Incondicional escrita por Selena West


Capítulo 14
Operação garota sapo


Notas iniciais do capítulo

to postando isso às 00:29 passo considerar como capítulo da quarta? Huehueheueh.

Boa Leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/581465/chapter/14

Passei o resto da noite remoendo meu castigo e limpando o quarto do Darren. Juntei os cacos vidro, usei o aspirador-de-pó o carpete para não sobrar nenhum deles no chão. Limpei as penas dos travesseiros, joguei no lixo os cacos dos consoles. O mais difícil foi tirar as manchas que o liquido dos globos fez no chão, esfreguei o carpete tantas vezes que meus braços ficaram dormentes. Minha mãe deixou Sue para me ajudar e supervisionar, a empregada sorria toda vez que eu reclamava de dor nas costas, e não acredito que tenham sido sorrisos de solidariedade. A limpeza que fiz foi quase tão grande quando o estragado. O que me doeu mais foi recolher os restos dos globos, eu me sentia mal por eles, usei uma das caixas da minha mudança para guardá-los. Peguei o primeiro e reparei que havia um casal dentro da casa de doces fazendo coisas obscenas, ri até perde o ar, a mãe do Darren realmente tinha senso de humor. Recolhi os outros e os deixei no meu armário, talvez pudesse colar alguns deles. Arrumar o quarto já teria sido castigo mais do que suficiente, doía partes em mim que eu nem sabia que eram capazes de doer, no apartamento em Downton Brooklyn eu e minha mãe fazíamos a limpeza, mas não era esse caos, tínhamos apenas que lavar a louça e varrer o chão, coisas normais. Será que se eu dissesse que a Sue e as outras empregadas mereciam um amento ela teria me desculpado pela ameaça?

Estava terminando de recolher os fracos de shampoo e cremes do banheiro quando Darren chegou. Ele se apoiou na soleira da porta e me observou trabalhar.

– Você não imagina o que sua mãe acabou de me contar. – Ele nem precisava me contar, eu já imaginava o motivo do seu sorriso sacana. – Não vai adivinhar Morrison?

– Não gosto desse jogo. – Continuei recolhendo o lixo.

– É porque você é burra. – Lancei o olhar mais mortífero que eu podia dar. Darren não ligou nem um pouco. – Vou te ajudar. Sua mãezinha me disse que você só sai do castigo se eu disser que te perdoo. Na verdade ela disse: se você perdoar de coração. E nós dois sabemos que isso nunca vai acontecer.

Era hora de me conformar que nunca mais sairia de casa, pelo visto Darren jamais iria dizer: Eu te perdoo Morrison. Eu teria que apodrecer no meu quarto, enquanto o Darren se divertia a minha custa.

– Darren. Por favor, não fique me torturando com essa punição maluca da minha mãe. Eu faço qualquer coisa que você quiser. – Tentei apelar.

– Morrison. Apesar de apreciar uma boa proposta indecente, vou ter que recusar. – Darren esbouçou um sorriso maldoso. – Gosto mais de te ver sofrer.

Corei com a insinuação, só não sei se foi por vergonha ou raiva. Fechei o saco de lixo e sai do banheiro.

– Você é nojento. – Peguei o resto das coisas e fui para fora do quarto dele.

O Darren sempre me fazia perder a calma, ele tinha uma resposta maldosa para tudo. Como se entrasse na minha cabeça e vasculhasse os cantos mais obscuros e tirasse de lá as piores coisas para dizer. Tipo interpretar meu pedido como uma proposta para fazer sabe-lá-o-que com ele. Darren virava o feitiço contra o feiticeiro, fazendo eu engolir minhas próprias palavras.

Aquele pensamento acendeu minha mente, como não tinha pensado nisso antes, eu iria usar o que Mandy fez comigo contra ela, eu iria mostrar que não me importava com o que eles diziam sobre mim. Deixei os materiais de limpeza de volta em seu lugar e corri para meu quarto, eu tinha que ligar para meus amigos e colocar meu plano em prática. Eu chamaria de: Operação Garota Sapo.

...

Não foi difícil convencer meus amigos, acho que podia chamar eles de amigos depois de tudo. Era um plano simples e de impacto. Eles na verdade acharam a ideia divertida e toparam na hora. Eu me senti bem por estar voltando com tudo, ao invés de me conformar em ser mais uma vitima de bulling da Amanda Page. Não iria responder o que ela fez com ódio como fiz com Darren, percebi tarde demais que quando tentamos apagar fogo com fogo, o incêndio fica ainda maior. Eu iria dar um balde de água fria na Mandy.

Sai de casa um pouco mais cedo do que de costume, Cortez já estava me esperando na porta, me perguntei há quanto tempo ele estava ali fora. O motorista vestia o seu tradicional terno e quepe, agora sem o cavanhaque que ele usava quando nos conhecemos, até ficou mais jovem. Dei um bom dia desanimado e entrei no carro, o sedan preto, uma BMW 320i.

Cortez era muito silencioso, me sentia sozinha no banco de traseiro do carro, ele insistiu para que eu não fosse no assento da frente, ele falou algo sobre não ser o procedimento correto. David nunca fez tanta falta. De carro o caminho para escola era dez minutos mais rápido, cheguei bem mais cedo.

Cortez parou o carro para eu descer.

– Obrigada Cortez. Tenha um bom dia. – Falei para o motorista.

– A senhorita também.

– Eu terei. – Respondi satisfeita.

Saltei do carro para calçada em frente a escola, Cortez deu partida e foi embora. Abri minha mochila e tirei de lá a toca de sapo que peguei emprestada de Bree, ela riu até corar quando contei o motivo de precisar dela. Vesti a toca e coloquei as luvas que eram o par da mesma, prendi o broche de sapo que eu tinha e nem sabia, e já estava com os brincos do anfíbio. Respirei fundo e encarnei o personagem, a garota sapo, se era assim que eles queriam que eu fosse, era assim que eu iria me apresentar. Subi os degraus da entrada como se nada estivesse errado, alguns alunos riram, outros apenas comentavam. Encontrei Ivy e Ginger perto da estatua do fundador bigodudo que usava em volta da cabeça um lenço verde com estampa de sapinhos.

Puxei o lenço do busto do Howard Buckston.

– Que falta de respeito. – Brinquei.

– Ele precisava de um acessório. – Ivy usava vários botóns de sapos e uma faixa verde com olhinhos.

– Estou ansiosa para começar a operação Garota Sapo. – Ginger optou por um colar com sapos, uma presilha e uma pulseira com um pingente de sapo. – Você não imagina a quantidade de coisas que achamos como o tema dessas criaturinhas nojentas.

Elas tinham ficado responsáveis por comprar tudo que tinha a ver com sapos, era parte do plano. Eu não poderia comprar nada por estar de castigo.

– Ainda bem que a Amanda não fez você beijar uma lhama, nunca acharíamos nada com lhamas. – Ivy zombou.

Nós rimos da piada de Ivy. Eu gostava delas, eram garotas legais, eu realmente não entendia o motivo delas serem excluídas.

– Obrigada, por tudo. – Abracei as duas.

– Eu que agradeço, estou esperando alguém ferrar com a Page desde que ela colou chiclete no meu cabelo na quinta série. – Ivy disse com rancor.

– Não vamos ferrar com ninguém Ivy. – Não era a intenção do plano.

Alguns garotos passaram e coacharam para mim, eu odiava admitir que aquilo ainda me machucava.

– Morrison, você não precisa ser tão altruísta. – Ginger disse.

Dei de ombros, ferrar a Amanda era muito tentador, mas primeiro eu tinha que dar um jeito naquela fama de garota sapo. Eu não poderia passar o resto do ensino médio sendo perseguida pelo apelido que Mandy me deu. Se eu mostrasse que me chamar de garota sapo não me afetava eles desistiriam, não tem graça zoar alguém com algo que não atinge ela, sinceramente eu esperava que os outros pensassem como eu.

As aulas antes do almoço se arrastaram como lesmas em câmera lenta, não aguentava mais ficar na sala de aula. Os alunos não paravam de me encher por causa da historia do dia anterior, entretanto a curiosidade venceu a maldade, todos pareciam intrigados com os meus acessórios. Na aula de espanhol Ivy me fez companhia, ao me ver ao invés de dizer oi, ela coachou e eu fiz o mesmo. Os professores eram os mais confusos com a minha conduta, a professora de matemática mandou que eu tirasse a toca, o professor de espanhol riu do cumprimento que Ivy me deu, o que mais me surpreendeu foi o professor de biologia, ele fez uma piada sobre ele esperar que eu não estivesse protestando contra a aula com sapos, por que era a sua favorita. Os outros alunos riram, a Amanda não, o senhor Martinez a proibiu de abrir a boca a não ser para perguntar sobre a aula, ele a colocou na primeira bancada bem de frente para ele. Fiquei agradecida pelo gesto, mesmo que fosse somente uma tentativa de evitar mais tumultos em sua aula.

O sinal para anunciar o intervalo mal havia tocado quando saí da sala. Não daria chance para Mandy me abordar na porta. Achei meus amigos na entrada do refeitório, dessa vez todos eles estavam lá. Taylor usava um cachecol com estampa de sapo, Hilary uma tiara e um prendedor de grava com o mesmo tema. David foi o mais criativo, colou uma fita vermelha na parte de baixo da toca dele e em cima dois olhinhos de plástico daqueles que as bolinhas pretas que se mechem, estava hilário. A namorada dele, que agora eu sabia que se chamava Leslie, colocou uma presilha na ponta de sua trança para aderir a nossa causa. Se não desse certo eu estava condenando todos eles a perseguições e apelidos pejorativos.

– Não se preocupe, vai dar certo. – Hilary leu minha mente.

– Onde está? – Perguntei para Ivy que segurava um saco enorme cheio de coisas com sapos estampados.

Ivy tirou o megafone de dentro do saco.

– Onde você conseguiu? – Não era o tipo de coisa que arranjamos de uma hora para a outra.

– Nunca subestime o poder do dinheiro. – Ivy piscou para mim. – Meu pai é dono de uma produtora de filmes, lá tem vários desses, eles usam para dirigir os atores.

Testei o equipamento, ele fez um som agudo que nos deixou surdos por alguns instantes. Taylor ajustou o som para mim, estávamos prontos. Entrei na frente com o megafone, seguida por Ivy, Ginger, Taylor, Hilary, David e Leslie, marchamos entre os alunos que nos encaravam curiosos. Amanda via tudo de sua mesa com Darren ao seu lado, ele estava com o braço sobre a cadeira dela, ainda eram um casal. Nunca senti tanto ódio de duas pessoas, não só deles, sentia raiva dos amigos dela e de todos que me humilharam. Eu poderia fingir que estava mais forte e que não ligava, mas no fundo eu só queria poder deletar aquela cena da minha memória.

Levantei o megafone e comecei o show de Summer Morrison.

– Aqui é a garota sapo, e tenho um recado para todos vocês que são perseguidos por Amanda Page e seus amigos. Vocês não estão sós, não podemos deixar essa megera transformar nossas vidas em um inferno só porque ela é protegida pelo diretor. Ontem tive o pior dia da minha vida e não me deixei me abalar por essa víbora, ela pode me chamar do que quiser, me xingar dos nomes mais feios, eu não ligarei, não deixarei que ela me atinja. Eu sou a garota sapo e dai? Amanda Page não passa da garota covarde, se esconde atrás do tio e dos amigos para fingir que a vida dela não é uma droga. –Lembrei-me do que Carly disse ao Darren. – Ela não se contenta que a vida dela seja uma merda e quer torna a vida dos outros tão infeliz quanto a dela.

Amanda me olhava com tanta feio que eu poderia derreter com um piscar de olhos dela. Tive a impressão de que Darren a segurava na cadeira. O treinador e mais dois professores olhavam de longe, acho que apoiavam a minha ação, ou só queriam ver o circo pegar fogo.

– Para todos aqueles que estão cansados de aguentar valentões como Amanda Page, devem se levantar e pegar um objeto de sapo dentro de um desses sacos, diremos basta para esse politica de bulling que reina da academia Buckston.

Abaixei o megafone e esperei a reação. Ninguém se mexia, todos estavam estáticos olhando para mim e meu grupo. Do meu lado Hilary repetia “ai meu Deus” inúmeras vezes. Eu estava errada, ninguém se juntaria a nós, eu deveria ter me vingado da Mandy do jeito tradicional, acabando com ela. Ser superior não melhorava as coisas, só as piorava.

Uma garota de cabelos curtos castanhos e olhos escuros pegou um óculos do saco que estava com Ivy e os colocou. Ela era mais baixa do que Ivy batia na altura do meu ombro, parecia uma criança indefesa.

– Meu nome é Felícia. – ela disse para mim.

– Você tem certeza? – Sussurrei para ela.

Felícia se posicionou do meu lado, entre mim e Ivy.

– Já era hora de alguém declarar guerra contra a Amanda. – Tentei dizer que não queria declarar nada a ninguém, preferi não dizer nada.

Outra garota se levantou, essa era mais alta, cabelos cacheados pretos, pele morena e olhos castanhos, ela pegou a echarpe que tirei do busto do fundador da escola. Amarrou seu cabelo rebelde com ela e ficou do meu outro lado.

– Sou Samantha Corner. – Ela sorriu pra mim e tomou uma postura severa como a dos outros.

Outras duas garotas e um garoto da mesa de David e Leslie se juntaram a nós, aos poucos todos mais alguns alunos levantaram e tomaram lugares entre meus amigos. Era para derrotar Mandy, não por simpatia ao meu sofrimento, logo depois que Mandy fosse punida ninguém mais se lembraria de mim como a garota que enfrentou Amanda Page, talvez como a garota sapo, eu não ligava mais para esse apelido, era uma lembrança de que eu teria que ser mais esperta dali pra frente.

– Somos todos sapos. – Falei no megafone.

Todos atrás de mim começaram a imitar sapos, como no dia anterior, dessa vez não era contra mim, muito pelo contrário. Durante o resto do almoço o refeitório foi tomado por acessórios de sapos, foi divertido. Minha mesa ainda era dos excluídos, para mim era dos caras legais. Ivy não parava de falar de como ela se sentiu como a Katniss Everdeen, uma rebelde. A paz parecia reinar naquele dia. Até o sinal tocar.

Amanda passou empurrando um monte de gente em seu caminho, ela parecia um jogador de futebol americano, perigosa e forte. Ela me alcançou em poucos minutos, eu não fugir correndo ajudou ela me encontrar fácilmente.

– Morrison que merda foi aquela?- Os olhos dela faiscavam.

– Seu fim. – Disse triunfante.

– Não, foi seu fim. Eu vou caçar você como um leão caça uma gazela, e então vou corta sua garganta e deixar a carcaça para os abutres.

Eu sei que não deveria dizer isso, mas a Mandy me assustou. Ela estava irada comigo e não pararia enquanto não me visse destruída. Eu tinha novidades para ela, não cairia sem lutar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

- Capítulo que vem tem Bree, Carly e Eric.
— Darren sendo Darren...
— Alguém me explica o motivo de existir tanta coisa com estampa de sapo? Acho um bicho tão feio, tão nojento D:
— Não sou boa em discursos de ódio, imaginem que ficou muito bom kkkk.

Beijos.
S.W.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Incondicional" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.