Deixe ir escrita por Thalia


Capítulo 6
Coelhos e buracos


Notas iniciais do capítulo

Olá, cupcakes! Queria agradecer a todos que vem lendo, acompanhando e comentando minha fic. Vcs são demais sério ^_^ Aproveitem o cap e até as notas finais!



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~ Narrador

Jack sabia o quanto era perigoso, sempre soube. A emboscada que sofreu a beira da montanha tinha sido apenas um lembrete, que ele ignorou quando se encontrou com a jovem rainha novamente. Sabia que era a coisa certa, mesmo que sua desobediência lhe custasse a vida. Esse pequeno detalhe pouco lhe importava se sua aprendiz estivesse preparada para o que viria. Para quem viria. Afinal, de um jeito ou de outro, Jack devia aquela garota. Aquela que tinha se encontrado a tão pouco tempo, mas desejava falar com ela de novo com mais ansiedade do que se atreveria a admitir.

Ele olhou para o lago congelado à sua frente, que assim como no resto da paisagem ao seu redor, ficava melhor coberto de neve e gelo. Tudo ficava, na verdade. Mas tinha outras razões para preferir o lugar desse jeito.

–Eu realmente gostava dos campos de Gharnes verdes. –disse uma voz irritante atrás dele.

Sem nenhuma surpresa, Jack se virou e se deparou com uma bela mulher vestindo um longo vestido verde escuro.

A causa de boa parte dos seus problemas.

–Bom saber, porque o congelei exatamente pensando em sua reação. –respondeu ele, sorrindo.

Ela se aproximou dele, o rosto ainda incrivelmente sério

–Nunca sabe a hora de parar, não é? Meu lugar sagrado...

–Que posso facilmente descongelar se me deixar ver a garota por livre e espontânea vontade. –interrompeu ele.

–Nunca. –seu olhar emanava desprezo. –Já tivemos essa conversa, Jack Frost, e você não vai me chantagear.

–Então aproveite a neve –ele abriu os braços para indicar o lugar ao seu redor.

Ela sorriu, friamente.

–Você é tão ingênuo, Jack... – balançou a cabeça em desaprovação- Já devia saber que não é prudente desafiar um ser como eu.

Seus olhos brilharam em verde, ameaçadores.

–Mas não foi para isso que vim. -ela disse e o brilho verde se apaga.

Jack suspirou, já sabendo o que ela diria a seguir. A mulher lhe lançou um olhar significativo.

–Se tem uma coisa em que concordamos, Jack, é o bem-estar da garota. Por isso, eu ordeno novamente, deixe-a em paz.

Ele deu um sorriso de escárnio.

–Acha mesmo que vou obedecer? Está feito, ela já me conhece.

–Sim... infelizmente. Mas você ainda pode se afastar.

–Posso.... mas não quero. –ele parou, a encarando- Não vê como é importante ela está preparada para o que vai chegar? Não vê isso? Achei que se preocupasse com ela... –acusou.

–Não ouse afirmar que não me preocupo com ela! –exasperou, o semblante respingando ódio- Ela não é do nosso mundo, não merece passar por isso!

–Não, não merece. Mas você sabe que estão atrás dela. Ela tem que se preparar e eu já a estou ajudando nisso.

A dama de verde mudou sua expressão para entendimento. Jack se arrependeu na mesma hora de ter falado aquilo.

–Ah.. –ela começou- Já a está ajudando? Você se encontrou com ela mesmo depois que mandei meu servo atrás de você?

Jack apenas a encarou, esperando seu veredito. Sua expressão era indecifrável.

–Seu desgraçado! Vai acabar a expondo ainda mais... –exasperou- O que fez com meu servo, afinal?

–Pode apostar que ele está bem... congelado em algum lugar. – Ele dá de ombros, irônico.

Ele com certeza não devia ter dito aquilo também. O brilho verde nos olhos da mulher volta mais forte e antes que Jack pudesse fugir, ramos de árvores cresciam do chão e agarravam os pés e os braços de Jack, o fazendo soltar seu cajado. Ele tentou usar sua magia, mas os galhos apertavam cada vez mais seus pulsos. Jack reprimiu um suspiro de dor. Ele estava paralisado, totalmente à mercê daquela mulher...

Um galho cresce preguiçosamente ao lado da dama de verde e esta a arranca dele um enorme espinho. Com um olhar nada agradável, ela se aproximou de Jack e para a centímetros de distância.

–Vá em frente! –falou Jack, sem medo.

A mulher não se moveu, mas seu olhar indicava raiva, muita raiva, misturada a frustração de não poder fazer o que tanto deseja.

Jack riu.

–Como você queria poder, não é? Matar alguém.... vai contra sua natureza.–ele provocou, mantendo o sorriso.

Incitada pelo comentário, a mulher encostou seu espinho no pescoço de Jack. De tal forma, um filete de sangue escorreu de sua pele.

A dama de verde se aproximou ainda mais e sussurrou, perto de seu ouvido.

–Sorte sua, garoto. Há formas piores de te fazer sofrer. –E com isso, ela afastou o espinho e os ramos se afrouxaram do corpo de Jack, o suficiente para que ele se solte.

O garoto rapidamente pegou seu cajado e se preparava para atacar...

–Poupe seus esforços. –ela colocou uma mão sobre a cintura- Você nunca me deteria, sabe disso.

Mesmo assim, Jack continuou em guarda.

–Apenas para que não esqueça... –seu olhar se tornou sombrio- Fique longe da Elsa. Ela não merece mais sofrimento.

Dita as palavras, a bela e perigosa mulher se virou e começou a andar de volta por onde tinha vindo, até que desceu uma encosta e desapareceu.

Jack reprimiu a vontade de acertar uma farpa de gelo em suas costas, isso com certeza não a deteria. Ele suspirou, cansado, mas com uma determinação maior do que antes. A dama de verde não o assustara, pelo contrário, a possibilidade de fazer algo que aquela mulher fosse contra era muito atraente.

***

~Elsa

Tinha sido uma noite longa. Jack me fez tentar várias vezes apagar a fogueira sem precisar da umidade, mas é mais difícil do que parece. Duas horas se passaram naquele treinamento e eu não conseguia. Fiquei tão frustrada que criei uma mini tempestade de neve acima da fogueira e a apaguei de vez. Pacientemente, Jack me olhou com ar de desaprovação e acendeu novamente o fogo. Revirando os olhos, entendi o recado e logo voltei a me concentrar. Por fim, quando pareceu que já tinha durado uma eternidade, consegui apagar a chamas, fazendo surgir o gelo em formas de estaca em seu lugar. Estava me sentindo muito bem comigo mesma até que Jack falou:

–Está indo bem. Só falta fazer isso em um fogo de cinco metros de altura e ficarei satisfeito.

Olho para ele, incrédula.

–Não hoje, é claro. –ele encerra. E assim, terminamos nossa “aula”.

Voltei para o palácio ainda pensando no que ele me dissera. Cento e quarenta anos... é muito tempo. Como alguém podia ter uma idade dessas? Pior, como alguém podia ser imortal? A cada coisa que ele me contava, mesmo que fosse pouca, me dava vontade de saber mais... Estou entrando em um mundo completamente novo e, com alguma surpresa e receio, sinto que sou parte dele.

“Me encontre na feira próxima ao chafariz às 10:00. Vá disfarçada e não deixe ninguém desconfiar”, é o que diz o pequeno pedaço de papel que peguei preso a janela do meu quarto.

Suspiro, confusa.

Por que Jack não vinha até mim, como nas outras vezes? Será que aqueles que o atacaram descobriram que ele se encontrou comigo novamente? Ai estaria a razão para ele querer me encontrar em um lugar público. É provável, apesar de eu não entender porque ele se arriscaria tanto por mim... Seja como for, não penso muito em suas razões. Meu desafio agora é inventar uma desculpa exemplar para sair do palácio àquela hora, já que estou cheia de coisas para fazer aqui dentro, como sempre. Todo mundo acharia estranho, eu quase nunca saio do palácio sozinha...

Sozinha.

Uma ideia me ocorre. Sozinha ia ser estranho, mas acompanhada de alguém de confiança... Alguém que sempre quer que eu me divirta, que eu saia do palácio. Com ela, não iria parecer estranha minha saída. Todo mundo iriaa achar perfeitamente normal. Sim, vai dar certo.

–Você vai ter um encontro? –pergunta uma ansiosa Alissa Farley. Um sorriso malicioso surge em seus lábios.

Isso não vai dar certo, maldita seja minha boca.

–Sim... quer dizer, não! –balanço a cabeça, fazendo gestos com as mãos. Espero que meu rosto não esteja tão corado como acho que está. –Não do jeito que essa sua mente poluída está pensando! –tento me explicar.

–Hmmm, agora sei porque você dispensou o Conde Hugo. –ela dá um risinho abafado.

Arregalo os olhos. Ela está entendo tudo errado. Para que eu fui contar toda verdade? De tudo o que contei, parece que ela só tinha entendido a parte “Jack Frost tem a aparência de alguém da minha idade e quer se encontrar comigo hoje”.

–Alissa! –recrimino- Isso é sério. Você não ouviu o que eu acabei de falar?

–É claro! –ela fala, fingindo estar ofendida- Só estou chamando a atenção de um ponto importante. “Jack Frost”, não é? –ela estreita o olhar. –Hmmm, interessante...

Reviro os olhos, impaciente.

–Eu não acredito nisso. –resmungo.

Ela ri.

–Tudo bem, tudo bem! –ela levanta as mãos, em desistência. –Vou buscar umas roupas de disfarce para nós. –ela se dirigi até a porta de minha sala e se vira para mim- Sabe que não pode guardar esse segredo para sempre, não é? –ela diz, séria.

–Que segredo? –pergunto, com medo do que viria a seguir.

–Bem... –ela dá de ombros- namoros escondidos nunca dão certo por muito tempo.

Arregalo os olhos, furiosa, mas rapidamente Alissa sai, deixando seu riso ecoar atrás da porta.

Acho que ninguém desconfiou de nada. Dissemos a Cecily, James e todos os que encontramos pela frente que iríamos a feira e para podermos fazer compras e um passeio pela cidade em paz, optamos pelos disfarces de criada: vestido simples de linho branco e cinza com um lenço preso à cabeça. Do jeito que a feira é lotada, ninguém iria reparar em mais duas jovens “aldeãs” em meio a tantas outras pessoas.

Fomos a pé, não é tão longe mesmo, e sem guardas. Até que foi divertido andar pela cidade apenas como uma pessoa comum. Pudemos observar melhor tudo a nossa volta. Andamos de cabeça baixa, só para garantir.

Tudo está indo bem, ninguém presta atenção em nós. Aliás, seria quase impossível isso acontecer. Como eu disse, essa feira é lotada. Criada ao redor da praça, cujo o meio se ergue um grande chafariz de pedra, ela é considerada a maior de Arendelle. Pessoas se amontam, esbarrando umas nas outras pelo caminho, vários comerciantes gritam para chamar atenção de clientes, o barulho é ensurdecedor. E o calor.... sem comentários. Vagamos pela feira por uns vinte minutos. Eu não faço a mínima ideia de como Jack iria me encontrar naquela multidão. Pergunto-me porque ele não estabeleceu um lugar fixo.

Alissa me fez parar em uma barraca para observar lindos colares artesanais que uma senhora está vendendo. Falo do perigo, a mulher pode nos reconhecer, mas ela está distraída falando da beleza de um dos colares para uma moça.

Sendo assim, deixo meus olhos vagarem pelas mercadorias.

–Ei. –ouço uma voz murmurar atrás de mim.

VIro-me já sabendo quem vou encontrar. Jack está com um sorriso travesso nos lábios e usa uma capa com capuz que vai até sua cintura, acho que para esconder seu nada comum cabelo branco.

Alissa sente minha movimentação e se vira. Ela deixa exclamar um suspiro de surpresa.

–Uau, você não mencionou o quanto ele era lindo. –ela fala, naturalmente. Jack a olha com interesse, como se perguntasse o que ela estaria fazendo ali.

–Parece que Elsa já lhe falou de mim. –ele diz, sorrindo satisfeito em minha direção.

–Ah, sim! –ela concorda- Ela falou tudo sobre você. Pelo menos o que ela sabe, não é? Ela fala que você é bem misterioso...

Quero morrer naquele momento de vergonha. Tento olhar para qualquer lugar que não fosse para ele, mas sem querer acabo o olhando e ele retribui.

Vejo seu sorriso descarado e penso, com temor, que ele sabe que estou constrangida.

–Alissa, –digo, desviando meu olhar e tentando manter meu equilíbrio na voz- vamos seguir com o plano, tudo bem?

Ela ainda olha de Jack para mim com o semblante divertido, como se tivesse pensando se formaríamos um bom casal, mas assente.

–Esperar você ao lado do Chafariz em duas horas, eu sei. Enquanto isso, vou ficar vagando por essa maravilhosa cidade. –ela fala, fingindo ressentimento, mas logo sorri.

–Meu deus, estou de vela aqui! –exaspera- Não vou mais atrasar, vocês, pombinhos. –ela me dá um beijo na face e sorri para Jack. Depois vejo-a se misturar com a multidão.

Jack arqueia a sobrancelha e eu quero definitivamente desaparecer dali.

–Essa sua amiga é bem... extrovertida. –ele assume, rindo. Como só eu posso estar constrangida enquanto ele parece tão à vontade?

–É... claro. –tentando parecer calma. –Mas não se preocupe, ela é de confiança.

–Não estou preocupado. –ele fala- Então... vamos?

–Por que não foi até o palácio como das outras vezes?–pergunto, sem conseguir me conter.

–Ah.. –ele hesita- digamos que descobriram que ando falando com você. –diz ele, sua expressão repentinamente séria

–Aqueles que o atacaram?

Ele assente com a cabeça.

–A líder deles, sim. Agora, vamos. –ele olha de um lado a outro- Não podemos ficar parados aqui.

O sigo até uma velha casa abandonada ainda próxima a multidão. As pessoas estão muito ocupadas tentando não se esbarrar em outras, então ninguém percebe quando entramos. Jack me faz entrar primeiro e, olhando ao redor para se certificar de que ninguém prestava atenção, entra e escancara a porta atrás de si.

A casa é bem grande e escura. O hall está vazio exceto pela presença de um longo tapete aos farrapos no chão, que por sinal está coberto por uma camada bem grossa de sujeira. As janelas estão no mesmo estado, o sol mal atravessa os vidros sujos. Há uma escada do lado esquerdo que leva aos andares superiores, os degraus de madeira sendo consumido por traças.

–Lugar aconchegante. –ironizo, olhando em volta.

–É difícil encontrar um lugar seguro para se esconder dela. –ele assume- Mas isso vai nos servir.

–Por que está se arriscando tanto, Jack? Se eles estão dispostos a te machucarem para te impedir de me ver... –digo, abaixando a cabeça, lembrando do corte em seu abdômen. Não quero ser um fardo para ninguém. Já fui para os meus pais e essa foi uma péssima experiência.

Ele tira o capuz e se aproxima de mim, rindo.

–A rainha da neve está preocupada comigo?

–O quê? Não é só que... só por curiosidade. –digo, fingindo despreocupação.

Ele suspira.

–Escuta, Elsa... eu prometi a você que ia te contar sobre meu mundo, não foi? Então, estou aqui para cumprir a promessa.

Me surpreendo.

–Você vai me contar? Jura? –Não consigo acreditar. Por que ele se encontraria comigo só para isso?

–Eu prometi, não foi? Ao contrário dos outros, acho que você tem que saber o que está acontecendo...

Jack para, atento.

–O que foi? –pergunto, confusa.

Ele faz um sinal para que eu fique em silêncio e continua a escutar. Seus olhos se arregalam.

–Temos que sair daqui. –diz ele. Antes que eu pudesse pedir explicações, ele agarra meu braço e vai até a porta.

Jack está quase a abrindo até que um pequeno objeto é lançado em sua direção e se crava na porta, ao lado de sua mão. Percebo com certa surpresa que é um boomerang.

–Não tão rápido, garoto irritante. –diz uma voz atrás de nós.

Por uma razão que desconheço, Jack dá um suspiro de alívio e se vira para encarar o dono da voz. Faço o mesmo e não acredito no que meus olhos veem.

O atirador de boomerangs é um enorme coelho cinza e branco. E quando eu digo enorme, bem, digo que é do tamanho de um ser humano e até um pouco maior por casa das longas orelhas. Estranhamente, ele consegue andar com duas patas enquanto as outras estão segurando mais dois boomerangs, um em cada mão. De onde ele tinha vindo eu não tenho a menor ideia.

–Ah... é só você, coelhão. –diz ele, sorrindo.

– “Ah, é só você coelhão”. –repete o estranho ser, em falsete- Tem sorte de ser só eu, Jack Frost. Mas não fique ai feliz, seu estúpido. A Mãe-terra mandou todos atrás de você! Ela te quer morto! E se o North não tivesse me pedido, eu nunca teria vindo atrás de você para... te ajudar. –ele fala a última palavra com desprezo. – Ai, como eu me arrependo...

Jack, pela primeira vez, parece preocupado.

–O quê, por quê? –ele pergunta, surpreso.

–Por que? –o coelho exaspera, incrédulo. Só agora parecendo notar minha presença. –Seu idiota, é claro que ela descobriu que você se encontrou com a mortal pela TERCEIRA vez. –ele aponta para mim.

–Isso é impossível, como ela saberia? Tomei todas as precauções possíveis. Ela não tinha como saber!

O coelho revira os olhos.

–Poupe-me de suas desculpas, seu tolo. Afinal, por que não obedeceu a Mãe-terra, hein?

–Não é da sua conta, canguru!

–Sabe que eu detesto quando me chama assim. –o coelho diz, ameaçador.

–É exatamente por isso que eu chamo, canguru. –provoca.

O coelho se enche de raiva e está pronto para bater em Jack com um dos boomerangs quando eu interrompo.

–Vocês querem parar e me contar o que está acontecendo? –falo, autoritária. –Se tem gente atrás do Jack, não seria mais prudente irmos embora daqui, em vez de ficarem discutindo?

Os dois se encaram, com puro ódio, mas o coelho suspira, contrariado e abaixa a mão com o boomerang.

Jack olha para mim.

–Elsa, você não contou a mais ninguém do palácio aonde ia de verdade, contou?

–Não! Só para Alissa. –respondo, achando a pergunta ridícula.

–Pode garantir que ela não contou nada? –ele insisti.

–Eu já disse, ela é de confiança.... –digo, imaginando aonde ele quer chegar.

Uma ideia me vem à mente.

–Afinal, por que você desconfia do meu lado? Acha que alguém do meu palácio diria a essa tal “Mãe-terra” com quem eu fui me encontrar? Isso é ridículo!

Jack hesita.

–Bem... Elsa, sobre isso...

–Mais respeito com a Mãe natureza, mocinha. Mas você está certa em uma coisa: temos que sair daqui! Não vai demorar até que...

A porta se abre com um estrondo e três homens, se é que podemos chamar assim, a atravessam. Eles têm uma pele um tanto esverdeada e são altos. Os dedos de suas mãos lembram raízes de árvores e seus olhos são totalmente verdes. E onde devia estar a boca... bem há só um traço, como se estivesse costurada.

São assustadores.

Eles começam a andar até nós. Bem rápidos para seres que parecem zumbis. Jack, imediatamente, forma uma parede de gelo entre nós e nossos estranhos visitantes. Ele olha para o coelho, como se estivesse esperando algo.

–Retiraaaada! –grita o coelho. Ele bate no chão com o pé direito umas três vezes até que um buraco de um metro de diâmetro surge no chão.

Agora eu sei como ele tinha entrado na casa.

Estupefata, recuo para não cair no buraco, com um leve pressentimento que é isso o que tínhamos que fazer.

–Rápido! –grita Jack. O muro de gelo começa a ser coberto de raízes de plantas, que o apertam. Daqui a alguns segundos, ele se estilhaçaria.

O coelho acena para que eu entre no buraco. Hesito o bastante para que Jack simplesmente me pegue pela cintura, de novo, e me puxe para aquela escuridão.

Dessa vez, não hesito em gritar. Estou atravessando um longo túnel de terra, Jack ainda agarrado a mim, enquanto deslizávamos juntos sabe lá para onde.

Se não fosse por Jack, o baque teria sido bem maior. Saímos do túnel de encontro a um chão de madeira. Ele me segura fortemente para que eu não me estatelasse no chão. O coelho vem deslizando atrás de nós e antes que colidíssemos contra ele, Jack me puxa para o lado.

–Isso foi... –começo, arfando. Não sei o que dizer. Assustador? Incrível? Estou na dúvida.

Jack se levanta e me estende a mão, que aceito. Me levanto e olho para o meu vestido coberto de terra e folhas. Minha aparência não deve estar muito melhor

–Ah, até que enfim! –ouço uma voz grossa vim da minha direção. Levanto a cabeça e vejo um homem enorme, vestido com um camisa vermelha e uma barba branca muito longa. Ele nos olha com pura satisfação.

–North! –fala o coelho, indo na direção do velho homem- Por favor, repense. Vamos mandar logo esse idiota para a Mãe-terra e estaremos livres de problemas, hein?

Vejo Jack revirar os olhos ao meu lado.

–E o que faríamos com a garota, hein? -O velho homem fala, entretido.

O coelho olha para mim, pensativo.

–Bem... podíamos... mandá-la de volta para o seu reino.

–Não cabe a você, canguru. A garota está comigo. –Jack fala.

–Ora, seu mal-agradecido... –o coelho parte na direção de Jack, mas North o detém.

–Não vamos discutir por isso, pelo amor de Deus! –ele fala, irritado. Esse homem assusta...

O coelho cruza os braços, mas não avança. Jack continua ao meu lado, a expressão indecifrável.

–Escuta, North... odeio dizer isso, mas... –começa Jack.

–Garoto, -North interrompe- espero que saiba que está em uma confusão e tanto.

Jack assente.

–Sei dos riscos, mas acho que pelo menos você compreende. –Jack se aproxima dele.

North suspira, cansado.

–Infelizmente... compreendo. Não poso concordar com a Mãe-terra quanto a esse problema –Pela primeira vez, dirige seu olhar a mim, com pesar.

–Seu nome é Elsa, não é, criança? –ele pergunta, o tom de voz dez vezes mais gentil.

–Sim. –respondo, hesitante. Como ele saberia meu nome?

Olho ao redor e percebo o quão estranho é o lugar em que eu me encontro. Há diversos brinquedos espalhados pela sala, uma escrivaninha com uma grande poltrona vermelha a minha frente e um agradável cheiro de panetone. Enquanto olho, um pequeno ser entra no cômodo, chamando a atenção de todos. Arregalo os olhos. Só pode ser um duende, pelo menos acho, por causa das pontudas orelhas e o meio metro de comprimento. O duende deixa uma pilha de biscoitos recém saídos do forno na escrivaninha e fica me encarando com interesse. Acho isso desconfortável, mas o duende continua encarando.

–Ah, deixe a garota, duende curioso! Vá embora, vá! - North acena com as mãos.

Relutantemente, o duende sai da sala.

–Então... –olho para Jack e para os outros- Algum de vocês vai contar o que está acontecendo, ou não?

–Sim, criança. Está na hora de você saber de tudo. –fala North, a voz mais uma vez gentil.

Ou não. –fala o coelho, irritado.

Olho para Jack, esperando sua resposta.

Ele assente.

–Eu prometi, não foi? – dá um sorriso fraco, que retribuo.

–Excelente! –comemora North- Vamos começar com as apresentações.


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Notas finais do capítulo

Ok, sei que prometi colocar algumas "respostas" nesse cap. mas simplesmente... NÃO DEU. o cap foi se desenrolando e acabou n dando.rsrsrs Mas coloquei muita coisa nesse, e a conversa do início do cap? uehehehe agora posso afimar q no próx vcs estarão mais esclarecidos. Juro q não foi só pra deixar na curiosidade (tá um pouco) mas a principal razão é que n teve espaço :( Enfim... não deixem de comentar, ok? Bjs.



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