Eu sabia que deveria me mostrar grata diante a maneira que todos vinham me tratando , porém aquilo simplesmente não me descia pela garganta . Naquela manhã , quando decidi me levantar , me aprontar e deixar o quarto , eu não sabia o que poderia esperar . Em minha cabeça , podia imaginar olhares por todos os lados , cabaças imaginando diferentes situações de como tudo poderia ter acontecido e muitos ali julgando - me como se em parte fosse culpa minha por andar sozinha em uma noite escura ou de meu pai por descuidar da segurança de uma de suas propriedades , porém , por mais que essa fosse a realidade , ninguém deixará isso as claras . Aos meus olhos , aparentavam uma gentileza que eu jamais havia visto , desejaram-me seus sentimentos e tudo mais o que poderia vir junto como abraços e toques acolhedores seguidos de olhares piedosos que em vez de calorosos , chegavam até mim gélidos , provocando-me arrepios .

Aquilo não me surpreendia . Sabia meu nome e sabiam muito bem de quem eu era filha . Aqueles ali que não era, funcionários de meu pai , eram acionistas , sócios e investidores pendentes , todos que possuíam muito a perder , caso eu não os visse co, bons olhos ... Mal sabe eles que minha opinião não importa de fato , nem se eu desejasse a oferecer . Tentei me esgueirar , fugir de toda a atenção apertando o passo no caminho para escola , porém lá tudo piorara . Era ainda pior ver aqueles que eu possuía certeza absoluta que não nutriam nenhum sentimento por mim , a não ser antipatia , virem até mim com a intenção de me oferecerem consolo , um consolo que novamente era um golpe desconfortável . Patrick dava seus pulos para agradecer e os afastar e eu , não me importando por um instantes , apenas encolhi-me em seus braços na esperança de que pudesse permanecer ali para sempre .

Paramos ao meio do corredor , meus olhos estavam marejados , porém agora ficavam assim na maior parte do tempo . Patrick se colocou diante a mim e levou suas duas mãos ao meu rosto o segurando bem firme , olhou em meus olhos e pude ver que tudo o incomodava tanto quanto me incomodava . Me esforcei para abrir um sorrir , mesmo que fosse simplório , na esperança de mostrar que estava bem , porém o resultado que conseguir provavelmente o fizera entender exatamente como eu me sentia : atordoada e assustada . Eu não precisava saber o ler pelos olhos para entender o sentimento de culpa que agora o preenchia e isso me angustiava ainda mais , pois ambos sabíamos que se eu não houvesse sido teimosa , estaria bem e não teria de enfrentar os abraços de Amber que me embrulhavam o estômago .

– Se quiser deixar tudo , basta me pedir e eu não pensarei duas vezes . - Definitivamente eu não podia pedir por alguém melhor .

– Proposta tentadora - abri um sorriso , um menos assustador . Ao fundo , pude notar Oliver . Eu não sabia como reagiria assim que o reencontrasse novamente ou muito menos como ele reagiria , porém , seus olhos não desgrudavam dos meus o que indicava que ele me esperava , sorri e então me voltei para Patrick . - Me espere - disse lhe dando um beijo na bochecha e seguindo ao encontro de Oliver .

Era ele quem eu procurava , mesmo sem notar , já havia me acostumado . Seu sorriso agora foi discreto o suficiente para que eu notasse que muito se passava em sua cabeça , eu não poderia culpá-lo , me recordava da maneira que tudo tinha o deixado e aquilo também me atingia . Parei em frente a ele , podia notar que estava cansado , via em seus punhos os ferimentos causados pelos socos , os olhos inchados fazendo-me imaginar no quanto eu poderia ter chorado , e eu peço que não , mas mesmo assim estava ali , em pé , frágil porém forte e indestrutível e lá estava um daqueles momentos em que me pegava tentando descobrir a intensidade de meus sentimentos por ele , como se já não fosse suficiente minha confusão e dilema a respeito de Patrick . Percebendo que eu não havia dito ou feito nada , suspirei , eu não queria dar o primeiro passo , não em relação a isso e muito em relação ao que poderia estar surgindo entre nós .

– Como tem passado ? - perguntou por fim agarrando minha mão e trazendo-me para perto , fazendo-me o abraçar .

– Melhor . A lembrança da maneira que me tirou dos braços daquele monstro é mais do que reconfortante . - Não desejava por nada imaginar o que poderia ter acontecido se ele não houvesse aparecido , eu devia mais do que muito a ele ... Eu devia a minha sanidade .

– Gostaria de nem sequer ter permitido que ele a tocasse - fechou os punhos ao redor de minha cintura , estava enfurecido , consigo mesmo e a culpa era inteiramente minha .

– Eu devo tudo a você - disse sorrindo - Se não fosse você ... Eu ... - Não pude evitar chorar , as lágrimas agora vinham com uma facilidade impressionante .

– Eu sou o causador da sua dor - disse , a voz cheia de sentimento e não pude acreditar no que estava ouvindo .

– Não quero nunca mais que diga isso - disse e então sai correndo , eu não poderia me sentir mais culpada do que já estava , agora ele se culpava por não ter me salvado e isso eu não conseguia ouvir .

Eu não sabia aonde minhas pernas me levariam . Sabia que não desejava parar , por mais que muitos gritassem meu nome pelo caminho . Um segurança que guardava uma das entradas tentou me conter , porém nem eu mesmo conseguia conter o pânico que agora corria em minhas veias . A sensação de que ele poderia me pegar agora me dominando , por isso o acertei , não forte o bastante já que ele me imobilizou com seus braços enormes , eu era inútil e incapaz de proteger a mim mesma . Em seguida eu já não era mais segurada , já que novamente Oliver me ajudara . Eu não fazia a menor ideia de como ele havia vencido aquele que era duas vezes maior do que ele , mas mesmo assim estava grata . Segurou minha mão e tentou trazer-me para dentro , porém mostrei que lá não era onde eu desejava ficar . Entrelaçou nossos dedos e me conduziu até a sua moto e eu então , nem sequer protestei , confiava nele mais do que confiava em mim mesma e odiava-me por ter desconfiado dele , mesmo que por uma vez .

Estranhei quando vi até onde ele havia levado . Era um enorme galpão e aparentava ser afastado de tudo , de tal modo que se passássemos em frente , talvez nem sequer o percebêssemos , porém Oliver havia notado , porque ele o conhecia . Entramos com a moto e uma vez dentro pude notar que havia um lugar para ela , porém eu já não podia ver o carro . Apesar de caindo aos pedaços por fora , com direito a paredes descascando , por dentro o lugar era muito bem cuidado . Com direito a móveis de couro e fina tapeçaria , aquele não era o lugar em que imaginara Oliver morando . A decoração variava do negro ao mais diverso tons de cinza , com móveis que eu possuía certeza do quão eram difíceis de se conseguir . Apesar de tudo , estava impressionada , o lugar era agradável e extremamente organizado e me mostrava que ele vivia sozinho .

– Vamos lá , não me mate de curiosidade e me diga o que achou - pude ouvir o quanto estava ansioso pelo tom de sua voz . Virei-me sorrindo para não o assustar .

– Confesso que estou surpresa - sorri ainda mais - É incrível - disse e então me joguei sobre uma das poltronas .

– É onde eu vivo . - Se sentou ao meu lado .

– Agradeço por ter me tirado de lá - disse enquanto tirava os sapatos e me ajeitava em seus braços tentando me esquentar uma vez que o ar ali dentro era forte .

– O mínimo que poderia fazer depois daquele dia . - disse descansado seu queixo no topo da minha cabeça . - Você é a primeira que eu trago aqui . - completou em um suspiro. Deixei o conforto daquela informação me fazer relaxar . Meus olhos vagaram pelo lugar e pude ver marcas na parede , de diversos tamanhos , marcas recentes . Tomei suas mãos na minha e notei a gravidade de seus ferimentos , eu não podia crer que ele havia se machucado por minha causa .

– Você nunca mais vai fazer isso . - disse brava enquanto subia sobre ele . Pensei que ele fosse no mínimo se assustar ou dizer algo , porém ele apenas abriu um sorriso malicioso , tirou suas mãos das minhas e as levou até minhas coxas as apertando , naquele momento havia sumido o Oliver frágil restando apenas o indestrutível . Beijou-me ardentemente , apertando minhas pernas e suas mãos subindo cada vez mais , porém tudo parou assim que por impulso levei minhas duas mãos aos botões de sua camisa .

– Responda-me uma pergunta - disse e eu apenas abri um sorriso e concordei . - Namora comigo ? - arregalei os olhos , eu havia perdido o controle da situação .