Deixe ir escrita por Thalia


Capítulo 11
O beijo


Notas iniciais do capítulo

OK, EU REALMENTE ME EMPOLGUEI COM ESSE CAPITULO, ESTOU MUITO NERVOSA, MEU DEUS, ESTÁ ENORMEEEEEE! Certo, parei. Acho que eu não sou muito bom em cumprir prazos, não é? rsrsrs Desculpem novamente, é que minha família inventou de viajar e naquele fim de mundo N TEM NET, ou seja.... não deu. Me perdoem, mas a recompensa u.u.u é um cap. enorme, 4000 palavras o/ (na vdd isso n foi proposital eu acabei me empolgando kkkk ai deu isso) O q eu posso resumir desse cap.: esperem Jelsa, mas NÃO esperem tanto Jelsa hahaha.
(Acho q vcs vão querer me matar quando ver o final, mas ok) Enfim, boa leitura!!!



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–Vamos, Elsa. –Jack está ajoelhado ao meu lado, mas meu olhar não se desvia do corpo à minha frente. Ele põe a mão delicadamente em meu ombro.

–Elsa, nós temos que ir. –ele insisti, mas não consigo desviar o olhar. Estou com vergonha de mim mesma, do que fiz. De repente, estou vendo minha irmã ali, de olhos fechados e pele azulada, morta. Fecho os olhos para espantar a ilusão e enxugo as lágrimas rapidamente com a manga do vestido.

–Eu prometi que não choraria na frente de ninguém, eu... –falo, a voz trêmula, mas não consigo continuar.

–Ei... –ele sussurra, me ajudando a enxugar as lágrimas- Não há problema algum, rainha da neve. Ei, olhe para mim.

Ele levanta meu queixo e me permito encarar seus olhos da cor da noite. Por um breve momento, minha culpa se extingui. Poderia passar o dia todo admirando aquele olhar tão lindo, tão... preocupado.

–O fato de você deixar essas lágrimas caírem só prova sua humanidade. -ele balança a cabeça- Eu não esperaria outra coisa de você... A culpa que você sente é natural, mas é desnecessária, Elsa.

–Como pode dizer isso? –recrimino- Eu assassinei uma criança! Não... –engulo em seco, tomando coragem para continuar- Não foi a primeira vez que o fiz. Dezoito pessoas morreram com o Inverno que provoquei. –assumo, as palavras saindo em disparada. Abaixo a cabeça, o remorso me consumindo.

–Eu sei. –ele diz.

Levanto a cabeça, sem me surpreender. Afinal, todos do reino souberam.

–Então como ainda consegue me defender? Como consegue olhar para mim e não enxergar uma assassina... –paro, absorvendo o impacto daquela última palavra.

Ele me olha por uns segundos antes de responder.

–Não enxergo você assim simplesmente porque você não é, Elsa. –ele diz, como se isso fosse óbvio- Você não teve culpa em nenhuma das mortes.

Balanço a cabeça rapidamente em protesto, mas Jack continua.

–Você não teve culpa, porque... –ele suspira- Porque sua intenção nunca foi essa. No dia da coroação, você apenas liberou a enorme carga de magia que estava presa. Aquilo precisava ser feito, não entende? Você precisava deixá-la ir, antes que ela lhe consumisse... –ele olha para baixo- Não devia ter deixado você suportar todos aqueles anos sozinha, eu... não devia. –sua expressão é quase desesperada- Eu sempre estive lá, mas era como se não estivesse. Vê-la sofrendo daquele jeito me matava aos poucos. Era quase insuportável, mas eu não sabia o que fazer.

Olho para ele, estupefata. O que eu deveria dizer? Jack, vendo minha hesitação, muda de assunto, agora mais calmo.

–Ele não era mais uma criança. –Jack olha para o menino, cheio de compaixão- Tudo graças a Imogen

–Como assim? –pergunto, metade concentrada nisso e a outra pensando no que ele dissera antes: “Eu sempre estive lá, mas era como se não estivesse. Vê-la sofrendo daquele jeito me matava aos poucos. Era quase insuportável, mas eu não sabia o que fazer.” Por que tenho a impressão de que isso significa alguma coisa? Algo nas entrelinhas... Eu não arriscaria ter esperança quanto à uma possibilidade que surge em minha mente.

–Imogen precisa de servos extremamente fiéis. Muitos a seguem por opção, mas esses não são confiáveis. Servos como o Patrick são tirados de suas casas, escolhidos por ela. Segue-se um ritual onde os escolhidos têm a alma queimada pela senhora dos vulcões.

–Como se queima uma alma? –pergunto, horrorizada, olhando para a pobre criança que jaze morta à minha frente.

–É.... bem doloroso, alguns nem sobrevivem. Não me peça para descrever. –ele fala, sua expressão tomada por um assombro.

Concordo com a cabeça. Também não tenho certeza se quero saber.

–Então se a pessoa perde a alma, ela perde... a humanidade.

Ele confirma.

–Não se lembra de sua vida de antes, ganha alguns dons sobrenaturais e é praticamente obcecada por defender sua nova senhora.

Um sentimento de raiva me arrebata. Como alguém consegue ser tão cruel, a ponto de fazer isso com uma criança? Lembro da estranha sensação que senti quando toquei no braço do homem em Dhever... Então era por isso? Ele não possuía alma? Estou quase perguntando isso a Jack, quando ele se levanta, recolocando o capuz sobre a cabeça.

–É melhor irmos agora.

–Mas... –aponto para o garoto morto- Não podemos deixá-lo.

–Temos que deixar –ele diz, pesaroso.

–O corpo de uma criança aqui? Como se fosse lixo? –balanço negativamente a cabeça- Não posso fazer isso Jack.

Olho tristemente para o corpo do garoto e toco em sua testa fria.

“Ele tinha uma vida toda pela frente, uma vida toda...” Tento com todas as minhas forças culpar Imogen, afinal ela o destruíra, roubara sua infância. Até que consigo, mas uma parte da culpa sempre permanecerá comigo, me lembrando cruelmente que fora eu que dera o fim ao que sobrara da sua vida. Mesmo que ele já estivesse condenado, eu não gostaria de ter dado o golpe final.

–Se afaste. –Jack pede calmamente. Olho-o atônita, mas ele apenas me lança um olhar como quem diz “confie em mim”.

Assinto com a cabeça relutante, me levantado e me afastando alguns metros de Patrick. Jack se aproxima dele e põe o cajado ao lado do corpo. Ele começa a entoar um cântico cuja língua eu não compreendo. Logo depois, a visão daquilo é ao mesmo tempo linda e assustadora: o corpo do garoto é transformado, a partir do peito direito, em uma estátua de gelo. Ela brilha cada vez mais a medida que Jack entoa a canção e, de repente, a estátua se quebra em milhares de pedaços. Cubro os olhos com as mãos, mas não há necessidade. As farpas de gelo simplesmente flutuam pelo ar e sobem em direção ao céu, misturando-se ao ar e se tornando indistinguíveis com a distância.

Olho para o lugar onde antes estivera o corpo de Patrick por longos segundos, tentando processar a magnitude do que acabar de acontecer.

–Seu corpo já foi maltratado demais, sua alma foi destruída. –Jack fala, seus olhos estão fechados. Sentindo a importância daquilo, fecho os meus também e absorvo suas palavras- Permita-me agora prestar-lhe uma homenagem: Seu corpo não será entregue aos vermes. Não, ele terá outra serventia à natureza. Que sua consciência possa se recompor e que seu espírito seja purificado. Que Patrick, mais uma vítima da Senhora dos Vulcões, possa ser lembrado por sua inocência e seus feitos cruéis, perdoados. Que ele possa descansar em paz, apesar de toda a brutalidade a qual sua existência foi submetida.

Lentamente, abro os olhos. Eles estão marejados de lágrimas. Jack passa um momento olhando para cima, mas logo depois se vira e vai até mim, sereno.

–Ele estará melhor agora. –ele fala, com a cabeça baixa.

–Foi... foi lindo, Jack. –digo, emocionada.

Ele dá um pequeno sorriso e, sem mais nenhuma palavra de ambas as partes, começamos a caminhar em direção a única saída da rua. Permanecemos em silêncio enquanto entramos na rua de antes, o barulho familiar dos vendedores, dos animais e dos aldeões volta à minha audição.

–Como consegui? –pergunto, após alguns minutos terem se passado.

–Conseguiu o quê? –ele fala, confuso.

–Usar o mesmo feitiço que você. Congelei o corpo do menino por dentro sem tomar consciência disso, como é possível? –esclareço.

Jack para ao meu lado. Faço o mesmo.

–Você devia estar com alguma emoção à flor da pele naquela hora, estou certo?

–Eu... –paro, me lembrando- Sim, estava com raiva.

Ele assente com a cabeça.

–Às vezes, nossos poderes agem por nós em consequência do nosso estado alterado. No seu caso, a raiva estava tomando conta de você. É normal. Com o tempo, você vai aprender a ter mais autocontrole sobre sua magia.

Suspiro pesadamente. Pensar que ainda não controlo meus poderes totalmente e que isso custou mais de uma vida só me deixa com mais raiva de mim mesma.

–Elsa, não pensa mais nisso, está bem? –Jack fala, como se estivesse lendo meus pensamentos. Não adianta muita coisa e ele parece perceber.

–Sei de um lugar onde podemos obter pistas do paradeiro da sua irmã, ou pelo menos de quem a levou, o que já nos ajuda muito.

Arregalo os olhos, um pouco mais animada.

–Onde? –pergunto. Ele apenas dá um sorriso, mas assim que recomeçamos a andar, lembro subitamente de Hans e de algo que ele me alertara...

–Eu já volto. –digo a Jack.

Ele não fala nada enquanto eu entro correndo na rua deserta. Procuro avidamente pelo chão, um pouco desnorteada pois não sei o que procurar. Felizmente, perto de onde vira Hans pela última vez, encontro algo que com certeza não deveria estar ali.

“Você ainda vai querer voltar atrás, Elsa. E quando voltar, me chame por isso, e saberei que você se rendeu.”, foram suas últimas palavras antes dele desaparecer.

Pego o estranho objeto do chão e o analiso atentamente. É um colar. Uma delicada corrente dourada, cujo pingente é um pequeno triângulo da mesma cor com outro triângulo menor e vermelho dentro. Parece inofensivo, mas se tratando de Hans... Eu sei que a atitude mais prudente seria jogar fora, mas e se as coisas não dessem certo? E se me entregar à Imogen acabasse se tornando minha única opção? Eu espero e tenho quase certeza de que conseguirei salvar minha família com ajuda de Jack, mas preciso ter em mãos todas as possibilidades. Rapidamente, puxo a manga do vestido para cima e enrolo a corrente no meu pulso direito. Abaixo o tecido para cobrir a minha nova “pulseira” e volto ao encontro de Jack.

Ele está observando o movimento da rua, quase distraído. Faço uma pergunta silenciosa se ele não teria me seguido e visto o que eu estava fazendo. Decido arriscar.

–Por que voltou? –ele pergunta, desconfiado.

–Eu... lembrei que tinha deixado cair. –minto, mostrando o brinco em minhas mãos que eu tinha tirado às pressas no caminho. Não quero contar a verdade ao Jack porque já sei o que ele vai falar. Com certeza me criticaria e ia querer se livrar da corrente. Me sinto culpada. Será que estou agindo como uma criança? O ideal seria jogar isso fora, mas minha teimosia não permite.

Ele me lança um olhar significativo, mas não fala nada. Com um aceno de cabeça indicando a direção que deveríamos tomar, Jack recomeça a andar pela calçada. O sigo com um suspiro de alívio, feliz por ele não me fazer mais perguntas.

Andamos por alguns quarteirões e o calor aumenta com o passar da manhã. Sorayan é bem mais quente que Arendelle no verão. Diferentemente do meu reino, não é cercada por montanhas congeladas, e sim pelo mar e florestas tropicais. É sufocante.

As pessoas passam por nós com ar de riso e a própria atmosfera do lugar parece alegre. Penso se haveria alguma comemoração mais tarde... Três jovens garotas estão conversando ao lado de uma padaria, todas com as mãos cheias de sacolas de feira e assim que Jack passa por elas, é bem perceptível o olhar sonhador e cobiçoso que elas o distribuem. Sinto um leve desconforto quando noto isso e meu desejo imediato é simplesmente chegar mais perto de Jack e.... fazer o quê? Ele não é nada meu, então por que estou tão incomodada que o olhem dessa maneira?

Jack nem sequer olha para elas, o que me deixa um pouco mais feliz. Mais uma vez, me recrimino mentalmente. Os minutos passam e andamos em silêncio, o que me dá tempo para pôr as ideias em ordem. Meu pensamento vaga por esse estranho incidente, o ritual que presenciara mais cedo e até as minhas sombrias hipóteses sobre o inevitável encontro com a senhora dos vulcões.

–Chegamos. –ele anuncia depois de dez minutos de caminhada.

Paro, interrompida de meu devaneio e olho para o que me espera adiante.

Na placa da estalagem está escrita “Enseada do Johah”, com um peixe saltitante pintado ao lado. O nome e o desenho são justificáveis pois estamos perto litoral, próximos ao um dos portos de Sorayan. Imagino que muitos marinheiros cansados de viagem devam ir ao estabelecimento buscar abrigo e comida por algumas noites.

Jack empurra a porta dupla de madeira e entra no lugar. Vou logo em seguida. O cheiro familiar do mar junto com o desagradável odor de suor humano entra em minhas narinas. Com certeza, muitos marinheiros frequentam o local. O pequeno bar está cheio de homens castigados pelo sol, com chapéus típicos da profissão. As mesas estão lotadas e muitos estão esparramados pelo chão, com uma caneca de cerveja na mão e cantando canções típicas de homens do mar. A maioria parece bêbada, apesar de ainda ser de manhã. O calor começa a ficar insuportável e tento ficar o mais próximo possível de Jack, enquanto ele anda até o balcão. Muitos dirigem olhares curiosos a nós.

–Bom dia! –saúda Jack animadamente para o robusto homem que está limpando a superfície do balcão.

O Homem, que deve ser “Johah”, o olha desconfiado. Ele é alto, gordo e com uma barba negra espessa. Um sujo avental cobre sua roupa e seu longo cabelo negro é cheio de trancinhas com enfeites coloridos. Um visual estranho e que não pude deixar de encarar.

–O que quer? –o homem pergunta, ríspido.

Jack suspira, ainda com uma animação exagerada.

–Está um ótimo dia, não? O mar está calmo, não há ondas. Sabe o que eu acho que falta? Uma tempestade. –ele fala. Olho-o, confusa por causa da frase sem sentido, mas logo o motivo fica claro.

Johah o encara com alguma surpresa, tira alguma coisa do bolso do avental e se limita a dizer:

–Por ali. – ele entrega uma chave prata a Jack e aponta para uma discreta porta a direita que existe aos fundos da estalagem, embaixo de uma escada velha.

–Obrigado. –Jack fala, satisfeito. Johah o responde com um resmungo, mas Jack não está mais lá para ouvir. Ele vai em direção à porta e eu o sigo.

Jack põe a chave sobre a fechadura da porta enegrecida e antes de virar a chave, fala para mim em voz baixa:

–Todo reino possui um lugar como esse. –Jack olha em volta- São portais que levam a um só local, onde os marinheiros de nosso mundo podem... hã... descansar depois de um período árduo de trabalho.

Assinto com a cabeça, sem saber o que pensar sobre isso.

–Eu só te peço uma coisa, Elsa. –ele diz, sério.

–O quê? –pergunto, quase distraída. Estou ansiosa para ver o que veria atrás daquela porta, e como isso poderia me ajudar a achar minha família.

–Não use, em hipótese alguma, seus poderes, entendeu? –ele alerta.

–Mas... por quê? –pergunto, confusa.

–Eles podem simplesmente não perder a oportunidade se descobrirem que você é a procurada de Imogen.

Estou a ponto de pedir mais esclarecimentos até que Jack abre a porta. Não há nada dentro a não ser a escuridão. Jack me lança um olhar e entra. Receosa, vou em seguida.

Imediatamente, sinto meu corpo sofrer uma compressão violenta, mas, estranhamente, não há dor. Não vejo, não ouço nada. Não há chão sobre meus pés, mas não sinto como se estivesse caindo, e sim em uma espécie de vazio constante e perturbador.

A experiência foi tão rápida como veio e logo meus pés estão pisando em algo liso e duro. Começo a ouvir um estridente barulho de música, gritos e me sinto desnorteada, sem saber sua origem. Sinto novamente o cheiro de maresia e suor, só que agora mais forte. Minhas pernas estão um pouco bambas e se não fosse por Jack segurando minha cintura, eu desabaria.

–As primeiras vezes sempre deixam a pessoa um pouco desorientada. –ele sussurra em meu ouvido.

Viro a cabeça para a esquerda, em direção a sua voz e lembro que meus olhos ainda estão fechados. Abro-os lentamente. Estamos ainda em um lugar pequeno e fechado. A única claridade vem das frestas da única porta do aposento. É de lá que provém o barulho e o cheiro. Mas isso eu percebo depois, porque meu olhar recai sobre os olhos azuis tão familiares me encarando profundamente. Suas mãos ainda estão sobre a minha cintura e ele não parece ter pressa para tirá-las. Pelo contrário, sinto sua mão se mover lentamente pelas minhas costas até alcançar minha nuca. O observo atentamente, sem me mover. Não quero que ele pare. Jack, vendo que não protestei, dá seu costumeiro sorriso torto. Como não tinha percebido o efeito sedutor que aquele sorriso causa em mim? Seus dedos percorrem meus cabelos e torço para que ele não perceba que estremeci com o toque. Seu olhar gélido vai de meus cabelos, aos meus olhos e finalmente, minha boca. Ele a olha sem nenhuma cerimônia e percebo seu desejo, ao mesmo tempo em que percebo o meu desejo. Sua mão segura meu pescoço delicadamente e o vejo se aproximando. Mas quando nossos lábios estão a centímetros de distância, ele para. Sim, para minha enorme decepção e incredulidade, ele para e abaixa a cabeça.

–O que estou fazendo? –ele sussurra, e percebo que se dirigi a si mesmo. Ele levanta a cabeça e se afasta de mim, se recuperando do que acabara de acontecer. Aliás... o que acabara de acontecer?

Engulo em seco, assustada e surpresa ao mesmo tempo. Ele ia me beijar, eu ia deixar, eu queria que ele me beijasse... O que está acontecendo comigo? Parece bem óbvio, óbvio demais. A possibilidade de eu estar apaixonada por aquele garoto está me matando. Será que é isso mesmo? Ou foi apenas uma atração passageira, já que estávamos tão perto? Eu poderia ter passado horas remoendo isso, até que Jack interrompe meus pensamentos.

–Vamos... seguir em frente. –ele fala, a voz um pouco trêmula.

Jack novamente toma a dianteira e abre a porta. O cheiro forte de bebida e a claridade me atingem em cheio. O lugar parece um enorme salão de festas maltratado: o papel de parede azul marinho está descascando, o chão de cerâmica que deveria ser amarelo queimado está imundo, o teto alto contém redes e conchas coloridas penduradas e há bolas de vidro vermelhas e roxas com velas em seu interior, conferindo ao lugar luzes de mesmas cores. E quanto as pessoas... devo dizer que o ambiente parece um retrato fiel de um bordel. Há mulheres com um aspecto jovem e malicioso que vestem roupas coloridas e sensuais e dançam ao som de uma música animada em um pequeno palco na minha extrema frente. Outras desfilam entre as dezenas mesas espalhadas pelo local, lotada de homens barbudos, bronzeados e bêbados. Mas as semelhanças param por aí. Em diversos cantos do salão, “criaturas” (por falta de nome melhor) estão paradas observando o movimento, como se fossem guardas. Eles têm forma humanoide, mas medem no mínimo dois metros de altura. A palidez da pele é evidente de longe e ela possui um aspecto gosmento e úmido. Diversas marcas enegrecidas que eu não poso definir a origem permeiam seus braços musculosos. O rosto é marcado por diversas cicatrizes e eles tem uma boca cheia de dentes finos e pontiagudos Seus cabelos louros são ralos e preenchem apenas algumas partes da cabeça. Apesar da sinistra aparência, ninguém parece se importar muito com eles.

–Quem daqui pode nos ajudar, Jack? –pergunto, descrente.

–Logo você vai saber. –ele diz, seus olhos fixos na criatura mais próxima a nós. Ela retribui o olhar com evidente ódio estampado no rosto. Jack levanta a mão que carrega o cajado em direção à ela e como se fosse uma deixa, o monstro começa a vim até nós, os dentes à mostra em um rosnado. Os outros “guardas” observam a cena, atentos.

–Elsa, lembre-se do que eu lhe falei sobre não usar seus poderes. O que vai acontecer aqui não vai ser bonito e eu preciso que você se afaste. –ele avisa, olhando para mim.

–O quê? Você não vai... –olho para a criatura se aproximando- lutar com essa coisa, vai? –deduzo, assustada.

–É uma tradição. Se eu não o vencer, não poderemos falar com a única que pode nos dar respostas. Agora se afaste. -Ele me lança um olhar determinado e sua cabeça se vira rapidamente para frente, onde o mostro sedento de sangue avança em sua direção.

Relutante, me afasto. Percebo que as pessoas começam a prestar atenção em nós e se arrumam eufóricas em um círculo em volta de Jack e do monstro, como se vissem isso acontecer todos os dias.

–Krarian, Krarian! –grita um grupo de homens a um lado. Outros simplesmente esperam ansiosos o começo da luta. Enquanto isso, Jack observa impassível o seu oponente, o cajado firmemente preso em sua mão. A criatura que deduzo ser “Krarian” parece que mal pode esperar para cravar os dentes em Jack, soltando rosnados grotescos e impacientes.

Eu não deveria estar com medo. Não seria uma luta até a morte, seria? Krarian é ameaçador e parece muito forte, mas Jack poderia rapidamente acabar com ele, congelando-o. Pelo menos era o que eu achava.

Não ouvi nenhum sinal ou ninguém anunciando o começo da luta, então posso dizer que ela começou assim que Krarian avançou para cima de Jack com todos os dentes à mostra. Jack rapidamente desvia e usa seu cajado para dar uma rasteira no monstro, que cai logo em seguida. As pessoas soltam um arquejo de surpresa e eu consigo dar um sorriso aliviado. Parece que Jack não tem permissão de congelar, mas sabe usar muitos bem seus outros truques. O monstro, atônito, se levanta desajeitado e parte novamente para cima de seu oponente. Jack usa o mesmo artifício de antes e Krarian passa direto. Jack levanta seu cajado e dessa vez mira o rosto da criatura, que percebe o movimento um segundo antes e segura o pedaço de madeira, puxando-o para trás. Com tamanha força, Jack vai junto, mas não solta o cajado. Engulo em seco, nervosa. O monstro continua agarrando o cajado e Jack continua o puxando de volta. Até que meu amigo faz um movimento inesperado: ele solta o cajado e o monstro é levado para trás, cambaleando. Com um grito desumano de raiva, Krairan joga o cajado de madeira no chão e corre até Jack. Este está preparado: Assim que a criatura avança, Jack vai também até ele e antes que o adversário pudesse atacar, dá um pulo, se impulsionando na barriga de krairan para ficar em cima dele, fazendo os dois se embolarem no chão. Krarian se contorce para tentar tirar Jack de cima dele, mas é inútil. Da mão direita de Jack, surge uma afiada e curta estaca de gelo e meu coração para. Ele vai mesmo matá-lo. O público eufórico parece ter pressentido o mesmo e começa a ficar agitado.

–Krarian não pode perder! Apostei muito dinheiro nele! –ouço uma voz desesperada gritar.

A partir daí, tudo acontece muito rápido: Jack, por algum motivo, não consegue manter o monstro preso por tempo suficiente para cravar a estaca e meu amigo acaba sendo jogado para trás. Confuso, ele está prestes a se levantar, mas é tarde demais: Krarian vem enfurecido em sua direção e morde Jack no braço esquerdo, fazendo meu amigo soltar um arquejo de dor. Jack o afasta violentamente, fazendo o monstro rasgar mais sua carne. Vejo o sangue fluir rapidamente. Jack, além de arquejar, parece desorientado, como se... a mordida contivesse veneno. Desesperada com essa hipótese, faço o que ele tanto me alertou para não fazer. Assim que o mostro se prepara para mais uma investida que com certeza marcaria a morte de Jack, me afasto dos homens eufóricos e lanço minha magia contra Krarian. A criatura se transforma rapidamente em uma estátua sinistra pronta para dar o golpe final, mas interrompida por mim.

O silêncio paira no ambiente. Os homens olham atônitos de mim para a estátua e logo recebo olhares de raiva e surpresa.

–Elsa, o que você fez?! –Jack exclama, agonizando no chão. Corro até ele e me ajoelho ao seu lado. Minhas mãos tremem e minha cabeça está a mil.

–O que foi preciso. -respondo nervosa, meu olhar fixo à horrível ferida em seu braço. Há um líquido esbranquiçado no meio do sangue.

–Você não devia ter.. –ele começa, mas sua voz está fraca. O líquido com certeza é veneno.

–Calma, calma. Vai ficar tudo bem. –tranquilizo, embora nem eu mesmo acreditasse nisso. Olho para as homens e mulheres à minha volta, desesperada- Algum de vocês, me ajude! –peço, mas eles continuam me olhando como se eu fosse algo de outro mundo.

Estou quase me revoltando, quando uma voz feminina atravessa o silêncio angustiante.

–Meu dia não poderia estar melhor. –ela fala alegremente.

Olho em direção a voz e reparo em uma mulher dentro do círculo que com certeza não estava ali antes. Ela é muito bonita com seus cabelos negros e compridos e pele morena. Seu vestido simples é da cor do mar em noites de tempestades e ela usa inúmeros colares de conta.

–Você pode ajudá-lo? –pergunto, ansiosa. Um fiozinho de esperança nascendo de dentro de mim.

A mulher apenas se aproxima com um sorriso no rosto e se ajoelha no chão ao meu lado.

–Afaste-se e poderei curá-lo. –ela me diz, severa.

A última coisa que eu quero fazer nesse momento é me afastar de Jack, mas sinto que aquela misteriosa mulher poderia cumprir sua palavra. Hesitante, deixo-a com ele.

–Jack Frost. –ela diz, a voz doce e o ajuda a se levantar. –Meu Jack Frost.

–Anfitria. –Jack consegue sussurrar.

E para meu espanto e incredulidade, a mulher beija Jack avidamente. O pior nem foi isso e sim, ver Jack retribuir o beijo.


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Notas finais do capítulo

Ahhh, por favor n me matem!!! kkkkkkk E ai, o que acharam? u.u.u Pq o beijo jelsa n aconteceu??? Bem... digamos que ele está bem próximo hahaha. E Anfitria? Já vi q vcs vão odiá-la. rsrsrsrs (eu tb) Eu realmente amei escrever esse cap. e estou LOUCA para saber a opinião de vcs. Comentem, galera! Bjssss e até o próx... (tá dessa vez, se não for no fim de semana sera na segunda ou treça, rsrsrsrs)



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