Assassin's Creed: Aftermath escrita por BadWolf


Capítulo 9
Ainda Inconvincente?


Notas iniciais do capítulo

Bom, e vamos para mais um capítulo!
Boa leitura!



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O sol já não estava tão forte naquele meio de tarde, quando decidi tomar coragem e me aproximar de minha casa. Aproveitei que a Mãe do Clã estava entretida, conversando com alguns idosos, e me aproximei da oca que costumava ser meu lar e que, nos últimos dias, se tornou território proibido.

Ao entrar, percebi que algumas coisas mudaram.

Meus brinquedos tinham sido claramente removidos. Minhas roupas estavam escondidas, também. Notei, para meu desgosto – e outra vez, o bendito ciúme – que havia duas esteiras dispostas lado a lado. Certamente, meus pais estavam dormindo juntos. Embora eu estivesse, estranhamente, no corpo de um menino de quatro anos, eu sabia o que isso significava entre dois adultos, e a idéia me trazia desagrado. Talvez porque eu estivesse sendo egoísta, e não quisesse dividir minha mãe, a mãe que eu tanto estimava, com outra pessoa. Ou talvez porque minha mente de Assassino detestasse imaginar um Templário com minha própria mãe – mesmo este Templário em questão sendo o meu pai. De todo modo, era estranho imaginar minha mãe com um homem. Estranho mesmo.

Queria que a situação entre meu pai e meu povo fosse mais amistosa, de modo que eu pudesse conhece-lo melhor. Desde o dia que eu o salvei, percebi que ele era uma pessoa completamente diferente daquela que encostou sua lâmina em minha garganta naquela Igreja abandonada, no início de nossa procura por Benjamin Church. Ele tinha um ar mais calmo e sereno, diferente do homem ferido pela vida que eu pouco conheci. Entretanto, mesmo meu pai escapando da sentença de morte de meu povo, ele ainda era considerado um criminoso. Talvez tenha sido por isso que meus pais tenham se separado tão rapidamente, a ponto de meu pai não ter detectado a gravidez em minha mãe. Havia barreiras intransponíveis entre os dois, algumas delas, para meu desgosto, causadas por meu próprio povo, a gente que eu estimava.

Minha mãe parecia nervosa. Notei que estava prestes a sair, munida de um facão, posto em sua cintura.

–Ista? – perguntei, tentando sondá-la. Ela se assustou com minha repentina presença ali. Afinal, eu não era mais esperado em minha própria casa.

– Ratonhnhaké:ton! – soltou, em uma exclamação de susto. – O que faz aqui?

–Eu queria alguns dos meus brinquedos. Aonde você vai?

–Eu... Eu vou dar uma volta. Mas prometo que voltarei logo. – ela disse.

Será que tinha acontecido alguma coisa com meu pai, Haytham? Eu não o tinha visto, e ela parecia preocupada. Ainda assim, perguntar seria inútil.

–Ista, eu sinto sua falta... – disse, com o intuito de prolongar minha estadia por ali. Ela suspirou, em tristeza, dando-me um abraço.

–Eu também, meu filho. Mas prometo que as coisas irão voltar ao normal e...

Uma agitação, do lado de fora, chamou tanto sua atenção quanto a minha. Imediatamente, eu e minha mãe nos levantamos, e fomos para o lado de fora, tentar entender o que estava acontecendo.

Acabamos ficando, assim como a tribo, surpresos com o que encontramos.

Meu pai, Haytham Kenway, estava carregando um urso morto.

–Mas o que significa isto? – perguntou a Mãe do Clã, ao notar a agitação que meu pai deixara na tribo inteira. Depois, a Mãe do Clã perguntou em Inglês, para que meu pai a entendesse. – O que está havendo aqui?

Com gotículas de suor em seu rosto, e claramente satisfeito, meu pai lhe respondeu.

–Só estou trazendo meu prêmio. Não é assim que vocês chamam?

Na verdade, os piratas costumam usar tais termos, pensei comigo mesmo. Receber da Natureza jamais foi encarado por nosso povo como um “prêmio”, mas uma dádiva, uma benção. Ele realmente tinha muito o que aprender sobre o nosso povo, se desejava ficar com minha mãe. Quando virei meus olhos, notei que minha mãe tinha um sorriso tímido nos lábios. Parecia estar se divertindo com a situação.

–Está dizendo que matou este urso sozinho? – perguntou a Mãe do Clã, um tanto desconfiada.

–Sim. – meu pai disse, causando espanto e pasmo em todos. Era em ocasiões assim que eu percebi o quanto ele era orgulhoso e um tanto exibido, pois ejetou, diante de todos, suas lâminas escondidas sujas de sangue, causando um misto de surpresa e admiração.

–Realmente, estou pasma com seu feito, homem branco.

–Se puder, senhora, chame-me de Haytham. – disse meu pai, com sua conhecida fala educada e elegante, fazendo-lhe uma reverência. Por um instante, pensei que a Mãe do Clã iria sorrir com seu gesto, mas esqueci-me de que jamais ensinaram àquela senhora o que era isso.

–Está bem... Haytham. – Salientou a Mãe do Clã. – Provavelmente tu não sabias, mas os Deuses me alertaram para a proximidade de um urso feroz em nossas terras. Confesso que estou surpresa em ver que tu deras cabo da fera, e não um de nossos guerreiros. Nós temos muito a agradecê-lo.

Eu percebi que Minowhaa observava a tudo com asco. Especialmente o agradecimento da Mãe do Clã ao meu pai. Dois guerreiros pareciam comentar alguma coisa com ele, o que só o deixava mais irritado. Eu estava torcendo para que ele não estragasse aquele momento, e ainda bem que ele decidira, por fim, aceitar o que tinha acontecido e se distanciar daquela agitação.

Assim que a Mãe do Clã se retirou para sua oca, os outros se aproximaram, afoitos, desejando ver, ou até mesmo tocar no animal. Aproveitei-me de meu estado infantil para tentar uma aproximação também.

–Ista, vamos ver o urso... – disse, arrastando minha mãe, que ainda estava abobada ao ver que todos estavam desejando conversar com meu pai, porém sem sucesso.

–Er... Eu realmente não consigo te entender... – tentava dizer meu pai, até ver que minha mãe estava próxima. – Ziio, por favor, me ajude...

Minha mãe se aproximou, ouvindo as pergunta de cada pessoa.

–Tekakwitha está perguntando como você matou o urso.

–Com as Hidden Blades. Minhas lâminas.

–Ele perguntou com quantos golpes.

–Não cheguei a contar, mas a maioria eu procurei centrar no pescoço...

E assim, minha mãe ficou até o anoitecer, praticamente traduzindo as conversas de meu pai com os demais da aldeia. Percebi que meu pai estava começando a se tornar bem-visto, especialmente depois do pronunciamento da Mãe do Clã.

Fiquei ao lado da minha mãe o tempo todo, e quando não havia mais ninguém, meu pai virou-se para mim e disse:

–Eu realmente desejava falar sua língua, rapaz. Para agradecer-te pelo que fizera por mim, alguns dias atrás.

Eu retruquei, ignorando o pânico crescente da minha mãe.

–Mas eu sei falar Inglês.

Haytham arregalou os olhos. – Sabe?! Mas que fantástico! – disse, se colocando em minha altura. – O que acha de jantar conosco?

–Eu adoraria! – disse, com alegria autêntica.

–Haytham... – alertou minha mãe, claramente desgostando da idéia. Mas meu pai a ignorou, assim como eu, e caminhamos juntos até minha casa. Ou melhor, a casa que ele não sabia que era minha.



§§§§§§§§§§§§§


Confesso que era estranhíssimo assistir meu pai tão familiarizado com os costumes de meu povo. Claro, ele estava longe de aparentar ser um dos nossos, mas também já não me parecia tão insuportavelmente britânico. Diante de um pequeno fogo aceso, ele sentou-se, pernas cruzadas, ao lado de minha mãe, que começou a nos servir.

Era muito estranho ver os dois, lado a lado. Em minha vida, jamais tive essa oportunidade. Ela morreu quando eu era pequeno, e só conheci pessoalmente o meu pai anos depois, quando já era um homem adulto. Um intervalo considerável de anos separava a participação de ambos em minha vida. E para meu pesar, minha convivência com cada um deles possuiu praticamente a mesma duração: alguns poucos anos. Poucos anos que sinto que foram mal aproveitados. Quantas vezes eu disse à minha mãe que a amava, até que as chamas da aldeia consumissem o seu corpo? Isso me atormentava quase da mesma maneira em que eu pensava o que teria acontecido se eu tivesse feito maiores tentativas de me aproximar de meu pai, não como um Assassino obstinado, mas como um filho. Quantas conversas poderiam ter acontecido no mês em que navegamos juntos no Áquila, ou na solidão das matas da Fronteira, enquanto deixávamos um conflito de séculos a interferir em nossos próprios laços sanguíneos? Sinto que fracassei com ambos. Dei poucos motivos à minha mãe ter orgulho de mim, e foi necessário um punhado de folhas de papel envelhecidas para eu perceber o quanto enganado eu estava a respeito de meu pai.

No entanto, aquela noite deu-me um vislumbre de como poderia ter sido a minha vida. Não só um vislumbre. Eu me permitia também sonhar. Meus pais ainda poderiam ficar juntos? Poderíamos nos tornar uma família, permanentemente? Eram estes tolos pensamentos, eu sabia, mas ainda assim, sedutores demais para serem deixados de lado.

Senti um clima um tanto incômodo em minha mãe. Ela não sabia sobre o meu conhecimento quanto a Haytham, e ao que tudo indicava, meu pai Haytham era um completo ignorante a respeito de quem eu verdadeiramente era. Decerto, ela temia que ele chegasse a esta conclusão.

–Poderia me dizer o seu nome? – ele perguntou, em suas maneiras educadas. Claro, o velho pomposo inglês dentro de si jamais morreria.

–Ratonhnhaké:ton. – respondi. Percebi que ele evitou uma careta.

–Rádu... Rádu... Gadêum... Nossa, creio que este é mais difícil que o seu, Ziio.

Minha mãe segurou uma risada, e rapidamente voltou ao seu semblante natural: sério e austero.

–Você tem um apelido?

–Acho que ele sequer sabe o que é isto, Haytham . – disse minha mãe, fazendo meu pai suspirar em um tom derrotista.

–Er... Muito bem, menino. Chega de destruir o seu bom nome. Acho melhor eu parar de tentar e admitir que eu simplesmente não consigo pronunciá-lo corretamente.

–Qual é o seu nome? – perguntei, pausadamente para mostrar que não era tão fluente.

–Haytham. Haytham Kenway.

–Eidan. – pronunciei desta forma, propositalmente errado, apenas para ver sua reação. Para minha surpresa, ele não se irritou.

–Não. É Haytham. Pronuncie como se começasse com R. Haytham.

–Haytham. Qual é o significado do seu nome? – eu perguntei, mesmo já sabendo por seu diário. Percebi que ele dizia com certo orgulho em suas próprias passagens, mas eu desejava saber por sua boca.

–Jovem Águia.

Percebi que minha mãe ficou surpresa.

–Sempre achei seu nome diferente, mas... Jovem Águia? Eu realmente não esperava que fosse este o significado. – ela disse, enquanto se alimentava.

–É Árabe, na verdade. – ao perceber que ninguém ali fazia a menor idéia do que era “Árabe”, meu pai contornou. – Bom, é uma palavra de um povo muito distante. Provavelmente, eu serei o único Haytham das Colônias Americanas. Mas você não me disse o significado do seu, menino... Qual é?

–“A vida que foi arranhada”.

Quem respondeu foi minha mãe. Haytham pareceu um tanto surpreso, eu senti.

–Nossa... Gostaria de saber os motivos que levaram sua mãe a dar-te este nome, menino. De todo modo, eu estou vendo que você ainda não comeu nada...

Eu sorri, voltando minha atenção à tigela. Realmente, eu esperava que ele iniciasse qualquer assunto, menos este. Era estranho, muito estranho, vê-lo com tal humor, longe de ser sarcástico, como costumávamos nos tratar em nossas interações. No fundo, eu estava gostando de conhecer este lado, mais ameno e relaxado.

–Acho que você está ficando com sono. – observou meu pai, ao ver-me bocejar.

–É verdade, Ratonhnhaké:ton. Já está tarde. Eu vou levar você de volta.

–Tudo bem, Ista.

Percebi minha mãe entrar em ligeiro pânico, mas em seguida ela voltou a si. Meu pai não sabia o significado da palavra, afinal.

Mas também não era tão idiota a ponto de não ter notado.

–Ista.. Essa palavra é nova para mim. Este é mais um de seus apelidos, Ziio?

–Sim. Er, vamos Ratonhnhaké:ton. – ela disse, conduzindo-me para fora da oca. Caminhamos até a casa de Kanen'tó:kon e encontramos a mãe dele, que cumprimentou a minha. Minha mãe explicou o ocorrido, que eu estava o tempo todo ao seu lado e que sentia muito por não ter avisado de minha ausência. Ela acabou por não se importar, e voltou para dentro de sua casa, deixando eu e minha mãe às sós novamente.

Procurei começar algum assunto com ela.

–Haytham é muito legal. – eu disse. – Posso vê-lo de novo?

–Er, não. Infelizmente não pode.

–Mas, Ista...

–E sem “mas”. Agora, vá dormir.



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Notas finais do capítulo

Connor, só sondando! Menino esperto, este! hahahah E Ziio que se cuide, essa história tá ficando cada vez mais complicada de se esconder. O Haytham também não é um idiota para ser enganado tão diretamente.

Reviews, bem-vindos como sempre!

Um grande abraço, e até a próxima!



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