Finalmente era sexta, foi como esperar papai Noel na noite de natal, só que melhor. Eu mesma planejei o cardápio, a Edwiges era uma cozinheira sofisticada e não teria problemas em preparar os pratos escolhidos. Meu espirito estava em estado de euforia, nem a pichação de Mandy no meu armário me desanimou, minha inimiga escreveu “aberração” com spray verde. Como eu sabia que foi ela? Além de ser a pessoa que mais me odeia na escola, o coração no fim da palavra a entregou, e só a Mandy seria idiota o suficiente para fazer isso.

Coloquei o livro de astronomia na mochila e fui para a aula. Sentei no lugar de sempre, não por muito tempo, antes de o professor começar a aula a secretária do diretor apareceu. Cora usava tiara de pedrinhas e um vestido rodado azul, parecia uma adolescente vestida daquele jeito.

Cora procurou alguém pela sala.

– Summer Morrison? – Chamou meu nome. Imaginei que fosse por causa do que fiz no refeitório.

– Sou eu. – Levantei a mão.

– Me acompanhe. – Alguns garotos fizeram “iiiiiiiih” enquanto eu ia em direção a senhorita Bymes.

Acompanhei-a como havia feito com a professora de matemática no primeiro dia de aula. Andamos em silêncio, fiquei com vontade de perguntar do que se tratava, mas se ela tivesse a intenção de me contar já teria me dito. Entramos no elevador e ela apertou o botão do ultimo andar, ele deu um tranco e subiu. A porta se abriu e eu vi minha mãe, Amanda e um homem desconhecido, pela semelhança devia ser o pai de Amanda. O homem tinha pele clara, olhos verdes e cabelos negros, seu terno e a pasta indicavam que ele era um empresário.

Minha mãe estava encostada em uma das mesas com os braços cruzados e o semblante sério, significava que algo a incomodava, era a postura de defesa dela. Comecei a me preocupar quando percebi que Mandy ostentava um sorriso enorme nos lábios carnudos, ou ela não tinha ideia do que estava fazendo ali ou era autoconfiante o suficiente para achar que sairia livre. O pai de Mandy parecia bem entediado com a situação, olhava o relógio a cada cinco minutos.

A secretária nos pediu licença e foi ao escritório do diretor, eles trocaram algumas palavras e a moça voltou para nos chamar. Todos seguiram ela até o escritório de vidro. O diretor Mckellen pediu para que nos sentássemos. Minha mãe e o senhor Page ficaram nas cadeiras de frente para o diretor, eu e Amanda nos sentamos ao lado de nossos pais em cadeiras que a senhorita Bymes trouxe. O Mckellen tinha uma águia careca empalhada em sua mesa, ela parecia nos seguir com seus olhos de vidro, assustador. A aura do escritório do diretor Mckellen era sinistra.

O pai de Mandy se mexeu desconfortável na cadeira.

– Richard. Tenho uma reunião em vinte minutos. Você pode ser breve, por favor. – O pai de Amanda chamou o diretor pelo primeiro nome.

O diretor ajeitou os poucos cabelos que restavam em sua cabeça.

– Claro George. Como vocês devem saber a academia Buckston tem regras rígidas sobre a conduta de nossos alunos, não toleramos que estas regras sejam burladas, os alunos não podem achar que podem fazer o que bem entendem. – Como a Amanda achava.

Se aquilo era ser breve, não queria ver o senhor Mckellen com tempo para um discurso longo.

O diretor se dirigiu exclusivamente a minha mãe.

– Senhora Ferris, ontem sua filha causou um tumulto no refeitório e ofendeu Amanda Page publicamente. Não posso admitir esse comportamento. Sendo assim terei que suspender Summer e colocar isso no arquivo permanente dela. – Senti o gosto dos meus sapatos de tanto que a minha boca se abriu. Fiquei estática com o que o diretor disse.

– Summer foi humilhada e agredida com um sapo morto por essa garota. – Minha mãe apontou para Amanda. – E o senhor quer puni-la? Não sei que tipo de educação vocês estão dando a essas crianças, mas acho que impunidade não é um dos valores que sua instituição deveria pregar. Se o senhor não suspender a Amanda também, eu iriei procurar um advogado e garantir que os direitos da minha filha. Fique sabendo que meu marido tem contato direto com o dono do colégio, vou garantir que esse episódio chegue aos ouvidos dele.

– Amanda já foi advertida sobre isso. – Advertida? Sério?

– Não acho que seja o suficiente. Se Summer vai ser suspensa, Amanda também deveria receber a mesma sentença. – Minha mãe apontou para Mandy. – Esta garota está sendo protegida deliberadamente.

– Calunia. – Mckellen se defendeu.

– Calunia uma ova. A direção dessa escola é uma vergonha.

– A senhora está descontrolada. Não pode ofender meu cunhado dessa forma. – O Page escolheu mal suas palavras.

– Cunhado? O senhor está protegendo esta garota por ser sua sobrinha? – Minha mãe ficou pasma.

– Não muda o fato de a Summer ter me xingado na frente da escola inteira. – Amanda e sua boca grande. – Summer Morrison não se enquadra no perfil da escola, ela não tem... Classe e nem autocontrole.

– Chega Amanda. – George calou sua filha.

Segurei o braço da cadeira o mais forte que consegui, senti vontade de bater em Amanda. Aquela imbecil nunca perdia a oportunidade de dizer algo desagradável, ela conseguia ser ainda pior do que o Darren.

– Você ainda vai insistir nessa suspensão? – Mamãe perguntou ao diretor.

– Obviamente. Hoje sua filha poderá frequentar as aulas normalmente, a partir de segunda até o fim da semana ela estará suspensa. – Mckellen assinou algo e entregou para minha mãe.

– Aguarde o contato dos meus advogados. E escolha uma boa gravata para foto, por que você irá aparecer no jornal quando eu denunciar que você acoberta o bulling que sua sobrinha infringe aos outros alunos. E você sabe como os tabloides amam um bom escândalo com gente rica e uma instituição respeitável como a Academia Buckston.

Ela tirou o coringa da manga com essa historia de jornal, para um colégio tradicional como a Buckston um escândalo significava a perda de credibilidade. Se o diretor Mckellen tivesse amor ao seu cargo teria que mudar seu veredicto sobre o ocorrido entre mim e Amanda.

Minha mãe não deu tempo para o diretor ou o pai de Amanda dizer algo, ela saiu da sala me arrastando pelo braço. Foi uma saída em grande estilo, deixamos o Mckellen com cara de quem teria uma sincope.

Parei de acompanhar minha mãe assim que ela chegou ao saguão.

– Mãe! Tenho que voltar para a aula. – Avisei.

Ela me olhou atordoada.

– Você não poderia só ter furado o pneu do carro dela? Meu Deus Summer, você realmente precisava fazer um show do intervalo no meio do refeitório da escola? – Minha mãe colocou uma mecha do seu cabelo de volta atrás da orelha.

– Não, ela merecia algo a altura do beijo no sapo.

– É melhor você começar a se controlar, ou cancelo aquele jantar. – Ela ameaçou.

– Ok. – Levantei as mãos como se ela tivesse me rendido.

– Vou ir almoçar com Jeremy.

– Tudo bem, pode ir.

– Tchau querida. – Ela me deu um beijo.

– Até mais.

Nos despedimos e minha mãe foi embora. Voltei para a minha aula de astronomia que já devia estar no fim. Subi as escadas da direita e entrei na minha sala. Saber que minha mãe estava trabalhando para que Amanda fosse punida me fazia acreditar que ela teria a lição que a tempos ela precisava. Amanda era uma cretina, merecia ter um castigo por suas maldades.