Gaia abriu seus olhos no momento em que sua mente despertou. Ela se sentia exausta por causa da invasão dos anciões em sua mente, mas ao mesmo tempo também estava confortável.

Diferente das outras vezes em que os seus superiores vieram atrás do futuro, ela não estava acordando em meio da floresta e em um chão frio e duro. A imortal estava em uma cama macia e grande o suficiente para acomodar um anjo.

Sem ter que pensar muito sobre o assunto, ela soube que estava no quarto de Dimitrius e em sua cama.

Gaia se sentou na cama do arcanjo e o procurou até que seus olhos o encontrassem. O anjo que governava toda a humanidade estava em pé perto da sua janela com um dos seus ombros apoiado na parede, observando a escuridão que existia do lado de fora sem ter algo exato para ver.

E no momento em que ele ouviu os movimentos silenciosos de Gaia se mexendo em sua cama, Dimitrius se virou para vê-la.

E quando seus olhos se encontraram, Gaia viu algo diferente.

A filha dos elementos não sabia ao certo o que estava de errado com o anjo, mas pode perceber que Dimitrius estava incomum. Existia algo em seus olhos que a imortal não sabia descrever, mas que estava longe de ser o gelo que sempre existiu em meio daquela escuridão tão bela.

— Me desculpe.— Ela disse no mesmo instante em que invadiu a mente do anjo e viu todo o estrago que fez em sua mansão por causa dos anciões.— Quando os superiores entram em minha mente eu sempre perco o controle dos meus poderes. Eu não queria destruir o seu lar.—

Dimitrius soltou um riso abafado e Gaia não conseguiu compreender o motivo dele.

— Você passou quase dois dias inconsciente e tudo o que pensa em fazer quando acorda é pedir desculpa por algo que não tem culpa?—
— Mas são meus poderes...— Ela murmuriou sem ter muito oque explicar. Afinal, o anjo em sua frente tinha razão no que dizia.
— Você gosta tanto de pedir desculpas, gatinha.— Dimitrius disse e o coração de Gaia acelerou ao ouvir o seu apelido que apenas o anjo usava.— Mas não pede por ajuda quando precisa.—
— Do que você está falando?—

Ela não podia pedir por ajuda quando os anciões entravam em sua mente.

Se nem mesmo a filha dos elementos tinha o que fazer em relação a isso, o que um arcanjo poderia fazer?

— Argent e Nahia.— Dimitrius se aproximou da cama para sustentar o seu olhar.— Nós descobrimos o que eles faziam com você.—

Gaia sentiu a sua garganta se fechar ao ouvir as palavras do arcanjo da humanidade, não podendo acreditar que seu segredo de anos tinha sido revelado.

A imortal tinha tomado tanto cuidado para que a família de arcanjos não descobrisse nada do que Argent fazia para que não a culpassem pela maldade existente na alma dele… E tudo tinha sido em vão. Se Dimitrius ficasse contra ela, assim como aconteceu com o seu parente distante no passado, iria doer mais do que antes.

— Você deveria ter nos contado, Gaia.—
— Ele é da sua família.— Ela sussurrou a única explicação que possuia.

Como Gaia poderia acusar alguém da família dos imperadores?

— Nós aprendemos que não podemos confiar nem mesmo em nossa família, Gaia.— Dimitrius a lembrou.
— Mas eu não era nada além de um estorvo para vocês.—
— Eu costumava pensar assim.— O anjo não negou o que era uma verdade.— Mas agora eu a protegeria de Argent e de qualquer um que tentasse machucá-la.—
— Por quê?—

Dimitrius ficou em silêncio por alguns segundos. Aparentemente, a imortal tinha chegado em um ponto que nem mesmo o anjo sabia respondê-la.

— Você é a minha família, gatinha.— Suas palavras foram ditas em um tom baixo.

Família.

Gaia nunca soube o que era o significado daquela palavra, pois sempre esteve sozinha e por sua própria conta. Contudo, se tudo o que ela sentia por Dimitrius fazia parte dos sentimentos que existia nessa palavra, a imortal estava começando a entender o sentido dela.

Mas…

— Eu não posso ser sua família, Dimitrius.— A imortal disse.— Eu irei embora depois de gerar um herdeiro e você não se opôs sobre isso.—
— Gaia,— O anjo disse de forma obscura e ela sentiu seus pelos se arrepiarem em seu corpo.— Se você tentar fugir, eu irei prendê-la em uma jaula até que seja domesticada.—

A filha dos elementos viu a verdade em cada palavra do arcanjo e não o questionou para provocar o seu humor negro.

Ela não pretendia ser presa em uma jaula.

— O que aconteceu com Argent e Nahia?—
— Eles estão mortos.—
— Você os matou por causa de mim?—
— Sim.— Dimitrius se aproximou ainda mais da cama em que a imortal estava e se sentou diante dela.— Eu matarei todos aqueles que tentarem destruí-la, Gaia.—
— Nunca fizeram isso por mim antes.— Ela sussurrou.

O arcanjo em sua frente levou sua mão até o rosto da imortal e logo o toque gelado em sua bochecha fez com que o coração dela acelerasse.

— Eu farei qualquer coisa para ter você sempre ao meu lado, gatinha.— Dimitrius disse com sinceridade e Gaia acreditou em suas palavras.

E naquele momento, a imortal pode perceber que o algo diferente que existia nos olhos do anjo que ela não conseguiu identificar antes não era apenas um sentimento.

Era o coração do imperador sendo aberto e entregue para ela.