Atração Implacável escrita por Lia Pallomare


Capítulo 11
Um segundo




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Voltei para o apartamento duas horas depois de ver a cena mais escrota de todas. Não havia sinal da Wendy ou do Zack por ali e, isso não aliviou em nada a minha raiva, só a deixou pior. Fui até meu quarto, joguei algumas roupas dentro de uma mala e Dakota me encarou por alguns instantes em silêncio. Quando fechei a mala, ela ergueu a sobrancelha.

— Aonde você vai? — perguntou e pelo tom que sua voz saiu, a raiva que ela sentia se assemelhava em muito com a minha.

— Casa. — Encaro seus olhos verdes. — Não adianta fazer cara de bunda, Dakota. As coisas estão ruins por aqui e, se eu ficar, serão muito piores. Preciso de um tempo para pensar e quero ver minha família. Então não tente me impedir.

— Eu não vou — ela dá de ombros e ao olhar para a porta do quarto, abre um sorriso malicioso. — Mas ele vai.

Viro-me para porta e desejo não ter feito isso. Os olhos de Jordan estão vidrados em mim, furiosos e confusos. Merda. Ele sempre foi louco, mas estava passando dos limites; odiava o fato dele estar em todos os lugares, sempre atrás de mim. Aquele cara, irresistível e tatuado coloca as mãos na porta, criando uma barreira, quase impossível de se passar. Isso era ridículo.

Dakota dá um jeito de passar por baixo dos braços de Jordan e ouço quando ela foge do apartamento. Estou completamente sozinha com ele e não faço a menor ideia do que sua mente está planejando. Solto um suspiro exasperado e cruzo os braços, esperando que ele fale algo, mas sua boca não se abre, nem para sorrir.

— O que você quer? — perguntei ao tentar passar por ele. — Eu preciso sair logo ou vou perder o avião.

— Você não pode ir embora depois de falar que sente algo por mim. — Jordan resmungou, mas podia ver seus olhos brilharem de raiva.

— Para de ser idiota! — tento dar risada, mas não consigo. Ele estava realmente sendo muito idiota e, odeio isso. — Vamos esclarecer algumas coisas, tá bem? Gosto de você. Ponto. Isso não significa que eu vou ficar agindo que nem uma idiota que precisa de você o tempo todo, por que eu não preciso. Odeio quando você me persegue feito um louco; tenho idade suficiente para me cuidar sozinha, então pare de bancar a minha babá. E mais uma coisa: vou entrar em um avião em exatas duas horas para ver a minha família e ficar longe do idiota do seu irmão. Isso não tem nada haver com você.

— Jenn. — ele sussurra, aparentemente incapaz de falar um pouco mais alto. — Não posso te deixar ir.

— Não pode?! — ergui a sobrancelha e o encarei. Deus, ele ia acabar me deixando louca. — Como assim não pode? Você não é a porra do meu dono, Jordan. Não me interessa se você vai me deixar ir ou não. Eu vou pegar um avião e não cabe a você me impedir.

— Sou seu namorado e digo que eu vou com você! — ele grita.

Sinto meu rosto corar e dou um passo para trás. Ele não pode ter dito o que eu acho que disse. Subitamente começo a rir feito uma idiota.

— Namorado? — falei assim que recuperei o fôlego. — Desde quando você é meu namorado?

Jordan começou a andar na minha direção, mas não permiti que me tocasse. Essa ideia maluca de namoro era chocante demais; eu não estava preparada para isso. Peguei minha mala e quando ele a segurou. Forcei-me a sorrir, talvez com uma boa mentira, ele me deixasse partir.

— Olha, — respiro fundo e volto a falar, com a voz controlada. — Isso foi inusitado. Namorar você... Eu não pensei nisso até quinze segundos atrás. Jordan, eu preciso pegar um avião, esfriar a cabeça e pensar no que você acabou de falar, então, por favor, me deixa ir.

— Não estou te impedindo de ir — Seu sorriso era controlado e não chegava nem perto de ser verdadeiro. — Eu só falei que não vou te deixar ir sozinha.

— Eu não vou sozinha. O Erick vai comigo.

Jordan fez uma careta, mas soltou minha bolsa, então aproveitei a oportunidade para beijar sua bochecha e correr para o meu carro, sabendo que ele logo começaria a reclamar do motivo do Erick poder ir comigo e ele não.

O carro de Shane estava estacionado na porta da garagem, coberto com uma lona cinza e isso me faz ter certeza que meus pais estavam em casa. Andei pelo pequeno gramado da frente e bati na porta, que foi pintada de branco há pouco tempo. Demora um pouco, mas quando a porta se abriu, Lilian soltou um grito agudo e me deu o abraço mais apertado que recebi em anos. Seu cabelo loiro estava cheio de bobes, exatamente como eu me lembrava.

— Shane! — ela grita ainda me abraçando. — Vem até aqui, agora!

Quando ele aparece, seus olhos se enchem de lágrimas e sinto um aperto no peito. Ele tinha ficado tão furioso quando disse que faria faculdade longe daqui, que jurou que não queria mais me ver. Shane me abraça e cumprimenta Erick, que parece mais constrangido que eu, quando beijei Jordan na frente de seu pai.

Passamos a tarde toda envolvidos em uma conversa saudosa e alegre, típica de reencontros. Erick se dá tão bem com meus pais que não me sinto culpada por ir dormir cedo e deixá-lo sozinho com os dois, apesar de ter quase certeza que haveria perguntas sobre como eu estava me saindo na faculdade.

Meu quarto ainda estava pintado de cinza, com várias fotografias em preto e branco perduradas desordenadamente. Minha cama ainda estava coberta por uma colcha de zebra e os mesmos livros em francês estavam empilhados ao lado do guarda-roupa. Tudo parecia igual ao dia em que fui embora. Deitei-me na cama e apaguei quase na mesma hora.

Acordei pouco antes do sol nascer, com batidas leves na porta. Cambaleei até ela e a destranquei, nem ao menos me lembrava de tê-la trancado. Erick está usando um pijama xadrez e seus braços estão cheios de chocolates, pipoca e outras tantas porcarias. Ele sorri e se joga na minha cama.

— Caiu da cama? — Pergunto ao me deitar ao seu lado e pegar um chocolate.

— Acredite se quiser, mas eu realmente cai. — dou risada da cara de coitado que ele faz e jogo um punhado de pipoca no seu rosto e ele faz o mesmo comigo.

Erick pegou meu notebook e colocou a coletânea de seus filmes favoritos para assistirmos em sequência e, quando nos damos conta, já passa das três da tarde. Era engraçado como o tempo voa quando não existem preocupações para ocupar a mente vinte e quatro horas por dia.

Agarrei a mão de Erick e corri até o carro de Shane. Dirigi pela cidade por horas e, acabamos parando na praia para ver o por do sol. Eu amava a forma como o céu mudava de cor enquanto o sol estava se pondo. Não era só a beleza que me fascinava, era a mudança de energia e também o sentimento de paz que me surgia toda vez que eu era capaz de ver algo tão simples acontecer.

Dentro do carro, Erick me olhava de um jeito estranho e constrangedor, o que me fez corar. Encarei seus olhos negros e ele se aproximou do meu rosto. Meu coração acelerou, mas não da mesma forma que acontecia quando Jordan se aproximava de mim, era diferente, mas parte de mim queria saber o que ele era capaz de me fazer sentir.

Quando seus lábios tocaram os meus, meu corpo enrijeceu e não senti absolutamente nada. Nem mãos trêmulas, pernas bambas, borboletas no estômago... Nada. Na verdade, senti culpa. Ele beijava bem, isso era incontestável, mas era estranho que nossos lábios estivessem colados. Afastei-me dele e nós dois olhamos para frente.

— Isso foi... — Erick começou a falar, mas o cortei.

— Horrivel! — resmunguei ao ligar o carro.

— Muito. — Ele sorriu para mim e piscou. — Isso nunca aconteceu certo?

— O que nunca aconteceu? — dou risada. — Eu te amo.

— Eu também. — ele toca minha perna carinhosamente antes de voltar a falar. — Podemos não pertencer um ao outro como namorados, mas eu pertenço a você muito mais do que a qualquer outra pessoa. Não temos o mesmo sangue percorrendo nossas veias, mas você é minha família. Aquela que eu escolhi para mim.

Não havia muitos carros na estrada e, o carro de Shane corria muito mais do que eu imaginava. Chegaríamos em casa em poucos minutos se o trânsito continuasse naquele ritmo. O vento batia no meu rosto, refrescante e forte e eu sorria toda vez que olhava para Erick. Ele era meu porto seguro, meu melhor amigo e, as palavras que ele me dissera preencheram cada pequeno vazio do meu corpo. Ele me considerava sua família. Isso era muito mais do que eu poderia sequer sonhar.

Dirigi por uma rua pouco movimentada, que servia de atalho, por alguns minutos em completa escuridão. Meu celular tocou e, no segundo em peguei o celular para atender a ligação, tudo deu errado. Erick gritou algo que não fui capaz de entender e um segundo depois o vidro estilhaçado cortou meu rosto. Por conta da batida, minha cabeça acertou o volante e acabei desmaiando.


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