Como eu havia previsto minha mãe ficou uma fera quando a Sue contou o que eu tinha feito, inclusive sobre a ameaça de acertar a cabeça dela com o taco de beisebol. Nem um furacão poderia ter subido as escadas com mais força, assim que ela gritou meu nome da ponta do corredor soube que estava encrencada. Ficar de castigo até fazer trinta anos era a melhor das hipóteses. Eu não me arrependia de nada. Confesso que havia passado dos limites daquela vez, mas o Darren passava dos limites sempre.

Minha mãe fez questão de que Jeremy participasse da nossa “reunião”, ele parecia bem desconfortável com a situação, mesmo assim não recusou o pedido da esposa dele. A mesa para doze da sala de jantar nunca pareceu tão assustadora, me senti interrogada pelo FBI, e garanto que nenhum agente é mais assustador do que a minha mãe.

Ela se levantou do lugar onde estava e ficou andando de um lado para o outro.

– Você ficou maluca? Qual o problema com você, Summer? Eu saio por algumas horas e você destrói o quarto do Darren com um TACO DE BAISEBOL. – Ela gritou comigo, realmente gritou.

– Se você não tivesse me deixado sozinha depois de eu passar pelo pior dia da minha vida. – Ela sequer se preocupou comigo, era muita insensibilidade da parte dela.

Minha mãe espalmou as mãos sobre a mesa.

– Supere. Foi difícil, mas você não pode deixar algumas crianças idiotas te encheram, mostre para elas que você não se importa. Eu também já passei por situações difíceis na escola, tive que lidar com aquilo sozinha, você pode também. Achei que você fosse mais forte Summer. – Eu disse que minha mãe é do tipo que não se deixa abalar, ela realmente acredita que não foi nada.

– Não são crianças, são adolescentes bem conscientes do que estavam fazendo.

– Acredite em mim, todos vocês não passam de crianças achando que já são adultos. – Minha mãe disse. – Entendo sua vontade de sumir, de fugir, mas você tem que usar a maldade deles contra aqueles imbecis, ser a coitada não ajuda você superar, só te afunda mais. Quando chegamos ao fundo do poço a única opção é voltar para cima.

Minha mãe se sentou ao meu lado. Para ela tudo era fácil, ser alguém forte que enfrenta tudo e chuta traseiros.

– Agora me diga em que momento você achou que seria uma boa ideia destruir o quarto do seu irmão? – Ele estava sendo irônica, eu podia sentir.

– Ele não é meu irmão. E ele pode comprar tudo de novo rapidinho. O Darren merecia coisa muito pior, há tempos ele pede por uma resposta a suas provocações.

– Summer, você entende o valor daqueles globos para o Darren? – Jeremy falou do nada, eu quase esqueci que ele estava ali.

Aqueles globos de novo. Parecia que tudo girava em torno deles, eu devo ter quebrado algumas centenas dólares naquele quarto, e todos estavam preocupados com os globos de neve, eles deviam ser bem raros e caros, apesar de parecerem comuns e baratos, o tipo de coisa que compramos em uma loja se suvenir na beira da estrada.

– Não, não entendo.

– Eram da mãe de Darren. Quando ela era criança viajava muito com o pai dela, em cada lugar que ia ela comprava um globo de neve. Todos eles têm algo especial seja um erro ou um formato exótico, como que estava escrito “fênix” no lugar de Phoenix, um rapaz que não falava muito bem a nossa língua vendeu para ela, e tem uma cidadezinha chinesa que uma das pessoas está correndo nua. A Tess adorava esses globos exóticos, para ela eram um tesouro por serem únicos e uma boa lembrança de suas viagens com o pai. – Jeremy tinha um olhar saudoso. – Ela os deu para Darren quando ele fez sete anos.

Senti a culpa me consumir, eu realmente não sabia daquela história, nunca tive a oportunidade de conversas com Darren sem que um dos dois dissesse algo mal educado ao outro. Eu fui tão idiota, era claro que ele não colecionava globos de neve, não tinha nada a ver com ele. E mesmo que Darren merece sofrer, destruir as lembranças da mãe dele era demais, eu estava me tornando como aqueles que eu odiava, uma vadia sem coração.

– Eu sinto muito. – Disse com sinceridade.

– Ele gostava muito da mãe dele, foi um choque quando ela se foi. Darren nunca se recuperou. Nenhum dos dois se recuperou totalmente, eu sempre tentei dar tudo que eles queriam, parece que não foi o suficiente. – Jeremy contou.

Eu entendia um pouco o que Darren sentiu, quando meu pai foi embora me senti só, como se ninguém me amasse, temi que minha mãe também fosse embora no meio da noite e me deixasse órfã. Ela nunca foi embora e sempre esteve comigo.

– Jeremy, sem querer ofender, mas se você estivesse mais tempo perto o Darren e a Bree não sentiriam tanto a falta da mãe. – Jeremy ponderou o que eu disse, ele sempre pensava antes de falar.

Eu não queria ser intrometida, só não aguentei ver que ele simplesmente não via que os filhos não sofriam só pela falta da mãe, também sofriam pela falta do pai que estava ausente quando eles mais precisaram. E claro, era uma tentativa de distrair minha mãe, ela parecia estar pronta pra me dar umas palmadas a qualquer momento.

– Você realmente acha isso? – Jeremy estava mexido com o que eu havia dito.

– Acho. Quando meu pai foi embora, tudo que eu tinha era minha mãe. E seus filhos tinham você, bem, mais ou menos. Você está sempre exigindo demais deles, talvez eles apenas queiram que você os apoie.

– Obrigado pela sua sinceridade Summer. – Jeremy agradeceu e não disse mais nada.

Levantei da mesa e tentei sair da sala.

– Summer? – Minha mãe chamou. – Volta e senta.

Fiz o que ela pediu, eu sabia que não conseguiria sair impune.

– Ainda não te dei seu castigo. – Fiz sinal para ela falasse logo. – Você terá que arrumar o quarto do Darren e não poderá sair depois da aula e nem nos finais de semana, ah e motorista vai te levar e buscar na escola para garantir que você não tente burlar o castigo. E você vai se desculpar com o Darren.

Novidade era sempre o mesmo castigo, me prender em casa.

– E até quando isso vai durar? - Perguntei.

Minha mãe sorriu de uma forma que eu não gostei.

– Até o Darren dizer que te perdoa, acho que como o mais prejudicado na história ele tem o direito.

Eu me enganei, era o pior castigo de todos. O Darren me odiava ainda mais depois do que eu havia feito no quarto dele, era óbvio que ele nunca me perdoaria. Minha mãe deu a ele o poder de me torturar para sempre, ou até alguém esquecer esse castigo.

– Ele me odeia, nunca vai me perdoar. – Protestei.

Minha mãe deu de ombros.

– Então é melhor você se esforçar.