.

— Darren Ferris. – O aperto de mão de Peter era firme e convicto, ao contrário de Darren que era hesitante.

— Então, Darren Ferris, o que você faz pra se divertir por aqui? - Peter perguntou casual.

— Estudo para prova de amanhã.

— Que merda. – O rapaz riu e pegou o livro das mãos de Darren. – Não precisa passar a noite com esses caras mortos, vamos no divertir um pouco.

— Como assim? – Darren tomou seu livro de volta.

— Vamos fugir baby.

Os amigos de Peter esperavam no estacionamento, todos fugiram pela janela como Peter ensinou a Darren, a inspetora passava apenas uma vez em cada quarto antes do toque de recolher, então os rapazes ficavam no dormitório até ela sair do corredor. Os garotos da Josh River saíram na SUV de Jake, um dos amigos Peter, um rapaz loiro com sardas no nariz, os outros dois eram Vicent e Paul, irmãos gêmeos idênticos, ambos tinham o mesmo cabelo cacheado preto, o mesmo sorriso torto, o mesmo corpo esguio e forte. Eram diferenciados apenas pelos cortes de cabelo, Paul tinha cabelos curtos enquanto Vicent cultivava as madeixas na altura da orelha.

A cidade mais próxima da escola era Lubec, não era o lugar ideal para se divertir por ser uma cidade pequena, entretanto tinha um bar com música e bebida, isso servia para os rapazes.

Peter enchia o copo de Darren pela sétima vez, praticamente o obrigava  tomar todas as rodadas que eram servidas.

— Pode beber, é por minha conta hoje.

— Não sei se quero beber mais, estou me sentindo estranho. – Darren olhou para o chão um pouco tonto. Depois de seis copos de cerveja estava completamente bêbado.

— Para um cara de Nova York você é bem fraco. – Peter bebeu a cerveja que havia servido para Darren. – Olhe aqueles dois panacas dançando.

Vicent e Jake tentavam imitar os passos de Elvis enquanto tocava Jailhouse Rock no jukebox vintage do bar. Os dois riram dos amigos que faziam papel de idiotas na frente dos clientes do estabelecimento.

— Vocês sempre vêm aqui?

— Quase toda sexta, ficar na prisão de Josh River é um tristeza. – Peter e os outros garotos eram conhecidos por suas fugas de mestre, sempre saiam sem serem pegos, Cotton tinha um segredo para conseguir sair do campus do colégio que não revela nem mesmo para seus amigos.

— É meio longe. – Divagou Darren, uma hora e meia separava a escola da cidade. Josh River ficava em uma área rural de Lubec.

— Desde que tiramos nossas carteiras de motorista nada é mais tão longe.

— Ainda falta muito para eu poder dirigir. – Darren lamuriou.

— Quantos anos você tem?

— Quatorze, farei quinze daqui três meses.

Peter deu um sorriso zombeteiro.

— Um bebê, ainda cheira a leite azedo. – Peter fingiu fungar em Darren.

— Não sou nenhum bebê. – Não deixaria que aqueles garotos do último ano o tratassem como um idiota só porque era mais novo.

— Se não é um bebê já deve ter transado com uma garota.

Darren não queria responder aquilo, sentia que o bar inteiro estava esperando suas palavras, como se todas as orelhas estivessem captando sua conversa com Peter. O bar dos lobos era uma velha casa de madeira com cabeças de animais empalhados, duas espingardas penduradas na soleira da porta, algumas mesas com toalhas vermelhas puídas ocupavam o salão junto com o velho jukebox e as mesas de bilhar, era o tipo de lugar onde um garoto virgem não era bem visto, pior do que isso era motivo de piada.

— Não quero falar sobre minha vida sexual, não com você.

— Vamos lá, não seja tímido.

— Peter. Não gosto de ser estraga prazeres, mas precisamos voltar. – Paul alertou. Darren ficou grato por escapar da pergunta indiscreta.

— Vamos pegar os pé-de-valsa e cair fora. Consegue andar sem cair bebêzão? – Peter se dirigia a Darren que tinha aparência meio esverdeada.

— Posso. – Mentiu, mal conseguia discernir qual de seus pés era o esquerdo. Apesar de estar embriagado, pela primeira vez Darren se divertiu, sentiu que podia ser ele mesmo, a bebida o liberou de uma série de amarras, conseguiu até conversar com Peter sem querer abrir um buraco no chão e se jogar dentro toda vez que percebia que estava falando besteira. Era uma sensação boa de felicidade que não tinha há muito tempo.

Darren Ferris estava mudando, só não sabia ainda.