Alguns dias depois.

Gaia estava sentada no chão da floresta ouvindo cada som delicado que a natureza emitia, mas o seu maior foco de atenção acabou sendo o seu braço que antes possuía inúmeras veias negras por causa do veneno dos anciões, mas que agora estava tão normal quanto o seu outro.

Depois da noite em que fez amor com Dimitrius, no dia seguinte em que despertou nos braços do arcanjo ela já não estava mais envenenada, mesmo que a ordem dos seus superiores não tivesse sido realizada. Contudo, agora a imortal e o arcanjo não eram mais um casal por obrigação e sim porque desejavam esse relacionamento.

Talvez isso tivesse sido o suficiente para que os anciões estivessem satisfeitos, ainda mais quando Gaia havia visto a mudança no futuro e sabia que a destruição das dimensões não existia mais.

Mas a imortal também estava ciente de que o futuro podia mudar. Afinal, a natureza tinha lhe dito que apenas um se apaixonaria em seu casamento, mas agora ambos estavam apaixonados.

Ela ficava um pouco insegura por saber que algumas coisas podiam mudar conforme o tempo, que o futuro já não era mais concreto, mas preferiu deixar esses pensamentos de lado para aproveitar um pouco da sua imortalidade.

Durante séculos Gaia tinha vivido apenas como uma sombra em seu próprio mundo, mas agora ela não tinha mais essa vontade.

A filha dos elementos queria viver.

E ao lado de Dimitrius.

Gaia sabia que tinha muito o que construir com o arcanjo para que o relacionamento deles estivesse tão perfeito quanto os dos seus irmãos mais velhos, ainda mais quando ainda existiam manchas negras na alma dele por causa de Diane.

No entanto, assim como ela, Dimitrius já havia mostrado ter superado muito do que ocorreu no passado. Suas barreiras estavam sendo reconstruídas depois de um grande choque e Gaia desejava ajudá-lo com isso.

Ela nunca permitiria que a escuridão tomasse conta da alma do imperador da humanidade e dessa vez a imortal estaria pronta para passar por cima de qualquer um que tentasse destruir a felicidade deles.

Gaia desviou sua atenção da natureza quando ouviu o som de alguém se aproximando dela e não demorou muito para que Dimitrius surgisse diante da sua visão.

— Você já está tentando se enterrar, gatinha?— O anjo perguntou de forma provocativa por causa dela estar tão próxima do chão.— Eu a avisei que não seria fácil viver comigo.—

— Eu não me lembro de ter tido uma escolha, Dimitrius.— Ela disse a verdade. Afinal, se os anciões tivessem lhe dado uma escolha, Gaia jamais teria escolhido estar tão próxima de Dimitrius.

Naquele momento, ela estava feliz por ter sido tão amaldiçoada por seus superiores. Caso contrário, Gaia nunca teria conhecido o verdadeiro coração de Dimitrius.

O arcanjo da humanidade caminhou até que estivesse de joelhos diante da imortal, suas asas ao serem completamente abertas tampou toda a visão dela, mas ela não se importou por isso, pois aquelas penas brancas eram tão lindas quanto a natureza.

— A primeira vez que toquei em suas asas, realmente, não significou nada pra mim,— Gaia falou ao mesmo tempo que acariciava suas plumas tão macias.— Mas ter me casado com você tem significado muitas coisas.— Ela encontrou os olhos escuros do anjo.— Me desculpe por ter as tocado sem ter pensado muito sobre o assunto.—
— Você continua se desculpando muito, Gaia.—

— É algo justo. Eu trarei muitas dores de cabeça para você no futuro.— Ela sorriu e seu sorriso apenas cresceu quando Dimitrius ficou confuso com suas palavras.

Gaia parou de acariciar as penas do arcanjo e procurou pelas mãos dele para que pudesse segurá-las. O anjo permitiu seus movimentos, mas a confusão não desapareceu em nenhum momento dos seus olhos por ela estar agindo de forma um pouco estranha.

A imortal fechou seus olhos e se concentrou em tudo o que havia visto do futuro naquele dia para encontrar um pedaço da sua história com Dimitrius que havia lhe agradado muito. E no momento em que o achou, Gaia enviou as imagens para a mente do anjo que continuava em silêncio em sua frente.

O campo verde era a primeira coisa que podia ser notada na visão, mas logo o barulho de latidos acabavam ganhando mais atenção ao mesmo tempo que grandes lobos surgiam correndo pelo gramado como grandes furacões e tornados. Eles saltavam em cima um do outro em suas brincadeiras e sacudiam seus corpos algumas vezes para tentar se livrar dos laços ao redor dos pescoços, mas acabavam desistindo quando não tinham sucesso.

Horus, Osíris e Anúbis já não eram mais filhotes e provavelmente ficariam do tamanho de Ellylan, ou até mesmo maior, se ficassem em pé nas patas traseiras. Contudo, por mais que a imagem dos pequenos lobos fosse algo realmente agradável de se observar, mais pessoas surgiram naquele campo.

Duas crianças de cabelos brancos e olhos marrons apareceram correndo de mãos dadas, um menino e uma menina que provavelmente eram gêmeos devido as suas semelhanças. Eles corriam atrás dos lobos e riam por causa das brincadeiras dos animais.

— Wylla! Wyll!— Gaia também apareceu e gritou o nome deles enquanto tentava se aproximar das crianças que corriam sem se cansar, mas falhando inutilmente por estar com uma barriga tão grande que poderia estar esperando mais gêmeos.— Me esperem!—

Gaia parou de correr no momento em que ficou sem folego, mas antes que as crianças e os lobos sumissem em meio da floresta que tinha logo em frente, o arcanjo que governava toda a humanidade surgiu do céu e pousou em frente das crianças que apenas pararam depois de se jogarem nos braços abertos de Dimitrius.

Os pequenos lobos deram meia volta e também saltaram em cima do anjo que riu por ter que aguentar tanto peso em seu corpo. E após encontrar os olhos de Gaia, mesmo distante, ele movimentou sua cabeça em um aceno que apenas demonstrava a gratidão.

Gaia fechou sua mente para Dimitrius no momento em que compartilhou até demais sobre o futuro com ele. Era algo proibido, mas ela não pretendia e muito menos conseguiria ficar em silêncio quando algo tão bom aconteceria com eles.

Dimitrius abriu seus olhos e ficou em silêncio ao mesmo tempo que parecia estar em choque por causa da visão.

— Então…?— Gaia o incentivou a falar.
— Wylla e Will.— Ele sussurrou o nome das crianças enquanto vagava em seus pensamentos e sorriu logo em seguida para a imortal.— Eu acredito que teremos que construir um castelo para vivermos com nossas crianças e os pequenos lobos, gatinha.—

— Você não se importa em ter tantos filhos?— Ela perguntou sua maior preocupação, mesmo que tivesse gostado do futuro.

Dimitrius sacudiu sua cabeça negativamente e pareceu encantado com a ideia.

— Qualquer coisa que venha de você sempre será maravilhoso, Gaia.— O anjo falou.— E eu estou pronto para construir esse futuro mesmo que o caminho mude de direção em algum momento.—

Gaia sorriu para o seu arcanjo e pensou que parecia até mesmo tolice ter se considerado como amaldiçoada quando os anciões a obrigaram a se casar com ele. No inicio ela achou que nunca poderia ser feliz ao lado do anjo, mas naquele momento a filha dos elementos compreendia que o futuro era desconhecido até mesmo para ela.

A filha dos elementos apenas desejava que pudesse finalmente viver a vida que sempre sonhou e que Dimitrius estivesse sempre ao seu lado. E se o futuro ou os anciões tentassem interferir em sua felicidade, ela não se esconderia atrás de ninguém e mostraria o motivo de ser considerada como a criatura mais forte que já foi criada entre os imortais.

Agora Gaia tinha motivos para lutar e não desistiria tão facilmente da sua nova família.

Fim.