Vergo escrita por Tris, Panda girl


Capítulo 7
Eu sou um babaca.


Notas iniciais do capítulo

Bom, como sempre né, demoramos pra c* pra postar (Interpretem o "c"como quiserem). Enfim, demoramos porque teve as festas de final de ano, viagens, e eu e a Panda Girl escrevendo juntinhas de novo.
Sim! Escrevemos esse capítulo juntas, e eu acho que foi por isso que demoramos (procrastinar em família é algo maravilhoso).
Gostaria de prepará-los psicologicamente porque esse capítulo está grande, bem grande. Acho que não vamos escrever um tão grande assim tão cedo. Mas se preparem porque esse e os próximos também estarão mais ou menos assim.
Como sabemos que os próximos estão assim? Bem, pode-se dizer que já estamos com um capítulo pronto e postaremos qualquer dia dessa semana de carnaval.
Bom, boa leitura, espero que gostem e bom Vergo!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/580923/chapter/7

Desci do carro. A casa onde estava acontecendo a festa estava lotada.

Logo na entrada, tive que desviar de umas meninas bêbadas, provavelmente do tipo que já bebem no caminho. Eu não podia me dar ao luxo de fazer esse tipo de coisa, já que meus pais me deixavam beber, mas não me davam dinheiro pra gastar com bebidas.

Eu mal tinha passado pela porta, quando Charlie apareceu. Nós éramos amigos de infância, graças às nossas mães, que trabalhavam juntas, e sempre que tinham uma oportunidade, se encontravam pra tomar chá e falar de coisas fúteis.

Ele não era muito alto, mas tinha o cabelo castanho e os olhos azuis e isso é um dos principais motivos pelo qual ele tinha tantas namoradas, como a Rebecca, sua mais nova namorada/ficante, que era loira falsa e tinha um mau gosto enorme pra roupas.

Não que eu ficasse reparando nas roupas das pessoas, óbvio.

 — Oi Verne! — disse Charlie — Essa aqui é Becca, acho que eu te falei dela. — Ele me apresentou sua namorada/ficante/sei lá.

 Acenei a cabeça concordando, mas na verdade eu não fazia a mínima ideia da existência dela.

— Olá! — falou Becca — É um prazer!

— Oi! — eu respondi, tentando ignorar o vestido de lycra horroroso dela.

Justin chegou, junto com Nathaniel (na verdade, o nome dele era Nathan, mas a gente o chamava assim, só por causa do ódio que ele tinha por isso).

Cumprimentei os dois, que já aparentavam estar bêbados, e Charlie e Rebecca também.

—Verne, lembra da Allana? — Outra pessoa que eu não lembrava, mas tudo bem —Ela ‘tá aí com a prima dela, Abigail. Você sabe quem é Abigail, né?

—É claro que eu sei.

Dessa vez não menti, mesmo porque quem não conhecia Abigail Evans? Era o tipo de garota que gostava de aparecer, de marcar presença, mas eu não tinha saco pra aturá-la, mesmo estudando na mesma escola e tendo que ver aquela cara maquiada todo dia de manhã.

—Por favor, que elas não apareçam por aqui. Não aguento mais essa menina! —falei

—Que menina? —Era Calvin, que tinha acabado de chegar, outro colega nosso.

—Abigail. —Charlie respondeu por mim.

—Ah. — Ele deu um risinho. Todos sabiam da fama da Abigail.

— Ei, Verne — e, virando-se pra mim, completou— Consegui um copo de vodka pra você!       

Calvin me estendeu um copinho descartável vermelho, mas recusei:

—Hoje não, ‘to de carro, e vocês sabem como são meus pais.

— A gente conhece o tio Robert. Ele ‘tá bem? — Charlie perguntou

— ‘Tá bem.

— É verdade que você tem tipo uma academia de boxe no seu porão? — Rebecca perguntou.

 —Sim! Ele tem! — gritou Nathaniel. — E eu quero ir lá de novo, hein! É muito bom pra treinar!

— Não sei o que é melhor... —disse Calvin— ter uma academia de boxe ou um pai treinador.

— Seu pai é treinador? — ela perguntou de novo.

— Sim, ele é. — eu disse tentando parecer empolgado, mas nada daquilo era “maneiro” pra mim. Não mesmo.

Eles continuaram falando sobre coisas aleatórias, mas eu não prestei atenção.

Foi então que Abigail apareceu, segurando um copo vermelho, que contrastava com as suas unhas enormes pintadas de verde neon.

Eca.

—Oi Verne. —Ela botou a mão desocupada no meu ombro direito

Merda.

—Oi. —falei meio receoso

Justin riu e, logo, os outros riram também.

—E aí, “Abbie”? Tudo bem? —Charlie disse entre risadas

—Melhor impossível! —E tentou ignorar que estava sendo ridícula.

Abigail tirou a maldita mão de cima do meu ombro, e eu agradeci a Deus mentalmente por isso. Ela se afastou um pouco, balançando de um lado para o outro, daquele jeito que a gente faz quando quer dançar, mas não quer ao mesmo tempo.

Foi aí que eu reparei no vestido que ela usava. Era verde-escuro com uma faixa de paetê dourado no final, e tinha uns cortes triangulares na cintura. Era mais que escandaloso, era horrível. Se Kate estivesse ali comigo, com certeza estaríamos rindo dela e criando piadas sobre a pior roupa que eu já vi.

Virei para o lado pra poder rir. E então eu percebi: Kate realmente estava lá.

E a Leslie também.

Elas estavam juntas e provavelmente, o Gordon também estaria lá com elas.

Não queria vê-lo, então virei a cara. Grande erro.

Lá estava ele, feliz e sorridente, segurando um copo vermelho com suas mãozinhas gordas enquanto outro garoto enchia-o para ele. Porra. Então ele já tinha me esquecido? Era assim mesmo? Não deu certo com um, segue em frente?

Porra.

E então, o menino tocou na mão do Gordon, e ele afastou a mão. Eu percebi como aquilo iria acabar e eu não tava a fim de deixar ele ter um finalzinho feliz. Não era ele que queria sofrer? Não era ele quem fazia draminha? Pois então eu daria um bom motivo para ele fazer um drama.

—Verne, tudo bem? —perguntou alguém, mas minha mente já estava longe pra saber quem era.

—Eu vou ali. —e saí sem olhar pra trás, em direção à pista de dança. 

Avistei a Abigail. Bom, ela não era difícil de ser avistada, ainda mas com aquela roupa.

Mas, de repente aquela roupa cafona dela não me incomodava mais.

Nem o fato dela ser irritante.

Nem o fato de que eu não suportava ela.

Algo maior me incomodava, e tinha me deixado furioso e eu não ligava mais pra nada.

Cheguei perto dela.

E ela riu.

E eu nem pensei duas vezes.

Eu a agarrei.

Literalmente.

E eu percebi a música tocando.

"I wanna run away"

Era isso.

"Just you and I"

Eu e ela. Eu e Abigail. Juntos

Eu queria segurará-la pela cintura e fugir para o meio do nada.

Eu queria viver com ela pelo resto da minha vida.

E eu queria que o Gordon visse tudo.

E ele viu.

Como eu sei? Bom, eu queria me certificar e antes de dar outro beijo na criatura que estava na minha frente, eu olhei para ele, e nós nos encaramos por alguns segundos, até eu voltar e me focar novamente naquele rosto maquiado.

A Abigail podia ser tudo, mas ela sabia beijar bem e o melhor de tudo, ela me fazia tirar o Gordon da cabeça por um tempo e isso era maravilhoso. Ela não perdia tempo, e nem se preocupava com a multidão que estava nos encarando.

Paramos de novo, porque a situação já estava ficando, hum, saturada?

Olhei pro mesmo lugar e o Gordon tinha saído de lá.

Pelo visto tinha dado certo, agora só faltava o "tempero" final.

—Já volto. — eu disse sorrindo e desenrolando meus dedos daquele cabelo longo, liso e preto. 

Ela me puxou e sussurrou no meu ouvido 

—Se não voltar, eu vou atrás. Fica tranquilo. — ela disse e piscou.

Fui saindo da sala, e eu pude perceber que algum dos garotos vinham correndo em minha direção.

—Verne, você 'tá bem? —disse Charlie

—Que foi aquilo? —Nathaniel mal conseguia conter o riso —E olha que ele nem bebeu. —sussurrou pra alguém, que eu não consegui ver por sinal.

—Eu já volto. — eu disse apressado e fui pra entrada da casa.

O Gordon estava lá.

Sabia! 

E sabia que ele tinha ficado puto.

Sabia que ele não estava gostando das minhas provocações.

Sabia que ele tinha razão em alguns momentos da nossa discussão. 

Só não sabia que eu ia dar um soco na cara dele, e muito menos que iria sangrar.

Mas sangrou.

E, eu não tinha planejado aquilo.

•••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

Entrei novamente e, diferente da outra vez, eu procurava pelas meninas. 

Consegui avistar o cabelo azul da Less, e fui até lá.

Ela estava dançando com um cara, mas eu ignorei e fui logo puxando ela pelo braço.

— Verne? — ela disse, me olhando espantada.  — O que você ....

Mas eu não deixei ela terminar de falar:

— O Gordon 'tá lá fora. E .... Ele quer falar com você. — eu disse rápido porque eu estava com medo da boca dele não parar de sangrar.

Ela não entendeu muito bem, mas saiu logo para ver o que o Gordon queria.

Pronto. Pelo menos ele não ia ter uma hemorragia lá. A irmã dele estava indo ajudar.

Me afastei, principalmente por causa da cara do garoto que estava com a Less. Ele não estava muito feliz por eu ter acabado com a noite dele com uma garota, e eu não queria arrumar mais confusão.

Me afastei, mas alguém me puxou. Era a Kate, pelo visto ela estava do nosso lado e ouviu tudo, porque seu olhar era de “poucos amigos” pra mim.

—O que você fez dessa vez? — ela disse segurando meu braço com força. 

—Nada— eu disse tentando disfarçar.

—Eu conheço você muito bem, Verne. O que você fez? — ela disse chegando mais perto e me fitando com aqueles olhos verdes mais profundamente.

—Nada de que eu vá me arrepender no futuro.

Puxei meu braço, e finalmente consegui me soltar dela.

Voltei pra onde os meninos estavam. 

—Agora você pode explicar pra gente o que foi aquilo? — Nathan perguntou, com um copo vermelho na mão, aparentemente cheio.

— É vodka? — perguntei pra ele.

—Sim, porquê?

Eu peguei o copo e virei. 

Como eu podia explicar o que tinha acabado de acontecer se nem eu mesmo sabia?

Eu precisava sair dali antes que Kate e Leslie viessem atrás de mim tirar satisfação.

—Eu tenho que ir. 

—Verne? Você fumou? Te deram alguma coisa? Você acabou de chegar, falou mal da Abigail, pegou ela e agora vai embora? E isso tudo aconteceu em, o que, meia hora? — Charlie disse.

Ele não incluiu o fato de eu ter tido um ataque homofóbico, mas não era eu que iria corrigir.

—Não, eu tenho mesmo que ir. 

E fui atrás da Abigail, que continuava na pista de dança.

— Você voltou. — ela disse quando eu me aproximei.

—Eu falei que iria voltar não falei?— eu disse, fazendo ela mostrar mais uma vez aquele sorrisinho dela. —Agora , vamos pra outro lugar? 

—Outro é? — ela disse fazendo cara de pensativa — Talvez ...

—Ótimo. — e eu nem esperei ela hesitar e já fui saindo.

Meu carro estava estacionado não muito longe. Eu abri a porta pra ela e a ajudei a entrar sem se atrapalhar com o vestido curto. Abigail entrelaçou os braços em meu pescoço e eu olhei para trás pra saber se tinha tempo pra isso. Nessa hora, eu vi Gordon novamente. De longe, ele olhava para o carro com um olhar vago. 

Beijei-a antes de fechar a porta do carro e entrei pela porta do motorista.

—Pra onde a gente vai? —perguntou ela

—Pra longe daqui. —falei sem pensar

Um silêncio se instalou até ela bater a mão de leve no painel e me encarar.

—Não, sério, pra onde a gente vai?

—Posso te levar em casa?

—Pode, mas você nem sabe se meus pais estão em casa.

— Mas eu não acho que eles vão se importar, vão? Quero dizer, vai ser rapidinho, né? Nem vai dar tempo de ver eles.

—Nossa, Verne, não sabia que você gostava de fazer as coisas rápidas assim.

—Desculpa, é que eu ‘to com pressa.

—Você não tem que pegar mais ninguém não, né?

—Não, não. A Kate ficou na festa mesmo.

—Kate?

—É, minha prima.

—Sua prima? —Ela parecia muito surpresa.

—É, eu dou carona pra ela de vez em quando.

Abigail suspirou, aparentemente aliviada. No que ela estava pensando?

—Você não achou que eu e ela ...?

Ela ficou vermelha. É, parece que ela achou mesmo.

—Enfim... —ela falou olhando pela janela —Só vai me deixar em casa mesmo?

—Mas ... não foi isso que eu disse?

Abigail ficou incrédula. E eu pude entender tudo.

—Ah.... — foi minha vez de ficar vermelho.

—Er... Eu acho que estávamos pensando em coisas diferentes né?

—Bom, acho que sim. Desculpa, Abigail, mas é que eu não 'to muito bem hoje.

O silêncio reinou novamente, muito vergonhoso. Depois de um tempo, a minha vermelhidão foi passando.

—Bom, você disse que não está bem hoje, mas isso é um ótimo jeito pra relaxar um pouco. — ela disse rindo.

—Pode ser. Mas hoje não.

Poderia ser uma forma de relaxar, mas não pra mim. Não mesmo! Só eu sabia o quanto aquele assunto me dava dor de cabeça.

—Ah, então 'tá.

Ela não falou mais nada, a não ser um ruído para saber se podia ligar o rádio.

Chegamos na casa, um lugar mágico de onde parecia que iam sair mini-prostitutas ricas banhadas em purpurina usando roupas cor-de-rosa acompanhadas por um estilista gay e um poodle.

Resumindo, era a típica casa de filhinha-de-papai, com um jardim grande, uma escada na frente, uma portona branca e duas colunas redondas. Isso sem falar das luzes verdes nas plantas.

Brega.

Foi a primeira palavra que passou pela minha cabeça quando eu vi aquilo.

—Vamos fazer alguma coisa depois? —perguntei

—Quando?

—Amanhã? Que tal?

Ela deu de ombros.

—Ah, não sei não... —E se fez de difícil —Acho que eu tenho uma festa pra ir com um amigo..

Merda. Eu estava totalmente fodido. Eu precisava dela, precisava fugir do Gordon.

Ela já ia saindo, mas eu a impedi de abrir a porta colocando a mão em seu ombro.

—Tem certeza? —e fui deslizando a mão pelo braço dela

—Talvez...

Fui chegando na cintura, mas aquilo me dava uma certa repulsa.

—Eu posso ver se ele vai mesmo. Aí eu te falo alguma coisa.

Minha mão desceu mais um pouco.

—'Tá. E aí ‘cê me avisa?

—Talvez.

E riu.

—'To brincando, eu ligo, mando mensagem, sei lá. Só fala comigo primeiro, aí eu adiciono seu número.

—E qual é o seu número? — eu perguntei.

Nessa hora, minha mão já chegava na coxa.

—'Tá no meu Instagram, olha lá.

Ela já se levantava, saindo pela porta.

—E qual seu Instagram?

—Procura aí.

E saiu, batendo, sem cuidado nenhum, a porta do carro.

Fiquei lá olhando ela entrar em casa, rebolando o traseiro enorme envolto no vestido horrível dela.

•••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

Eventualmente, eu achei o Instagram da Abigail e o número dela, e então eu acabei mandando uma mensagem pra ela.

O amigo dela tinha cancelado, se é que tinha mesmo um amigo pra ir com ela, e nós fomos juntos. Depois disso, ela me levou para outras festas e eu levei ela pra comer, o que não foi muito prazeroso porque ela estava fazendo dieta e era do tipo de pessoa que tenta ser fitness comendo só coisas integrais, barrinhas de cereais e nada de glúten. Ela fazia isso por modinha mesmo, pois se gostasse de fazer essas coisas não ia reclamar da minha ideia de fazermos trilha.

A gente conversou bastante, o que me fez perceber quão fútil era a criatura. Porém, Abigail era bonitinha, e eu ainda tinha que evitar o Gordon. Eu sabia que isso não era a melhor saída, mas era “o que temos pra hoje”, né? E pelo menos quando eu a beijava eu esquecia o Gordon.

Só nesses momentos mesmo. 

Eu a levei pra minha casa e apresentei para os meus pais e inventei uma história nem um pouco convincente para os meus amigos, que simplesmente não conseguiam entender como eu mudei tanto e estava saindo com a menina que eu mais menosprezei na vida. 

Bom, as coisas mudam.

Eu até estava gostando de sair com ela. Tirando os assuntos chatos e fúteis, ela era interessante e ela foi bem compreensiva quando..... bem, quando certas coisas não deram muito certo e eu estava frustrado por aquilo ter acontecido mais uma vez.

Foi de noite. Eu ia levar Abigail pra casa, como sempre, mas ela acabou insistindo e me fez entrar. Ela me puxou pro quarto e bolou todo um planinho mentalmente, mas no final acabou dando tudo errado. E eu me senti um inútil. E ridículo. E trouxa. E tudo o que há de pior nesse mundo.

Mas, ao contrário do que eu pensei, ela não riu ou algo do tipo.

—Está tudo bem, Verninho. Relaxa. As oportunidades não faltam. — e piscou para mim. 

Foi com esse "Verninho" que as coisas começaram a piorar. 

Depois dessa noite fatídica, os beijos, que antes eram antídotos contra o Gordon, não estavam funcionando mais. 

A gente não tinha mais nada pra falar. E a cada dia os papos ficavam piores e minha paciência diminuía.

—Verninho! Vamos ver “Glee”? Tá começando agora!

Era um sábado a tarde e eu queria continuar vendo um filme ao invés de um seriado com pessoas cantando toda hora.

Tudo bem que estávamos na casa dela, mas mesmo assim, ela não podia simplesmente trocar o canal na minha cara! E ainda me chamar por aquele apelido horroroso.

— Mas eu estava vendo aquele filme, A. 

— É muito chato, Verninho! Isso é bem melhor. É mais engraçado e é muito fofo! Além deles cantarem super bem.

Eu já tinha ouvido falar, mas nunca tinha parado para ver e até estava ficando legal, apesar de estar num episódio muito adiantado, mas ela mudou de canal novamente na melhor parte.

—Por que você trocou de novo?

—Ah, tava ficando muito chato e aquele gay era muito irritante e escandaloso. Muito... Gay.

—Mas ele nasceu assim, Abigail. Ele é uma pessoa igual a gente.

—'Tá tudo bem? Você tá defendendo o gay por quê?

—Bom, porque você está sendo preconceituosa.

—Eu não estou sendo preconceituosa! Eu só acho esses gays muito escandalosos e é meio estranho ver dois caras na rua se beijando.

— É? 

—Sim! Você nunca viu? É estranho. Enfim, vamos ver outra coisa. 

E eu lembrei do dia que o Gordon me beijou. Eu me lembrei de tudo que aconteceu depois daquele beijo e que eu só estava ali vendo “Glee” na casa de uma garota chata em pleno sábado por causa daquela noite! 

E eu estava sendo hipócrita. 

—Eu acho que eu vou pra casa, tenho que arrumar umas coisas.

Dei um beijo na testa dela e levantei do sofá.

Depois disso, eu fui pra casa e quando cheguei fui direto pro meu quarto depois de responder perguntas do tipo “Como está a Abigail?” ou “Voltou cedo.” ou “Está com fome?”, fiquei encarando o mapa mundi que tinha na parede do meu quarto, deitado de cabeça para baixo na minha cama. Eu amava aquele mapa, ele me fazia pensar pra onde eu fugiria se algum dia tudo desse errado.

E estava dando.

Eu fiquei uns cinco minutos daquele jeito, e o sangue que estava indo para a minha cabeça já estava começando a incomodar, então levantei e fui até a janela para poder respirar.

Abri a janela e eu pude ver que a Kate estava chegando em casa. 

Ela descia de um carro e estava rindo muito. Era o carro do Gordon e pelo visto, eles tinham saído juntos.

Eles não me viram, mas eu o vi e meu estômago deu voltas, minha mão suou e de repente eu estava ansioso sem saber o porquê. Fechei a janela e as cortinas novamente.

Aquele fim de tarde de sábado foi arrastado e demorou para a noite chegar, até que finalmente pude ir dormir para parar de pensar em tantas coisas. Mas quando eu deitei na cama, foi a pior coisa que eu fiz.

Por que pensamos em tantas coisas antes de ir dormir? E uma vez que você começa a pensar, você não consegue controlar mais.

Nada mais fazia lógica na minha cabeça. Eu tinha criado toda aquela situação, tentando ser racional. Querendo desesperadamente ser racional.

Ao invés de escolher qualquer lugar do mapa mundi pra fugir, eu escolhi a minha própria cabeça, pois eu achava que conseguiria me controlar.

Mas eu estava enganado.

As coisas meio que perdem o sentido lógico quando você começa a ouvir o cérebro e o coração, ao mesmo tempo, falando coisas completamente divergentes. Mas pior do que isso é quando as duas ideias se fundem e o cérebro começa a aceitar o que o coração já estava gritando a dias, semanas ou meses.

Somente aí perdemos definitivamente a noção de nós mesmos.

E eu só podia estar realmente apaixonado para estar filosofando daquele jeito às três da madrugada. Que brega.

Mas eu estava assim. 

Perdido e ao mesmo tempo eu sabia muito bem o que fazer, que rumo tomar. 

O que me prendia?

Bom, milhões de coisas me impediam de ir em direção à esse rumo, mas eu podia me libertar daquilo antes que eu enlouquecesse.

Eu precisava me libertar daquilo antes que eu enlouquecesse.

Eu sabia que não podia mudar drasticamente, mas como alguns escritores costumam dizer, é preciso começar pelo início.

Era o que eu iria fazer.

Começar o meu início.

Ou melhor, tentar.

Era 4:40 da manhã e eu já sabia que aquele seria um longo e cansativo dia em que a gente tenta consertar tudo de uma vez. E eu esperava que, ao menos ao fim do dia, tudo acabasse bem. Mas do jeito que eu era azarado, eu duvidava um pouco. Então rezei. Vai que dessa vez minhas preces sejam atendidas.

•••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

 

— Você me ligou, Verninho? 

Ela continuava usando aquele apelido horrível. Será que ela não conseguia entender que eu não gostava daquilo? Que aquilo era brega e esquisito? 

—Sim. 

— Por que não me mandou uma mensagem, Verninho? — ela disse se aproximando e passando o dedo no meu rosto

— Porque eu tinha que falar algo sério com você, Abigail. — eu disse me afastando.

—Nossa Verne! Então fala. O que foi, meu bebezinho ? 

E eu tinha que acabar com aquilo, agora! 

Bebezinho? Já era demais. Como uma pessoa como ela, que conseguia ser tão sexy, falava uma coisas tão bregas como essa? 

—Bem, é complicado....

—Por quê? É sobre você? 

—É sobre a gente na verdade....

—Sério? Meu Deus! Me conta! Eu acho que eu já sei!!!!!!! 

—Já? — eu duvidada um pouco disso. Ela ‘tava entusiasmada demais para o que eu queria falar.

—Sim! Você veio aqui pra perguntar se eu quero ir naquele show incrível que vai ter, só com musicas eletrônicas, igual aquele show no dia que nós ficamos não é? Sabia!

—Não! Não vim falar disso! Eu nem sabia que ia ter show aqui.

—Não? Então o que é? Estamos tão bem que eu pensei que fosse isso, Verninho.

—Não Abigail, você está muito errada. Eu vim... hum...

—Veio.... 

Eu não queria deixar ela magoada e eu não sabia como falar de um jeito delicado, mas eu não podia perder mais tempo. Tinha muita coisa pra fazer naquele dia. 

—Eu, bom, nós temos que terminar.

Ela me olhou espantada 

E me deu um tapa na cara. 

—Ai!  — ela tinha um tapa ardido e eu não pude conter meu "ai".

—ME FALA! QUEM É? PORQUE SÓ PODE SER GAROTA ENVOLVIDA! FALA!!! QUEM É A VADIA? — ela disse gritando.

— Na verdade eu acho que o termo mais correto seria "vadio".

—QUÊ!????? — ela gritou de novo.

—É, porque é um garoto. 

E eu levei outro tapa.

Pelo menos dessa vez, foi do outro lado, pra "compensar" a dor do lado esquerdo.

—VOCÊ É GAY, VERNE ? — ela gritou mais uma vez. Parecia que só sabia gritar agora. 

— NÃO! — eu acabei gritando também— Bem .... talvez eu seja.

E eu ganhei outro tapa. Merda! Aquilo ‘tava começando a ficar chato.

— Olha, Abigail, eu não posso mais continuar com você e ... Eu não sei terminar com alguém! Eu nunca fiz isso, mas ... é isso. Eu estou terminando com você—eu disse tudo aquilo da forma mais calma que eu poderia.  Não gostaria de magoa-lá. Eu já estava sendo cruel de mais.

—Mas nós só estamos juntos a três semanas! Como você já pode querer terminar comigo? 

Pra mim já tinha sido tempo suficiente. 

—Foi um tempo bom pra pensar e refletir e saber que não podemos mais ficar juntos. — eu queria acabar logo com aquilo.            

Ela parou por um tempo e se afastou. Não parecia mais irritada e simplesmente virou e disse:

—Tudo bem. Eu entendo.

—Mesmo? — eu perguntei incrédulo.

—Sim. Você só está confuso com tudo isso que aconteceu e quer um tempo.

—Não! Eu não quero um tempo, eu quero mesmo é termi....

—Sim, você quer terminar— ela disse se aproximando e colocando as mãos nos meus ombros.— Você está confuso por causa daquela noite, eu sei.

—Eu não 'to confuso eu...

—Já entendi — e ela colocou o dedo na minha boca dessa vez pra me impedir de continuar falando. — Eu te dou um tempo, ou melhor, vamos "terminar". Você tem meu número. Nós nos falamos depois.

Ela piscou, virou e simplesmente foi embora. 

Não sabia se ela tinha entendido mesmo, mas eu não ligava, desde que ela tenha ido embora. 

Primeira parte concluída com sucesso. Estava orgulhoso de mim mesmo.

••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

Próximo passo: convencer a Leslie a me ajudar. 

Perdi umas duas horas procurando por ela, mas não sabia exatamente onde acha-la. Passei em frente da casa dela umas três vezes, mas parecia que o Gordon não estava lá sozinho. E eu precisava falar com ele sem uma plateia.

Estava no centro da cidade, com a música no volume alto, dirigindo rápido. O sinal estava no amarelo e uma garota de cabelo preto com azul ia atravessar sem prestar atenção. Pisei no freio de última hora.

—Quer atropelar os outros, filho da puta? O sinal ‘tava amarelo, seu cego! 

Desci a janela do carro para poder responder.

—Amarelo não é vermelho! Olha por onde anda!

—Olha você!

E foi o que eu fiz. Eu olhei. E era ela, a Leslie, em carne e osso e me chamando de filho da puta. Que ótimo momento pra encontrá-la.

—Leslie? —perguntei gritando

Ela se virou um pouco mais para olhar.

—Verne? Meu Deus! Você quase me atropelou aqui! Qual o seu problema? Primeiro dá um soco no meu irmão e agora me atropela? 

—Leslie!!! — eu estava tão feliz por ter encontrado ela que simplesmente ignorei o que ela estava falando. 

Desci do carro e fui puxando ela pelo braço.

—Você precisa vir comigo. Agora.

—E mais essa! Não conseguiu me atropelar, vai querer me sequestrar?

O sinal abriu e os outros começaram a buzinar.

—Entra no carro. É rapidinho. Por favor.

—Não.

—10 minutinhos e você tá livre.

—5. — ela disse cruzando os braços

Não sabia se eu conseguiria falar tudo que eu tinha pra falar em 5 minutos.

—7? — eu tentei, mas não deu certo, porque ela me olhou com uma das sobrancelhas levantadas. 

Os carros buzinaram de novo e dessa vez as pessoas estavam me xingando.

—'Tá, 5 minutos e você tá livre. Agora, por tudo que é mais sagrado, entra logo nesse carro!

Ela entrou e fomos para um estacionamento, pois a Leslie não queria ser vista comigo, como ela deixou bem claro assim que entrou no carro. 

—'Tá com fome? —perguntei

—Não. Vamos ficar aqui mesmo. Pode falar agora. O que você quer comigo?

—Eu preciso falar com o Gordon.

Ela me olhou séria e depois começou a rir. 

—'Tá brincando, né?

—Não! É sério. Eu preciso falar com ele.

—Verne, ficar com a Abigail te deixou burro foi? Ou melhor, piorou a situação, só pode.

—Quê? 

—Porra, Verne! Acha mesmo que eu vou ajudar você a falar com o meu irmão depois de tudo que você fez com ele?

—Bom... Eu pensei que ... talvez....

—Se você só queria falar isso comigo, eu já posso ir? Tenho mais coisa pra fazer. — e virou pra porta.

—Não! Por favor, Leslie! Você é a única que pode me ajudar. Eu sei que eu fiz muita mancada, mas eu preciso pedir desculpas pra ele, porque...... Bom, pode-se dizer que eu vi o quão otário eu fui.

Ela se virou pra mim, depois de um tempo pensando, e me olhou de forma receosa. 

—Eu posso te ajudar, mas ele não pode saber. E tem que prometer que não vai agir igual idiota de novo, porque, se você fizer isso, frito seu rim pra ele comer no jantar. 

Eu dei uma risada, mas então vi que ela estava falando sério.

—Eu só quero saber uma coisa. Que horas que o Gordon vai estar sozinho em casa? Preciso falar com ele, mas não posso ficar 24 horas parado na porta da casa dele até eu ver que não tem ninguém em casa.

—Eu estava indo pra casa agora. Nossos pais foram trabalhar, então seria só eu e o Gordon, mas eu acho que uns amigos meus queriam ir no cinema então....

Eu não deixei ela terminar de falar e gritei: 

— Te amo, Less! 

Ela me olhou assustada.

—Mentira. Na verdade eu amo seu irmão, mas eu te amo do mesmo jeito.

—Você ama quem?

—Você entendeu! 

E nós dois rimos, porque eu falei aquilo de forma muito natural. Talvez eu estivesse gostando um pouco demais do Gordon.

— Eu vou lá. Mas por favor, não estrague tudo como sempre.

—Dessa vez eu não vou. 

Ela sorriu e saiu do carro, mas antes de fechar a porta virou e me disse:

—Olha, Verne, se você fosse assim sempre, até que eu ia gostar de ter você como amigo. 

—Mas eu sou assim. —eu disse, mas ela não me ouviu. Já estava atravessando a rua. 

Ela era muito legal. Minha prima tinha sorte.

Queria ter a mesma sorte que ela. 

••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

Estacionei e saltei do carro rezando pra que não tivesse ninguém na casa do Gordon, para que a Leslie não tenha me enganado e bom... para que ele estivesse lá.

Na garagem só tinha um carro estacionado, o qual eu esperava que fosse dele. A casa não parecia ter movimento. Pelo menos a Leslie foi sincera.

Olhei para a janela do quarto dele. Fechada.

Precisava  arrumar um jeito de chamar a atenção dele, mas como?

Olhei para o lado, e vi uma monte de pedrinhas, e parecia que era o que tinha sobrado da construção da casa ao lado. Respirei fundo, e sem pensar comecei a tacar as pedrinhas na janela dele.

Parecia algo muito clichê, mas eu não me ligava.

Taquei uma, duas, três, e nada dele. Será que tinha saído? Será que estava me ignorando? Comecei a me afogar em um mar de ansiedade. Eu precisava falar com ele, e tinha que ser naquela hora. Eu não podia esperar por nada! 

Precisava tacar mais forte, era isso que eu precisava fazer. Ele não está ouvindo o barulho das pedrinhas, eu pensei.

Peguei uma pedra maior, meu coração a mil. Joguei. Foi com força. Foi com muita força...e bem, pode-se dizer que não deu muito certo.

Na hora que taquei, a cortina começou a abrir. E alguém apareceu...

Não vi quem era pois a pessoa logo se abaixou. A pedra quebrou o vidro. M*rda. O que eu tinha feito? 

Então, esse “alguém” levantou e pude ver que de fato era o Gordon e que pelo visto não estava nem um pouco contente em me ver, talvez pelos seguintes motivos :

1- Eu o soquei da última vez que nós nos encontramos;

2- Ele gostava de mim e eu tinha destruído o coração dele (sim, eu sei que eu fui um monstro);

3- eu tinha acabado de quebrar a janela dele.

Gordon mostrou o dedo do meio. E fechou a janela, fazendo com os caquinhos que sobraram caírem.

M*rda, Verne, me xinguei mentalmente.

Mas, por que ele fechou a janela, se estava quebrada?

É, a vida é uma série de janelas quebradas mesmo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Vergo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.