O Boneco escrita por J N Taylor


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Infelizmente, esse é o último capítulo. Agora, para terminar oficialmente, teremos um epílogo.



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Aaron se virou para sair do quarto, para que ela pudesse comer sozinha, mas a garota o chamou de volta. Ele se virou e ela fez um gesto para que ele se sentasse na cama. Ele sentou. Ela sorriu para ele e se inclinou. Ele se levantou com um salto, desviando do beijo.

–Não, Christy. Desculpa.

–Mas, Aaron, eu não entendo.

–Aaron! - a voz de Liam ecoou da sala.

–Meu irmão. - ele suspirou, aliviado - Tenho que ver o que ele quer. - deu um pulo e saiu do quarto.

–Aaron! Quantas vezes o pai já falou pra fechar a maldita porta do porão?

–Mas eu fechei. - disse ele, pulando o último degrau da escada.

–O que ela está fazendo aberta? - e apontou pro corredor.

–Não. Não. Não! - ele saiu correndo em direção ao porão e entrou, quase tropeçando na descida da escada. Olhou em volta e a corda estava enrolada de frente para o último degrau – Mas que…

–Que houve? - disse Liam entrando logo atrás dele.

–Não acredito. - ele se virou e subiu correndo, por pouco não bateu de frente com o irmão. Subiu para o quarto o mais rápido que conseguiu – Ele sumiu.

–Como? - ela disse, dando a última golada do leite.

–Ele não está no porão.

–O que está acontecendo com… - disse Liam entrando no quarto. Ele parou ao ver Christy – Vocês dormiram aqui? Juntos?

–Isso não importa, Liam. - disparou Aaron – Você viu o boneco?

–Ele está no seu armário, eu acho. - ele se virou e abriu a porta do armário – Onde você colocou ele?

–Eu joguei ele, amarrado, no porão.

–Não, não jogou. Vimos que estava vazio.

Que tatuagem é essa? - ele apontou para um pequeno desenho saindo por cima da camiseta.

–É uma runa do amor.

–Quem disse isso?

–A Katie. - ele puxou a camiseta branca para baixo e mostrou um desenho de um círculo perfeito cortado por uma linha reta que ia até abaixo do círculo, se transformando em um tridente invertido.

–Quero ver o que nossos pais vão achar disso.

***

Depois de arrumarem a bagunça, se concentraram em descobrir o que poderia ter dado vida ao boneco. A manhã, e boa parte da tarde, foram consumidos nessa tarefa. Nenhuma resposta exata. Liam ouviu o telefone tocar e atendeu. Era o pai. Trocaram algumas palavras e depois desligaram.

–Mais um dia na casa da tia Mary. O pai vai trabalhar e a mãe conseguiu uma folga.

–Bom, temos um problema. Sozinhos e com um boneco homicida. - disse Aaron, sarcástico.

–Só estou ajudando vocês para provar que esse boneco não é de verdade. Eu não acredito nisso, certo? - respondeu Liam, um pouco agressivo.

–Achei algo. Ele pode ter sido criado por uma pessoa. Mas tem um problema.

–Qual? - perguntaram os dois garotos.

–O feitiço deve ser praticado sobre um objeto.

–O boneco, no caso. - respondeu Aaron.

–Sim, mas os feitiços que achei só duram uma semana.

–Depois disso?

–Ele ganha inteligência. E passa a matar as pessoas. Até encontrar alguém que ele ache digno de ser seu mestre. - Christy parou, esperando uma reação.

–Ele tentou me matar. - murmurou Liam – Aquela merda daquele boneco tentou me matar. Aquela noite que te acordei, Aaron. Achei que você o tinha colocado lá.

–Rapazes. - Christy apontou para a porta. Os dois viram apenas uma pequena sombra passando rápido. Os três correram na direção daquilo. Viram algo passando rápido para o banheiro do andar de cima. Eles entraram a tempo de ver o boneco quebrar a janela e pular para a rua.

–Ele foi pra minha casa. - eles seguiram a garota, que passou como um raio pela casa e atravessou a rua desesperada. Empurrou a porta com toda a força e entrou.

Ouviram o som de algo quebrando no andar de cima. Subiram a escada desesperados. Christy suspirou pela mãe e pelo pai estarem trabalhando. Ela indicou para eles a única porta aberta. Entraram. O boneco estava sentado na cama do quarto dos pais dela. Ela poderia jurar que viu um sorriso surgir em seu rosto.

–Que porra é essa? - gemeu Liam.

–Essa porra é o maldito boneco que eu falei que estava me perseguindo! - Aaron gritou a frase o mais alto que pode. Saltou sobre o irmão, tentando dar um soco nele. Christy soltou um gemido alto quando o boneco saltou da cama e andou em direção a eles.

–Me queimem. - o boneco disse. Christy desmaiou – Me queimem.

–Como? - Aaron disse, confuso, ajudando a amiga, e Liam recuou um passo

–Me queimem.

–Por que?

–Porque eu mereço. Não acham estranho todos esses suicídios recentes?

–O que você sabe sobre isso?

–Eu os matei.

–Como? É impossível.

–Não, não é.

–Uma garota me criou. Um dia, ela me mandou assustar uma pessoa. Depois outra.

–Você induziu as pessoas ao suicídio? - disse Liam, recobrando o fôlego.

–Não quero falar com você. - o garoto abriu a boca, mas a fechou novamente.

–Continue. - pediu Aaron.

–Um dia, uma das pessoas foi perseguida por mim. Eu não entendia. Só seguia a ordem.

–Sim, sim. Continue, por favor. - Aaron se sentou no chão, encostando na parede.

–Essa pessoa correu e caiu do alto de um prédio. Depois só ouvi a ordem de assustar o máximo que podia. Eu fiz.

–Quem era a garota?

–Não lembro. Era Katie. Mas não lembro o resto.

–Essa Katie? - disse Liam pegando a carteira, abrindo e mostrando a foto da namorada.

–Sim, essa. - assentiu o boneco.

–Não. Quanto tempo?

–Do que ele está falando, mestre? - disse para Aaron.

–Mestre?

–Sim, você é meu mestre. Sobre o que ele está falando?

–Ele quer saber quando você foi…? Você sabe. - Christy acordou lentamente e se recuperou quase que instantaneamente ao se ver na situação.

–Enfeitiçado. Duas semanas.

–Então você não é meu servo da Katie. Por que veio atrás de nós?

–Porque eu mandei. - disso o pai de Christy entrando no quarto com uma arma. A pistola tinha um silenciador – E por que eu mandei? Porque eu precisava de um espião. De um agente. De alguém que causasse medo.Por que precisava disso? Precisava de uma desculpa para o suicídio. Eu causei todas as mortes “acidentais”. - disse, enfatizando a última palavra. E continuou – E os suicídios. Por que? Porque eu quis. Por que estou dizendo isso? Porque vou matar vocês.

–Não seria estranho a polícia chegar e ver três crianças mortas na sua casa?

–Eu cheguei de um dia cansativo no trabalho. Minha filha e os amigos estavam mortos. - ele encenou uma lágrima.

–Cara… - disse Liam, fazendo uma curta pausa – Que porra você tem na cabeça para matar pessoas?

–É divertido. Diria para você tentar se não fosse morrer agora.

–Por que faria isso, pai?

–Porque eu quero, é divertido. Ver o rosto de medo de vocês.

–Espere. - disse o boneco – Estou sob seu controle por uma semana. Alguém poderia me dizer as horas? - o boneco fraquejou para o lado e caiu. Se levantando em seguida – Não precisa. Você não matará essas crianças.

–O que? Quem vai me impedir? Você?

–Sim.

–Ainda sou seu mestre. Sente-se e observe.

–Não. - e cruzou os braços – O único motivo dele ter me temido foi ter medo de bonecos. Eles não tiveram medo de mim agora. Só a garota. Mas ele – apontou para Aaron – não me temeu agora quando falei. Ele me ouviu.

–Ele ouviu a minha mentira. Agora, controle-se, criatura, e fique.

–Não! - e correu na direção do homem. O pai de Christy disparou a arma, que mesmo com o silenciador, fazia muito barulho. O tiro acertou no peito do boneco, que olhou para baixo – Eu gostava dessa roupa! - e correu novamente. O homem foi recuando das investidas. Ao chegar na escada, tropeçou e caiu. O boneco correu pela escada e gritou para que os três saíssem. Quando se afastaram, ouviram os gritos do pai da garota. Minutos depois, o boneco saiu. E atravessou a rua vazia. Todos estavam trabalhando. E as crianças estavam brincando em alguma praça, aproveitando o fim das férias. A pequena criatura de madeira estava coberta de sangue.

–Deus, o que você fez? - murmurou Aaron.

–Livrei vocês.

–Temos que queimar isso! - urrou Liam.

–Temos mesmo, Aaron. - apoiou Christy.

–Não vou.

***

Já era noite. O vento estava assoprando frio e todos vestiam um grosso casaco. Em poucos minutos, a chuva cairia. Os pais de Aaron voltariam em dois dias, haviam ligado para avisar. Eles fizeram uma pequena fogueira nos fundos do quintal.

–Jogue-o. - ordenou Liam.

–Espere. - disse Aaron calmamente – Não é fácil.

–Por que ele te chama de mestre? - riu Christy.

–Sim. Ter o respeito de alguém e ter que matar esse alguém depois não é fácil, sabiam?

–Sim, imagino. - disse a garota.

–Posso fazer isso sozinho? - pediu Aaron.

–Como quiser. - concordaram os dois e entraram. Ele esperou alguns minutos e olhou para as janelas. Todas estavam fechadas. A chuva fina começou a cair.

–Mestre, não me mate. - disse o boneco, quase implorando.

–Você sabe que preciso.

–Mestre, você pode escolher.

–Eu creio que poderia salvar você. Mas eu tenho que te queimar.

–Você quer?

–Não. Eu tenho um plano. Você precisa fazer uma coisa.

–Como quiser.

Ele explicou o plano detalhadamente. O boneco assentiu com a cabeça e foi seguir as ordens. Um tempo depois, Christy o chamou.

–Sim. - ele entrou correndo.

–O queimou?

–Acabei de jogar ele no fogo. Me deixe um momento. - ela concordou e fechou a porta. Ele suspirou aliviado. Dez minutos depois o boneco voltou, com um saco.

–Não me orgulho em fazer isso com um amigo. - disse o boneco.

–Não pense assim. Ele é apenas um boneco de madeira. Você é um ser inteligente.

–Que seja. - e abriu o saco, mostrando outro boneco no saco. Aaron pegou e jogou o boneco comum no fogo. Tirou o casaco e enrolou o novo amigo.


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