A jaqueta de Oliver em meus ombros me protegia da brisa gelada daquela noite . Eu sabia que estava sozinha novamente e no frio , porém dessa vez eu não fugiria da minha dor . Tinha corrido por não conseguir suportar e depois me senti péssima , eu não deveria ter dado um passo sequer longe , deveria ter o feito encarar sua própria vergonha , se é que ele se arrependia . Confesso que permanecer também seria inútil , uma vez que eu não sabia o que dizer , foi bom ir ao encontro de Oliver , foi bom não me sentir só por algumas horas e foi incrível não me sentir errada . Claro que agora , diante a sala , agora vazia e escura , minha cabeça havia tornado a latejar e tudo tinha voltado , talvez com uma intensidade ainda maior , porém agora , eu sei exatamente o que fazer .

Me lembrava de como Patrick havia me feito confiar nele , da maneira em como me fizera acreditar que eu era a sua Alice , bem , talvez eu fosse apenas uma Alice e não " a " Alice . O que o coelho branco diria diante ao meu fracasso ? Será que agora terei que recorrer a lebre de março uma vez que o chapeleiro se deitou com a rainha vermelha ? Sinto que a lagarta já não poderá me ajudar a encontrar as respostas e que se torna cada vez mais complicado retornar para casa ... E pensar que o país das maravilhas já me fizera desejar ficar enquanto agora me sufoca , nem pintar rosas brancas me ajudarão desta vez .

Rindo de mim mesma e de minha linha de raciocínio, subi as escadas ainda vivendo a história a medida que saltava de degrau a degrau , talvez tudo ainda não tenha se perdido . Virei o corredor e notei que ele me esperava a porta do meu quarto , dei meia volta , porém ele já havia me notado e agora chamava pelo meu nome . Eu não esperava ter de o encarar tão cedo , porém sabia que eu não poderia o evitar por muito tempo , além do mais , chega de fugir .

– Já é bem tarde - disse abrindo um sorriso .

– Eu notei . - devolvi o sorriso , por mais que não desejasse o fazer .

– Ei ... Sobre mais cedo ...

– Diga-me a diferença entre um corvo e uma escrivaninha . - o cortei .

– Não há resposta - disse ele depois de pensar por alguns segundos .

– Quando encontrar a resposta , me procure e então , talvez eu esteja pronta para ouvir aquilo que tem a me dizer ... Ou talvez não . - Passei por ele e me tranquei em meu quarto , ouvindo a porta do quarto dele se fechar em seguida . Não me importava se eu não era a Alice que ele desejava , eu sabia que eu era a Alice daquela história e não permitiria que ele me fizesse crer no contrário .

Tomei um banho e me troquei , vesti apenas um pijama comprido e desci as escadas novamente . Já era tarde , por isso pensei que não encontraria ninguém , porém , ao ligar as luzes do andar de baixo , lá estava meu pai em sua poltrona . Havia algum tempo que eu nem sequer o cumprimentava e isso fez com que o clima pesasse , uma vez que não havia muita intimidade entre nós . Pensei em voltar para o meu quarto , porém aquilo não seria muito educado , já que ele já tinha me visto . Passar direto também não funcionou . Me chamou e me vi forçada a me aproximar , me indicou um lugar para sentar e pela primeira vez , se, contestar , eu me sentei . Ele parecia preocupado e cansado , o dia aparentemente também tinha sido um tanto tortuoso para ele também .

– Sim ? - disse uma vez que ele permanecera em silêncio .

– Sobre sua mãe ... - Eu não podia acreditar que ele me lembraria de sua traição , justo hoje . - Eu não a traí ... - disse sem sequer me olhar nos olhos .

– Claro que não , ela não era a esposa - Eu sabia que ele notaria meu sarcasmo , porém , não pude me conter , era um assunto delicado demais para alguém que fora atingida da mesma maneira . Era até engraçado pensar , que outra mulher da minha família havia sido traída por um Gray .

– Eu estava separado de Carolyn quando a conheci , passei anos sem vê-la , anos em que estive com sua mãe e tivemos você . - disse , desta vez apenas decidi escutar . - Quando Carolyn soube disso , foi atrás de sua mãe e fez tudo parecer pior do que era - Agora pude notar o copo de bebida em sua mão .

– Se é verdade ... Porque nunca mais voltou ? - eu estava cheia de mágoa e boa parte era por ele ter se afastado , mesmo depois de prometer milhões de vezes que sempre estaria ao meu lado .

– Sua mãe me pediu que não ... E também foi quando eu descobri que Carolyn tinha ganhado Patrick e que o moleque já estava grande - soltou uma risadinha . - Eu adoraria ter estado perto para ver você crescer assim como vi meu menino e ... Eu nunca a deixei sozinha .

– Quando a mamãe morreu , eu não tinha ninguém , eu gritei , no começo por você e depois por qualquer um ... Mas não havia ninguém . - as lágrimas agora transbordavam , ele havia deixado o copo cair no chão , se levantou e me tomou em seus braços .

– Acredite filha , eu estava lá . - disse . Aos poucos fui digerindo suas palavras . - Quando se mudou , não havia um mês sequer que eu não voltava a aquela casa ... A casa aonde havia sido verdadeiramente feliz , vi o túmulo de sua mãe muitas vezes , as vezes nem me aproximando porque você estava lá e eu não desejava a assustar . - me apertava forte , consolando não só aquela como também muitas dores .

– Você devia ter se aproximado , era tudo o que eu queria . - disse enquanto passava meus braços ao redor de seu pescoço e o abraçava forte , eu sentia falta daquilo , eu sentia falta do meu pai .

– Eu estou aqui agora querida e não vou permitir que te machuquem novamente . - apenas sorri , eu não estava tão bem à ponto de poder recusar proteção , eu precisava dele e agora mais do que nunca .

Conversamos um pouco , ainda havia muito a acontecer para que aquilo tornasse a ser um relacionamento de pai e filha , porém , já era um bom começo . Subi as escadas e mesmo sentindo meu peito fechar diante a porta do quarto de Patrick , sabendo que ele estava ali , precisei ignorar minha vontade de correr em sua direção e contar tudo o que havia feito naquele dia e correr em direção ao meu quarto , ao menos agora eu sabia que ficaria bem .

Na manhã seguinte , eu estava preparada para um bom bocado . Vesti meu uniforme e sai de casa antes mesmo que Patrick pensassem em acordar . Passei pela cozinha apenas para tomar um café e fiquei feliz em aceitar a carona que meu pai me oferecera para a escola . Eu sabia que ele desconfiava do porquê de eu não querer ir para a escola com Patrick , porém , ele não dissera nada a respeito . Na escola , vi a moto de Oliver e meu coração se agitou em meu peito . Abri um sorriso e ignorei a indireta de meu pai que pude notar que desconfiava e sai correndo em direção a escola . Tudo ainda estava vazio , porém ele estava ali , sentado no lugar de costume . Eu nem sequer sabia que ele chegava tão cedo .

– Como vai ? - O surpreendi . Ele estava no telefone porém se despediu rapidamente e se levantou . Enquanto pensava no que dizer em seguida , me surpreendeu com um beijo , por pouco eu havia me esquecido de que agora éramos um casal . Passei meus braços ao redor de seu pescoço e deixei que ele me envolvesse , aquilo era muito bom . - Quem era ? - perguntei por fim enquanto descansava minha cabeça em seu peito .

– Minha mãe - Sorriu enquanto entrelaçava seus dedos nos meus para assim podermos caminhar juntos .

– Como ela é ? - só de pensar , me senti nervosa e eu nem sequer sabia o porque .

– Alguém que vai adorar você . - puxou-me e fez um carinho em meu cabelo como se entendesse meu nervosismo . - Como passou a noite ?

– Muito bem graças a você . - disse abrindo um sorriso . Ele se virou , levou suas mãos ao meu rosto e me beijou , um longo beijo , que me prendia cada vez mais a ele . E em seguida , ele estava no chão . Virei-me furiosa na direção do soco e não acreditei quando vi Patrick . Oliver estava de pé novamente e parecia furioso .

– Tire suas mãos imundas da minha irmã . - Será que ele não podia parar num instante para se ouvir e notar o quanto parecia ridículo ?

– Patrick ... Foi só um beijo , eu não estava dando pra ele ... Ao menos ainda não . - Abri um meio sorriso e tirei Oliver de lá antes que ele explodisse , deixei Patrick para trás claramente irritado e ri alto . Eu sabia que apenas aquilo , havia deixado claro o quanto eu estava magoada .