O despertador tocou, mas continuei deitada até Dakota terminar com seus exercícios de ioga matinais, que pareciam mais rápidos que o normal. Calcei minhas pantufas de ursinho e me arrastei até o banheiro. Tomei um banho, vesti uma calça jeans e um moletom e passei um gloss nos lábios. Quando sai do banheiro Paige ainda estava deitada em sua cama, fungando, enquanto Wendy passava cremes e mais cremes em seus cachos perfeitos. Sentei-me em sua cama e a abracei.

— Não sei quem ela era — sussurrei ao beijar o topo da cabeça de Paige — Mas tenho certeza que ela não te merece.

— A gente estava saindo — ela fungou — Ia fazer dois meses.

— Azar o dela — Wendy resmungou do outro lado do quarto —Se eu fosse ela, não te trocaria por alguém como o Jordan.

— Nem por nenhuma outra pessoa — acrescentei.

Um sorriso se formou em seu rosto e senti que meu dia valeria a pena, desde que Paige continuasse sorrindo. Por conta da choradeira que durou a noite toda, ela teve que passar grandes quantidades de maquiagem para cobrir as olheiras e quando terminou, já estávamos atrasadas.

Fomos todas no mesmo carro, assim economizávamos gasolina. Quando chegamos ao campus cada uma foi correndo para sua sala. A minha ficava no prédio mais distante do estacionamento e o professor ficou me encarando durante os trinta e cinco minutos restantes de aula.

As aulas seguintes apesar de interessantes não prenderam a minha atenção. Passei a maior parte do tempo me lembrando da primeira vez que havia pisado nessa faculdade, num passado não tão distante assim. Ainda lembro-me do rosto da minha mãe quando me abraçou pela ultima vez. Senti aquele familiar aperto no coração que sempre surgia depois de pensar na mulher que me trouxe ao mundo.

Na hora do almoço o refeitório estava um caos, exatamente como eu me lembrava. As mesas eram ocupadas por grupos de alunos de rostos animados e nervosos, tudo ao mesmo tempo. Encontrei Dakota sentada em uma mesa com os jogadores de futebol; Wendy estava com seu namorado em uma mesa perto da parede, junto com a maioria dos meus amigos.

Peguei uma salada e sentei-me em uma cadeira vazia de frente para o casal, que sorriu para mim.

— Como está indo o seu dia, docinho? — Wendy perguntou animada.

— Bom — dei de ombros — Meu professor de direito penal não gosta muito de mim.

— Você entrou como um furação na sala — Erick justificou — Eu também não iria gostar de você.

Mostrei a língua para ele, que respondeu piscando para mim. Apesar de fazermos quase todas as aulas juntos, tínhamos combinado de não passar o tempo todo um do lado do outro, na esperança de aumentarmos nosso circulo de amizades. O que tinha funcionado para mim, mas Erick continuava solitário.

— Ainda estão te ignorando?

— Só quando não querem uma anotação emprestada — seu sorriso foi desajeitado e seus olhos mostravam certo desapontamento — Mas é só o primeiro dia.

— Tenho certeza que eles vão amar você — Wendy beijou a ponta do seu nariz e desviei o olhar. Odiava suas demonstrações exageradas de carinho em público.

Depois do almoço eu só tinha mais uma aula, com a mesma professora do ano passado, a carrancuda Sra. Allen e por conhecer seu péssimo temperamento, entrei na sala cinco minutos antes.

Um jogador do time de futebol, amigo de Dakota sentou ao meu lado. Ele sorriu e passou a maior parte da aula prestando atenção e anotando tudo o que era falado. Quando estava saindo da sala ele me chamou e me falou de uma festa que haveria na fraternidade onde Matt morava e por instinto recusei o convite.

Eu já estava na metade do caminho para o estacionamento quando Jordan se aproximou, com seu sorriso torto e cabelo bagunçado. Sempre do mesmo jeito e ainda conseguia me deixar impressionada.

— Quer uma carona? — seus olhos castanhos se fixaram nos meus — Podíamos fazer alguma coisa.

— Não vou dormir com você — ergui a sobrancelha — Se sua intenção é me levar pra cama, pode esquecer.

— Primeiro: se você fosse para a minha cama, faríamos tudo, menos dormir — ele sorriu, aparentemente imaginando algo — Segundo: eu não pretendo te levar pra cama. Só achei que você gostaria de sair um pouco.

— Achou? — parei de andar e o encarei.

— Sim. Todo mundo merece relaxar um pouco, até mesmo a rainha de gelo.

— Tchau, Jordan — voltei a andar, mas ele me puxou pelo braço e me deixou a centímetros de tocá-lo.

Podia sentir sua respiração no meu rosto e por algum motivo, segurei o ar em meus pulmões até meu braço ficar livre de suas garras.

— Eu não te chamo mais de rainha do gelo, se você entrar no meu carro.

— Se isso for uma de suas táticas para transar comigo, eu te mato — resmunguei e voltei a andar — Afinal, o que você quer de mim?

— Não quero transar com você, então relaxa.