Incondicional escrita por Selena West


Capítulo 11
A garota sapo


Notas iniciais do capítulo

Hi! Preparem os coraçõezinhos para forte emoções e ficar com muita raiva.

Boa leitura.



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Era só a segunda semana de aula e eu já queria voltar para a Franklin High School. Pelo menos consegui convencer a minha mãe de que não precisava da carona de Darren para escola, usei o discurso de David como desculpa, ela aceitou bem, até disse que estava orgulhosa de mim por ser tão consciente. Eu queria pedir um carro para ela, o que significava pedir para o Jeremy já que ela ainda não havia arranjado outro emprego, e eu nunca pediria algo do tipo para ele.

Entrei no mesmo vagão de sempre. Tenho por causa da pichação que dizia meu “pau para vocês” acompanhado de um desenho primitivo de um pênis, garotos e sua estranha obsessão por suas genitálias.

Fiquei no mesmo lugar que encontrei David, perto da porta. Não demorou muito para O garoto ruivo com sua toca surrada aparecer. Eu o ignorei na primeira semana de aula, o comentário dele no primeiro dia de aula me deixou com uma má impressão de David, o ruivo sempre me cumprimentava e eu respondia secamente.

– Bom dia Summer. Como está sendo a sua primeira semana? – Ele parecia mesmo interessado.

– Meu armário é do lado do banheiro masculino, a Amanda Page parece ter o prazer sádico de me torturar, a senhora Gregori me levou para conhecer o diretor e foi bem difícil encontrar uma mesa para almoçar. É, Foi bem divertido. – Eu estava especialmente irônica.

– Para um novato a hora do almoço é realmente uma droga. – Ele balançou a cabeça pesarosamente. – E a senhora Gregori não gosta de espertinhos, senta no meio e fica na sua, só fale quando ela pedir. Passei um ano despercebido assim. – Ele era legal, o julguei mal.

– Você não precisa ser tão prestativo comigo.

Ele colocou a mão no meu ombro e balançou de leve.

– O universo devolve aquilo que você oferece para ele.

Se o David tivesse razão eu só receberia paciência de volta, mesmo assim era uma forma bonita de ver a vida. Nós não erámos amigos, mas eu comecei a gostar da companhia dele, por David ser fácil de lidar.

O trem parou na estação onde descíamos, saímos juntos. Meu colega ruivo me mostrou um atalho por dentro do jardim da praça em frente a escola, economizava minutos preciosos. Com a pequena ajuda do garoto consegui chegar a tempo na sala, antes da professora, me sentei no meio e passei a aula calada, mal olhava para o lado, acho que funcionou, a senhora Gregori não me notou.

Meu dia estava indo bem até a aula de biologia. A lição do dia era dissecação, o que eu era totalmente contra. Animais não deveriam ser mortos e explorados daquela forma desrespeitosa. Sentei ao lado do meu parceiro de laboratório, Oliver, ele já estava usando as luvas de látex e abrindo o pobre sapo. Meu estômago se agitou, respirei fundo.

– Oliver? – Ele largou o bisturi por uns instantes. – Acho melhor você dissecar e eu anotar. Não tenho coragem de abrir esse sapo.

Ele apenas balançou a cabeça afirmando e começou a ditar o que eu deveria anotar na folha de relatório.

– Acho que esse sapinho precisa de uma princesa. – Mandy disse no fundo da sala. A ignorei e continuei escrevendo.

– Quem é digna de beijar o príncipe sapo? – Todos riram.

Ouvi vários écas e tira isso daqui, pelo jeito eu não era a única com nojo do cadáver do sapo. Mantive minha cabeça baixa enquanto escrevia.

– Summer? – Mandy chamou.

Levantei a cabeça para ver o que ela queria, fui acertada pelo sapo morto na boca, não consigo descrever a sensação da pele úmida do anfíbio encostando nos meus lábios. Mandy largou o sapo na mesa e começou a rir e todos na sala a acompanharam. O corpo do sapo caiu desajeitado na mesa, senti o gosto de bile.

– Caramba, ao invés de o sapo virar príncipe, você virou uma rã. Que falta de sorte. – Mandy colocou as mãos na cintura de forma teatral.

Meus colegas de classe riram junto com ela.

– Amanda Page o que está acontecendo? – O professor perguntou saindo de sua mesa.

– Ela fez a Summer beijar o sapo. – Oliver contou.

Eu não conseguia me mexer, o nojo me paralisou. Tinha medo de sentir o gosto do sapo. As garotas da sala estavam fazendo barulho de vômito e gritando de nojo. Eu não iria desmaiar, não iria vomitar, aguentei firme, ela não iria me atingir. Era mais um plano de Darren? Ele tinha chegado longe demais, aquilo era perverso.

Senti meus olhos se encherem de lágrimas.

– Você parece meio mal. – Oliver comentou.

– Senhorita Morrison, lave a boca com bastante sabão. – O senhor Martinez indicou a pia.

Andei até o fundo da sala, todos me encaravam pasmos. Lavei minha boca com sabão liquido, esfreguei até arder, eu queria poder arrancar a pele dos meus lábios. Sequei minha boca com papel toalha e voltei para o meu lugar. Era a gota d’água, minha paciência tinha se esgotado, eu não iria mais tolerar que Darren brincasse mais desse jeito comigo, e usar a namoradinha dele só mostrava que ele era um covarde. Remoí o ódio, era como se algo tivesse morrido dentro de mim, a velha Summer, ela tinha morrido.

Passei o resto da aula anotando o que Oliver me ditava, às vezes ouvia as pessoas cochichando sobre o que aconteceu. Logo a escola inteira saberia e eu estava acabada. Voltar para minha antiga escola nunca pareceu tão tentador, lá ninguém me fazia beijar sapos, eu era invisível e feliz. Na Buckston eu era a aluna nova, a irmã do Darren, a agregada dos Ferris a garota pobre. Eu queria bater em alguém, mandar todos para o inferno, explodir tudo e mandar para o ar aquela merda. Pode parecer exagero por causa de uma brincadeira de mau gosto com um sapo morto, para mim era sinal que eu precisava tomar uma atitude urgente. Não seria mais ameaçada, xingada ou humilhada.

Finalmente o sinal tocou, a aula de biologia parecia interminável. Darren não estava esperando Mandy na porta da sala, eu teria que esperar para confrontá-lo. Andei como se estivesse marchando para guerra, não olhei para o lado, mas podia sentir a fofoca da “garota sapo” se espalhar, era só questão de tempo. Uma Lágrima teimosa rolou pelo meu rosto e parou no queixo, não limpei, a exibi como prova de que eles podiam tentar me atingir com sua maldade, mas eu era mais forte. Caminhei de cabeça erguida até o refeitório, com meu orgulho como escudo. Mandy foi a primeira a me ver e cutucou algumas amigas que também se voltaram para mim.

– Hey Britany. Olha só quem chegou. – Britany arregalou seus olhos castanhos exageradamente.

– Quem? – Britany perguntou.

– A garota sapo. – Mandy gritou para que todos ouvissem.

Imediatamente todos se calaram, estavam esperando o show. Vi em seus olhos a expectativa.

– O que você acha de darmos a boas vindas à princesa sapo? – Sugeriu uma garota de pele morena e cabelos cacheados.

– Eu acho uma ótima ideia.

Imediatamente todos em sua mesa começaram a coaxar como sapos, em poucos minutos várias pessoas aderiram. O refeitório foi inundado pelo som de sapos, poucas pessoas se mantinham caladas e viam tudo de longe sem se envolver. Cai sobre meus joelhos com as mãos nos ouvidos, por mais forte que eu apertasse o som entrava, estavam dentro da minha cabeça, eu os ouvia perfeitamente. Minha força se despedaçou em milhões de pedaços, as Lágrimas irromperam de meus olhos, chorei como uma criança que se perde da mãe. Foram apenas alguns minutos, pareceram horas.

– Summer! Summer! – Ivy me balançava, olhei para ela através da minha visão turva por causa das lágrimas.

Eles ainda estavam coaxando.

– Já chega! Parem com isso imediatamente. – Era a professor de educação física, treinador Carson.

Todos se calaram.

– Vocês deveriam se envergonhar! – David gritou.

– Obrigada. – Murmurei.

Taylor me ajudou a levantar, pude ver melhor quem estava em volta de mim. Ivy, Taylor, Hilary, Ginger, David e uma garota que segurava a mão dele, acho que era sua namorada. Além do treinador as únicas pessoas capazes de me ajudar. Olhei ao redor, alguns alunos riam, outros demonstravam pena, quais das atitudes me machucava mais. Eu não era forte, não o bastante para lidar com a situação. Mandy tinha o triunfo estampado em seu rosto. Minha vontade era matar ela da forma mais sádica possível. Não vi Darren em lugar nenhum, ele não poderia fugir para sempre, eu o pegaria mais cedo ou mais tarde.

Taylor me amparou e me ajudou a sair do refeitório,

– O que aconteceu lá dentro? - O professor perguntou.

– Não sei, quando chegamos estavam todos imitando sapos e a Summer caída de joelhos no chão. – Ivy respondeu.

– Procurei um professor para mandar eles pararem, foi ai que achei o senhor. – Ginger completou.

O treinador Carson me olhou da mesma forma que aquelas pessoas: com pena.

– Vou tomar providências. Quem começou com aquela barbárie?

– Amanda Page, ela me fez beijar um sapo na aula biologia e está me chamando de a garota sapo. – Minha voz saiu rouca e falhada, como se tivesse gritado por horas.

– Deve ter sido horrível. – Hilary me abraçou.

Não existiam palavras para descrever como me senti.

– Summer. – Taylor chamou. - Não sei se deveria te mostrar isso...

Tomei o celular da mão de Taylor. Mandy havia mandado uma montagem com um foto minha para todo mundo da escola, minha cabeça no corpo de um sapo do lado de um outro sapo, uma linha rosa foi desenhada saindo da minha boca como uma língua capturando uma mosca, em cima da cabeça do sapo havia um balão dizendo “essa é a minha garota sapo”. Fiquei pasma com a capacidade de ser uma cretina da Mandy, ela já tinha me deixado no chão, mas não era o suficiente, ela queria mais. O treinador pediu para que Taylor passasse a foto para o seu celular, ele levaria o caso ao diretor. Ginger tirou o celular das minhas mãos e fez o que o treinador mandou.

A garota que estava com David passou a mão pelo meu cabelo.

– Niniguém merece passar por isso. O que me dói é saber que o diretor é tio da Amanda e deixará passar o que ela fez, ele sempre deixa. Não é a primeira vez que ela persegue um aluno. – Ela contou. Ela era como David, tinha o coração bom. Ela era bonita por fora também, tinha cabelos loiros presos em uma trança lateral, ela era uns centímetros mais alta do que David.

– O diretor não fez nada? – Perguntei incrédula.

– Fez sim, assinou o pedido de transferência dos alunos. – Ginger respondeu.

– A Mandy é protegida pelo tio. O diretor Mckellen alimenta a tirania dela. – Hilary disse com raiva.

Era o que faltava para acabar com meu dia, saber que Mandy não pagaria pelo que fez comigo, no máximo levaria uma advertência ou nem isso. Faltava mais meio dia de aula, eu não queria encarar as pessoas, ouvir elas comentarem sobre o que aconteceu, era demais para mim. Pedi à enfermeira que me deixasse ficar na sala dela, disse que estava com dor de cabeça, ela não impediu e me deu um remédio para passar a dor. Deitei em uma das macas, fechei meus olhos, as imagens do refeitório ficavam se repetindo em minha mente, eu queria chorar de novo. Estava decidido, eu voltaria para Franklin, para os meus amigos de verdade e não aceitaria um não como resposta.


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Notas finais do capítulo

- Eu fiquei com raiva da Amanda escrevendo isso kkkk.
— Vocês acham que o Darren é culpado?
— Gosto do David, vou manter ele na história hehe.


Beijos.
S.W.



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