Assassin's Creed: Aftermath escrita por BadWolf


Capítulo 34
Pontos de Interrogação


Notas iniciais do capítulo

Olá!

Preparados para mais um cap?

Aqui vamos nós, então!



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Outro sonho, sem avisar, ocorreu-me na noite passada.

Não era nenhuma memória nova desta realidade, mas algo que tinha vivido na realidade que a Maçã me fizera abandonar. Só não entendia o porquê de estar me recordando disso agora.

Eu podia ouvir, com clareza, o som do estaleiro de Nova York. Os trabalhadores serrando e pregando madeira, construindo pouco a pouco os monumentais navios que, em alguns meses ou anos, estariam atravessando os mares da América.

Sim, eu me lembrava das razões de estar lá. O mesmo local que presenciou minha perseguição desenfreada por Charles Lee tinha sido também o local para encontros secretos. Àquela altura, a Ordem dos Assassinos estava praticamente dizimada, lembro bem. Tanto que não havia quase nenhum local seguro para nos reunir. Nada de tavernas ou praças. Nos tornamos clandestinos, em uma cidade já tomada por inimigos e com olhos e ouvidos por todas as paredes. Ali, no cais, havia pouca lei a imperar e muito embora houvesse uma horda de trabalhadores a perambular por todos os lados, havia um quê anárquico em si. Como se a lei não alcançasse aquele lugar. E embora violência prevalecesse ali, eu não tinha escolha senão me aproveitar de seus malefícios. Queria que as pessoas pudessem caminhar livremente ali, sem serem importunadas por assaltantes e patifes, é claro, mas no fundo, e até me envergonho admitir, estava grato por isso não acontecer. Por aquela ser uma terra sem Justiça.

Tudo por uma causa maior, cheguei a pensar comigo mesmo, mas no instante seguinte, me repreendi. Lembrei-me uma vez de Achilles, em um de suas raras lições teóricas, me contar a respeito de Niccolò Machiavelli. Um famoso pensador, e também importante Assassino. Os fins justificam os meios, representava Machiavelli por meio de seus ensinamentos. Mas vi Achilles refutar veementemente o ensinamento do Assassino Renascentista. Notei algo sombrio e pesaroso em olhar, diria até que doloroso. Uma pena que eu fosse jovem demais para insistir e mesmo pedir maiores explicações. Sua sabedoria, que só a experiência poderia proporcionar a alguém, me fazia falta nessas horas.

Meu encontro com Dobby aconteceu, como eu esperava de forma tensa.

–“Dobby, acabamos de enterrar um dos nossos. Só restou você. Por favor...”

Eu estava tentando colocar algum juízo em sua cabeça. A nossa Ordem dos Assassinos, afinal, estava reduzida apenas a nós dois. Deveríamos tentar nos reorganizar, e sermos mais cuidados. Ou mesmo recrutar mais pessoas. No entanto, ela era contra tal estratégia. Dizia que todos os nossos futuros esforços seriam inúteis, se não eliminássemos a ameaça por completo. Ela insistia em dizer que havia uma só pessoa por trás de todos os ataques.

–“E é alguém muito perigoso!” – ela dizia. – “Poderia até dizer que há um Assassino por trás de tudo isto. Ele age furtivamente e ataca igual a alguém da Irmandade.”

Eu ri. – “Um Assassino? Impossível.”

–“Connor, você deveria ter visto os ferimentos de Duncan. Eu tenho certeza de que foram lâminas curtas. Lâminas iguais às nossas.” – ela disse, ejetando sua Hidden Blade.

–“Dobby... Por favor... Por mais que seu ponto de vista tenha algum sentido, tente entender. É arriscado investigarmos agora. Precisamos pedir ajuda de outros assassinos, nos reorganizar.”

–“Não... – ela dizia, impaciente. – Connor, esse homem – ou mulher, porque tudo é possível – matou nossos irmãos. Isso precisa de uma resposta. E se você não está disposto a dá-la, eu a darei. Por Clipper, por Duncan, por todos. Entendeu?”

E assim, ela se distanciou de mim.

Só nos reencontramos em seu próprio funeral.



§§§§§§§§§§§§§



–O que anda te perturbando?

Eu estava, naquela manhã, em mais um dia de treinamento com Amália. Estávamos em minha propriedade, na mata que ficava na lateral da casa e que possuía árvores fortes e não muito altas, perfeitas para amadores escalarem árvores e praticarem sem perigo. Amália já tinha estado em minha casa por alguns dias, na semana passada, e aprendia com velocidade, embora tivesse tido um ou outro tombo por sua pressa em querer ser mais ágil.

–Nada. – disse, tentando disfarçar meu desconforto pelo sonho que tive sobre a morte de Dobby. Eu estava vivendo outra vida, outra realidade, mas ainda assim, trazia os mesmos fantasmas. – A propósito, conseguiu algum progresso com a carta?

–Não. Ninguém de confiança que possa traduzi-la.

–Entendo. Talvez meu pai possa te ajudar. Ele é um homem estudado e vivido.

–Assim espero. Não aguento mais, sinto que irei morrer de ansiedade. Tenho certeza de que esta carta é peça-chave para descobrir mais a respeito de minhas origens.

–E o Diário?

–Terminei de lê-lo esta semana. Por sorte, está completamente escrito em Inglês. Um inglês bem ruim, como você viu, mas ao menos eu consigo entender, apesar de minhas... Pequenas limitações. Ela realmente usava o diário para praticar o idioma. Descobri que minha mãe se chamava Maria de Almeida.

–Jamais ouvi um sobrenome assim.

–Isso porque ela era portuguesa. Veio de Lisboa, atrás de meu pai.

–E pelo visto, ela não conseguiu encontra-lo. Afinal, ela se casou com outro homem.

–Realmente. Eu tenho a estranha sensação de que esta carta misteriosa tem algo haver com isto. Ela a escondeu com tanto cuidado... E sinto que, após a chegada desta carta, ela se desanimou com as buscas. Em seguida, casou-se com Rodolph, meu padrasto. Mas ela não me diz o que aconteceu.



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Kenway Homestead. 2 de Março de 1778



Caía um pouco de chuva naquela manhã, mas mesmo assim, minhas atividades ao ar livre não estavam de todo suspensas. Passei a manhã treinando, algo que já não fazia havia tempo. Aproveitei para treinar com o dardo de corda, objeto que tinha prática, mas que percebi que já estava um tanto enferrujado. Aproveitei também para vestir meu Manto, algo que evitava quando meu pai estava presente e que andava usando nos últimos tempos, com maior frequência.

A chuva estava passando quando eu percebi meu pai chegando, no fim da estrada. Era uma carruagem fretada, mas eu sabia que era ele.

Quando desceu da carruagem, notei que ele estava um tanto diferente. Visivelmente mais magro, e bastante queimado de sol, com a pele quase da minha cor. Sua barba estava por fazer, também, e isso me deixou em choque. Foi a primeira vez que o vi barbudo – era muito estranho. Decerto os dois últimos meses no mar não lhe foram agradáveis. Apesar disso, seu semblante era leve, o que me dava certeza de que Benjamin Church estava morto.

Quando ele me notou treinar, deu um súbito sorriso, mas depois tornou a voltar-se sério. Talvez tenha se lembrado de nossas últimas discussões.

–Depois, eu quero conversar com você. – decretou seriamente, e assenti. – E vá se secar. Não quero que pegue uma pneumonia.

Claro, sua paternidade ainda estava ali, mesmo que estivéssemos em lados opostos e discutindo o tempo todo. Aproveitei para ajuda-lo com as malas, recebendo um assentimento de agradecimento.

–Pelo visto, você fez alguns ajustes no Manto. – ele disse, me analisando enquanto deixava sua casaca e seu chapéu no cabide.

–Meu avô não era tão alto quanto eu.

Ele sorriu. – Não pense que seu avô era um homem de baixa estatura. Você é agigantado demais para o padrão dos Kenway, que não é pouca coisa. Acho que isso é herança da família de sua mãe.

–Decerto é. – disse, percebendo que o clima entre nós tinha melhorado.

–Alguma coisa aconteceu em minha ausência?

–Nada preocupante.

–Ótimo. – ele disse, dando um leve e amigável tapa em meu ombro. – Sabia que faria bem as vezes de homem da casa.

–Mas eu sou o homem da casa. – provoquei, é claro.

Ele riu. – No dia em que tiver mais cabelos brancos do que eu.

–Então, você venceu, velho.

Que humor excelente! Realmente, uma estadia no mar tinha lhe acalmado consideravelmente. Queria que todos os dias fossem assim. Ou melhor, será que nosso relacionamento era assim, até eu descobrir seu lado Templário? Talvez tivesse, e isso era uma pena. Tinha perdido muita coisa boa.

–Tessa! – chamou. – Ziio! Cheguei!

Tessa foi a primeira a aparecer. – Pai!

Os dois se abraçaram fortemente. Sem qualquer esforço, meu pai a tirou do chão, dando-lhe um beijo na testa.

–Pai, você está fedendo a peixe... E seu beijo pinica.

Meu pai nada disse a respeito da sinceridade de minha irmã Tessa. Apenas riu.

–Agora, onde está sua mãe?

Tessa observou-o, um tanto ressentida, mas de modo brincalhão.

–Ah, mas é claro que você quer ver Ista. Venha, ela está na sala de estar com Amália.

–Amelia, mas quem é Amelia? – ele perguntou, um tanto confuso, mas Tessa o saiu arrastando pela casa.



§§§§§§§§§§§§§


Amália estava ligeiramente envergonhada com a chegada de meu pai. Se ela já me achava assustador, tenho certeza de que a presença de meu pai, armado de pistolas e espadas, só trouxe maior apreensão a ela. E de fato, assim como eu, meu pai era um homem intimidante por si só, que precisava fazer um esforço enorme para se mostrar pacífico.

–Haytham Kenway, um prazer. – ele estendeu sua mão, educadamente.

–Amália Lawler. – ela se apresentou, um tanto sem jeito.

–Amália está aqui precisando de sua ajuda, Haytham. – alegara minha mãe.

–Bom, no que eu puder ser útil à senhorita, saiba que tens minha ajuda.

Amália parecia mais esperançosa, assim como todos nós. Meu pai conhecia uma infinidade de coisas. Poderia muito bem conhecer a língua da carta dela.

–Tenho certeza de que dará tudo certo. – disse Tessa, pegando nas mãos de Amália. Ambas tinham se dado muito bem, e estavam se tornando grandes amigas.

Enquanto as meninas conversavam, me atentei aos meus pais, conversando enquanto subiam ao andar de cima da Mansão.

–Imagino que a vida no mar não tenha sido a mais salubre... A julgar o estado das tuas roupas... E da tua aparência.

–De fato, Ziio. Um bom prato de comida fresca e um banho de sais seriam reconfortantes. Custo a acreditar que meu pai tenha vivido tantos anos assim... –comentava meu pai, enquanto subia acompanhado apenas de minha mãe. Decidi parar de prestar atenção na conversa dos dois. Sempre acabava em algo íntimo a ponto de me deixar encabulado, ou mesmo enciumado – para dizer o mínimo. Ver minha mãe com alguém – mesmo meu próprio pai – ainda me causava estranheza.

Quando jantamos, meu pai voltou ao seu lugar, rebaixando-me para um assento ao seu lado. Afinal, ele era o “homem da casa”, como tinha me alertado. Fiquei sentado em frente a minha irmã Tessa, que tinha sentada à sua esquerda Amália, nossa convidada.

Meu pai evitou tocar no assunto do motivo da sua viagem. Tessa não sabia de coisa alguma, acreditando que ele tinha se ausentado para negócios da fazenda. Com a barba feita, os cabelos penteados e devidamente asseado, creio que Amália ficou menos amedrontada com sua presença. A conversa na mesa fluiu com tranquilidade. Meu pai contara detalhes de como sua estadia no mar lhe lembrara de sua vinda da Inglaterra, e prometeu, inclusive, que nos levaria à Inglaterra algum dia, afinal tínhamos uma tia por lá, que jamais tínhamos visto pessoalmente: Jennifer Scott Kenway. A relação dos dois não era fácil, eu sabia por seu Diário, mas ele dizia que deveríamos conhece-la. Contou que ela já estava com idade avançada, e que ele pretendia nos levar para conhecer a Inglaterra no ano que vem – ou quando tudo estivesse mais calmo para viagens.

Meus olhos voltavam de meu prato, para meu pai, e para os olhos de Amália. Cada vez mais eu me sentia perdido em seu olhar. Como se ele me arrastasse, me hipnotizasse.

–Connor, estou falando com você.

A voz de meu pai, acompanhado de olhares bastante acusadores – e maliciosos – de minha mãe e de minha irmã me deixaram ruborizado. Eles já estavam percebendo meu encantamento por Amália, eu pude notar.

–Ah... Sim?

–Você não prestou atenção em nada do que eu disse, não é?

Meu pai tinha um sorriso nos lábios, malicioso. Será que ele percebeu meu olhar para Amália?

–Claro que prestei.

–É mesmo? Não parecia. Mas enfim, estava comentando com sua mãe que seria bom você acompanhar Miss Lawler em sua volta à Nova York. Ouvi dizer de um grupo de assaltantes na estrada e não acho recomendável deixa-la à própria sorte, nesta viagem à Nova York.

–Sim, mas é claro que eu a acompanharei.

–ótimo.

O que ele pretendia com isso?

–Aliás... – disse, após um pigarreio. – No quê exatamente a senhorita precisa?

Amália assentiu.

–Estive, recentemente, investigando mais a respeito de minha mãe, a quem pouco conheci. Acabamos por encontrar uma carta, porém não conseguimos lê-la porque está em um idioma estranho. Como minha mãe era portuguesa, acreditamos que esta carta esteja em Português.

–Deveras? – perguntou meu pai, curioso. – Bom, não sou um poliglota, mas quem sabe eu possa ajudar... Tive um pouco de contato com o português durante uma breve passagem por Lisboa, mas foi há tanto tempo... Ainda assim, não custa fazer uma tentativa.

Assim que acabamos de jantar, Amália entregou ao meu pai a carta que foi encontrada no baú de sua mãe. De posse dela, meu pai pareceu analisa-la, até dar seu veredito, pomposamente.

–Vocês têm toda a razão. Está em Português, mesmo. – disse. – Pena que não conheço tão bem o idioma assim para traduzi-la por completo, eu só sei uma dúzia de palavras e frases prontas. Mas eu conheço alguém bastante inteligente que creio que seja capaz de traduzi-la, e ele está em Boston, provavelmente.

Amália pareceu esperançosa.

Meu pai sorriu.

–Ao que parece, você tem esmo algum familiar na terra de Camões. De todo modo, só alguém como Benjamin Franklin poderá nos dar o conteúdo completo desta carta, sem esforço.


§§§§§§§§§§§§§


–Eu o matei.

Aquilo não precisava ser dito. Eu tinha certeza de que ele tinha sido bem-sucedido. Depois do jantar, quando ele me chamou discretamente para conversarmos lá fora, eu imaginava que ele me contaria os detalhes da viagem, algo que não pôde fazer no jantar. Mas havia algo inquieto em sua voz. Uma incerteza estranha, que não sabia explicar.

–Charles deu a ordem a Church.

–Não me surpreende. – disse, nada surpreso com sua constatação do óbvio.

–Aquelas palavras de Church... Ele disse que eu deveria temer o que estava por vir. Mas o quê poderia ser? – perguntava-se Haytham, caminhando de um lado a outro.

–Talvez Charles Lee tenha buscado reforços. Mercenários, algo do tipo.

–Não... – recusava Haytham. – É algo muito pior que isto, posso sentir. Talvez o recente caos provocado por seus... Amigos tenha amedrontado Lee...

–Ele é um covarde. Não me espanta.

Haytham ignorava suas ofensas. – Será que ele buscou ajuda na Europa?

Os meus olhos se arregalaram, chocados. Seria a ajuda de Lee Howard Davidson, o Templário Britânico que pôs fim à Ordem dos Assassinos, na realidade que acabei de abandonar?

–Pai... – comecei, tentando encontrar uma maneira de abordar o assunto sem causar estranheza. – Entre a hierarquia de vocês, um Grão-Mestre Templário pode tomar o lugar de outro?

–Sim. – disse Haytham, analisando a situação. – Quero dizer... A palavra “tomar” não é a mais adequada a se dizer, na verdade. Diria que “prestar apoio” seria o melhor termo. Isso aconteceu na Espanha, quando eu tinha uns vinte anos. A Ordem dos Templários de lá esteve prestes a ruir e eles pediram ajuda de Portugal. Pode estar acontecendo o mesmo aqui. O problema é: quem é o Templário atualmente no comando na Inglaterra? Confesso que estou desatualizado.

Connor sabia a resposta. Howard Davidson. Mas como dizê-las ao seu pai?

–O senhor teme algum nome em especial?

Haythan assentiu.

–Eu tinha alguns desafetos na Ordem. Pessoas preconceituosas com minhas... Origens Assassinas, que de alguma forma foram prejudicadas pelos “negócios” de seu avô. Quando estava sob a asa de Birch, eu notava seus olhares hipócritas, e todos acreditavam que eu não sabia ou não percebia coisa alguma. Depois que meu tutor morreu, as coisas se intensificaram. Não era mais necessária hipocrisia, afinal.

–Por isso, manteve distância dos Templários Britânicos...

Meu pai arregalou seus olhos. – Como sabe disto?

Gaguejei. Como pude ter deixado escapar tal coisa? Decerto era minha ânsia em enfrentar Howard Davidson com um cenário bem diferente: meu pai ao meu lado, guiado por um desejo de vingança, e uma Ordem fortalecida por meus discípulos e também por Minowhaa.

–Achilles comentou, uma vez.

Haytham assentiu. Não sei se estava convencido, mas ao menos parecia.

–Impressionante como vocês, Assassinos, conseguem descobrir tudo.

Parece que eu não o convenci, totalmente. Ele continuou.

–O fato é que têm umas três pessoas que tem certeza de que eu...

Ele se interrompeu. Eu sabia exatamente o que ele estava prestes a dizer: que matara seu tutor, o Grão-Mestre Templário da Inglaterra Reginald Birch. Creio que ele estava temeroso em me impressionar.

–Enfim, me odeiam por algumas coisas que fiz na Inglaterra. Você deveria ser um bebê, pelas minhas contas, naquela época. O fato é que essas pessoas me desejam ver morto. Estarem aqui, sabendo que desisti da Ordem seria uma bela desculpa para me matar, alegando Traição ou rompimento do Juramento Templário – algo passivo de morte. E saber que matei um dos Templários seria a confirmação de que eu sou um maldito Assassino enrustido. Acho que sua mãe tinha razão: eu não deveria ter perseguido e matado Benjamin Church.

Notei arrependimento em sua voz. Ele estava claramente temeroso pelas consequências, e com razão. Afinal, ele era casado e tinha dois filhos. Não era mais um guerreiro solitário, como eu.

–Você fez o que tinha de ser feito. – disse, afagando seu ombro.

–Sou um homem de 52 anos, completamente inconsequente e irresponsável. Tenho uma filha de 17 anos, na flor da juventude, e um filho de 22 anos que me odeia.

–Não diga isso, pai. Você é um bom homem, e eu não odeio você. Nossas visões simplesmente são diferentes, eu sei, mas no final temos o mesmo objetivo. Por que não podemos conciliá-las, então?

Aquelas eram palavras que eu sempre quis lhe dizer. Ele parou, olhando para mim com seus olhos cinzentos, seriamente, e depois sorriu.

–Tem razão. Você é meu filho, afinal.

–Temos o mesmo sangue, eu e você. – disse. – Seu velho.

–Menino insolente. – devolveu, dando-me um abraço apertado, e puxando meu capuz de Assassino, num tom de brincadeira. – Espero que a vida não seja ingrata com as escolhas que fizestes. E que possamos ainda assistir a mundo sem esta guerra já sem sentido.

–Esta guerra não perdeu seu sentido, pai. Você apenas se cansou dela.

Ele sorriu, amargamente. – Creio que sim. Mas isso não me impede de desejar que você não estivesse nela.


§§§§§§§§§§§§§


Enquanto embarcado no Áquila, apenas contemplando as estrelas na escuridão do mar, e olhando para rudes rostos masculinos o dia inteiro, Haytham imaginava que teria uma tórrida noite com Ziio, assim que chegasse em casa. Mas o fato é que, assim que tivera a oportunidade de se retirar, ele caiu exausto na cama. A maciez e o doce cheiro dos lençóis limpos de sua cama mais parecia o Paraíso diante de suas acomodações no Áquila nos últimos meses.

–Parece que você está com saudades... Da cama. – disse Ziio, ao contemplar sua felicidade quase infantil.

–Na verdade, tenho mais saudades de quem costuma ficar em cima dela.

–Cínico.

Haytham riu do termo. Sempre que Ziio lhe tratava com rispidez, ou até mesmo xingamentos, significava que a noite seria estupenda. E ao notar, no canto do olho, sua esposa trazer um sorriso breve, ele tinha mais certeza ainda.

–Acho que nosso filho está apaixonado. – ele comentou, enquanto assistia sua esposa colocar sua camisola.

–Você acha? Eu tenho certeza.

Haytham soltou uma gargalhada.

–Acho que em breve seremos avós.

–Não fique tão otimista assim. Nosso filho ainda não tomou iniciativa de nada. E não o culpe, ele sempre foi tímido. Seria bom se você conversasse com ele. O encorajasse, tivesse uma conversa de homens, enfim. Temo que se eu fizer alguma coisa, vou acabar afugentando a idéia de se envolver com a moça.

–Está bem, eu terei uma conversa franca com ele. A propósito, eu mudei de idéia. Acho que deveríamos levar as crianças conosco até Boston.

Ziio pareceu surpresa.

–Mas você não desejava leva-las. Dizia estar receoso com o que poderia acontecer...

Haytham negativou.

–Bobagem minha. Connor é forte o bastante, capaz de se defender, tal como você. E Tessa terá a nós dois. Minha única preocupação é Amália, mas acredito que ela está muito longe de ser uma donzela indefesa.

Zio franziu o cenho, em confusão.

–Como sabe? – questionou a nativa. Haytham riu, levemente.

–Alguém com minha experiência de vida sabe notar quando alguém está armado até os dentes, mesmo que escondido. E aquela moça anda com uma adaga atada à perna e uma pistola na bolsa, sendo isso tudo que notei. De todo modo, prefiro que vocês me acompanhem do que deixa-los sozinhos aqui.

–Entendo. – disse Ziio, começando a se convencer. – Ainda assim, não gosto da idéia de Tessa ir à cidade frequentemente. Não depois da forma como aquele homem asqueroso se referiu à nossa filha. Minha vontade era de enfiar uma faca em sua barriga e arrancar suas tripas.

–Tessa estará a salvo. Afinal, eu e Connor também estaremos acompanhando-a. Charles é um homem ocupado, sequer saberá de nossa presença na cidade. Será uma visita muito breve, não pretendo me delongar por lá. Apenas visitaremos Franklin, e o entregaremos a carta. Como o conteúdo não é dos mais longos, creio que poderá nos traduzir no mesmo dia.

Ziio suspirou, em rendição.

–Tudo bem. Você tem razão. Seria egoísmo privar as crianças de viver normalmente suas vidas.

–Sim, é isto o que penso. Agora, sem mais crianças, por favor. – disse Haytham, beijando Ziio intensamente, fazendo-a soltar um suspiro.

–Konnoronhkhwa. – disse Ziio, em seu ouvido, no que ele sabia ser “eu te amo”, em sua linguagem nativa.

–Eu também te amo. – ele disse, em Inglês, antes de beijá-la novamente.


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Notas finais do capítulo

E, é claro, não iremos continuar porque essa é uma fanfic de família.

KKK

E eu nem vou comentar sobre esse "chove-não-molha" do Connor. Ah, mas que menino tímido. Tomara que o Haytham tenha mesmo uma conversa séria com ele.

E parece que teremos Benjamin Franklin na fanfic, também, em uma singela participação especial. Aguardem por revelações.

No próximo cap, veremos porquê a tradução da carta por Franklin será tão crucial no desenrolar dessa história.
E vocês, já tem palpites sobre o segredo da Amália??
Não tenho certeza se vou conseguir surpreende-los, mas prometo tentar, rs.


OFF: Alguém viu o trailer de gêmeos do AC Syndicate? Alguém reparou a cor dos olhos deles? Jacob tem olhos castanhos e Evie, azuis. Tá rolando uma teoria de que eles são filhos de Sábio - ou mesmo Sábios!! E pode ser, porque pelos documentos roubados do Helix no Unity, soubemos que o Templários estão mais interessados nos Sábios do que nas Apples. Parece que os Sábios podem gerar DNA capaz de retroceder até 3.000 anos de geração - um DNA humano só pode voltar 800 anos. Por isso o Sábio do Black Flag pediu para o Edward sumir com o corpo dele. E um dos documentos citou um Sábio que viveu na Inglaterra - e citou 2 vezes... Logo...
Acho que essa questão dos Sábios, que apareceu recentemente, pode ser uma boa deixa para Assassin's Creed ir para épocas mais antigas, tipo Roma Antiga, etc. Afinal, sabemos que a franquia terá pelo menos 20 anos pela frente, e estamos cada vez mais próximo da Era Moderna. Não vejo outro rumo senão voltar milhares de anos.
Bom, isso são só especulações.

Um grande abraço, e até o próximo cap!.
Badwolf



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