Dimitrius estava no telhado da sua mansão observando o movimento calmo que existia ao seu redor. Seus olhos procuravam por qualquer coisa que o distraísse, mas parecia impossível não pensar em Gaia e em tudo o que ela havia lhe dito em menos de 24 horas.

Ela pretendia deixá-lo?

E com uma criança recém-nascida em mãos só por que sua obrigação acabava a partir do momento em que desse a luz?

O anjo nunca tinha desejado torturar alguém, pois sempre preferiu a morte rápida dos seus inimigos, mas naquela manhã a imortal tinha conseguido tirar a sua paciência a ponto de querer vê-la sofrendo em suas mãos.

O imperador bufou com raiva por não conseguir acreditar em tudo o que tinha ouvido de Gaia.

E dai que ela estava apaixonada por ele?

Isso não deveria ser um problema.

Se Dimitrius fosse uma mulher apaixonado por ele, o anjo estaria feliz por ter se apaixonado por um arcanjo e não um demônio do nível 2 do inferno.

— Você está pensando em se jogar daqui de cima?— A voz zombateira de Gate invadiu os pensamentos de Dimitrius.
— Não é uma má ideia agora que você está aqui para tirar minha paz, meu amigo.— O imperador da humanidade não se virou para receber o seu amigo de tanto tempo, apenas continuou contemplando a paisagem em sua frente até que o tenente de Maximus se aproximou para ficar ao seu lado.
— Há rumores no nível 2 de que estão planejando outra invasão em sua dimensão.— Gate falou.— Dessa vez querem apenas matar o máximo de pessoas que puderem antes de serem mortos pelos arcanjos.—
— Isso não é uma grande novidade.— Dimitrius murmuriou sem animo. Afinal, ele já estava acostumado com essas invasões que causavam apenas mortes e destruição no centro da sua dimensão.

Gate riu e por um momento o arcanjo não pode entender porque o demônio estava rindo.

— Você parece estar tendo problemas com sua nova esposa, imperatore.— Ele se explicou quando Dimitrius o fuzilou com seus olhos.— Maximus fica tão reflexivo quanto você quando briga com Elly.—
— E você se diverte com isso?—
— Bom, é apenas interessante ver como grandes imperadores ficam por causa de suas esposas.—
— Quando você arrumar uma esposa, Gate, eu estarei rindo quando ela chutá-lo para fora da casa de vocês.—

O tenente riu novamente, mas dessa vez não recebeu o olhar mortal de Dimitrius.

— O que Gaia fez?— Ele perguntou.— Ou melhor: O que você fez?—

— Gaia está apaixonada por mim.— O anjo que governava toda a humanidade disse sem rodeios, pois Gate era alguém confiava como seu melhor amigo.

— Eu não estou surpreso por isso, imperatore.— Gate disse.— Gaia sempre foi muito solitária e essas pessoas tem grande tendências para se apaixonarem facilmente.—

Dimitrius suspirou com força, pois queria afastar os pensamentos em que envolvia Gaia o abandonando por simplesmente não ser capaz de retribuir o sentimento.

— Ela quer me deixar depois de gerar um herdeiro.—
— Você irá permitir?—
— Gaia sabe tudo o que irá acontecer no futuro, Gate.— O arcanjo o lembrou.— Eu não posso detê-la se é pelo bem de todos que surgem suas decisões.—

Gate riu e novamente Dimitrius não estava acompanhando o ritmo da piada.

— Você, o grande imperador da humanidade, está com medo do futuro?— O demônio debochou.— Não posso acreditar nisso.—
— Até mesmo arcanjos mudam de opiniões.—
— Não.— Gate discordou.— Você não está mudando de opinião, apenas está se enterrando na tumba que Diane cavou para todos os arcanjos.—

O anjo encarou Gate dessa vez, pois não via necessidade em ter o nome da sua irmã envolvida nisso tudo.

— Não me olhe assim.— O demônio o enfrentou.— Todos nós sabemos que você está tratando de matar todos os bons sentimentos que existe em sua alma para que não volte a sofrer igual ao que passou quando soube da traição.—
— Pare de dizer o que não sabe.—
— Eu também tive irmãs, Dimitrius, e apesar de ter reencontrado Ailee na vida imortal, duas delas existem apenas em minha memória.— O tenente de Maximus o lembrou de forma calma.— Eu sei o que é perder uma irmã. E lhe garanto que agir como se não tivesse sentimentos para exterminar tudo o que é bom não é o melhor para se fazer.—
— Você soa como se tivesse muita experiência no assunto.— Dimitrius falou amargamente.
— Não se esqueça que eu sou um demônio e que mesmo depois de séculos no inferno, minha alma ainda continua manchada por meus pecados.—

O arcanjo da humanidade olhou para Gate com certo respeito, pois era ciente que falar sobre a morte das suas irmãs não era algo que o agradava, muito menos sobre o seu passado tão obscuro.

— Contudo, eu estou curioso sobre algo.—
— O quê?— O anjo perguntou.
— Você teve inúmeras amantes e todas elas acabaram se apaixonando em algum momento e isso nunca foi um problema.— Dimitrius não discordou do seu amigo.— Mas por que só os sentimentos de Gaia o incomodam?—

Naquele momento, o arcanjo da humanidade ficou sem palavras.

De certa forma, Gate tinha razão.

Muitas mulheres haviam se apaixonado por ele no decorrer dos anos, mas isso nunca tinha feito nenhuma diferença para Dimitrius.

— Existem muitas respostas no silêncio de um arcanjo.— Seu amigo de séculos falou e antes que pudesse respondê-lo, o soldado de Maximus saltou do seu telhado em direção do chão com habilidade e graça felina para deixá-lo em paz com seus pensamentos atormentados.

O arcanjo da humanidade suspirou ao ficar sozinho novamente, pois sabia que Gate estava certo.

Por que os sentimentos de Gaia o incomodavam tanto?

E ainda assim, o anjo nem ao menos conseguia imaginar ela gostando de outro que não fosse ele. Apenas o pensamento lhe causava uma agitação em seu interior que apenas queria causar o mal aos demais, especialmente para aquele que Gaia gostava.

Isso…

Isso era amor?

Dimitrius não sabia e tinha muito medo de descobrir a resposta para a pergunta, pois não queria se sentir derrotado por uma mulher novamente.

Diane havia destruído tudo o que existia de bom nele por causa da sua ganância e o imperador não desejava passar por tudo aquilo de novo por causa de Gaia.

Talvez a sua melhor opção fosse deixá-la partir, assim como a mesma desejava.