Atração Implacável escrita por Lia Pallomare


Capítulo 7
Tudo ficará bem, certo?




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Como prometido, fui para casa de Erick ao anoitecer, assim que saí do Black Poison, com minhas outras duas tatuagens terminadas. Wendy quis ir também, mas depois de muito falatório, desistiu.

Erick não morava especificamente um uma casa e sim no dormitório da faculdade, o Lambda Dorm. Seu quarto era dividido com aluno de administração, completamente fissurado em fotos de carros, então o quarto era quase inteiramente dedicado a isso, uma vez que Erick não se importava com decoração.

Assim que entrei no quarto, Erick sentou-se ereto na cama e seus olhos negros estavam assustadoramente mortos. Não havia mais aquele brilho de antes e seu sorriso era tão forçado quanto sua postura. Andei em direção a ele, o que não chegou nem a ser uma caminhada, considerando o tamanho do quarto, mas quando o alcancei, abracei-o com o máximo de força possível.

Um dos lugares mais seguros do mundo é dentro dos braços de alguém que você ama. Erick era uma dessas pessoas e mesmo que fosse ele quem precisasse de colo, meu coração se encheu de paz naquele momento. Esse garoto de pele bronzeada era para mim, a calmaria depois de anos presa na tempestade.

Quando me afastei de seus braços, seus olhos tinham voltado a ter um pouco de brilho, não como um dia atrás, mas pequenas fagulhas já eram alguma coisa. Um bom começo para alguém com uma aparência tão deprimida quanto a dele.

— Muito bem, quero saber o que aconteceu. E quero os detalhes sórdidos, nada dos seus típicos resumos dos resumos.

— Mandona — ele me empurrou com o ombro, exatamente como sempre fez.

— Sua demonstração de afeto pela minha pessoa é deplorável — repliquei — Mas, sendo a pessoa maravilhosa e completamente amável que sou, vou ignorar isso e dizer que eu te amo.

— Amável não é uma qualidade que eu daria a você. Mandona, irritante, nervosa... Isso sim é a sua cara.

— Não vou discordar disso — sorri — Agora você já pode parar de fugir do assunto principal.

— Certo — o sorriso que ele tinha no rosto até segundos atrás deu lugar a uma expressão magoada. A barba por fazer já estava ficando grande e isso o deixava encantador — A gente saiu ontem e ela estava distante. Seus olhos não demonstravam aquela paixão de um tempo atrás, então eu soube que tinha algo errado, mas só tive certeza que a tinha perdido quando o Zack apareceu e ela voltou a sorrir e seus olhos brilhavam tanto. Era assim que ela olhava para mim, Jenn. Eu não suportei olhar aquilo.

— Ela tá afim do Zack? — perguntei incrédula — O nosso Zack? O garanhão que gosta de enfiar a língua na garganta de qualquer coisa que use batom?

— É, Jenn. Existe outro Zack? — ele estava irritado. Muito irritado.

— Devem existir pelo menos centenas de pessoas com esse nome — zombei, tentando amenizar o clima, mas não deu muito certo — Certo, vou calar a boca.

— Ele disse que não vai nem chegar perto dela — estreitei os olhos e ele deu de ombros — É, Jenn, eu falei com ele.

— Você pediu pra que ele ficasse longe dela? — questionei, sabendo que ele tinha acabado de entregar sua namorada em uma bandeja, com uma maça na boca. Erick não respondeu, como se a pergunta não merecesse muita atenção. Mas ela merecia — Ele vai atrás dela. Pode ter total certeza disso e com um pouco de sorte, a Wendy vai perceber a merda que fez, antes de fazer a maior burrada do mundo.

— Ficar com ele é tão ruim assim? — ele perguntou.

— Quem disse que era ruim? Ele sabe perfeitamente o que está fazendo em cada segundo em que seus lábios estão grudados ao de outra pessoa.

— Então qual é a burrada que ela vai fazer se ficar com ele? — sua voz era um pouco mais alta que um sussurro. Eu não conseguia imaginar o quanto ele estava sofrendo.

— Ela vai perder a melhor pessoa do mundo. Vai destruir o coração do meu melhor amigo e vai entrar em uma briga feia comigo.

Erick gargalhou e isso me deixou menos tensa. Ele provavelmente não acreditava nas minhas palavras, mas elas eram a mais pura verdade. Eu iria ao inferno, se isso de alguma maneira curasse o coração partido dele e trouxesse de volta um dos sorrisos mais lindos que tive a sorte de ver.

Quando voltei para casa, um bilhete colado na parede do corredor me informou que minhas três colegas de apartamento estavam em uma balada nos limites da cidade. Elas obviamente não sabiam muito bem como se divertir. Balada de domingo era tão monótono quanto jogar dominó com a vovó Abby.

Depois de um banho fervendo, deitei-me na cama e apaguei. Esse foi o meu pior erro.

Era uma quinta-feira fria, assim como todos os outros dias da semana tinham sido. Eu estava trancada no quarto há pelo menos três horas tentando terminar minha lição de casa, que era uma terrível e detalhada redação sobre a guerra civil, mas era impossível conseguir escrever um parágrafo sequer. Caleb estava em casa naquele dia e seu quarto era uma mistura de gritos e xingamentos ensurdecedores. A única voz que eu raramente ouvia se elevar era a dele e o autocontrole que ele parecia mostrar com seus amigos da faculdade era impressionante.

Quando sua voz se elevou até o ponto de ser estridente, a curiosidade me convenceu a ir até lá e como uma criança de onze anos normal faria, corri como um raio pelo corredor e escancarei a porta, esperando flagrar meu irmão fazendo algo ruim. O problema é que eu não estava preparada para aquilo.

Olhei para a cena a minha frente espantada, havia fumaça no quarto, o que eu esperava, mas vi que Caleb segurava uma arma. Uma arma de verdade. Os olhos de seus amigos, ou seja lá o que eles fossem, se fixaram em mim com uma hostilidade que me fez arrepiar. Eles não pareciam com os antigos amigos que costumavam frequentar essa casa.

— O que é isso? — perguntei num sussurro.

— Tá parecendo o que? — o garoto tatuado falou enquanto levantava outra arma — Quer brincar, boneca?

— Caleb? — murmurei, sentindo as lágrimas se formarem — O que você tá fazendo?

— Cai fora, Alexia! — ele disse rispidamente — Não vou pensar duas vezes antes de estourar seus miolos.

Caleb tinha um olhar ameaçador que reconheci imediatamente. Senti minhas pernas começarem a ceder enquanto eu me obrigava a voltar para o quarto. Deitei na cama e senti calafrios percorrerem meu corpo.

Ele viria atrás de mim. Ele sempre vinha.

Não sei dizer quanto tempo se passou até a porta do quarto ser escancarada e Caleb entrar furioso no quarto. Meu coração acelerou naquele segundo e desejei estar em qualquer lugar, menos no quarto.

— O que você tem na cabeça?! — Caleb gritou enquanto me alcançava na cama.

Ele sentou em cima de mim e sua mão tocou suavemente meu rosto e desceu até o meu pescoço. Eu tinha certeza que ele conseguia sentir meu coração pulsando fortemente. Quando eu soltei um suspiro, ele agarrou meu pescoço e eu engasguei assustada.

— Você é tão idiota — ele zombou e apertou um pouco mais a minha garganta — você é uma garota morta!

— Não tenho medo de você — o pavor devia estar estampado no meu rosto, pois Caleb deu um sorriso malicioso. Eu era tão ruim em contar mentiras que Caleb parecia divertido com tudo aquilo.

— Não vou matar você ainda — seu rosto estava próximo o suficiente do meu para que eu sentisse seu halito quente.

— Me solta, por favor — choraminguei — Por favor, Caleb.

Eu sabia que meu rosto era tudo menos tranquilo. As lagrimas desciam com tanta rapidez que pareciam estar apostando corrida e minha garganta estava sendo esmagada, me sufocando cada vez mais. Rezei para que alguém aparecesse em casa logo.

Pensei em gritar, mas mesmo que alguém estivesse em casa, o aperto firme que ele mantinha no meu pescoço não me permitia muito mais que sussurrar. Eu o encarei por um tempo e cuspi em seu rosto. Péssima ideia.

— Não deveria ter feito isso — o sorriso em seu rosto não era mais de deboche ou provocação, era algo perverso.

Ele soltou meu pescoço e antes que eu pudesse pensar em qualquer coisa sua mão acertou meu rosto. Em seguida ele me tirou da cama e me jogou contra parede. Meus braços foram presos acima da cabeça e seu corpo pressionava o meu, quase me esmagando.

— Não tenho ordens para te matar, mas posso te machucar um pouco — dessa vez ele acertou um soco no meu olho e me largou — Terminaremos essa conversa mais tarde.

Abri os olhos, alarmada, e precisei piscar algumas vezes para ter certeza de onde estava. Caleb não morava mais comigo; ele nem sequer sabe que estou viva e de fato, eu não estou. Pelo menos não aquela garota de onze anos que vivia amedrontada em seu quarto.

Não. Aquela garota morreu quando meus pais foram avisados que um acidente de carro havia me matado. Alexia Hill morreu oito anos atrás, deixando espaço para que Jennifer Smith nascesse.


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