Não consegui responder . Naquele momento , apenas sorri como se fosse uma brincadeira e lhe dei um beijo antes de saltar em direção à cozinha usando o fato de estar faminta como desculpa . Eu sabia que seus olhos estavam cravados em mim , porém eu não sabia o que fazer . Eu sabia que em algum momento algo do tipo viria , eu apenas não esperava que fosse o momento em que me encontro mais indecisa em relação a dois lados de uma balança . Eu não poderia o responder antes de me resolver . Me virei e lá estava ele , recostado no balcão de mármore , os primeiros botões de sua camisa abertos graças ao meu descontrole , o cabelo longo bagunçado e um sorriso perfeito nos lábios . Eu tinha demorado muito para notar que ele mexe comigo , demorado tanto que me permiti envolver com aquilo que eu não devia . Sorri e me aproximei , podia notar que ele sabia que eu estava nervosa e que isso era uma arma que poderia usar se desejar .

– Isso foi um não ? - perguntou com um sorriso ainda mais irresistível, fazendo-me recordar do quanto ele beijava bem e do quanto eu desejava isso agora .

– Não ! - disse rapidamente antes que eu mesma processa a pergunta - Foi um ... Não sei , talvez , preciso pensar ? - abri um meio sorriso , eu me sentia cada vez mais encurralada .

– Então eu tenho chance ? - eu não podia acreditar no que estava ouvindo .

– Eu é que fico surpresa por ter uma chance , senhor - me aproximei e ele me puxou para os seus braços . Seu perfume era muito bom . Porém , eu ainda não estava totalmente ali .

Eu não poderia o beijar novamente , ou diria coisas sem perceber , perderia o controle de mim mesma . Decidi me manter centrada e na maior parte do tempo , apenas me sentei ao lado de Oliver e tentei ao máximo entender cada pedaço do filme que ele colocara , mesmo sem sequer saber o título . Só quando em fim era hora de voltar que pude notar , eu havia me esquecido do ocorrido . Durante o tempo em que havia ficado ali , não pude sentir o aperto em meu peito , a angústia ou a amargura , havia apenas eu , me focando em algo maior . O ruim era saber que tudo não havia sumido , simplesmente se silenciado por alguns momentos . Mesmo em cima das duas rodas da moto de Oliver , eu não consegui abater a intensidade da lembrança , fazendo-me crer que talvez , eu jamais fosse deixada só novamente , como se daquele momento em diante , eu pertencesse ao fundo do poço .

Estava ciente de que parte de mim , na verdade desejava se esquecer do que havia acontecido entre mim e Oliver . Parecia extremamente certo , porém meu corpo agia como se fosse uma traição . Crer nisso não era bom , claro , nunca é saudável admitir que se envolver com algo totalmente certo a você é uma traição ao errado e dizer que o que venho vivendo com Patrick não é um erro , é menos saudável ainda . Não podia acreditar que havia me permitido continuar mesmo depois de descobrir a verdade , era o meu sangue que corria em suas veias e vice versa , então pensar no que faço , deveria me causar repulsa e não excitação . Agora eu podia me encontrar sem palavras diante a aquele que deve estar do meu lado , pois aquele que nem sequer posso olhar com olhos desejosos , domina os meus pensamentos a ponto de qualquer outra coisa , se pareça errada enquanto o proibido , tenha o mais correto sabor .

No momento em que eu revelasse a alguém o que eu já fiz , me apedrejarão e Oliver não me salvará , uma vez que será ele a atirar a primeira pedra . Pensar na possibilidade de ser odiada por ele , me causava arrepios , por isso tentei afastar o pensamento , mas não ajudou nenhum o pouco o fato de já estarmos em frente à minha casa . Ao menos haviam outras coisas para serem pensadas , como o fato de ao momento eu possuir um pai furioso . Eu tinha escapado das mãos do segurança que ele contratou para me proteger e em seguida sumi de vista junto com um desconhecido . Eu apenas esperava que isso trouxesse problemas apenas para mim , livrando assim Oliver de uma pena consequente de sua ajuda , eu estava mais do que cansada de o colocar em situações estressantes , não apenas ele como todos aqueles que me cercam ... Como se cair de um píer já não fosse dramático o suficiente . Juro que em minha cabeça , quando planejei ser a ovelha negra da família , tudo passou bem longe disso .

– Fique por perto , talvez eu precise de um veículo de fuga - brinquei enquanto descia da moto e lhe entregava o capacete . Apesar de meu tom brincalhão , notei que ele se manteve sério .

– Me ligue assim que estiver em seu quarto , longe de problemas . - disse enquanto guardava o segundo capacete . - Não sairei daqui até lá . - Como não sabia o que dizer , novamente , apenas sorri e o abracei em agradecimento e despedida . Novamente eu estava em casa e segura , graças a ele .

O hall parecia mais frio . O olhar das pessoas ao meu redor havia mudado e foi como se me preparassem para aquilo que eu já sabia que encontraria . Eu não poderia culpar meu pai ou meu irmão por estarem furiosos , afinal , era exatamente minha atitude de teimosa , sair sem avisar , surpreender a todos e bancar a independente que havia me colocado em situações que não causaram dor somente em mim . Eu odiava ver qualquer um que fosse em sofrimento e preocupação por minha causa , mas , era apenas isso que eu vinha fazendo ultimamente . Subindo pelo elevador , eu já preparava meus ouvidos para o que quer que fosse e já pensava em um modelo de desculpas que pudesse os fazer entender meus motivos , eu havia tido um ataque de pânico afinal , nada . Entretanto , eu não havia me preparado o suficiente , não para isso .

Assim que as portas pesadas de aço se abriram , dei alguns passos e demorei um bom bocado para compreender o que exatamente acontecia em cima do sofá , eu sabia que eram duas pessoas e que uma delas era ... Loira . Depois de associar a ausência de roupas com os movimentos esquisitos de ambos os corpos , gritei tapando a boca e soltei um gritinho envergonhado , " mil desculpas " era tudo o que eu conseguia dizer . Retornei para o elevador e apenas quando as portas tornaram a se fechar novamente , a dor pode vir , vindo de uma maneira tão avassaladora , que tive de me recostar nas paredes metálicas e geladas para conseguir controlar minha respiração . A sensação era esmagante , avassaladora e queimava , tirei o telefone do bolso e apertei a discagem rápida , torcendo para que completasse antes que eu tornasse a ver o mundo . " Sim " , foi tudo o que murmurei assim que pude ouvir a respiração dele do outro lado da linha . As portas tornaram a se abrir e a visão a minha frente fora remédio ao meu coração . Oliver recostado em sua moto , no mesmo lugar onde me prometera estar , esperando por mim , como se soubesse que eu não aguentaria ficar . Corri em direção , corri para seus braços , o beijando , pois aquilo já não era mais traição .

– Me faça sua , eu quero ser sua - disse ainda contra os seus lábios , o sentindo sorrir contra os meus . Por mais desesperada que agora eu poderia soar , não havia como controlar , cada pedaço de mim estava em profundo desespero e eu apenas expressava aquilo que meu corpo desejava sentir para se libertar de tudo .

Subi em sua moto e antes que o motor cantasse , pude ver Patrick caminhando em minha direção . Senti novamente minha garganta se fechar , porém , apertei meu corpo contra o de Oliver e permiti que ele me levasse aonde ele desejasse , desde que me fizesse esquecer de cada momento em que Patrick me fizera pecar , cada momento em que eu o desejei , desde que ele me libertasse de toda a repulsa que sinto ao momento , depois de ter visto o que eu vi .