– E o que você pretende fazer? – Carly indagou após ouvir minha história.

Liguei para minha amiga depois que Eric foi embora, precisava falar com ela imediatamente e receber a opinião de alguém que não teria dó de me dizer o que pensa. Carly era a pessoa certa, sua sinceridade era implacável. Mesmo sendo tarde Carly me atendeu no segundo toque, sua voz estava meio sonolenta. Minha amiga ameaçou desligar na minha cara se não fosse algo muito importante, o que eu não duvidava que ela fizesse. Narrei o desastre que foi o meu jantar com Eric, como descobri seu caso no passado com Amanda. Carly ouviu tudo em silêncio, sem comentários maldosos ou gracinhas.

Ouvi um bocejo do outro lado da linha.

– Não sei. – Confessei.

– Summer meu amorzinho, não estou fazendo pouco caso do seu sofrimento, mas faz dois anos que seu namorado ficou com a tal Amanda, provavelmente ele nem se lembrava dela, talvez nem ela se lembre dele. E se não for o caso, melhor ainda, esfregue na cara dela que você tem o cara gostoso e ela tem aquele seu odioso irmão de mentira. – Seu riso pareceu cansado.

– Como posso ignorar o fato de Amanda estar sempre atrapalhando a minha felicidade? – Choraminguei.

– Para com isso, você vive se boicotando. A Amanda não é o problema, é essa sua maldita baixa autoestima e mania de inferioridade. Caramba Summer, você não pode simplesmente aceitar que o Eric gosta de você? E daí que ele fodeu com a Amanda? Foi há dois anos, eles eram jovens e livres e ele nem te conhecia, se ele não contou deve ser porque não era importante. Agora vá dormir e pare de encher o meu saco.

Sentei na cama perplexa, Carly quase nunca falava daquele jeito comigo, eu devia ter interrompido um sonho muito bom. Ela tinha razão, eu estava sendo infantil, como podia jugar Eric por algo que aconteceu há tanto tempo, o que me incomodava de verdade era ele nunca ter dito nada sobre conhecer Amanda.

– Summer? Foi mal pela explosão, você estava implorando por isso.

– Tudo bem, você tem razão. Pode ir dormir.

– Amanhã vou até sua casa, ok? Boa noite.

– Tudo bem, não é como se eu pudesse sair daqui mesmo. Boa noite.

Desliguei o telefone, o deixei sobre o criado mudo no silencioso, precisava tentar dormir o que seria uma missão impossível naquela noite. Meu cérebro estava a milhão com as suspeitas sobre a origem de Eric e seu passado com Mandy. Queria perguntar algumas coisas a Darren, quem sabe ele me contasse mais, mesmo que fosse só pra me fazer sofrer, seria um começo para conhecer mais sobre o meu misterioso namorado.

...

O dia amanheceu nublado, o céu estava cheio de nuvens a chuva ameaçava cair a qualquer momento. Minha mente estava nublada como o céu lá fora, enevoada pelas duvidas. Eu gostava muito de Eric, queria confiar mais nele, para isso precisava saber quem era ele de verdade, ficar fazendo especulações só enchia minha cabeça de hipóteses e a maioria delas eram péssimas.

Carly chegou depois do almoço, seu cabelo estava bem mais curto, na altura dos ombros e com uma franja reta, não fazia tanto tempo que eu a vi, porém era como se estivéssemos há anos sem nos encontrar, era estranho e novo sentir saudades de Carly, foram poucas as vezes que ficamos muito tempo longe uma da outra. Abracei minha amiga, ela retribuiu, éramos mais irmãs do que eu e Darren jamais seriamos.

– Antes que você despeje um milhão de coisas em mim. – Me senti mal pelo comentário. – O Peter me convidou para sair, vamos hoje ao cinema. Achei que ele nunca fosse perceber meus olhares sedutores. – Peter era vizinho de Carly há alguns anos desde que sua família se mudou de Washington. O garoto era tímido como um gatinho assustado, a Carly sempre reclamava que ele fugia quando ela tentava uma aproximação, suspeitei que o convite tivesse partido de Carly e não do envergonhado Peter.

– Achei que vocês fossem ficar no amor platônico. – Zombei.

Carly deu um longo suspiro afetado.

– Ele é uma graça, tenho vontade de devorá-lo vivo. – Minha amiga balançou a cabeça como se quisesse espantar os pensamentos sobre Peter. – Mas não foi por isso que cruzei a cidade, me diga como você está se sentindo?

– Confusa.

– Tenho duas opções para você: A) fale logo com Eric e coloque suas duvidas na mesa, se ele se esquivar e não responder é por que merece um belo pé no traseiro, e B) invadimos a casa dele e investigamos. – Ela levantou um dedo para cada opção.

– Invadir a casa dele? Como faríamos isso? – Percebi pelo seu olhar que aquela não era a opção certa.

Exigir respostas de Eric seria o mais maduro, o que a maioria das pessoas com algum bom senso faria, porém investigar a vida dele também parecia bem atraente. Eu queria saber o que realmente estava por trás de Eric Sheppard, estava cansada de fazer o papel de boba.

– Achei mesmo que você fosse escolher a opção B. – Carly deu um sorriso brincalhão. – Sendo assim temos que ir até a casa dele e tentar desvendar alguma coisa sobre o nosso querido Eric.

Enrolei uma mecha de cabelo tentando não transparecer que estava encabulada com a situação.

– Não sei onde o Eric mora, ele nunca me levou até sua casa. Quando digo que não sei de nada, é literalmente nada.

– Mas que por... Caria. – Carly estava em um processo de abandono de palavrões. – O Eric é gato, simpático e um gostoso, mas namorar o cara sem saber nada sobre ele é burrice demais até para você.

– Hey, calma ai. Eu estava hipnotizada pela beleza dele, pela delicadeza, era o galão que toda garota sonha. Acho que mudar pra essa casa, a nova escola, lidar com todos esses acontecimentos mexeu com a minha cabeça, o Eric era o único que não fazia eu me sentir deslocada, por isso simplesmente fechei meus olhos para o fato de Eric não falar nada sobre sua vida.

– O amor diminuiu um pouco, não foi?

– Só quero a verdade. – Disse com pesar.

Bolamos tudo em algumas horas, Carly teve a maioria das ideias, assistir tantos seriados policiais estava deixando ela meio paranoica. Eu tinha que ligar para o Erice e pedir para ele vir até a minha casa, dizer que precisava vê-lo. Achei que ele estranharia o pedido sendo que nos vimos na noite anterior. Inventei que tinha algo a falar para ele, que não poderia esperar. Meu namorado concordou, disse que estaria em casa em poucos minutos. Carly o esperaria do lado de fora no focus de sua mãe, assim que ele saísse, ela o seguiria até e descobriria onde Eric morava. A parte mais difícil seria como invadiríamos a casa dele, eu não podia simplesmente tocar a campainha e dizer: oi, te segui até aqui e gostaria de mexer em suas coisas. Carly disse que cuidaria disso, a animação em seus olhos mostrava que ela não deixaria passar a oportunidade de investigar Eric.

Não demorou muito para Eric chegar, o segurança no portão avisou que ele estava lá, sai para falar com ele. Fomos para um pequeno jardim na entrada com bancos de cimento, um cupido cuspia água enquanto apontava sua flecha para o céu, anjo estupido sequer mira em quem atira, pensei.

Eric limpou a garganta para chamar minha atenção.

– Não vou rodear Eric. Por que você nunca me contou sobre a Amanda? – Nem um sinal de surpresa passou em seu rosto, seus olhos castanhos eram intensos.

– O Darren te contou?- Neguei com um aceno. – Nunca falei nada, por não querer que acontecesse o que você está fazendo agora.

– Te colocando contra a parede?

– Não, se torturando por algo que não teve importância e foi há muito tempo.

Ele me conhecia, não tinha como negar.

– Summer, como você soube? Se Darren não te contou, e sei que muito menos a Amanda.

– Ontem quando percebi que você e o Darren haviam sumido, fui atrás de você e ouvi a conversa dos dois, estava escondida atrás da cerca viva.

Eric riu da minha vergonha.

– Eu não sei nada sobre você Eric, fiquei confusa sobre quem você realmente é. – Confessei.

– Você quer saber o que aconteceu? – Não sabia se queria.

– Sim.

– Foi na noite da formatura, convidei Amanda, bom porque ela é muito bonita, no fim do baile fomos para a casa da Amanda, ela disse que os pais estavam viajando, eu tinha dezessete anos, pais viajando significava liberdade total. Nós bebemos duas garrafas de champanhe que a mãe de Mandy escondia, ficamos bêbados e o resto você já sabe.

– Agora me arrependi de querer saber o que aconteceu. – Pensei alto.

– Eu não sabia que você se sentia desse jeito, me perdoe. – Ele acariciou meu rosto. – Se é importante para você quero que vá jantar comigo e meus pais quando eu voltar para nova York, daqui duas semanas, ai você poderá fazer todas as perguntas que quiser.

O convite me pegou de surpresa, não esperava que ele cedesse tão fácil.

– Não quero que ache que estou te enganando, nunca faria isso. Gosto muito de você, Summer, se te machuquei foi sem intenção.

Eric me beijou primeiro um selinho rápido, depois com mais intensidade, sua boca suave tomou a minha com ternura. Ele nunca me beijava com paixão, estranho um cara tão novo não querer avançar o sinal.

– Preciso terminar de arrumar minhas coisas, vou pra YALE na terça.

– Você não iria na segunda? – Foi o que ele me disse.

Eric deu um beijo na minha testa.

– Segunda farei um entrevista para estagiar na empresa do Jeremy. – Explicou.

– Achei que a vaga já era sua. – Eu ouvi errado?

– Se fosse assim tão fácil seria bom, tenho oito concorrentes.

– Você vai conseguir. – Incentivei.

Deixamos o jardim de mãos dadas, Eric me deu um ultimo beijo e entrou em seu corvete. Em poucos segundos Carly saiu atrás dele, ela deu uma buzinada ao passar pelo portão. Estava apreensiva com o plano de descobrir onde Eric vivia, a duvida estava plantada, não conseguia me convencer de que deviria confiar no meu namorado outra vez.