Incondicional escrita por Selena West


Capítulo 3
Eu não confio em você


Notas iniciais do capítulo

Sei que prometi fortes emoções, mas pensei melhor e ainda não é hora de derrubar os forninhos, mesmo assim espero que gostem.
Boa leitura.



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Era difícil não se impressionar com a mansão da família Ferris, ela parecia um projeto futurista, sua fachada era geométrica e minimalista, a parede de vidro da sala tinha vista para a piscina em forma de pé no jardim, durante a noite com a iluminação azul e lilás o visual da piscina era de tirar o fôlego.

Uma casa linda, com certeza, mas não um lar.

No caminho entre o meu apartamento e a mansão não troquei uma palavra sequer com a minha mãe, era um protesto silencioso. Eu sabia que um dia ela se casaria com o Jeremy e que ele não se mudaria para o nosso pequeno apartamento, só que eu achava que já estaria bem longe, na faculdade, e não que teria que dividir o mesmo teto com o Darren e morar em uma casa que parece saída de uma revista chique de decoração.

O caminho até a porta da sala era uma espécie de deque de madeira sobre um espelho d’água, minha mala de rodinhas pulava sobre as fendas entre uma madeira e outra, o único barulho ao redor era esse, do plástico batendo no chão. No fim do deque havia um amplo espaço livre sob algum cômodo do segundo andar, um sofá redondo e duas cadeiras de vime compunham a decoração.

Tenho que admitir, não seria tão ruim morar ali. Minha mãe tirou um molho de chaves da bolsa e encaixou uma na enorme porta de madeira, ela fez um clique baixo e se abriu.

— Você tem a chave? – Era uma pergunta idiota levando em consideração que ela acabará de destrancar a porta.

Minha mãe se voltou para mim e sorriu.

— Você não queria que eu tocasse a campainha em nossa própria casa? – Ela riu baixinho. – E essa é sua.

Estendi a mão para o molho de chaves idêntico ao que ela usou, exceto pelo chaveiro com a torre de Pizza.

— Seja bem vinda ao seu novo lar. – Aquela palavra, lar, fez o clima ir por água a baixo.

— Nunca será meu lar mamãe, você sabe disso.

Olhei para a ponta das minhas sapatilhas e esperei ela me repreender.

— Summer, tente ser mais positiva. Eu sei que o Darren é uma pessoa difícil, mas a Bree te adora e o Jeremy te admira tanto.

Ela segurou meu queixo fazendo com que eu olhasse para seus olhos.

— Não se esqueça: lar é onde a família está.

— Essa é a casa dos Ferris, eu sou uma Morrison, sempre serei. Não faço parte dessa família. – Retruquei amargamente.

— Oh, não gosto que pense que nomes tem importância aqui, sendo Morrison ou Ferris somos uma família agora.

— Tanto faz. – Disse derrotada.

Mamãe abriu a porta e fez sinal para que eu entrasse. Puxei minha mala para o chão de madeira lustroso. A sala da mansão é tão deslumbrante quanto o lado de fora, uma decoração básica e bonita, um sofá que faz um U em volta de uma mesa de centro de vidro de frente para uma tv grande em um painel de madeira escura, atrás do sofá uma mesa de madeira da mesma cor do painel expõe fotos da família, me surpreendi ao ver fotos minhas no meio dos retratos dos Ferris.

— Foi você quem fez isso? – Peguei uma foto minha com sete anos em uma bicicleta.

— Não, Jeremy me pediu fotos nossas e colocou algumas que tiramos durante esse ano que passamos juntos.

Reconheci a foto do aniversário da Bree onde o Darren fez chifres com os dedos atrás de mim.

— Ele está se esforçando para que você se sinta em casa querida, o mínimo que você pode fazer é se esforçar para ser mesmo sua casa. – Eu vi o quanto aquilo significava para ela, talvez eu estivesse exagerando um pouquinho.

— Vou tentar, prometo. – E eu iria.

— Ótimo vou pedir para alguém me ajudar com o resto das malas. Seu quarto é o primeiro à direita depois da escada.

E ela foi para fora novamente.

Antes de subir dei mais uma olhada na sala. Dois degraus separavam a parte onde estava o sofá e a entrada, pulei os dois como uma criança e me joguei no sofá que afundou com o meu peso, era como sentar em uma nuvem fofinha. Era como nos filmes, a garota legal finalmente estava tendo uma vida de princesa. Eu poderia me acostumar com isso.

Passei longos cinco minutos apreciando o sofá até decidir ir conhecer meu novo quarto, peguei minha mala de rodinha e subi a escada com degraus presos a uma coluna de ferro e corrimão de vidro. O corredor na parte de cima estava escuro, apenas a luz vinda através da parede de vidro atrás da escada iluminava o lugar. Procurei pelo interruptor, o encontrei próximo de uma mesinha com um arranjo de flores. As luzes de ascenderam revelando um corredor cheio de portas, doze para ser mais exata. Entrei no quarto que minha mãe indicou como sendo o meu. A luz também estava apagada, dessa vez foi mais fácil achar o interruptor. Nenhuma palavra poderia descrever o que senti quando a luz ascendeu, não estou falando da decoração estilo diário de uma princesa.

Darren estava deitado na minha cama com os braços atrás da cabeça. Sua postura parecia bem relaxada e seus pés balançavam para fora da cama como os de uma garotinha. Ele usava uma camisa branca que ressaltava os músculos do peito e uma calça de pijama verde musgo, parecia preparado para ir dormir. Seus cabelos ondulados estavam úmidos e bagunçados, o cheiro de sabonete preenchia o ambiente impregnando o ar.

— Você demorou, estava começando a ficar entediado. – Ele sorriu cinicamente para mim.

— O que você está fazendo aqui?

Eu sabia que estava me iludindo, que não seria fácil, aquele idiota nunca deixaria eu me sentir em casa, seria sempre um lembrete de que não pertenço a aquele lugar. Ao contrario de mim e da minha mala de segunda mão, o Darren parecia fazer parte da decoração, bonito, elegante e caro.

— Morrison, essa é a minha casa, eu entro onde bem entender.

— Não no meu quarto, seu pervertido. – Provoquei de volta.

— Pervertido? Vai sonhando, você nunca vai encostar nesse corpinho.

A insinuação dele me fez ficar com mais raiva ainda. Ele era bonito, não posso negar, mas me interessar por ele? Sem chance.

— Essa casa já foi mais bem frequentada, espero que meu pai recobre logo o juízo e mande vocês de volta para o seu habitat natural, o buraco da onde você e sua mãe vieram.

— Eu também não estou feliz com essa situação, mas teremos que dividir o mesmo teto por um bom tempo, então é melhor você se conformar. – Coloquei as mãos na cintura para parecer mais confiante, um erro, fiquei parecendo uma criança boba.

Darren se apoiou nos cotovelos e me encarrou de uma forma que fez os pelos da minha nuca se arrepiarem.

— Nunca. – Foi tudo o que ele disse.

A tensão no quarto era palpável, como se raios saíssem de nossos olhos toda vez que eles se cruzavam.

— Eu não entendo o motivo de tanta raiva. Você vai pra faculdade ano que vem, e te garanto que a ultima coisa que eu e minha mãe queremos é tirar algo do seu pai, da Bree ou de você.

Tentei ser cordial e racional, minha vó sempre diz que se você não pode contra seu inimigo o melhor é tentar um acordo. Não custava nada tentar.

— Não sei que tipo de golpe você e sua mãe pretendem Morrison, mas eu vou descobrir. – Ele fez aquele sinal de estou-de-olho-em-você.

— Pela ultima vez, nós não queremos dar o golpe em ninguém. Aliás, eu quero dar um de karatê bem no meio dessa sua cara feia.

— Morrison, Morrison, nós dois sabemos que a única cara feia aqui é essa sua cheia de cravos.

Instantaneamente cobri meu nariz com a mão e o Darren gargalhou.

Ele tinha a capacidade de fazer o meu sangue ferver como água em uma chaleira, eu tentava não responder seus insultos e provocações, sempre sem sucesso. Era difícil ignorar tantas mentiras ao meu respeito.

— Eu não confio em você. – Ele disse do nada.

Indignação era a palavra pra me descrever depois daquela frase.

— Darren, não me importo com isso, não mesmo e sai daqui. A-GO-RA! – Mandei.

Meu “querido irmão” se levantou da cama com a graça de um felino e saiu.

— Obrigada e boa noite. – Ele apenas acenou sem se virar.

Eu queria gritar, esmurrar a cara dele, arrancar cada fio de cabelo do Darren. Sempre foi evidente que ele me odiava, só não achei que ele pensava que minha mãe estava dando o golpe do baú no pai dele. Não era o suficiente ela ter sugerido a separação total de bens e um acordo pré-nupicial? Não era justo! Minha mãe estava fazendo de tudo para que não pensassem que ela é uma oportunista e ninguém acreditava nela.

Tomei um banho, coloquei meu pijama, mas era cedo pra dormir então liguei a tv, assisti um pouco de desenho e um filme triste sobre um cavalo que vai para guerra, seria uma longa noite.

Antes de ir dormir mamãe apareceu com o resto das minhas coisas, uma moça loira baixinha com uniforme de empregada veio atrás com uma caixa.

— Obrigada Sue. Você pode ir agora. – Minha mãe parecia desconfortável.

A moça assentiu com a cabeça e saiu.

— Nunca me acostumarei a ter empregados. – Era realmente estranho.

—Pelo menos você não é uma dondoca afetada que grita e quer tudo pra ontem.

Mamãe deixou as coisas em um canto e veio sentar comigo.

— E nunca serei, sei como é difícil ter alguém gritando com você, pedindo tudo pra ontem. – Ela estava falando do Henry, o gerente do departamento onde ela trabalhava, ele sempre estava gritando e falando que todos são preguiçosos. O vi uma única vez, ele é gordo de pernas finas, cabeça calava e ruiva e um forte bafo de café e o péssimo hábito de falar cuspindo quando fica bravo.

— Foi bom você ter saído.

— Não sai, ele me demitiu em plena lua de mel e eu comemorei tomando vinho no coliseu romano. – Ela ergueu o punho como se fosse fazer um brinde. – Vou procurar outro emprego, não nasci pra ficar em casa.

— E o que o Jeremy pensa disso? – Perguntei curiosa.

— Ele disse que se orgulha da minha atitude e que sou realmente especial. – Ela ficou encabulada ao me contar isso.

— Ele é um cara legal.

E pai de um cara horrível. Eu não contei para minha mãe sobre o que aconteceu mais cedo, ela iria ficar triste e eu não pretendia fazer ela se sentir mal. O Darren estava agindo como uma criança mimada, o Jeremy provavelmente não concordaria com essa atitude. Pelo jeito todos os dias seriam agitados nessa casa.


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Notas finais do capítulo

Confesso que descrição são minha kriptonita, sou muito direta, acho que não consigo passar para as pessoas o que eu quero descrever. Mas estou me esforçando, juro.
Amanhã sai outro capítulo, não percam. Tentarei postar todos os dias até começarem minhas aulas da faculdade.

Comentem, comentem e comentem!

Beijos.
S.W.



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