Atração Implacável escrita por Lia Pallomare


Capítulo 8
Pega de surpresa




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Por motivos óbvios, meu ódio pela segunda-feira parecia aumentar semanalmente. Primeiro, foi aquele telefonema e agora, por conta dos pesadelos, eu passava a maior parte da noite acordada e quando pegava no sono, acabava acordando aos gritos. Podia ser pior?

Minha rotina era a mesma todos os dias: abrir os olhos; esperar que Dakota fizesse sua lista de exercícios matinais; levantar da cama e me arrastar para a faculdade, com a primeira roupa que minha mão tocasse. O sono só passava por completo no final da aula de direito penal, mas dessa vez, ele passou assim que pisei na sala. Não eram nem oito horas da manhã e eu já precisava de uma bebida.

Sentado ao lado da mesa que eu havia sentado nas ultimas duas aulas, estava Jordan, sorrindo educadamente para uma garota ridiculamente maquiada, cujo nome era Rebecca. Sentei-me ao seu lado e logo em seguida ele dispensou aquela garota.

— Você está bem? — Ele começou a brincar com seu lápis enquanto olhava para frente da sala.

— Por que não estaria?

Jordan me olhou e aqueles olhos verdes eram quentes e imprevisíveis, assim como ele. Um sorriso torto, daqueles que somente cafajestes como ele sabiam dar, surgiu em seu rosto. Seus olhos se fixaram na minha clavícula, onde minha nova tatuagem se encontrava e era totalmente visível por conta blusa de ombro caído que eu usava.

— Bonita tatuagem — ele estalou a língua — O que é por toda a eternidade?

— A saudade — dei de ombros — As lembranças. Muitas coisas...

— Boa explicação, rainha de gelo.

— Odeio quando você me chama assim — resmunguei — Você podia parar com isso.

— E você podia não ter roubado meu carro, mas ao que me parece, as coisas não são como a gente quer.

— Cala a boca — sussurrei ao receber um olhar irritado do professor, que eu ainda não tinha decorado o nome — Quero prestar atenção na aula.

— Não quer não — ele sorriu para mim, mas ficou em silêncio.

Realmente não estava com vontade de prestar atenção naquela aula. Nem nas que viriam a seguir. Eu queria dormir por horas, até meu corpo estar completamente relaxado e tranquilo, mas toda vez que meus olhos ameaçavam fechar meus piores pesadelos passavam novamente diante dos meus olhos.

Ao fim do dia, meu celular tocou. O celular que só podia receber ligações urgentes estava tocando pela segunda vez em menos de um mês. Isso era um sinal claro de que eu estava prestes a me ferrar.

— Oi — falei com um pouco de relutância.

— Alexia... — a voz de Trevor estava falhando — Quer dizer, Jennifer.

— O que aconteceu? — sussurrei. Era estranho ouvi-lo falar meu nome. Meus dois nomes.

— Estou no aeroporto, esperando você.

— Você o que? — aumentei o tom de voz — Como assim você está aqui?!

— Eu te avisei que viria — imaginei que ele estivesse dando de ombros e sorrindo — De qualquer jeito, você não vai me deixar plantado no aeroporto, não é?

— Você vai embora em dois dias — desliguei o telefone e peguei o carro de Dakota, que na verdade era mais meu, que dela.

Dirigi durante uma hora com o radio em um volume ensurdecedor. O sol estava se pondo quando cheguei ao aeroporto e meu coração pulava no peito. Alegria, expectativa e saudade moviam cada músculo do meu corpo, mas sempre havia um fiozinho de medo queimando a ponta dos meus dedos. Eu estava mesmo prestes a quebrar uma das regras mais importantes que nos foi dita?

Subi uma escada rolante e durante aquele momento fiquei perguntando-me como é que eu o reconheceria. Eramos tão pequenos quando nos despedimos e agora ele era um homem e eu era... uma droga.

— Santo Deus! — Trevor gritou e só então eu o vi — SANTO DEUS!

— Puta merda — sussurrei, forçando-me a sorrir.

Trevor continuava o mesmo, com seu cabelo loiro areia arrepiado, seus grandes olhos cor de mel e o sorriso meigo e infantil mas sua pele queimada de sol e os músculos de seus braços não deixavam dúvidas, ele tinha mudado tanto quanto eu. Corri até ele e me senti uma criança ao fazer isso. Abracei-o e fiz o máximo de força para não chorar. Esse era um momento feliz, de risadas e conversas animadas.

Ele segurou meu rosto com as duas mãos e seus olhos eram a coisa mais perto de casa que eu tinha em anos. Deus, como essa sensação era boa.

— Você cresceu tanto! — ele beijou a minha testa e sorriu— Nem se parece mais com aquela menina tímida de anos atrás.

— Ela morreu, Trev — minha voz saiu áspera — Essa garota que está parada na sua frente é uma completa estranha para você.

— Pelo jeito vou ter que te conhecer de novo — ele me abraçou e começou a andar para fora do estacionamento — Por onde quer começar?

— Te levando para um hotel — respondi sem encará-lo — Amanhã, depois das minhas aulas, a gente conversa direito. Eu preciso dormir um pouco.

— Não são nem oito e meia, Jenna.

— Bom, eu também preciso de uma bebida — dei de ombros — E você precisa ir para um hotel.

Eu ia acabar ficando louca, sabia disso. Com Trevor ao meu lado enquanto dirigia, era quase impossível me concentrar no caminho que precisava fazer até algum hotel, nunca tinha reparado em como era difícil encontrar um nessa cidade. O trajeto foi silencioso e apesar de desejar conversar noite adentro com ele, consegui manter minha boca fechada.

Era bom vê-lo, mas isso mudaria tudo que eu tinha lutado para conseguir. Eu tinha uma vida nova; amigos; uma reputação e, seja lá qual fosse, não parecia típico que eu, Jennifer, trouxesse amigos para uma visita casual. Essa era situação que Alexia saberia lidar, mas lutei tanto para esconder sua personalidade em uma caixa, que não sabia mais o que fazer. Minhas duas vidas estavam começando a se unir e isso era perigoso.

Se Caleb tinha ido atrás de Trevor, depois de tanto tempo, só podia significar uma coisa: ele sabia que eu estava viva. Sabia muito mais sobre a morte de Enzo do que imagino que tenha contado. Ele cumpriria sua promessa.

Deixei meu amigo mais antigo em um hotel pequeno, no sul da cidade, que parecia estar ali há quase cem anos. O lugar não era minha primeira opção, mas acho que não aguentava mais dirigir com ele ao meu lado, em silêncio absoluto. Prometi que nos veríamos no dia seguinte e, parte de mim queria que isso fosse mentira.

Como a boa alcoólatra que sou, fui até meu bar favorito e bebi duas doses de tequila, completamente sozinha. Para minha surpresa, o bar estava cheio de pessoas bebendo, cantarolando com a língua enrolada, jogando sinuca e gritando. Bêbados adoram gritar.

— Uma cerveja — Jordan falou ao meu lado para o barman.

— O que você tá fazendo aqui? — resmunguei infeliz.

A solidão pareceu-me um luxo que eu não teria naquele momento, não com Jordan ao meu lado, sorrindo com um cigarro na boca. Algumas coisas passaram na minha cabeça enquanto eu o olhava. Primeiro: como ele sempre estava perto de mim. Segundo: como alguém pode ser tão irresistível? E terceiro: comecei a temer o dia que ele decidisse se afastar.

— Estou aqui fazendo a mesma coisa que você, Jenn — ele soprou a fumaça do seu cigarro no meu rosto — Bebendo até os dentes ficarem dormentes.

— Você já está velho pra esse tipo de coisa — estreitei os olhos — Quantos anos você tem mesmo? Trinta?

— Pega leve ai! — ele tossiu com a fumaça — Vinte e oito anos.

— Grande coisa — sorri — me dá um cigarro.

Ele me entregou o cigarro e assim que dei a primeira tragada, senti a nicotina percorrer meu corpo. Maus hábitos às vezes são tudo o que a gente precisa. Fumei quatro cigarros rapidamente e quando tentei pegar o quinto, Jordan se recusou em dar.

— Não sabia que você fumava tanto assim — sua voz grossa pairou no meio da fumaça.

— Eu não fumo — dei de ombros — Normalmente não.

— Mas fumou hoje.

— Algum problema com isso? — bati meu copo na mesa, joguei uma nota de vinte sobre a mesma e sai do bar, por algum motivo eu queria que ele me seguisse para fora e foi isso o que ele fez — Francamente, Jordan, o que você quer?

— Muitas coisas, Jenn. — Ele diminuiu a distância entre nós — E a maioria delas envolve você.

Nossos corpos estavam separados por poucos centímetros e era possível sentir o calor irradiando do corpo de Jordan. A adrenalina tomou conta de mim e um arrepio percorreu meu corpo. Ele era tudo o que eu não precisava naquele momento e talvez por esse motivo, era tudo o que eu queria. Naquele instante era impossível negar que eu o desejava.

— Eu provavelmente vá me arrepender disso quando acordar — sussurrei tão próxima dos lábios de Jordan quanto eu podia — Mas essa noite eu sou sua.

Jordan me puxou pela mão até seu carro e dirigiu rapidamente até seu apartamento no centro. Faróis vermelhos foram ultrapassados com tanta rapidez que era quase impossível distinguir a paisagem ao nosso redor.

Assim que entramos no elevador o autocontrole que Jordan demonstrou até pouco tempo atrás, se esvaiu. Meu corpo foi empurrado para a parede fria e metálica e seu corpo pressionava cada vez mais o meu. Senti meu corpo ficar tenso, mas quando aqueles lábios pressionaram os meus, fui tomada pelo desejo. Sua mão roçava a pele nua do meu ombro e, antes que a porta do elevador se abrisse minhas pernas já estavam bambas.

Entramos aos beijos no apartamento e todo o sangue do meu rosto some em uma fração de segundo. Não me envergonharia com o olhar cheio de malícia e diversão que Zack me dava, se ele fosse o único naquela sala, o problema é que uma outra pessoa estava parada na cozinha.


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