Vergo escrita por Tris, Panda girl


Capítulo 5
Mil problemas, uma noite


Notas iniciais do capítulo

Há muitos anos atrás, quando o Planeta Terra começou a esfriar, o capítulo quatro de Vergo foi publicado. Desde então, muitas coisas aconteceram, como a evolução da raça humana e a mudança da capa (que, por sinal, deve ter feito todos vocês de trouxa). Hoje, depois de todos esses anos (7 meses), a maravilhosa Panda Girl, que é bem mais legal que a Tris, apesar de ser trouxa, veio aqui dar-lhes um sinal de vida. Brincadeiras à parte, aproveitem o capítulo. E a maior parte foi escrita pela Tris, então eu não devo ser tão mais legal assim. Deve ser por causa da virose (piada interna, só a Tris vai entender e rir da minha cara).
Boa leitura! (Sugestão: escutem Voodoo Doll do 5 Seconds of Summer enquanto leem // a Panda Girl é muito fã deles, e a Tris é poser e só gosta do Luke)



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Eu não acreditava no que tinha acabado de acontecer. Eu estava furioso! Como o Gordon fez isso!

—Me fala! Por que você fez isso? —Perguntei com raiva

—Eu... Eu...

—Você só sabe falar isso! Anda, fala! Por que você pensou que podia fazer isso?!

—Porque eu pensei que você ia gostar, que você também queria... —disse ele

—E por que diabos eu ia gostar de beijar um garoto? Deve ser por isso que você não tem amigos, deve sair beijando eles também!

—Eu não faço isso! É diferente... Eu pensei que você queria...

Ele falava com calma, porém, de um jeito meio nervoso, e isso me deixava mais irritado.

—Você não tinha direito de fazer isso!

—Desculpa, tá?! Eu não sabia que você ainda não queria se envolver. E eu agi muito cedo, eu deveria ter esperado mais! Mas pelo amor! Foi só um beijo! Nunca beijou alguém na vida não? E depois eu que sou o estranho!

—Como assim cedo? E o que você quer dizer com esperar?

Eu não conseguia entender o que ele estava dizendo. Parecia que... Não, eu não podia estar certo! Não! Não! Não!

—Ué, a Kate me explicou sobre você. Ela disse que você estava indo com calma e precisava de alguém pra ajudar nessa transição...

—Transição? Que diabos de transição?

—É,eu sei que é complicado! —ele disse se aproximando e colocando a mão no meu ombro —Mas você não pode ficar guardando isso. Não precisa ter medo.

—Medo? —eu disse, empurrando ele e sua mão pra longe de mim e fazendo careta

—É, eu também demorei muito pra me aceitar. Mas relaxa, é normal.

Eu sabia exatamente do que ele tava falando, mas não podia acreditar que a Kate tinha chegado a esse ponto.

—Eu não sou gay! Ta okay? Não sou! —gritei com raiva

Ela não parava de fazer isso! Dizia que eu tinha que me assumir, me aceitar... Mas eu sempre disse que não era gay, sempre deixei bem claro, bem na cara dura mesmo! Mas, dessa vez, ela tinha passado dos limites.

—Verne? Você tá bem? —disse Gordon, cauteloso

—Cale a boca, Gordon! Cale a sua maldita boca! Porra! Eu não acredito que eu caí nessa! E como você foi capaz de acreditar nelas? Como a merda da Kate fez isso? Como?!

Eu sentei no chão e coloquei minhas mãos na cabeça. Gordon sentou ao meu lado e estreitando os olhos me perguntou:

— Você está dizendo que é mentira da Kate? Por que ela ia fazer isso?

—Porque ela adora se meter na minha vida! — eu disse, esfregando as mãos no rosto, indignado com aquela situação — Acha que eu sou uma boneca e que por isso pode ficar fazendo o que bem entende com a minha vida.

—Mas, se a Kate insiste, ela deve ter um bom motivo pra isso, não é? — ele disse me olhando desconfiado.

Aquilo me irritou ainda mais. Até ele estava sendo influenciado pela Kate! Eu precisava ter uma conversa séria com ela. Era a última vez que ela iria fazer isso. Última!

— Pelo visto, não é só a Kate que se mete na minha vida. — eu disse grossamente, enquanto cravava meus olhos nos dele.

—Não foi isso que eu quis dizer — ele disse desviando o olhar, e tentando concertar o que tinha falado, mas já era tarde demais.

A noite tinha acabado para mim. Estava na hora de ir pra casa.

x.x.x

—Obrigado pela carona —disse Gordon tirando o cinto

—Eu tinha falado que ia te trazer, então tá aí.

—A gente se fala depois. —ele falou enquanto abria a porta do carro

—Não vai ter depois.

—Como é que é!? — ele falou se virando para mim no banco.

—Acho melhor a gente parar de se ver... —eu expliquei

—O quê? —perguntou Gordon, indignado

Estava cansado de ter que ficar repetindo as coisas.

—Sim, foi isso mesmo que você ouviu.

—Ah, entendi! —ele disse com os olhos meio cerrados —Você está com medo que eu possa, como você disse mesmo? Te agarrar de repente? E você tá certo! Tem que tomar cuidado com o gordo tarado! —ele falou apontando pra si mesmo

—Não foi isso que eu disse!

—Mas era isso que você queria dizer!

—Olha, Gordon, não sou eu quem saiu uma vez com uma pessoa e foi beijando ela do nada. —eu disse, tentando me justificar

—A primeira vez que eu saí com você? Desde quando hoje foi a primeira vez que nós estamos saindo? E eu não te beijei do nada, já disse isso!

—Eu achei que você ia ser meu amigo e você se aproveitou da situação!

—Eu? Ah, para de ser escroto, Verne!

—Quer saber? Por que eu to discutindo com você? Vocês são todos do mesmo jeito! Só porque eu sou gay, eu sou frágil, sou uma menininha assustada porque meu crush não me corresponde. Ah, como sofro! Já sei vou me cortar ali e já volto!" Para de palhaçada, cara! Põe na cabeça uma coisa: deixa de ser idiota. Sabe, deve ser por isso que você não tem amigos, e acabou de perder o último otário que ficou do seu lado!

Gordon me olhou ofendido e arrasado com o que eu tinha acabado de falar. Eu não queria nem saber. Quanto mais longe dele, melhor.

Ele se virou para ir embora e, quando ia fechar a porta do carro, Gordon me olhou com aqueles olhos grandes e castanhos que ele tinha e falou:

—Olha, Verne, eu pensei que você pudesse ser tudo: metido, enjoado, idiota... Mas homofóbico, não. Você me surpreendeu. Parabéns.

E, dizendo isso, bate a porta do meu carro e foi para casa. E eu fui embora, cantando pneu.

Nunca pensei que após um jogasso dos Lakers, com a vitória deles e tudo, a noite ia se transformar nessa confusão total.

Mas as confusões não tinham acabado. Estavam apenas começando.

Eu tinha que acertar as contas com a Kate, e eu sabia que isso não ia acabar bem.

x.x.x

Fui chegando em casa e percebendo a presença de Kate, deitada na grama do jardim de sua casa. Parei o carro no meio da rua mesmo, e fui conversar com ela, que ficou de pé em um segundo quando me viu.

—Oi, Verde! E aí, como foi? Vocês demoraram!

—Você é louca?!

Ela me olhou, toda confusa. Seus olhos verdes me fitavam, e era assustador ver que tínhamos o mesmo tom de verde nos olhos. Às vezes parecia que eu estava olhando para mim mesmo.

—Kate, eu não sou gay! — eu disse tentando não gritar. Ninguém precisava ouvir aquilo.

Ela riu, e eu senti o pior tipo de ódio em relação àquele sorriso.

—Okay, okay... Mas e aí, o que vocês tavam fazendo? —ela continuou, toda sorridente

—Kate!

—Calma, calma! Que foi?! O que que eu fiz dessa vez?

—Você tem noção do quão idiota é empurrar uma pessoa pra cima da outra?!

—Empurrar? Como assim, Verne? De que diabos você está falando?!

Respirei fundo.

Eu precisava contar pra alguém, mesmo que esse alguém fosse ela.

—Gordon me beijou. E eu sei que foi sua culpa.

Kate finalmente me olhou nos olhos, assustada. Por mais que, no fundo, eu tivesse um pouco de pena dela por algum motivo desconhecido, por fora eu era pura raiva. Tenho de admitir que, no momento, meu maior desejo era estapeá-la, socar a parede, quebrar alguma coisa.

—Verne, eu...

—Eu to pouco me fodendo pro que você acha, Kate! Eu não sou gay, eu não quero o Gordon e eu não quero você se metendo na minha vida!

—Ah, mas você também, sempre se fazendo de coitadinho! Puta que pariu! —Ela apelou —Foi só um beijo, caramba! Não é como se o mundo fosse acabar porque você beijou um gay! Ninguém viu e ninguém liga!

Eu estava extremamente cansado de brigar com ela. Era sempre assim, eu era sempre o culpado, mesmo sendo ela quem gerou toda a bagunça! Será que ela não percebia que já estava grande o suficiente pra parar de agir assim?!

—Você sabe muito bem que não foi só isso! Você tem ideia do que meu pai faria se soubesse do que aconteceu?!

—Ah, então é isso? Você está com medinho do seu papai ficar com raiva? Coitadinho do Verne, não é mesmo? Tão indefeso, tão frágil! Ah, pelo amor de Deus! Seu pai tá assistindo televisão tem um século, ele nunca ia nem imaginar o que tava acontecendo!

—O problema, Kate, é que você se mete na vida de todo mundo! Esse é o problema! E parece que você não percebe o quão irritante você é! Ninguém te aguenta!

—Não, esse definitivamente não é o problema. Talvez, se você parasse de fazer draminha por qualquer coisa, você pudesse entender! Poxa, Verne, você nunca fica do meu lado, nunca! —ela começou a chorar.

—Talvez seja porque simplesmente não dá pra ficar do seu lado! Já parou pra pensar nisso?

Ela desviou o olhar.

—Tenho que ir embora, tá tarde... —ela disse tentando desviar o assunto da forma mais idiota possível, pois estávamos no jardim da frente de sua casa.

Eu realmente não estava mais afim de continuar brigando, então acabei concordando mentalmente com essa mudança de assunto.

—Toma cuidado... — eu disse, ajeitando o casaco que ela vestia

—Eu já sou grande o suficiente pra saber me cuidar. —ela disse, e se virou pra ir embora

Quando ela já estava bem longe, eu pude ouvi-la chorando baixinho, e odiei com todas as minhas forças essas lágrimas dela, que me faziam me sentir culpado.

—E eu não faço draminha! —gritei, e fui estacionar o carro na garagem, igual uma pessoa normal faria

x.x.x

Quando ela foi embora, finalmente fiquei sozinho. Bom, na verdade era o que eu queria, mas meu pai estava na sala e eu não estava com saco pra bate-papo noturno.

—Como foi o jogo? —ele foi logo perguntando, mas sem desgrudar os olhos da televisão

—Foi bom, nós ganhamos. Eu vou subir, to cansado.

Ele não respondeu, mas, quando eu já estava chegando na escada, resolveu falar:

—Você e a Kate brigaram, eu pude ouvir daqui. Posso saber o motivo?

Eu não podia contar o verdadeiro motivo da briga. Não mesmo. E eu não estava em condições de mentir de forma convincente. Então, falei a primeira coisa em que pensei:

—Você sabe como a Kate é. Ela me estressa às vezes. Disse que foi uma perda de tempo ir ver um jogo tão idiota.

—Tem certeza que foi só isso mesmo, Verne? Você não está mentindo pra mim não, né?

—Claro que não! Por que eu faria isso? Agora, posso subir?

—Pode sim. —ele disse, continuando a olhar pra TV

Tomei um banho, gelado, pra esfriar a cabeça, e me joguei na cama, pensando em tudo o que aconteceu.

Três pessoas sabiam do beijo. Isso era ruim. Eu sabia que a Kate não ia contar pra ninguém, mas e a Leslie? E se ela contasse?

Ninguém podia saber disso, principalmente meu pai.

Mas isso nem era a pior parte. Do pior ninguém sabia. E eu tinha que enterrá-lo, para que nem eu mesmo soubesse o quanto fiquei abalado com aquele beijo.

A cena foi muito rápida, mas eu pude sentir seus lábios quentes e carnudos, e teria sido delicioso, se eu não tivesse afastado. Por um segundo, pensei mesmo em me entregar e viver naquele beijo, mas...

Me reprimi. O que eu estava pensando? Eu estava louco. Eu fiz o certo! Eu só estava misturando várias coisas muito nada-a-ver. Eu não era gay, não podia ser!

Eu não era, e iria provar para mim mesmo que estava certo, e que o beijo não passou de um erro.

x.x.x

—Verne, você não foi muito bem. Tem que melhorar. — a professora me disse entregando minha prova.

Começar uma segunda recebendo nota baixa era uma bela merda.

Eu tinha tirado dois em biologia, no geral. E eu sabia que não seria bem recebido em casa.

Mas, pelo menos, recebi uma boa notícia. E foi no intervalo que os garotos me contaram.

—Verne, você vai?

—Onde, cara? —eu perguntei, sentando ao lado deles.

—Na festa que os alunos do Claremont High estão organizando.

Eu sabia qual colégio era. Era aonde Kate, Gordon e Leslie estudavam. Eu corria o risco de encontrá-lo lá. Mas não estava devendo nada a ele mesmo. E nem a ninguém!

—Vou ver se meu pai libera. Mas, tenho quase certeza de que eu vou sim.

Eu queria ir, e iria! Não perderia aquela festa por nada.

O resto do dia seguiu normal, mas eu só penava no que estaria me esperando quando eu chegasse em casa.

A escola tinha o péssimo hábito de mandar, desde o meu comportamento em sala, até minhas notas para os meus pais. Eu já tinha 17 anos de idade e eles ainda me tratavam como se eu tivesse cinco! Aquilo me irritava. Irritaria qualquer um!

A aula, enfim, acabou, e eu fui para casa pensando em qual castigo meus pais me dariam. Mas foi pior do que eu pensava.

—Hoje tem treino. Porão, depois do almoço.

E, com essa frase, que meu pai me recebeu em casa e sumiu da minha frente.

Meu pai era meio louco, e parecia um militar às vezes. Principalmente, quando minha mãe não estava em casa.

O nosso porão parecia uma academia de boxe, e, se eu tinha medo de algo, era daquele lugar.

Ele era um cara durão, que nunca demonstrava seus sentimentos, à não ser pela minha mãe, na qual ele fazia qualquer coisa para agradá-la. Mas comigo era diferente. Ele gostava de mim, mas queria que eu fosse igual a ele: um cara durão, forte, de quem todos temiam, mas adoravam ao mesmo tempo. Mas eu não era assim.

Por isso, ele criou uma mini academia no nosso porão, pois ele pensava que todo homem devia saber lutar e se defender. O pai dele fez isso com ele, e ele pretendia fazer o mesmo comigo.

No início, eu gostava de treinar, de saber lutar, era uma diversão e o único momento em que eu via meu pai orgulhoso de mim. Mas, com o tempo, eu fui observando que aquilo também servia como uma bela forma de me castigar.

Conforme eu fui crescendo os "treinos" pioraram, foram ficando mais rígidos, e um tanto quanto cruéis. Ele me batia com as luvas bem em cima da minha barriga, dizendo que ia fortalecer meu abdômen e defini-lo, mas na verdade só me dava dor de estômago e criava hematomas. Ele não fazia isso com frequência, mas quando eu desobedecia ou não fazia algo do seu agrado, bem pode-se dizer que era tipo uma versão pior do tradicional tapa na bunda.

Muito pior.

E foi assim que eu passei minha tarde toda, principalmente porque minha mãe não estava em casa pra me salvar.
Ele nunca fazia isso quando ela estava em casa, e nem deixava ela saber o que acontecia lá. Eu também não podia contar. Ele costumava dizer que devíamos enfrentar nossos problemas sem reclamar, mas na verdade ela queria dizer que se eu contasse pra minha mãe, ele quebrava minha cara, e eu não duvidava disso.

Após o "treinamento" e milhões de abdominais, eu finalmente perguntei o que eu tanto queria saber

— Pai?

—Fala — ele disse enquanto tirava as luvas de boxe

— Vai ter uma festa semana que vem e eu queria saber se, bem, se eu poderia ir? —perguntei cauteloso

—Não vai atrapalhar nosso treino?

—Não, é fim de semana.

—Eu sei. O que eu quero saber é se você não vai beber, ou chegar tarde, ficar cansadinho e não quiser treinar no dia seguinte.

—Não vai prejudicar o treino. Te dou a minha palavra.

— Vamos ver se você tem palavra mesmo. — ele disse me olhando, e virou-se para subir a escada.

—Então, eu posso ir?

—Sim. — ele gritou lá de cima

Soquei o saco de boxe. Era nessa festa que eu iria provar para todos que eu não era gay mesmo. Mas no fundo, eu só queria provar para mim mesmo.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Gostaram? Gostaram? Espero que sim, porque a gente demorou MUITO com isso hahahahahah!



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