Vergo escrita por Tris, Panda girl


Capítulo 9
3x1


Notas iniciais do capítulo

Olá terráqueos.
Bom, eu acabei me contradizendo ao falar que "nós vamos demorar pra atingir um número tão grande de palavras, isso se atingirmos."
Pois é, nós atingimos, ou melhor nós ultrapassamos e muito.
O consideramos como o "maior capítulo de vergo" (mas vai saber, né? Então, se preparem.)
Voltando a história do "vocês poderiam ter dividido. Fazer parte 1 e parte 2"
Sim poderíamos, mas eu já expliquei que eu tenho TOC (sqn) e isso ia me incomodar muito, mas muito mesmo, ver dois Verne's repetidos, ou dois Gordon's repetidos. E o capítulo todo é um conjunto.
Então pare de reclamar e vai ler, você vai ver que está legal, e se separássemos não ficaram tão "emocionante".
Então boa leitura, bom Vergo e bom fim de semana. :)
Tris



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Meu telefone vibrou em cima da cama. Estava escovando os dentes mais fui ver assim mesmo.

Gordon: "Obrigada pela janela".

Sorri, sujando o chão do quarto de pasta de dente e quase deixando a escova cair, mas não ligava, o Gordon estava falando comigo e eu não podia perder essa oportunidade.

Depois daquele dia que eu sai da casa dele, eu comecei a ficar meio desesperado, pois eu não sabia o que fazer. Eu de fato tinha pensando que só aquilo daria certo, apesar de lá no fundo o meu subconsiente gritava que daria merda, como sempre. Então, eu fiquei sem saber o que fazer.

Ele tinha me dito que continuaria falando comigo, mas eu tinha que puxar assunto, tinha que fazer qualquer coisa pra mudar aquele “não” dele para um “não temporário”.  Então, graças à um abençoado passarinho que fez cocô na janela do meu carro quando eu estava estacionando em casa, eu lembrei que tinha quebrado a janela do Gordon.

Não quis parecer muito desesperado depois de tudo, então esperei umas 4 horas pra mandar a mensagem pra ele.

Você: "Oi Gordon.”

Você: “Dsculpa incomodar mas eu tenho q falar com vc sobre a sua janela né?”

Você: “Dsculpa de novo."

Ele me respondeu lá pelas quatro da manhã e disse que não tinha problema, mas mesmo assim eu acabei pagando pelo conserto no final. Meus pais nem souberam de nada. Não queria que eles enchessem o meu saco e, também, se eu contasse para eles, isso os levaria a fazer diversas perguntas como “por que você quebrou a janela desse menino?” ou “Verne, você tá maluco de ficar quebrando janelas?" e eu também não queria aborrecer meu pai. Por isso, como já era final de mês mesmo, eu gastei o resto de mesada que eu tinha.

No final? Tudo acabou bem: sem meus pais saberem, o Gordon com uma janela nova, e, o melhor, eu falando com ele.

— Verne? Tá escovando o dente ainda? Já sabe que horas são? — meu pai disse batendo na minha porta.

— Já 'to indo. — eu disse gritando e voltando pro banheiro.

Depois de limpar o chão e a minha blusa de pasta, fui responder o Gordon.

Você: "Que isso. Eu literalmente tava te devendo uma janela".

Gordon: "kkkk"

Você: "Eu tava pensando..."

Gordon: "No que?"

Você: "A gente podia fazer alguma coisa no fim de semana..."

Você: "Se vc quiser, é claro! "

Gordon: "Tá pode ser. A gente podia ir jogar boliche. "

Você: "Isso! :) "

Gordon: "No sábado to livre. "

Merda! Sabia que estava tudo indo muito bem. Sábado era um péssimo dia. Era dia de treino com meu pai. Sábados eram sagrados pra ele.

Você: "Ñ pode ser domingo ñ? "

Gordon: "Ñ posso".

Você: "Mesmo? "

Gordon: "Sim. Só posso sáb. "

Você: "=/"

Gordon: "Qlqr coisa marcamos pra depois então... "

Não podia perder aquela oportunidade. Depois eu me virava com o meu pai, era o jeito.

Você: "Ñ. Dá pra ser sábado sim. "

Gordon: "Mesmo?"

Você: "Sim. "

Gordon: "Que hrs? Pode ser 16:00? "

Você: "Sim. "

Gordon: "Até sábado então."

Gordon: “Eu tenho q ir.”

Gordon: “Aula. :(“

Você: “Eu tb. :’(“

— Verne? Cacete! Vai perder a aula e vai à pé pra escola!

— Oi — eu disse pegando a mochila e descendo as escadas correndo. — Já ‘to aqui.

— Finalmente, né! Vamos.

— Espera aí... Você vai me levar? Por quê?

Meu pai nunca mais me levou pra escola desde o dia que ele me deu meu carro. Ele disse que não querer se atrasar mais para o trabalho foi um do principais motivos dele ter comprado um carro para mim.

—Porque seu carro tá nojento, e sua mãe vai leva-lo no lava-jato pra mim, enquanto eu te levo pra escola, que é caminho pra mim.

—Só por causa do cocô de passarinho que você quer levar ele pra lavar?

—Sim, Verne, foi só por causa disso. — e deu um tapa na minha cabeça — Claro que não, né! ‘Tava nojento seu carro.  Tinha até a marca de uma mão no capo de tão sujo que ‘tava. Nem sei como aquela mão foi parar lá.

Mas eu sabia. Era da Leslie, com certeza. Ela colocou a mão lá quando eu freei, mas é claro que eu fiquei quietinho como um bom menino e fui pro carro do meu pai. Mesmo porque, eu ainda tinha que falar com ele que sábado eu tinha um compromisso então, eu não queria ganhar outro tapa daquele ou coisa pior.

Avaliei a situação, ou seja, olhei pra ver como estava a cara dele, esperei pra ver se alguma coisa no trânsito iria aborrecê-lo e, quando eu vi que eu já estava quase chegando, eu tive que falar.

— Pai...

— Fala, Verne.

— É, nós vamos treinar sábado?

— Sim, a gente sempre treina sábado. Tá cheio de pergunta idiota hoje hein, Verne?

— É que eu queria saber se eu podia trocar o treino pra outro dia...

— O quê? Claro que não. Nós treinamos todo sábado. Você sabe disso.

— Eu sei pai, mas é que tem uns amigos meus querendo ir no boliche...

— Ah Verne, francamente. Quer desmarcar o treino pra ir jogar boliche com Nathan e Justin e Charlie e aquele outro lá? Porra, francamente, hein.

— Você não ‘tá entendendo, pai. Não é com eles que eu vou jogar, é com outros amigos, você não conhece ainda.

— Mesmo assim, não vai trocar o treino, não.  E se quiser, você vai depois que acabar.

O problema dos treinos que meu pai fazia era que ele passava dos limites. Treinar, eu treinava praticamente todo dia, mas nos sábados ele tirava o dia todo pra me ensinar coisas novas e ver como eu estava, e se eu estava preparado pra alguma competição.

Sim, eu competia desde pequeno e, como meu pai e meu avô também já competiram diversas vezes e ganharam diversas medalhas e não sei o que mais, eles queriam que eu fizesse o mesmo. Ou melhor, meu pai queria.

Venho de uma família obcecada por luta, e se você pensa que isso é bom, está enganado, porque se você tivesse um pai louco igual o meu, que montou a própria academia em casa pra treinar o filho, porque pensava que ninguém seria bom o suficiente pra me ensinar... Bom, você saberia o quanto isso não é nada legal.

— O treino acaba de noite, pai...

— Vai de noite ou então não vá. Simples.

— Olha, — eu disse me virando e olhando pra ele — eu treino nesse domingo  todo, e na outra semana eu treino sábado e domingo de novo, mas deixa eu ir, por favor.

— Por que você tá querendo tanto ir nesse boliche? Você nunca quis trocar nosso treino, o que tá acontecendo? ‘Peraí.... tem garota, não é?

Eu simplesmente gelei com o “’peraí” dele, mas felizmente ele estava pensando que era alguma garota, e não seria eu quem iria desmentir aquilo às 7 horas da manhã.

— Bem, é um rolo aí....

— Que garoto rápido. E a outra lá? A que parecia uma piriguete? Já acabou?

— Ah, é! Sim. Eu terminei com ela. — mas de tudo naquele momento, falar da Abigail era a última coisa que eu queria. — Enfim pai, eu posso fazer essa troca? Por favor, prometo que semana que vem eu treino sábado e domingo, e eu treino esse domingo também.

Ele resmungou algo e acabou deixando no final, e era isso que importava.

—Valeu, pai! — eu gritei e saí do carro.

Entrei na escola e descobri que eu tinha perdido o primeiro tempo, que meu pai iria brigar comigo depois, porque fui eu quem enrolei, mas o importante é que eu iria jogar boliche com o Gordon.

Só eu e o Gordon.

Não poderia perder essa oportunidade de jeito nenhum.

••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

Eu não sabia que roupa vestir. É claro que não seria legal usar uma coisa muito chique ou provocativa, ia passar uma imagem de desesperado. Mas eu também não queria parecer um mendigo.

— Merda! — gritei, jogando um travesseiro contra a parede

Automaticamente me arrependi por ter gritado. Se meu pai tivesse escutado, eu definitivamente estaria de castigo.

Após oito longos minutos decidindo que roupa usar, optei por jeans brancos e uma gola polo verde-escura. Tudo isso acompanhado de um tênis de cor bem neutra.

Demorou um pouco para chegar até o boliche, mas valeu a pena.

Era um lugar bonito.

Logo na entrada, tinha umas plantas altas e umas recepcionistas, todas de vestido tomara-que-caia preto e salto alto. Mas elas já não me chamavam mais atenção.

Passando pela porta, dava pra ver uns letreiros de neon, e fotos de artistas que, por algum motivo desconhecido, já passaram por lá. Garçons, com a camiseta de uniforme xadrez mais feia que eu já vi, corriam loucamente com bandejas, a maioria cheia de fritas com queijo e bacon.

Olhei ansiosamente para todos os lados, tentando encontrar o meu... Amigo? Bem... tentando encontrar o Gordon.

— Verne, oi. — o Gordon disse sorrindo e veio me cumprimentar.

— Oi, Gordon, e aí? Tudo bem?

Eu estava muito feliz de estar ali, e eu não podia acreditar que eu estava saindo com o Gordon. Nada poderia estragar aquilo a não ser uma criança de 1,65m que chegou de repente abraçando o meu Gordon.

— Gordon, não te conto a maior! Conseguimos a pista, graças à mim, é claro.

— Sério? — o Gordon disse se virando pra pessoa — Que ótimo. Bom, Verne, eu acho que você não o conhece, mas esse é o Oliver, um amigo meu. Eu o chamei pra vir jogar com a gente. Tem problema?

— Não, claro que não, Gordon, que isso. Prazer, eu sou o Verne. — eu disse estendendo a mão pra pessoa, mas ela só me deu um “tchauzinho”.

Sim, Gordon, é claro que tem problema você chamar um ser completamente estranho pro nosso encontro.

Espera aí, também, o que eu estava pensando? Ele deixou bem claro que éramos só amigos, e que ele só estaria me dando uma força. Mas, com mais alguém ali, as coisas seriam mais difíceis.

E então eu reparei melhor no garoto. Ele era meio magricela também, e tinha um topete que ele descoloriu e acabou causando um belo contraste com o resto do cabelo castanho.

E eu pude perceber que aquele menino era o mesmo menino que estava segurando a mão do Gordon, no dia que eu fiquei com a Abigail. O mesmo que estava enchendo a bebida pra ele e que estava literalmente se atirando pra cima do Gordon, e agora ele estava ali pra jogar boliche com a gente.

Eu não sabia se o Gordon tinha feito aquilo de propósito, mas se fez, foi muito bem pensando, porque ele simplesmente conseguiu acabar com a minha autoestima sendo que fazia menos de 5 minutos que nós havíamos nos encontrado.

— Bom, então vamos pegar os sapatos e começar o jogo.

— Aposto que eu vou ganhar — o tal do Oliver falou pro Gordon.

— Puff.

— O que você falou, Verne? — ele me perguntou.

— Nada, só acho que você tá muito confiante.

— O Oliver é assim. Nunca vi uma pessoa tão confiante de si mesmo.

— O papai aqui sabe das coisas — Oliver disse.

Eu só  tinha passado dez minutos com aquela criatura e já queria esganá-la. Pelo visto, o resto da tarde prometia.

— Mas como você pode ter certeza que vai ganhar se nem conhece os adversários?

— Por isso mesmo que eu estou dizendo que eu vou ganhar. — e olhou pro Gordon com cara de pena e disse — Desculpa Gordon, mas ganhar de você é fácil. — e virando-se pra mim completou — Agora você? Você vai ser mais difícil, mas eu ganho também.

— Duvido. — eu disse.

— Quer apostar?

— Ih, Verne, se eu fosse você não apostava com ele não — o Gordon falou. — Da última vez ... Bem ... não deu muito certo.

— Vai querer apostar ou não, Verne?

— Quem ganhar ganha o quê?

— Bom, que tal se quem perder ter que pagar o jantar de todo mundo?

O menino pelo menos sabia como apostar. Eu podia muito bem ganhar aquele jogo, e fazer com que aquele metidinho pagasse toda a minha janta e a do Gordon.

—Tá, aceito.

— Vai querer apostar também Gordon? — Oliver perguntou com a mão no ar.

— Depois da última vez que apostamos, não aposto mais nada com você. — ele disse rindo.

— Então, só nos dois mesmo né? Fechado. — ele disse apertando a minha mão.

O painel mostrou que o jogo já tinha começado, e o Oliver foi pegar a bola. E antes de jogar, ele virou para trás, nos olhou e disse:

— E que os jogos comecem.

O filho da mãe ainda era meio nerd. Iria ser um concorrência difícil pra mim pelo visto, mas eu não iria desistir, mesmo porque, eu iria ganhar dele fácil no boliche.

E eu perdi.

Mas não foi uma perda boa não. Foi uma perda tão ruim quanto o 7x1 que teve num jogo da Copa.

O filho da puta fez 130 pontos, o Gordon ficou em segundo com 123 pontos e eu simplesmente fiquei com 82 pontos. OITENTA E DOIS. E o pior disso tudo foi ter que me segurar pra não socar a cara risonha que ele me deu quando o jogo acabou.

Sério, eu odiava aquele garoto.

— Bom, eu não preciso dizer que eu avisei, né? — Gordon disse — Nunca mais eu aposto com o Oliver.

— Nem eu — eu resmunguei.

— Sabia que agora me deu uma baita fome? E aí? Onde vamos?

Acabamos indo para um restaurante meio chique. Gordon disse que não precisava, mas como eu tinha me ferrado e teria que pagar para eles, eu pensei em ir em um lugar bom, pra mostrar que eu tenho bom gosto e que o fato de eu ter que pagar o jantar de todos não era um problema pra mim. Sim, eu queria esfregar na cara do Oliver que eu podia pagar, e que a aposta dele não tinha me atingido.

Fui no meu carro sozinho, e Gordon me seguiu porque não sabia o caminho, com o Oliver no carona, me deixando irritado pelo fato de ele estar com ele sozinho no carro, e eu não.

Chegamos no restaurante e por sorte, tinha mesa disponível.

Sentamos e eu perguntei:

— E aí? Gostaram?

— É, até que aqui é bonitinho. — Oliver disse, fazendo uma cara de “nojinho”.

— A gente não precisava ter vindo aqui, Verne. — Gordon disse

— Ah, mas a comida é boa, e aqui sempre tem mesa.

— Claro, porque aqui é caro pra cacete sem ter necessidade de ser. — Oliver falou.

— Já veio aqui antes, Oliver? — Gordon perguntou.

— Não, mas meu tio já. Ele não gosta daqui.

— Então você não pode dizer que não gosta daqui se baseando pelo gosto do seu tio. — falei

— Posso sim. Meu tio é chef e já ganhou no Masterchef.

— Sério? — Gordon perguntou.

— Sim.

E eu calei minha boca, até o garçom aparecer, fazer nosso pedido e, somente quando trouxeram nossa comida, eu voltei a falar.

— Então, já faz muito tempo que vocês se conhecem? — Oliver perguntou enquanto colocava a comida na boca.

Eu sabia q o que ele queria era me testar, mas, dessa vez, eu tinha a resposta.

— Bom, contando desde o primeiro dia que nós nos vimos? — eu disse olhando para o Gordon — já faz uns dois meses não? — completei sorrindo.

— É — ele disse me olhando de volta— Eu acho que é isso mesmo.

Ele sorriu de volta.

Chupa essa Oliver!

— Então você conhece ele a mais tempo do que eu. — ele disse depois de mastigar.

Pois é, não é querido!?

— Eu o conheci em uma festa.— Oliver emendou — Foram uns alunos da escola dele que organizaram a social. Foi um bando de gente. Sabe de qual eu ‘to falando?

— Sim — eu disse, e dessa vez olhei para o meu frango no prato.

— É provável que você estivesse lá também, mas tinha tanta gente que eu não vou lembrar. Mas eu tive sorte de encontrar você não é, Gordon.

— Foi — ele disse rindo. — Você ‘tava bem bêbado.

— Não ‘tava não — ele disse sério

— ‘Tava sim, ‘tava tomando vodka com coca, na hora que você me encontrou e o seu hálito mostrava que aquele não tinha sido o primeiro copo.

— Isso não significa que eu estava bêbado.

— Ah, Oliver!

— É sério, você ainda não me viu bêbado.

— ‘Peraí — eu disse entrando na discussão dos dois — Você ficou bêbado com vodka e coca?

— Não! Já disse. Mas vodka com coca é bom. O Gordon gostou, não foi?

— Tecnicamente, meu copo caiu e não deu tempo para provar ...

— Seu copo caiu antes, Gordon!

— Bem... — pelo visto o Gordon estava enrolando

— Bom, você pode até não ter provado e pensar que eu estava bêbado naquele dia, mas você só me conheceu, Gordon, por causa da vodka com a coca.

“E eu acho que pelo fato da nossa primeira conversa ter sido comigo "bêbado", isso acaba sendo algo difícil de esquecer não é mesmo? — ele deu uma piscadela e riu.

Merda. Aquele menino sabia jogar mais do que boliche.

Mas eu tinha uma cartada na manga.

— Não mais estranho do que se encontrar pela primeira vez num restaurante mexicano, comendo nachos, enquanto falsos mariates passavam tocando músicas mexicanas e nos entregando sombreiros, enquanto éramos contemplados por um burro de plástico que também usava sombreiro.

E o Gordon riu.

— Eu ‘tava com medo daquele burro esquisito lá! — ele disse rindo.

— Era muito estranho! Tinham umas caveiras também, não tinham?

— Tinham. E as meninas nos olhando.

—É! Eu ‘tava era com medo delas, isso sim.

E então rimos mais um pouco.

—Parece bem estranho mesmo. Mas, olhando pra você, eu não estou surpreso. Assustado, talvez, mas não surpreso. — Oliver disse olhando pra mim e riu

Merda. O que ele queria dizer com isso? Que eu era estranho?

— Na verdade, não fui eu que escolhi o restaurante, mas foi até legal. — Gordon disse.

— Eu gosto de lugares assim. — disse Oliver — Mas festas são as melhores. Já fui em algumas com o Gordon.

—Ah, é?

Eu não sabia daquilo.

— Não sabia que você gostava de sair de noite, Gordon.

— Não gosto muito, não. É porque o Oliver me chama, aí eu vou.

— Claro! Vou ficar lá sozinho? Não quero, não! Virou meu companheiro de noitada.— ele disse cutucando o Gordon com o cotovelo.— Lembra aquele dia? Que o cara disse que tava bem, e o outro falando que ele ‘tava bêbado e no final ele acabou vomitando em cima daquela menina? Bem nos peitos? E ela deu um tapa na cara dele?

— Sim. — Gordon ria — Teve aquela vez também que aquela menina de cabelo preto achou que você era hétero e começou a dar em cima de você.

— É! — Oliver disse mais empolgado ainda — Ela era retardada? Como ela não percebeu que eu sou gay!?

— Ela não percebeu? — eu perguntei, já que aquilo era meio difícil.

— Bom, mas no final, como ela não conseguiu meu número, ela ganhou o número da loja que eu comprei o casaco de estampa tribal. — ele disse ignorando minha pergunta.

— Foi. Mas aquele casaco é lindo. Eu gosto dele. — o Gordon disse.

— Eu sei! Só não te empresto porque ele é meu favorito.

— Não ia ficar legal em mim mesmo, e eu acho que nem naquela menina. Mas em você, ele fica muito bem.

E doeu um pouco ouvir o Gordon elogiando o Oliver. Estava começando a pensar em ir ao banheiro pra tentar sair daquela conversinha quando o Oliver disse:

— ‘Teve outro dia também. Que nós fomos numa festa, ou você já estava, não lembro. Eu só sei que tinha um casalzinho hétero se pegando no meio da pista de dança e todo mundo parou e ficou olhando aqueles dois lá, foi muito estranho, e ela nem era bonita. ‘Tá, tudo bem, eu nem vi a cara dela pra saber, mas, pelo mal gosto que ela escolhia as roupas dela, já dava pra saber como era.

Então eu vi que era hora de ir mesmo no banheiro.

— É, eu vou no banheiro e já volto.

E sai.

Oliver sabia muito bem como ser um filho da puta.

Literalmente, eu fui no banheiro.

Tinha mictórios e acabei usando, não porque eu gostava, mas porque os banheiros não estavam nem um pouco agradáveis(o que era um absurdo para um restaurante como aquele) e, juntando isso com a minha vontade de vomitar pela situação constrangedora e desagradável que eu me encontrava, resolvi não arriscar.

E eu pensando que eu tinha acertado uma dentro com o Gordon quando eu disse pra ele do restaurante mexicano.

Não podia acreditar naquilo e nem no que estava acontecendo.

Enquanto eu mijava, absorto nos meus pensamentos, olhei pro lado e percebi que tinha um cara.

— Poxa. — ele disse me olhando. Bom tecnicamente ele não estava "me" olhando, mas....

— Ei, cara! — eu disse.

Fechei o zíper lavei as mãos e sai o mais rápido possível do banheiro.

A noite estava sendo um bela bosta.

— Oi. —eu disse chegando na mesa e percebendo que eles já tinham acabado, e que o garçom já tinha retirado os pratos. —Vocês vão querer mais alguma coisa? — eu perguntei. Não queria ficar ali mais nem um minuto.

— Não. — Gordon respondeu, enquanto Oliver só fez um aceno rápido com a cabeça.

— Garçom — eu chamei.

— Sim?— ele respondeu.

— Você pode trazer a conta, por favor?

— Claro. — e então, ele olhou pro outros — Traz as três separadas ou traz tudo junto?

— Não, pode trazer junto, eu que vou pagar.

— Ah! É mesmo! — Oliver se manifestou — Eu tinha esquecido! Garçom, então traz o menu com as sobremesas por favor?

Eu não conseguia acreditar que depois de comer tanta coisa, ele ainda queria comer sobremesa.

— Está aqui — disse o garçom que havia voltado.

Oliver analisou por um tempo o cardápio, e depois se voltou para o garçom

— Bom, traz um petit gateau, uma fatia pudim e, essa taça de morangos com chantilly pode vir com calda de chocolate?

—Sim, é só pedir para adicionar.

—Ótimo. Então é isso.

—Valeu, Oliver — eu disse —Mas eu não quero sobremesa não.

—Nem eu. — Gordon completou

—Quê?

—É que você pediu três doces diferentes. — eu disse.

—Ah, mas eu pedi pra mim. Se vocês quiserem, tá aqui o cardápio.

Eu não podia acreditar que ele ia comer aquilo tudo. Até o garçom tinha ficado surpreso.

— Que foi gente? — Oliver disse olhando para nossas caras— Eu sempre gostei um pouco de açúcar.

E sorriu.

••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

Gordon, Oliver e eu, após o maldito episódio de gula (que me custou bem caro, por sinal), combinamos de ir no zoológico da cidade. Eu, honestamente, não era muito fã de zoológicos, mas acabei aceitando. Afinal, a não ser que Oliver fosse capaz de comer vinte sacos de algodão doce, ele não ia poder me extorquir naquele lugar.

Antes de sair, acabei sendo "obrigado" a levar o cachorro da Kate pra passear. Não era um grande problema, porque acabou sendo um motivo para a gente se falar. Ela vinha me ignorando fazia um tempo, e eu decidi quebrar um pouco o gelo que apareceu desde o dia que brigamos.

Por isso, acabei me oferecendo pra levar o cachorrinho pra passear. De certa forma, eu tinha sido obrigado.

Boswell era um pequeno filhote vira-lata filho de labrador com golden retriever muito safado. Eu, ao mesmo tempo, odiava e amava aquela criaturinha, mas levá-lo para passear era um verdadeiro desafio, pois ele era hiperativo (mesmo que os exames não comprovassem, eu tinha certeza).

O passeio já estava no fim, e eu já ia chegando no quarteirão da minha casa pra devolver o pestinha e sair pro zoológico quando alguém me parou.

— Oi! — era Oliver, com uma voz fina e irritante

— Ah, oi. Vai precisar de carona até o zoológico? — não que eu quisesse dar carona para ele, mas eu tinha que ser "educado".

— Meu Deus, você é muito lindo!

Eu estranhei por dois motivos: Oliver me elogiando e a voz extremamente forçada.

— Mas o que diabos você acha que 'tá fazendo? —perguntei

— Ah, oi, Verne. Eu ‘tava falando com o cachorro. Bonito ele, não é?

Como assim ele estava falando com o cachorro? Quem diabos fala com cachorros? E por que ele usava uma jaqueta rosa em plena luz do dia? Aquele menino era um caso a ser estudado.

— Vai querer carona ou não? — perguntei

— Não, obrigado. Eu ia pegar um ônibus, para ir direto ao zoológico. Você mora aqui? — E apontou com o dedão pra uma casa aleatória

— Não, eu 'tava levando o cachorro pra passear.

— Quer ir de ônibus comigo? Eu te espero até deixar o fofucho aí em casa.

— Acho que eu vou de carro mesmo. Te vejo lá.

E fui embora, deixando a criança gay sozinha na esquina, e pensando o que ele estava fazendo naquela rua, e se eu era vizinho dele, e até o momento eu não sabia.

Torci para que ele só estivesse perdido ali mesmo.

••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

Depois de devolver Boswell, entrei correndo no carro e fui em direção ao zoológico. Eu precisava chegar antes do Oliver a qualquer custo.

Fui aproximando da entrada e vi Gordon me esperando. Sozinho. Um ótimo sinal.

Desci do carro e ele acabou vindo até mim.

—Oi, Verne. Quer água? Eu comprei umas garrafas, lá dentro é mais caro.

Que forma mais broxante de puxar assunto, mas acabei relevando e aceitando a água.

Oliver chegou uns minutos depois, com a mesma jaqueta ridícula de antes.

—Oi, Gordon. Oi, Verne! Sabia que ele tem um cachorro? — disse Oliver apontando pra mim.

—Você tem? Como eu não sabia disso ainda?

—Não é meu, é da Kate. Tive que levar ele pra passear.

—Ah. Eu já vi ele. É o Boswell, né?

—Sim.

Um silêncio estranho tomou conta do lugar até eu decidir pagar os ingressos de todo mundo. Por alguma força divina, o de Oliver custou mais barato, porque a moça do caixa pensou que ele era mais novo.

É claro que fomos direto para a atração principal: os leões. Depois, passamos por outros animais famosinhos, como a girafa e o canguru.

Paramos pra comer alguma coisa e, por ser extremamente trouxa, paguei um cachorro-quente pra cada um. Gordon, como sempre, não queria, não queria, mas eu insisti. Oliver, como sempre, adorou ganhar comida de graça.

Enquanto comia, fiquei observando Gordon. Ele usava uma camiseta legal com um trocadilho estampado nela. A cada mordida, a camiseta balançava um pouco, deixando tudo mais mágico. Não preciso nem dizer que Oliver atacava seu cachorro-quente como se atacasse a pessoa amada, e isso me fez desejar que a pessoa não fosse o Gordon.

Depois de comer, fomos até a parte das cobras, não muito interessante. Seguimos até a parte dos animais para os quais ninguém liga: cabras, bodes e uns pássaros de pernas longas que eu não lembro o nome.

E, de repente, enquanto estávamos andando e eu observava a luz do sol bater no rosto do Gordon deixando os olhos dele, castanhos, parecerem mais claros e, apesar do sol, estava meio frio, e as bochechas dele meio rosadas, Oliver atacou novamente.

— Meu Deus! — ele soltou um grito estupidamente alto, chegando a me assustar — Olha, é o Verne! — Ele apontava pra um bicho levemente familiar, mas não tinha como saber, porque eu estava um pouco afastado

Fui chegando perto e percebi o que era.

Um pequeno veado comia sua ração com um brilho imenso nos olhos enquanto empinava o traseiro para tudo e todos que estivessem dispostos a olhar.

Empurrei Oliver de leve, tentando parecer legal na frente de alguns turistas e mães de famílias que andavam por ali.

— Me desculpa, amigo, mas acho que esse aí é você mesmo! — e ri forçadamente.

Olhei pro lado e vi ele e Gordon rindo descontroladamente. Eu precisava de uma vingança, então acabei apontando pra um flamingo e dizendo que era ele.

Saímos nomeando todos os animais dali até a saída com os nossos nomes. Oliver era um flamingo, uma tartaruga fazendo sexo, um papagaio, um crocodilo albino e alguns outros que eu não faço questão de lembrar. Eu era um veado, javali, uma iguana, um camaleão, um pinguim e mais alguns. Acabamos decidindo que Gordon era uma lontra.

O dia foi escurecendo, Oliver foi embora, pois tinha um compromisso e eu resolvi deixar o Gordon em casa. Ele aceitou a carona, graças aos céus.

Já estávamos saindo com o carro quando uma mãe passou com uma menininha no colo.

— Mamãe, mamãe, eu posso ter um veado? Igual o Bambi?

Ele que olhava pela janela, se virou para mim e riu.

— Olha, Verne, eu sei de muita garota te querendo, mas nova desse jeito já é pedofilia.

Apesar dele me zoar, e de ter sido um tanto quanto cruel, eu não pude evitar de sorrir e ficar feliz com aquilo. Mostrava que nem tudo estava perdido. Ainda.

••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

Parei em frente à casa do Oliver e eu pude perceber que a casa dele lembrava muito a minha.

Tinha dois andares também, era bem grande e provavelmente tinha um quintal com piscina. A diferença é que ele não tinha uma varanda na frente. Igual a minha e a do Gordon.

Era a terceira vez que saiamos nós três juntos. Eu sempre chamava o Gordon pra fazer algo, ou ele me chamava, mas sempre íamos com a criança nos acompanhando.

Gordon disse que Oliver tinha gostado de sair conosco, mas eu duvidava um pouco. Acho que ele gostava mesmo era de sair com o Gordon e me sacanear.

É, basicamente isso.

Desta vez íamos em uma festa, e eu me ofereci para levar todo mundo, por isso fui na casa do Oliver.

Felizmente, pude comprovar que ele não era meu vizinho, mas morava num condomínio perto, então ele só devia estar perdido mesmo, naquele dia que nós nos encontramos.

Não desci para chamá-lo.

Só buzinei mesmo, e ele já veio andando em direção ao carro, como sempre bem estiloso. Eu podia não gostar daquele garoto, mas eu tinha que admitir que ele tinha estilo.

Ele usava uma camiseta preta com a frase "I prefer the drummer", uma camisa de flanela xadrez preto e vermelha. O jeans era azul e rasgado até a altura da coxa. Tinha umas botas-tipo-coturno furta-cor e um chapéu estilo Fedora. Os braços cobertos de braceletes de couro. É, ele tinha estilo.

— Olá — ele disse abrindo a porta do carona.

Não era pra ele sentar ali. Era pro Gordon sentar ali.

— Você tem idade pra vir aqui na frente?

— Haha. Muito engraçado — ele disse fazendo cara de deboche. — ‘Tava perdido? Você demorou demais!

— Não, eu não estava.

— Estava sim! Olha a hora que você chegou!

— Eu...

— Anda! Liga logo esse carro, quer atrasar mais a gente? Vamos buscar o Gordon logo.

Eu não acreditava que eu ia ter q aturar aquela criatura até chegar na casa do Gordon. E eu nem podia jogar ele pra fora, porque depois o Oliver contaria pro Gordon, que acabaria cortando qualquer relação que ainda tem comigo.

Eu tive 2 minutos de silêncio do Oliver, só ouvindo o radio quando a criatura virou pra mim:

— Nossa, não tem nenhuma música boa. Posso colocar meu pen drive?

— Quê?

— É, posso colocar meu pen drive com músicas? — e dizendo isso, ele tirou um unicórnio branco e rosa do bolso.

— Você traz um pen drive pra rua!? Por quê!?

— Porque meus amigos e as pessoas com que eu saio só gostam de músicas ruins — ele disse olhando pra mim — E como eu não tenho carro ainda, eu faço o carro dos meus amigos o meu. Então, posso por? Obrigada. — ele disse e já foi tirando a bunda do unicórnio pra conectar no meu rádio, antes mesmo que eu me manifestasse.

E se tinha um jeito de ficar pior do que o abuso daquela criatura, acabei descobrindo que tinha.

As músicas eram horríveis

A voz dele me deixou surdo de tão aguada.

E eu estava realmente considerando a ideia de causar um acidente com aquele carro.

O Gordon ia pensar que foi um acidente, como todas as outras pessoas, e eu ainda podia acabar bem, em paz, sem aquela voz horrível na minha cabeça cantando aquelas músicas. Mas eu cheguei na casa do Gordon no momento que eu terminei de bolar meu plano.

Que pena.

O Gordon não tinha saído ainda, então Oliver virou e falou:

— Eu vou lá chamar o Gordon. Você pode ficar esperando aqui.

E desceu.

Aquele menino era muito abusado, meu Deus!

Óbvio que eu não fiquei dentro do carro.

Desci também e fiquei olhando as casas dos vizinhos do Gordon. O monte de pedras continuava no mesmo lugar. Sorri lembrando daquele dia.

— Olha quem está aqui.

Era a Leslie, carregando uma mochila. Ela estava na casa da minha prima estudando, e quando eu fui fechar a cortina para me trocar, a vi indo embora.

— Oi, Less.

— Vão sair?

— Sim.

— Só vocês dois? — ela disse com um sorriso malicioso.

— Não, o Oliver vai com a gente.

— O Oliver ‘tá aí? — ela disse olhando pro carro — Cadê ele?

— Ele foi chamar seu irmão.

— Adoro aquela criatura

Bufei. Todo mundo gostava dele. Será que só eu que conseguia enxergar como ele é de verdade?

— Que foi, Verne? Não gosta do Oliver?

— Quem? Eu? Não, é só que não combinamos muito, sabe...

— Hum.... Acho que alguém está com ciúmes — ela disse rindo.

— Quê!? Não! Claro que não!

— Aham, sei. Vou fingir que acredito, porque sou legal.

— É sério! Eu só não vou com a cara dele — eu disse cruzando os braços.

— Olha, ficar com essa carinha — ela disse apertando minha bochecha — só vai fazer com que a concorrência fique pior.

Eu ri, não pude evitar.

— Eu já vou entrar, beijos.— ela disse, se distanciando.

— Não quer ir com a gente?

— Onde vocês vão? — ela disse virando.

— Um amigo do Oliver disse que ia ter uma festa na casa de um colega dele. Aí chamou o Oliver, que chamou o Gordon, que me chamou.

— Festa, música alta, luzes coloridas, pessoas bêbadas, hum... Não. Hoje não, Verne, ‘to muito cansada! Mas valeu pelo convite. Agora, se ele puder ficar de pé para um outra oportunidade, aceito.

— Tá bom, então. — sorri.

— Desde que eu não vá de vela.

— Ei!

— Tchau. E aproveita. — ela disse piscando e acenando pra mim.

Acenei de volta e pude perceber que o Gordon estava saindo de casa.

Less correu pra falar com o Oliver, que a abraçou e provavelmente falou alguma gracinha, que fez com q ela e o Gordon rissem.

Eles ficaram conversando mais um pouco, e eu pude reparar nas roupas do Gordon, que vinha em direção ao carro, deixando os outros dois para trás.

Provavelmente a Less segurou o Oliver lá pra me dar uma força (eu adorava aquela garota cada dia mais).

Enfim, o Gordon estava muito bonito e, quando ele chegou mais perto, pude perceber sua camiseta branca com listras pretas bem finas, coberta por uma  camisa de flanela também xadrez, só que preto e branca. Ele usava também uns jeans pretos e tênis brancos com duas riscas pretas, o clássico da Adidas. Estava simplesmente incrível.

— Oi, Verne.

— Oi, Gordon. Desculpa a demora.

— Não, nem percebi — ele disse sorrindo.

E eu não pude me conter.

— Gostei da sua roupa. Você está muito bonito.

— Er... Obrigado.

Ele olhou pro chão e depois me olhou novamente.

— Que foi? — perguntei.

— É tão estranho ouvir você falando isso. A duas semanas atrás você jamais falaria algo assim.

— A duas semanas atrás eu não sabia que estava apaixonado por você. — era o que eu queria dizer

E iria dizer.

E o Gordon iria se apaixonar mais ainda por mim

E ele saberia que eu estava gostando mesmo dele

E não teria mais concorrência com o pigmeu

E tudo ficaria feliz, do jeito que sempre teve que ser

Mas, o filho da puta chegou cedo demais e já vou logo abraçando o Gordon pelas costas.

— E aí povo? Vamos!?

— Tá — Gordon disse.

Fomos em direção ao carro e Oliver abriu o porta do carona de novo, e Gordon acabou indo para o banco de trás.

Como não tinha escolha, liguei o carro pensando que se chegasse logo na festa, eu ficaria livre daquele pigmeu por algum tempo.

E então a música começou a tocar, e quase me matou de susto porque eu tinha esquecido completamente do pen-drive de unicórnio que estava conectado no meu som.

Merda.

— Ei, o que é isso? — Gordon perguntou

— São umas musicas do Oliver — eu disse.

— Como assim?

Oliver voltou a cantar.

— É meu o pen drive. — ele disse entre um refrão e o outro da música.— Eu trouxe pra animar um pouco e já entrarmos no espírito da festa.

— Essas músicas são uma merda, você sabe disso, né, Oliver? — Gordon disse, e eu adorei ouvir aquilo.

— Ah que isso! São legais!

— Não são não! Desliga isso.

E ele desligou e pegou o pen drive de volta.

Eu queria muito dar um beijo no Gordon, sério.

— ‘Tá bom então. Aff, vocês dois são dois chatos. Enfim — ele disse se virando no banco — vamos comprar alguma coisa pra levar?

— ‘Tá falando em levar bebidas? — Gordon perguntou.

— É, sei lá.

— Mas lá não tem bebidas? — eu perguntei

— Claro né, Verne. Mas eu estou perguntando se vocês não querem comprar antes e irem bebendo já.

— Não. Meus pais não me dão dinheiro pra comprar bebida.

— Ué, mas você não tem mesada, Verne? — Oliver perguntou.

— Tenho.

— Então...

— Não, não gasto minha mesada com bebidas, ainda mais se eu vou num lugar que tem bebida de graça.

Oliver estreitou os olhos, colocou a mão na cintura magricela e disse sério:

— Olha, Verne, além de tudo o que você é, você ainda consegue ser sovina? Poxa, você merece até um prêmio. — e para completar, ele bateu palmas.

— Eu não sou sovina! Eu só acho desnecessário gastar dinheiro com bebida, sendo que eu estou indo para um lugar onde tem bebidas!

— Bela desculpa.

— É sério! Eu só acho que eu posso gastar minha mesada, em outras coisas, em outras oportunidades. — eu disse olhando pro espelho do carro para olhar para o Gordon e percebi que ele me olhava por ali também.

Sorri.

E ele, virou para o Oliver.

—Então, essa festa é de um amigo de um cara que você conhece, e você está levando mais duas pessoas?

—Sim. — ele disse naturalmente.

—E não tem problema?— eu perguntei.

As festas que eu costumava ir sempre tinha alguém que me conhecia, ou que tinha me convidado, nunca tinha ido de "intruso".

— Pela hora que a gente vai chegar lá, por causa da sua demora, já vai ‘tá todo mundo bêbado e ninguém vai reparar em nada.

— Eu já disse que não demorei!

— Demorou sim, vira à esquerda.

A gente chegou em uma espécie de casa escandalosa com um jardim razoável na frente, onde uma menina vomitava não muito graciosamente.

Bem na entrada, uns casais pareciam engolir uns aos outros e uma ou outra garota sóbria tentava fotografar o quão incrível sua noite estava sendo.

Oliver já foi entrando, todo enturmado. Umas meninas de cabelos coloridos e/ou cortados de uma forma muito incomum apareceram pra contar as "fofocas do dia". Continuamos seguindo a pequena criança gay, tentando fazer com que não parecêssemos muito incomodados com o fato de não conhecermos ninguém, até que perdemos as botas furta-cor e o chapéu Fedora de vista. Isso obviamente resultou em Gordon e eu parados olhando um pro outro, enquanto uma multidão conversava/dançava/fazia seja-lá-o-que-for-que-estivesse-fazendo.

Ele riu e eu não pude ajudar se não rir de volta.

E ficamos assim, igual dois retardados, por um bom tempo.

••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

— Ei, pra onde a gente ‘tá indo? — Oliver disse.

Ele estava bêbado. Mas não do tipo bêbado normal, ou engraçado, ele estava muito bêbado, e se ele já era difícil de aturar sóbrio, bêbado vocês nem imaginam.

Um braço dele estava ao redor do meu pescoço e o outro no pescoço do Gordon. Sim, ele estava tão ruim que nem andava direito. E mal tínhamos ficado duas horas e o Oliver já estava naquele estado.

— A gente tá indo pra casa — Gordon disse.

— Por quê!? Agora que a festa tá ficando boa!

— Talvez porque você esteja bêbado! — falei.

— Eu não ‘to bêbado, olhem — ele disse tirando os braços de cima de nós e andando de costas — Viu? Eu estou ótimo, eu estou muito bem e — ele tropeçou e quase caiu — oops — então ele começou a rir que nem um louco. —Talvez eu esteja só um pouquinho assim.

— Vamos embora, Oliver. — Gordon disse e o segurou novamente.

Eu fiz o mesmo.

— Vamos cantar uma música?

— Quê? Não. — eu disse.

— Ah vamos! Vamos cantar uma bem legal! Vamos cantar ..... — e virou pro Gordon apoiando a cabeça no ombro dele — o que a gente canta, chuchu?

— Oliver, definitivamente você não está bem.— ele disse, tentando afastar a cara do mau hálito do Oliver.

—‘To SIM! Já sei o que vamos cantar! — ele disse gritando em nossos ouvidos

— MY YOUTH IS YOURS TRIPPING ON SKIES ZIPPING WATERFALLS MY YOUTH MY YOUTH IS YOURS RUN AWAY NOW WE FOREVER GONE.

— Que música é essa? — perguntei.

Ele parou de cantar e se virou bruscamente para mim.

—Você não conhece a bicha poderosa deusa chamada Troye Sivan!?

— Quem?

Ele colou uma mão na minha cara e me empurrou um pouco.

— Não fale mais comigo, então.

— Ei! — disse tirando a mão dele do meu rosto.

— Como você quer que eu confie em uma pessoa que não conhece Troye Sivan?  Olha, Verne, agora que você passou para o lado colorido da vida, você tem que conhecer mais o universo cor de rosa que nós vivemos, né, Gordon?

Olhei pro Gordon e ele fez um sinal de negativo com o dedo, por cima da cabeça do Oliver, para que ele não visse, enquanto balbuciava algo como "eu não faço parte disso, não".

Eu ri.

Finalmente chegamos no meu carro depois de mais resmungos, cantorias e o chapéu do Oliver na cabeça do Gordon.

Gordon abriu a porta de trás e Oliver já estava quase entrando no carro quando de repente parou e olhou para a gente.

— Ei, porque eu não posso ir na frente?

— Vai aí atrás. Aí você pode deitar, sei lá.— eu disse.

— É, você bebeu. Aproveita pra descansar um pouco. — Gordon completou.

— Humm... — ele olhou pra nós dois e sorriu maliciosamente — Querem que eu fique aqui atrás, para que eu durma e vocês se peguem na frente, não é? Tudo bem, eu "permito", desde que eu não acorde e veja algo pornográfico, porque se eu quisesse ver algo assim, entraria no redtube ao invés de sair com um casal gay.

E entrou no carro.

Olhei para o Gordon e ele estava meio vermelho. Eu também não deveria estar muito diferente.

— Anda logo! Que você estão fazendo aí fora!? Vamos embora.

E deitou no meu banco.

Entramos no carro, como o pigmeu ordenou, com Gordon no carona dessa vez.

— Gostou da festa? — perguntei pro Gordon.

— Sim, estava ...

— ‘Tava maravilhosa! Não sei ainda porque vocês dois quiseram sair. Dois velhos. — Oliver disse se intrometendo na conversa.

— Não somos velhos. Quem mandou você beber demais?

— Pois é, Oliver. A culpa é sua. — Gordon falou e eu fiquei esperando a criatura responder, mas ele não se manifestou.

Viramos para trás para ver o que tinha acontecido e o Oliver estava dormindo.

— Ele dormiu? Sério?

— Acho que sim — Gordon respondeu.

— Ou ele desmaiou com o álcool. Ou será que ele teve um coma alcóolico? — perguntei e, como resposta eu ganhei um ronco que assustou a mim e ao Gordon.

— Eu acho que ele só dormiu mesmo. — Gordon disse.

— É também acho.

— E o que a gente faz com ele?

— Sei lá.

— Bom, podemos levar ele lá pra minha casa. Ele pode dormir lá.

— Ou, a gente pode levar ele pra casa dele, não é? — eu disse.

Oliver, dormindo na casa do Gordon? Não. Não mesmo.

— Sabe ir para a casa dele?

— Sei.

— Bom, então vamos.

Oliver foi roncando até chegarmos em sua casa. Ele tinha apagado, literalmente e eu me perguntei o que essa criança tinha bebido.

Oliver não acordou quando fomos tirá-lo do carro, então combinamos que nós iríamos carregá-lo. O Gordon segurou a parte da cabeça (talvez porque fosse uma área perigosa e que eu poderia ferir sem querer ou querendo mesmo) e eu carreguei as pernas do pigmeu, sendo que, para um pessoa pequena e magrela, ele era pesadinho.

Tínhamos descoberto que as chaves da casa dele estavam no bolso, e elaboramos o seguinte "plano":

Íamos tirá-lo do carro e carregá-lo até em casa. Abriríamos a porta sem fazer barulho, para não acordar os pais dele, e colocaríamos ele no sofá da sala. Depois sairíamos e voltaríamos para o meu carro, e finalmente eu estaria livre daquele ser.

E foi o que fizemos.

Porém, antes de chegarmos na porta ...

— Verne. — Gordon disse parando.

— O quê?

— O que vamos fazer com a chave?

— Ué, a gente...

E então eu percebi que ele estava certo. Não tinha pensando nisso. Mas como o Oliver estava começando a ficar pesado, respondi a primeira coisa que veio na minha mente.

— A gente deixa ele no sofá e quando estivermos lá dentro, abrimos um pouco a janela que dá pra rua, e quando a gente sair, jogamos lá pra dentro.

— Tem certeza que isso vai dar certo?

— Tenho.

— Desde que você não quebre nada.

— Eu sou bom de mira.

Ele me olhou com ar de desconfiado, mas voltamos caminhar em direção a casa.

Abrimos a porta depois de quatro chaves que testamos, e entramos sem fazer barulho.

A casa estava um breu total, e foi difícil encontrar o sofá. Porém meu pé nos ajudou, batendo na quina do sofá.

— Aí.

— Shhhhh!

Deixamos o Oliver no sofá e eu fui abrir a janela, com medo de esbarrar em mais alguma coisa. Por sorte, saímos sem fazer barulho também.

— Tem certeza disso, Verne? Eu posso entregar pro Oliver depois, é melhor.

Não, Gordon querido, não era melhor você ter que encontrar com o Oliver de novo com a desculpa de entregar a chave.

Então eu mirei e joguei.

Só que fez um barulho.

Olhei pra ver se eu tinha quebrado mais uma janela, mas não. A janela estava direitinha. Não entendi.

— Porra, Verne!

— O que foi?

— Você jogou na janela errada! Você abriu uma janela e jogou em outra!

— Foi?

— Sim! Tinha duas janelas abertas, e só Jesus sabe o que foi que você acertou.

— Eu acho que eu não quebrei nada não. Foi um barulho meio oco, sei lá.

— Só você, Verne. Vamos embora.

— Okay.

— Depois eu descubro para você o que sua ótima pontaria acertou.

Eu ri e empurrei ele, de brincadeira.

— Me conta mesmo. Vou querer saber, hein?

— Tá bom. Mas eu quero saber uma coisa também.

— O quê? — perguntei.

— O que iremos fazer semana que vem.

—Hahahaha, pode deixar — eu disse e olhei pra ele —, que eu penso em algo.

Mal sabia ele, que eu já tinha algo em mente, e que só estava esperando uma oportunidade, no caso essa, para poder por em prática.


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