Deixe ir escrita por Thalia


Capítulo 10
Hans


Notas iniciais do capítulo

Até que enfim, eu sei. Ufa... Desculpem por n postar no domingo como havia prometido mas... Vcs não sabem o quanto tá corrida minha vida, não pensem em nenhum momento que eu esqueci, desisti ou fiquei com preguiça ok???? e que eu realmente tava sem tempo, mas chegou finalemente saiu hahaha boa leitura!



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(Uma semana após a festa do príncipe Aaron)

Anna estava cheia de Sorayan, isso era certo. Tinha que admitir que fora uma festa maravilhosa, cercada de luxo, pompa e atrações exóticas vindas de diferentes lugares do mundo e isso foi até agradável no começo. Mas chegou uma hora em que ela estava cansada de tudo aquilo. Afinal, fora uma semana comemorando o aniversário de um príncipe fútil e irritante, cujos únicos desejos eram chamar atenção graças ao seu estado constantemente bêbado e flertar com todas as moças da festa, inclusive ela, na frente de Kristoff.... Anna se divertiu ao lembrar do episódio. Certo, Kristoff poderia ter sido preso por aquilo, mas por sorte, estavam os três distantes da multidão e Aaron desmaiara de tão bêbado assim que levara o soco de Kristoff, não lembrando de absolutamente nada quando acordou, o que nem Anna, nem Kristoff fizeram objeção. Pelo contrário, riram muito depois que viram Aaron tentar explicar ao pai que não fazia ideia de como conseguira aquele olho roxo. Apesar desse e mais alguns outros acontecimentos inusitados, Anna sentia saudades de casa. Ela sentia falta das suas loucas aventuras em Arendelle, das pessoas de seu tão amado lar. Tinha passado tantos anos recolhida no palácio que quando saiu e pôde se divertir pelo reino, sabendo que sua irmã não se isolaria mais em seu mundo particular, foi como ver a luz do sol depois de tanto tempo nas trevas. Ela nunca aguentaria passar tanto tempo longe daquela luz e estava empolgada para voltar para casa e abraçar sua irmã.

–Elsa, Elsa! Nós vamos ver a Elsa! –disse um animado Olaf enquanto navegavam em um navio rumo à Arendelle.

Anna observava o mar junto à amurada quando o boneco de neve apareceu ao se lado. Ela abaixou a cabeça à sua esquerda para encará-lo.

–Até que enfim, não é, Olaf? Eu estou morrendo de saudades. –ela admitiu.

Olaf assentiu com a cabeça.

–Eu também. Ela deve estar se sentindo bem solitária, não é? Ainda bem que vamos voltar. –ele deu um pulinho.

Anna sorriu e olhou para atrás, escutando passos. Kristoff vinha em sua direção.

–Sim, ainda bem. –disse ele, suspirando- Eu realmente não aguentava mais. –ele olhou rapidamente para Anna- Não me leve a mal, amor. Eu adorei o convite, mas aquele cara...

–Nem precisa terminar. –Anna interrompeu, rindo- Ele é patético, mas sabe dar boas festas. –ela deu de ombros- Seria melhor se não durassem tanto tempo.

–Poxa, uma semana? Perde a graça da coisa. –Kristoff falou, também abrindo um sorrindo.

–Ah, vocês acham mesmo? –Olaf pareceu decepcionado- Eu queria que a Elsa desse uma festa que durasse muito tempo também quando tivesse algum aniversário! –ele rapidamente se animou- Imaginem: bolos todos os dias, música, muitas flores... Agora seria ao ar livre, é claro, para podermos aproveitar o verão! –ele sempre parecia sonhador quando dizia aquela palavra.

Kristoff estreitou os olhos.

–Já passou pela sua cabeça que o verão não vai durar para sempre, não é, Olaf? As estações mudam e.... –Kristoff percebeu Anna o encarando friamente- O que foi?

Ela balançou negativamente a cabeça.

–Você é impossível. –ela falou, séria.

Ele deu um sorriso e se aproximou.

–E você me ama por isso, não? –ele provocou, inclinando sua boca em direção a dela.

Anna deu-lhe um pequeno empurrão.

–Você anda muito convencido. –ela disse, reprimindo um sorriso.

Ele deu de ombros.

–Você é que me faz ficar assim, me falando o tempo todo que sou o amor da sua vida e que não consegue viver sem mim. –ele respondeu, sarcástico.

Anna pareceu surpresa.

–Eu? Olha quem fala... acho que isso está mais para você. –ela retrucou, se contendo para não beijá-lo naquele instante.

–Ah, não! –reclamou Olaf, que estivera observando os dois- Vocês vão começar a ficar todos melosos de novo? –ele suspirou, indignado.

Anna e Kristoff se entreolharam, constrangidos.

–Oh, Olaf. Desculpa, é que.... –Anna começou, se segurando para não rir.

–É o amor, eu sei. –Olaf pareceu um pouco chateado, mas logo sua expressão sorridente volta- Sabe, apesar de toda essa coisa melosa, não me arrependo de ter juntado vocês.

–Você nos juntou? –perguntou Kristof, duvidoso.

–É claro, não? Fui eu quem disse a Anna que você amava ela. Se não, as coisas nunca iriam andar. –ele disse, como se sua resposta fosse óbvia.

Anna estremeceu quando sua mão encontrou a de Kristoff.

–E ainda amo. Isso nunca vai mudar. –ele disse. Seu tom tão convincente que Anna pôde sentir a verdade naquelas palavras. Sorriu com uma imensa felicidade ao ouvi-las pela primeira vez e na segunda, na terceira e em todas as outras vezes, assim como naquele instante. Ele a amava e ela o amava também. Do que mais precisavam? Sonhou com um amor daqueles a vida inteira e se sentiu inteiramente grata a Deus por tê-lo encontrado. Ele era perfeito do jeito que era. Nos gestos nada cavalheiros e no modo como sempre a fazia sorrir. Ela o sentia vibrar de felicidade toda vez que ele conseguia lhe arrancar um sorriso e rezava todos os dias para que isso nunca mudasse, pois estava tão feliz, se sentia tão... completa. Percebeu tardiamente que uma princesa não precisa de um príncipe, apenas de alguém que a faça feliz. Sua mão na de Kristoff lhe dava essa certeza e foi a última coisa boa que lhe aconteceu antes que seu pesadelo começasse.

***

~Elsa

No dia seguinte, Jack pagou a dona da estalagem. O que me fez perguntar como ele conseguiu dinheiro. Não acho que imortais recebam salário pelo que fazem, mas prefiro não pensar muito nisso. A mulher já idosa nos olha com uma expressão desconfiada, mas se achou estranho Jack usar um capuz sobre a cabeça e carregar um cajado ou me reconheceu como a rainha de Arendelle (pouco provável), não comentou. Jack lhe dá um sorriso, o que a mulher parece achar desrespeitoso.

–Podem se retirar agora! –ela fala, ríspida e logo depois fixa seu olhar carrancudo em mim- Você deveria ter vergonha mocinha!

Depois dessas palavras e nenhum “Volte sempre”, percebo que Jack está se segurando para não rir enquanto saíamos daquele lugar nada hospitaleiro.

–Como ela pôde pensar uma coisa dessas? –pergunto, indignada, enquanto andamos pela rua movimentada do reino sem nenhum rumo ao certo.

Ele dá de ombros.

–Vai ver temos a aparência de um casal indecente. – responde, sorrindo.

–Não diga! –o sarcasmo óbvio em minha voz - Acho que só por você ela tira isso.

–Assim você me ofende, rainha da neve. –ele diz e logo sua expressão fica séria quando parece lembrar de algo e retira um papel dobrado no bolso da calça. Ele me entrega e logo descubro seu conteúdo. Um mapa náutico, mostrando o caminho normalmente feito para quem navega de Sorayan à Arendelle. Os segundos se passam enquanto o observo atentamente.

–O caminho só pode ser feito por mar. –lembro, sem tirar os olhos do mapa.

–E é totalmente desimpedido, o que é estranho. Não há nenhuma terra que se interpõe entre as duas. Mas você disse que seu amigo Mason lhe alertou que eles pararam em uma... –Jack começa, desconfiado.

–Sei aonde quer chegar. –deduzo- Não me pergunte mais uma vez sobre o motivo de eu ter acreditado nele, Jack, porque não tenho certeza.

–Mas você deve admitir, Elsa... como ele saberia de tudo isso? Não faz sentido algum. –ele retruca, calmo.

Dou de ombros.

–Ele disse que sempre soube dos meus poderes por meus pais e ainda... –paro, pensando melhor. Talvez não devesse comentar sobre o estranho envelope que ele me entregara, não agora- E ainda... bem, não sei como ele soube que Anna está desaparecida e não vejo por que ele mentiria.

–Resumindo: não nos ajuda muito, não é? –ele provoca, embora não haja resquício de sorriso em seu rosto.

–Estamos procurando por uma ilha que não existe- digo, frustrada.

–Eu nunca disse que seria fácil.

–Eu sei. É só que...

–Há mais coisas entre Sorayan e Arendelle do que esse mapa mostra. –ele interrompe- Só precisamos navegar na direção correta para o encontrarmos.

–“O encontrarmos”? –repito, confusa.

–Aquele que sequestrou sua família. Imogen não está trabalhando sozinha, Elsa. Não faz o típico dela ir pessoalmente.

–Então você sabe quem foi? –pergunto, a ansiedade evidente em minha expressão.

Se olhar gélidos se fixam em mim. Ele parece preocupado.

–Eu rezo para que esteja errado. Mas seja como for, precisamos antes de tudo... -ele cerra as sobrancelhas, olhando para alguma coisa além do meu ombro.

Sigo seu olhar e reparo, a dez metros de distância, em um garoto moreno de não mais do que doze anos com olhos negros e vestes simples. Ele está com uma pedrinha entre os dedos, observando o pequeno objeto passar de uma mão para outra, como se estivesse brincando. Quando ele levanta a cabeça e nota que o estamos encarando, dá um sorriso perverso e imediatamente corre na direção oposta à nossa.

–Espere aqui. –avisa Jack, sem desviar os olhos.

–O quê? Jack! –chamo, mas já é tarde demais. Ele começa a correr na direção da criança, empurrando ou se desviando de qualquer um que estivesse na frente.

Eu estou quase o seguindo, quando um estranho impulso me faz olhar ao redor. Meu olhar se fixa em um homem que está prestes a entrar em uma rua deserta à minha esquerda.

“Eu devo estar louca”, penso, incrédula, pois o homem que está me encarando de longe é Hans, meu velho inimigo. Talvez um pouco mais maltratado, bronzeado e o cabelo mais curto do que eu me acostumara, mas sem dúvida o olhar assassino para quem já o conhece de verdade é o mesmo. Sem hesitar, o sigo. Ele, assim que percebe meu movimento, se adentra na rua. Apresso o passo. Logo, estamos a poucos metros de distância em uma viela escura, o telhado acima bloqueando boa parte da luz matinal. Ele permanece de costas para mim, o que só faz minha curiosidade aumentar.

–Há quanto tempo, Elsa. –ele fala, sem virar. –Eu não perguntaria se sentiu minha falta, mesmo que pouca... –ele dá um riso de escárnio- Isso seria tolice.

–Que bom que sabe. –respondo, ríspida –O que está fazendo aqui?

Ele se vira para me encarar. Engulo um suspiro de surpresa. Seu rosto parece pior visto de perto. Está abatido, como se estivesse doente. Seus olhos perderam o brilho castanho esverdeado. Ele não está vestido com roupas finas e sim, uma simples camisa branca de linho e calças preta, com uma longa espada presa à sua cintura.

–Soube que está indo atrás de sua irmã. –ele fala, ignorando minha pergunta.

Estreito os olhos, desconfiada.

–O que você está fazendo aqui? –repito, tentando entender como ele sabe daquilo.

Ele dá de ombros.

–Só quero ajudar, Elsa. Eu sei onde está sua irmã. - ele se aproxima, o olhar impassível.

–Você? –pergunto, incrédula –Não estou entendendo.

–Eu sei quem a pegou e acho que você também sabe. –ele continua, como se eu não tivesse falado.

A compreensão sobre algo me acerta em cheio. Se Hans sabe de tudo aquilo, isso só pode significar que...

–Imogen. –falo, o nome como ácido em minha boca toda vez que o pronuncio- Você trabalha para ela.

Ele sorri friamente, mas antes que pudesse confirmar, pequenas lascas de gelo surgem da minha mão esquerda e as lanço em direção a ele. Hans é rápido. Ele desembainha sua espada e consegue desviar boa parte delas, mas não antes de algumas se cravarem em seu ombro. Ele reprimi um arquejo de dor e larga a espada no chão. O líquido vermelho começa a aflorar de sua camisa branca.

–Quando foi que você se tornou tão violenta? –ele fala, com um sorriso torto. Sua mão retirando as lascas, uma por uma.

–Onde minha família está? –pergunto, a raiva percorrendo meu corpo.

–Acha que é assim tão fácil? –ele continua sorrindo, o barulho da última lasca de gelo indo de encontro ao chão.

–Não me teste, seu idiota. –falo, autoritária- Se você não abrir o jogo, eu vou...eu vou... –hesito.

–Hã? Vai o quê? –ele provoca, se aproximando de mim. O ombro esquerdo jorrando sangue.

Uma fúria incontrolável sobe a minha cabeça, mas não consigo colocar a ameaça para fora. Ela está presa em minha garganta. Eu seria capaz daquilo? Um ferimento no ombro é uma coisa, mas tortura, morte... eu nunca me imaginei fazendo tais coisas e nem quero pensar na possibilidade. O pior é que sinto que vai chegar o dia em que não terei escolha.

Hans ri, interpretando minha hesitação erroneamente.

–É esse seu problema, Elsa. Você é.... boa de demais- ele me olha com desprezo, como se se “ser boa” fosse uma ofensa- Isso te torna tão fraca, apesar de seu poder extraordinário. –seu olhar vai até as lascas de gelo no chão- É uma pena que todo esse talento tenha que ser desperdiçado.

–Dane-se o que você acha! –falo, exasperada. –Eu não me importo. Apenas me fale logo o que você veio fazer aqui. Ah, não, espera.... O que sua “dona” lhe mandou fazer, não? Aposto que ela manda e desmanda em você. –provoco.

Um rastro de raiva trespassa seu olhar.

–Não fale sobre o que você não sabe -ele diz, enigmático.

–Me poupe sobre seus mistérios. Diga aonde está minha irmã, agora, minha paciência não vai durar para sempre.

Ele solta outra risada.

–Se você visse como parece estranho você ameaçando alguém. –ele fala e para comprovar que ele está enganado, ou pelo menos queria que estivesse, uma forte luz surge em minha mão esquerda, pronta para se transformar em gelo e torturar idiotas metidos.

O olhar de Hans vai até minha mão, mas ele não parece atônito, nem um pouco preocupado. O que me deixa com muita raiva, um sentimento de impotência crescendo dentro de mim. Por que eu não faço isso logo de uma vez? Por que eu hesito tanto?

–Você não vai fazer isso. –ele diz calmo. –Não é da sua natureza.

Antes que eu pudesse responder o contrário, uma voz fala às minhas costas.

–Não, não é. Mas pode apostar, é da minha.

Hans olha por cima de meu ombro, e, pela primeira vez, ele parece enraivecido.

Reconheço a voz de Jack e, com um suspiro de alívio, faço a luz em minha mão se apagar e me viro para encará-lo. Sua expressão é impassível e não há nenhum sinal evidente de que ele tinha corrido a não ser os cabelos desgrenhados e as roupas sujas de terra.

–Acho que esse monstrinho é seu. –Jack fala, acenando com a cabeça para o garoto.

Hans rapidamente volta à sua expressão presunçosa de antes, o que me faz lembrar o excelente ator que ele foi diante de minha irmã. Acho que nunca odiei tanto alguém na vida como o odeio agora.

–Patrick é o nome dele. –Hans responde, fulminado Jack como olhar- Eu agradeceria se o soltasse. Sabe... ele não gosta de ficar preso. –ele fala, embora não haja sinal em seu rosto egoísta que ele fosse agradecer por qualquer coisa.

Jack dá um sorriso torto.

–E eu gostaria que respondesse a pergunta da Elsa. –Jack fala, sem mover.

Hans estreita o olhar.

–O quanto você ouviu? –ele pergunta, curioso.

–O suficiente. Ah! –ele arqueja, o garoto começara a arranhar sua mão.

–Vamos fazer o seguinte. –Jack continua, impaciente, puxando o garoto violentamente mais para perto- Diga logo onde está a família dela, e talvez eu não mate os dois.

Arregalo os olhos, finalmente decidindo agir e vou até ele.

–Jack, ele é só uma criança! –recrimino, olhando o garoto louco para se libertar.

–Criança? –Jack acena negativamente com a cabeça- Isso aqui não é uma criança, Elsa. Não mais. –Percebo que fala com pesar a última frase.

–Como assim? –pergunto, atônita.

Jack abre a boca para responder quando Hans volta a falar.

–Tudo bem, já chega. Não estou mais com paciência para isso. –me viro para ele- Sim, você está certa. Trabalho para Imogen e antes que venha me matar... –ele fala, quando Jack se aproxima dele, irritado- Tenho um recado dela.

Prendo a respiração por um momento. Inúmeras possibilidades preenchem minhas ideias. Jack hesita, esperando o que viria a seguir.

–Você... –Hans olha para mim- Pode se render, agora. Imogen será misericordiosa com sua irmã. Mas você terá que vim comigo e eu a levarei até ela. Faremos uma troca: sua família pela mortal controladora de gelo...

–É ridículo. –Jack dá um sorriso de escárnio, puxando novamente o garoto em sua mão. Esse dá um resmungo e cruza os braços, irritado.

Permaneço quieta, ouvindo, minha cabeça a mil.

–Não há a menor chance de vocês encontrarem a Anna por conta própria. –Hans sorri- Nem mesmo a Mãe terra conseguiu até agora. É uma causa perdida e o raptor dela só pode ser encontrado se ele quiser. E, olha só, ele não quer, pode crer nisso. A Senhora dos Vulcões tampouco.

–Aquele desgraçado está mesmo trabalhando para ela? –Jack pergunta, incrédulo. –Antes eu tinha minhas dúvidas, mas... –ele balança a cabeça- Ah, eu vou dar um jeito dele aparecer, não precisamos de sua misericórdia. Vá lá, mensageiro, e diga a Imogen que recusamos sua oferta. Nós vamos pessoalmente resgatar a Anna e depois invadir o covil imundo em que vocês se escondem.

Hans se limita sorrir, entretido.

–Não me importa a sua opinião sobre a proposta, albino, porque eu perguntei à Elsa.

–Isso é indiscutível. –Jack recruta, mas olha para mim, buscando certeza.

Estranhamente, não dou essa certeza, nem retribuo o olhar, indecisa. Parece fácil demais, mas como confiaria em Hans? E Imogen... e se ela simplesmente mandasse esse tal “raptor’ matar minha família na minha frente antes de acabar comigo? Porque ela me mataria de qualquer jeito, isso é fato. Eu não teria a menor chance contra ela, mas Jack disse que me ajudaria e, supondo que tudo desse certo, eu poderia sair viva desse problema. Mas e se não conseguíssemos nem chegar lá? Ir com Hans parece ser a opção mais segura, tirando o fato de que ele não é nem um pouco confiável.

Cerro as mãos para impedir que as vejam tremendo. Minha cabeça dói de tanta preocupação. Se algo acontecesse à minha família... eu não sei se sobraria parte de mim para juntar e continuar vivendo.

–Eu... –começo, a indecisão deve estar óbvia em minha expressão pois Jack me olha, surpreso.

–Você não está pensando em aceitar, está? –ele exaspera. –Porque eu não permitiria, só para deixar claro. –ele diz, o tom de quem não aceitaria discussão.

Foi o segundo de distração que o garoto precisava. Assim que Jack olhou para mim, o menino habilmente conseguiu se desvencilhar da mão de Jack e com um brilho assassino nos olhos, ataca a primeira pessoa que vê pela frente, ou seja, eu.

Acontece tudo muito rápido: O garoto, parecendo um louco, dá um grito demoníaco e parte para cima de mim. Imediatamente, lanço um escudo de gelo ao meu redor, assustada demais para fazer qualquer outra coisa. Pela vista embaçada, vejo Jack lutar com o garoto, se afastando cada vez mais. Essa poderia não ser uma luta justa se o “garoto” fosse uma pessoa normal. Ele parece ter uma força descomunal e quebra todos os pedaços de gelo que Jack lança contra ele. Percebo que Jack não tem intenção de matá-lo, está apenas o afastando de mim. Desfaço a barreira de gelo e corro para ajudá-lo. O garoto sente minha presença se aproximando e fixa seus olhos em mim. Agora percebo, eles não são pretos e sim castanho avermelhados, assim como... o homem que morreu em Dhever. Meu sangue gela com essa lembrança. Isso só pode ser coincidência, não é? Então por que minha intuição me diz o contrário?

O garoto avança, resmungando coisas que não compreendo. Jack tenta impedi-lo, mas para minha infelicidade, Hans está atrás dele e dá uma forte batida em sua cabeça com o punho da espada. Jack cai no chão, inconsciente, mas não tenho tempo para socorrê-lo pois um psicopata vem em minha direção. Faço um punhado de gelo congelar seus pés, o prendendo ao chão. O garoto, depois de uns segundos, rapidamente o quebra e continua avançando, o olhar ameaçador. Ele se joga em cima de mim e o impacto me faz cair no chão. Ele começa a me dar murros e arranhar meu rosto. Enraivecida e cansada daquilo, o instinto toma conta de mim. Eu não sei explicar, em um momento ele me prendia ao chão, me machucando, e no outro, o garoto gritava de dor, saindo de cima de mim para cair no chão ao meu lado. Aliviada, me sento e olho para a agoniante cena. O garoto não para de se debater, arquejando de dor. Não há nenhum ferimento aparente, mas alguma coisa muito grave está acontecendo e fui eu que causei. Tento chegar perto, mas quando quase o estou tocando...

–O que você fez? –Hans arregala os olhos, mas não sai do lugar.

Com um suspiro cansado e aflito, lembro de Jack e corro até ele, empurrando Hans violentamente no caminho. Estranhamente, ele não revida enquanto eu me abaixo para ver meu amigo de cabelos brancos.

–Jack, Jack! –chamo, assustada. Preciso alertá-lo do que eu fiz. Eu já tinha uma ideia e se estivesse certa, eu não poderia salvar o garoto, talvez Jack pudesse.

–Olhe, Elsa, eu não tenho o dia todo.... –Hans fala, lançando olhares ao garoto, mas incapaz de demonstrar piedade. –Você vai aceitar minha proposta?

Minha raiva é tanta que, ao contrário do geralmente acontece, me deixa totalmente consciente do que eu preciso fazer agora.

–É claro que não, seu imbecil! –falo, o fulminando com os olhos- Eu irei atrás da minha família pessoalmente e a Imogen que se prepare.

Ele ri.

–Você está pedindo que a Senhora dos vulcões se prepare? –ele repete, incrédulo.

–Você é surdo? –arregalo os olhos- Suma daqui.

E sem dizer mais nada, me volto para Jack, tentando desesperadamente acordá-lo.

–Você ainda vai querer voltar atrás, Elsa. E quando voltar, me chame por isso, e saberei que você se rendeu.

Não ouso olhar voltar para trás. Minha atenção se volta para Jack, que lentamente abre os olhos.

–Elsa... –ele balbucia.

–Jack! –exaspero- Você precisa me ajudar, por favor. Se não ele vai acabar morrendo... –paro, atenta. Há um silêncio assustador no ambiente. Com meu coração virando pedra, viro de costas e vejo que o menino agora está esparramado no chão, imóvel. Sua pele estranhamente azulada. Hans desaparecera.

–Não! –consigo dizer, a culpa me consumindo. Jack se senta no chão e seu olhar recai sobre o corpo do garoto. Ele parece entender claramente.

–Elsa, escuta... –ele começa, mas não estou mais ouvindo. Corro até o garoto e me ajoelho, desesperada. Toco em sua pele gelada e rígida. Eu já vira um homem morrer da mesma forma.

–Eu o matei! Ai, meu Deus, eu o matei! –A culpa me devasta por inteira. Já não basta minha irmã sofrendo por minha causa, agora uma criança morrera.... É demais para mim. Eu tinha matado alguém propositadamente , como poderia dormir em paz agora? Era só uma criança, Jack pode dizer o que quiser, mas era apenas uma criança...

Lembro, há muito tempo, que prometi a mim mesma não chorar na frente de ninguém desde quando fui presa aquele quarto. Se as pessoas te veem chorando, isso apenas demonstra fraqueza de sua parte. O que uma rainha não pode se dar ao luxo de mostrar. Eu chorei quando soube do sequestro, mas estava só, isso me deu o privilégio de me desarmar à vontade, pois pude me recompor depois sem que ninguém soubesse. Agora, não consegui me conter. As lágrimas vieram. A culpa, o remorso, a hipótese que me destrói dizendo que isso poderia ter sido evitado. Mas não havia volta, eu manchara minha alma de sangue novamente e não dormiria em paz por muito tempo.


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Notas finais do capítulo

Ai, quanto drama hein? kkkk o que acharam? Valeu a pena esperar? Eu sei que não aconteceu muita coisa, mas entendam, eu n tive mt tempo, sorry... Vou me organizar melhor essa semana, provavelmente no sab. ou dom. to postando :) Bjss e até a prox. Não esqueçam de comentar e me dizerem o q acharm u.u



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