Maldição | Amor Imortal 03 escrita por Lolli Blanchard


Capítulo 8
Capítulo 08




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Gaia passou o restante do seu dia fechada em um quarto se preparando psicologicamente para lidar com os convidados que estariam no jantar que Dimitrius havia organizado para celebrar o casamento deles. Em diversos momentos a imortal se pegou pensando que preferia festas grandes do que pequenos jantares em família, pois em bailes todos estavam interessados em outras coisas que nem ao menos notavam a existencia dela, diferente de jantares que estaria fechada em um local menor e com mais pessoas do que conseguiria lidar.

Ela tentou pensar positivamente, se lembrando que Ellylan e Niffie estariam presentes e ambas as mulheres sempre gostaram dela mesmo antes de se tornarem imperatrizes. E mesmo que Meridius e Maximus fossem intimidadores apenas com suas presenças, eles também nunca fizeram nada de ruim para Gaia, só que a imortal não fazia até onde ia a lista de convidados de Dimitrius.

Como sempre observou os arcanjos, a filha dos elementos sabia que o arcanjo da humanidade era o menos sociável e com poucos amigos, mas ainda assim, ele era alguém com influência suficiente para fazer com que qualquer um aparecesse em seu jantar.

Gaia respirou fundo para se acalmar e focou sua atenção no novo quarto que havia ganho e que agora poderia ser chamado de seu.

O cômodo era muito menor do que o outro e com uma cama própria para pessoas que não possuíam asas, mas com uma varanda tão grande quanto a antiga. E a vista do lado de fora era simplesmente incrivel e dava a sensação de que Gaia estava ainda mais próxima da natureza.

As cores predominantes do quarto eram verde e branco ao inves do colorido sombrio que a imortal encontrou quando abriu seus olhos no dia anterior.

A filha dos elementos se sentia agradecida por Dimitrius ter escolhido aquele quarto para ela ficar, pois se sentia muito confortável estando ali. Ela apenas não sabia se o arcanjo havia o escolhido propositalmente ou apenas ordenado que a levassem para qualquer quarto da sua enorme mansão.

Talvez Gaia revirasse a mente do anjo atrás de respostas, se sua culpa não fosse maior do que sua curiosidade por estar na mente de Dimitrius, ela definitivamente faria isso. Afinal, precisava entender o que se passava na mente do homem que havia se casado.

E Dimitrius se parecia mais como um quebra cabeça que deveria ser montado para descobrir que tipo de imagem possuía ao invés de uma pessoa calma que fácilmente podia ser lida.

Só pelo fato do imperador preferir fingir emoções do que mostrar o vazio que existia em seus olhos, já era algo incompreensivel e até mesmo assustador, pois apenas psicopatas agiam daquela forma. Se fingindo de agradável quando na verdade eram donos de uma escuridão assustadora.

Gaia rolou no chão em cima do tapete que estava deitada para observar um novo ângulo do quarto ao invés de olhar o teto. Sua intenção ao se movimentar era de sacudir todos os seus pensamentos para que parasse de comparar Dimitrius com um psicopata.

Já era assustador o suficiente estar casada com esse arcanjo e ela não precisava pensar em coisas desnecessárias que a deixasse com ainda mais medo. Além do mais, apesar dos seus pesadelos a assombrarem, o imperador parecia ser mais gentil do que um dia imaginou.

Tirando o encontro deles que Dimitrius a ameaçou torturá-la para responder suas perguntas sobre o casamento destruído de Meridius, o anjo sempre agiu de forma adequada. Claro que ele demonstrava não estar feliz por encontrá-la e tão pouco desejava a companhia dela, mas o arcanjo jamais agiu de forma imprudente como o restante dos imortais.

Gaia tinha que começar a pensar em coisas mais positivas sobre Dimitrius, se focar nos pequenos detalhes que eram bons e parar de compará-lo com a pessoa que deixou seu passado manchado.

No entanto, pensar positivamente sobre o caso era mais fácil do que agir.

O som da porta do quarto sendo aberta capturou totalmente a atenção da imortal, ela se sentou imediatamente e se virou em direção das pessoas inconvenientes que estavam invadindo o seu espaço sem ao menos bater para anunciar a entrada.

Ela não ficou surpresa por essa pessoa ser Dimitrius e um dos seus tenentes.

O outro anjo, cujo nome era Cameron, a encarava de forma curiosa e se perguntava pelo motivo de Gaia estar deitada no chão ao invés da cama, mas no momento em que ele pensou que talvez a filha dos elementos desconhecesse o significado dela, ela rapidamente bloqueou os pensamentos do soldado da sua mente para não se sentir ofendida.

Dimitrius a encarava com uma sobrancelha arqueada, mas Gaia se poupou de ouvir os pensamentos do arcanjo, pois sabia que diferente do seu tenente, o arcanjo estaria a ofendendo.

— Você está morrendo?— O anjo perguntou de maneira calma.
— Não.—
— Então imagino que não há nada para me preocupar sobre suas escolhas onde se deitar.—

Gaia estava pronta para responder Dimitrius acidamente, mas sua atenção foi roubada para a foice que Cameron carregava em suas costas. Sua postura se tornou rigida mesmo que ela soubesse que esse anjo sempre andava com essa arma, mas era impossivel não temê-lo quando era ciente de que aquela lamina já havia tirado diversas vidas e de uma maneira muito cruel.

E até mesmo injusta.

O tenente de Dimitrius possuía um componente em seu sangue que quando em contato com a pele de outra pessoa a paralisia tomava conta do seu corpo. Já faziam séculos e gerações que a família de Cameron lutava para que esse poder não acabasse e não possuíam nenhuma dificuldade em executar essa tarefa, pois toda vez que um anjo nascia, sendo o pai dono desse componente tão incomum, era provável que esse gene crescesse junto com a criança conforme os anos.

Cameron usava a foice como sua única arma e Gaia nunca o viu agir de forma diferente em uma batalha contra alguém que desejava matá-lo. O tenente sempre cortava algum pedaço da sua carne com lamina afiada para que fosse suja com o sangue venenoso e logo em seguida ele fazia todo o possível para que o seu inimigo fosse sujo ou cortado com a lamina.

A crueldade do ataque do soldado começava quando o seu ataque final só era executado depois do seu atacante estar completamente paralisado e com a mente cheia de pensamentos que aquele era o fim.

Só então Cameron se aproximava e o matava com um único golpe na garganta.

Quem não conhecia o soldado, não podia imaginar que o tenente era capaz de tamanha crueldade, pois seus olhos verdes e cabelos de uma cor parecida ao caramelo lhe davam uma aparencia totalmente inocente.

— Você deveria bater antes de entrar.— Gaia desviou sua atenção de Cameron para fuzilar Dimitrius.
— Qualquer um é bem vindo quando a porta não está trancada, gatinha.— Ele falou de maneira provocativa.

A imortal preferiu ignorar as palavras do arcanjo e começou a se movimentar para se levantar do chão, Dimitrius rapidamente atravessou o quarto e ofereceu sua mão para ajudá-la a ficar em pé. Foi impossivel o corpo de Gaia não congelar no processo ao ver que o arcanjo não tinha problemas em tocá-la e mesmo que o ato fosse gentil, ela ignorou.

No entanto, Dimitrius revirou seus olhos escuros e a segurou por um dos seus braços para ajudá-la mesmo sendo negado. Gaia prendeu sua respiração no mesmo instante que os dedos dele seguraram o seu braço de maneira firme e só voltou a respirar depois de se afastar do arcanjo com alguns passos.

— Esse é Cameron.— Dimitrius falou logo em seguida e o soldado movimentou sua cabeça respeitosamente em direção dela.— Ele faz parte do meu quarteto de tenentes e pelos próximos dias irá acompanhá-la quando desejar sair da mansão.—
— Por quê?— Gaia perguntou com raiva desde que não estava pronta para se ver livre da sua liberdade.— Você disse que eu não me tornaria uma prisioneira desse lugar.—
— E pretendo cumprir minha promessa, mas no momento em que os imortais souberem sobre o nosso casamento, eles se tornarão agitados demais.—

Gaia considerou por um momento a preocupação do arcanjo da humanidade, pois eram poucas as pessoas que gostavam dela. E ela era ciente de que se casar com um arcanjo era o mesmo que se tornar o centro de inveja das dimensões. No entanto, a filha dos elementos não conseguia se imaginar andando pelas florestas com um homem que segurava uma foice para matar.

A imortal suspirou de forma discreta, não sabendo ao certo se seria melhor ficar trancafiada em uma mansão ou ter um campanheiro perigoso seguindo os seus passos.

Contudo, o que a imortal mais desejava naquele momento era sobreviver ao jantar preparado por Dimitrius e o que viria em seguida.

O casamento ainda precisava ser consumado e Gaia não fazia ideia no que o arcanjo da humanidade pensava sobre isso já que em sua mente não existia nada que pudesse responder as suas perguntas que estavam começando a apavorá-la conforme a noite chegava.

— Você irá se rebelar contra a minha ordem?— A voz de Dimitrius a tirou dos seus pensamentos e Gaia encarou o arcanjo com raiva.

— Em uma escala,— Ela falou.— você está muito a baixo para me dar ordens.—

A imortal pensou que o arcanjo se ofenderia ao ser rebaixado na frente do seu tenente, mas tudo o que ele fez foi mostrar um sorriso desafiador cheio de provocações.

— Prove.—


Gaia desejou provar para que o sorriso provocativo de Dimitrius sumisse do seu rosto, mas sua natureza a proibia ser violenta. Além do mais, em um pequeno ataque o arcanjo ficou em coma durante muito tempo, ela podia não gostar do arcanjo, mas isso não significava que podia matá-lo apenas por ser um tolo egoista.

A filha dos elementos também se lembrou do que o anjo falou sobre ela agir como uma imperatriz quando necessário e agir de forma tão arrogante que rebaixava um arcanjo em frente de um tenente, definitivamente, não era correto.

Gaia preferiu ficar em silêncio e desviou seus olhos para Cameron.

— Obrigada.—
— Estou apenas cumprindo ordens.— Ele falou pela primeira vez.
— Eu escolhi o melhor para você, Gaia.— Dimitrius disse ironicamente ao interromper sua conversa com o tenente.— Ou você prefere Ryan?—
— Eu prefiro você longe de mim.—

O imperador da humanidade deixou de estar ao lado de Gaia para caminhar em direção da porta com o seu tenente logo atrás de suas asas como um bom cão obediente acompanhando os passos do seu dono.

— Por hora realizarei o seu pedido, minha esposa.—

~

Gaia estava olhando o seu reflexo no espelho diante dela com certo desespero para tentar entender a sua mente que parecia com um vidro despedaçado sem concertos. Durante todo o dia a imortal não havia tido nenhuma reação nervosa por estar próxima de Dimitrius e isso estava a mantando, pois não imaginava quando aquela avalanche de panico retornaria para assombrá-la.

Ela não queria que todo o seu medo fosse despertado durante o jantar diante dos olhares de tantas pessoas e de certa forma Gaia desejava agir como uma verdadeira imperatriz para não criar problemas com Dimitrius, pois não pretendia ter que lidar com a ira do arcanjo.

Ver o anjo com raiva era ainda pior do que estar próxima dele, seus olhos sempre mudavam para algo próximo de uma besta selvagem e isso a assustava demais. Além do mais, a imortal tinha que fazer tudo ao seu alcance para conviver bem com Dimitrius agora que estavam casados.

Ela tinha planos para se ver livre dos anciões um dia, mas esse dia em questão podia demorar até mesmo séculos.

Naquele momento, Gaia apenas queria se preocupar com o jantar que estava prestes a acontecer, mas sua mente preferia insistir no que podia ocorrer depois.

Dimitrius a rejeitaria ou a forçaria a fazer coisas que não desejava? Talvez estivesse no sangue da família dos arcanjos serem totalmente desagradáveis quando o assunto se tornava muito mais intimo.

A imortal pensava que era melhor que um ataque de panico surgisse logo e sua consciência fosse novamente perdida, mas Gaia não sentia nenhum sintoma.

Ela suspirou e focou sua atenção em seu rosto palido quase sem nenhuma cor.

Seus olhos azuis gelo e os lábios um pouco avermelhados eram as únicas cores vivas que existiam em seu rosto. Seus cílios e sobrancelhas negras também se destacavam, mas Gaia apenas via o preto como uma cor morta. Assim como o branco que sempre estava presente em seu corpo.

Seus cabelos eram o que mais a irritava, os cachos grandes e completamente brancos que caíam até um pouco a baixo dos seus ombros eram tão estranhos que a fazia se perguntar se algum dia encontraria alguém com o mesmo tom das suas mechas.

Ela se considerava tão sem vida com o branco a cobrindo que era irônico imaginar que tudo relacionado a vida estivesse dentro dela.

Talvez a única coisa que gostasse nela mesma fosse o seu vestido, mesmo sendo branco e muito simples, existiam vários detalhes feitos em renda e Gaia realmente apreciava os desenhos de flores que o tecido formava.

Mas era impossivel a imortal não invejar os vestidos que a raça pura sempre usava. Por diversas vezes ela quis vestir algum modelo diferente do que sempre usou, só que a filha dos elementos não via motivos para agir como os outros seres vivos.

Gaia simplesmente não se encaixava nesse mundo.

A imortal se virou em direção da porta quando foi aberta sem nenhum toque para alertá-la e ela não ficou surpresa ao ver que era Dimitrius. O arcanjo estava usando roupas mais formais do que ele costumava usar e o seu cabelo que sempre estava bagunçado foi arrumado em um penteado simples e elegante, seus fios arrepiados para cima agora estavam domados e ordenados de modo perfeccionista.

Ele estava bonito, mas sua simples aparencia ainda lhe causava o medo e para esquecer tal sentimento, Gaia pensou em repreendê-lo novamente por entrar sem nenhum aviso, mas ela estava nervosa demais para pensar em qualquer coisa.

— Está na hora.— Dimitrius falou de maneira calma.

A filha dos elementos se moveu para sair do quarto e esperou até que o arcanjo se afastasse da porta para que pudesse passar por ela. Gaia não sabia se Dimitrius já havia percebido que ela desejava ficar longe dele ou se ele temia que seu corpo tocasse suas asas, seja qual delas fosse, funcionava bem para a imortal.

Que Dimitrius se afastasse por causa das suas asas não a ofendia de maneira alguma, pois ela era ciente de que quando um imortal recebia a permissão para tocar nas penas de um anjo, era algo que estava relacionado completamente ao amor. E se o arcanjo se afastava por saber que era isso o que Gaia queria, ela só tinha que respeitá-lo por ser compreensivo.

Contudo, Gaia apostava fielmente na primeira opção já que Dimitrius costumava ser tão egocêntrico.

— Você está ainda mais palida do que esteve durante o nosso casamento.— O imperador da humanidade comentou enquanto caminhava ao seu lado no longo corredor em que o quarto dela estava.
— Eu não gosto de me misturar com pessoas.—
— Eu me lembro de vê-la na festa de Diane.— Dimitrius disse o nome da sua irmã mais nova de maneira fria, muito fria para alguém que a amava tanto e acabou sendo traído pela ambição da angelical.— Você estava junto com o seu demônio.—
— A raça pura não costuma me notar em festas grandes.— Gaia o respondeu e ignorou a forma ironica em que mencionou Patrick.
— Então você odeia ser o centro das atenções.— Dimitrius riu amargamente.— É uma pena que tenha se tornado uma imperatriz. Acredito que isso é o que mais vai acontecer de agora em diante, gatinha.—

Gaia suspirou, pois só havia pensado em tudo o que envolvia Dimitrius ao se casar com ele, não nas outras partes que também eram ruins e que ela odiava.


— Seu anti socialismo é maior do que seu medo por mim?— Dimitrius perguntou.— Eu posso cancelar esse jantar para termos um momento privado.— O tom dele foi totalmente ironico, fazendo com que Gaia nem ao menos considerasse a ideia. Só que foi impossivel não sentir seu corpo gelar ao se imaginar sozinha com Dimitrius durante a noite.
— Eu ficarei bem.—

Pelo menos era nisso que Gaia acreditava.


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