Menino anjo escrita por Celso Innocente


Capítulo 6
Diabo Negro




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Sete horas daquela manhã, sozinho ele caminhava por uma rua quase deserta, atrás da estação rodoviária de Mogi Guaçu, que também fica quase na entrada da cidade.

Quinze minutos depois entrou em um grande galpão abandonado, próximo a rodovia que o trouxera de São João, aproximadamente mil metros antes da rodoviária, sentido para quem sai da cidade.

Enquanto investigava o local foi surpreendido por um homem branco, alto, forte, aparentando uns trinta anos de idade e de sorriso irônico na face.

— O que você procura por aqui? — Perguntou-lhe o homem, calmamente.

Ele não se apavorou, mas também não respondeu.

— Venha comigo — chamou o homem estendendo-lhe a mão direita.

O menino, embora sem segurar sua mão o acompanhou. Entraram em uma sala suja, como tudo naquele lugar sombrio, cheio de móveis velhos e uma mesa grande, com argolas cravadas em sua cabeceira.

— Sente-se aqui pra conversarmos — pediu o homem, calmamente.

O menino com seu jeito maroto, inocentemente sentou-se sobre a tal mesa. O homem se aproximou lentamente e o abraçou.

— Não tenha medo — pediu ele. — Não vou fazer nada contigo.

Desabotoou a camisa do menino e a tirou. Regis parecia hipnotizado e não demonstrava reação. O homem calmamente o deitou sobre aquela mesa e amarrou seus dois pulsos sobre as argolas. Quando o menino se deu conta de que estava preso, a mercê daquele monstro, desanimado, simplesmente forçou um pouco os punhos e sentindo-se derrotado, balbuciou:

— Touchê!...

— É isso! — Riu o homem. — Touchê!

— Sei o que você fez — disse Regis, sem demonstrar pavor.

— Com as outras crianças?

O menino acenou que sim.

— Elas foram levadas para um mundo melhor do que este.

— Não! — negou o menino. — Elas estão em um mundo perdido de trevas e pavor. Eu vim buscá-las!

— Você não pode buscá-las — negou o homem, com sorriso irônico. — Elas agora pertencem a meu reino.

— Não! Você as feriu de maneira muito cruel e covarde. Roubou-lhe o corpo e a alma. Eu vim para buscá-las!

— Você acha que consegue pegá-las de mim? De corpo e de alma?

— Não! Realmente eu não consigo. Não consigo lhes dar novamente o corpo. Mas vou resgatar suas almas, de seu mundo de trevas e perdição e vou lhes dar meu reino de luz e harmonia.

— Quem você pensa que é? Um anjo? Pensa que pode me vencer!

— Você é um monstro do reino das trevas e é pra lá que você vai agora! Mas não antes de pagar cada crueldade, praticada a meus anjos, com o mesmo sofrimento com que eles passaram.

— Você veio me prender? — Riu o homem.

— Não! — Negou o menino, calmamente.

— E então?

— Mesmo que eu lhe prendesse, você acabaria por não pagar seus crimes contra meus anjos!

— Veja você! Metido a corajoso — O homem forçou os braços do menino, mostrando-lhe que estava preso. —Não passa de uma frágil criança, acuada sob meu poder.

— Corajoso... Pode ser! Frágil criança... Acuada em seu poder? — Riu levemente Regis — As aparências podem enganar.

— O que acha que fará comigo? — Ironizou o homem segurando firme os pulsos amarrados do menino. — Não é cadeia! O que é então? Manicômio?

— É o que aconteceria! Você preso, seria considerado psic... Louco! Iria parar em um mani... hospital... por alguns anos, depois se tornaria livre e voltaria a violentar anjinhos inocentes.

— Em meu reino, costumo usar apenas crianças puras de coração. Para isso, elas não podem ter mais do que sete anos de idade. Você já passou dessa fase, mas como também é puro, farei uma exceção.

— O que sentiria, se a maldade que fez contra meus anjos fossem praticadas contra seus filhos?

— Meus filhos? — Ironizou o homem. — Estou preparando uma cerimônia especial para eles. Mas não tão especial igual a que estou planejando pra você.

O homem puxou de uma navalha muito afiada, ameaçando cortar o peito do menino. Este, calmamente, franziu o lábio esquerdo e aquele homem, virou a lâmina afiada contra sua própria garganta, em grande esforço para evitar o corte fatal e assim sendo, antes que conseguisse cortá-la, deixou a Lâmina cair no chão e se afastando gritou para o menino:

— Mentalista hipócrita! Acha que consegue me dominar com o poder de sua mente vã? Vou tomar seu sangue e de sobremesa comer sua carne, depois vou carregar sua alma pro meu reino!

— Devo advertir que meu sangue e minha carne tem gosto de fel!

— Pra mim, tem o gosto doce do néctar dos deuses!

— Se uma só gota de meu sangue cair em seu corpo fará com que queime mais do que a chama do seu inferno!

— Farei apenas um pequeno corte em seu pulso e tomarei todo seu sangue. Você vai agonizar durante muitas horas. Depois comerei sua carne crua, deixando apenas os ossos.

— Acha que sua treva tem poder sobre a luz?

— Quem você pensa que é pra me enfrentar? Um mísero Querubim? Ou um poderoso Serafim?

— Não importa do que me rotule! Contra seu reino de trevas sou mais poderoso do que uma legião de anjos e arcanjos juntos!

— Você se esqueceu que também sou anjo?

— Anjo do demônio! Como te chamas em seu reino?

— Lúcifer!

— Hipócrita mentiroso! — Gritou o menino, fazendo careta. — Se Lúcifer, apenas se aproximasse de ti, com certeza morreria incinerado.

— No reino de seu Criador, eu era considerado “O magnífico”! Eu era o mais belo e mais poderoso de toda uma legião de anjos. Fui expulso por culpa dos homens da Terra, mas comigo carreguei um terço de todos os anjos do céu.

— Se você fosse realmente o demônio, eu te exorc... te libertaria; mas é apenas um psico... um louco cruel e impiedoso, então lhe mandarei ao reino das trevas, ao qual tanto idolatras.

O homem apanhou a navalha no chão, voou sobre o menino amarrado e dominando-o, cortou-lhe a artéria do meio do antebraço esquerdo, fazendo com que este gritasse forte em lágrimas desesperadas de dor, enquanto seu sangue jorrava em bica sobre a mesa; então, imediatamente avançou de boca, sugando-lhe este sangue... Mas... De repente soltou um brado tão horrível, que nem um ser humano ousaria soltar, saltando furiosamente para trás, com o rosto ardendo em chamas.

Em alguns segundos conseguiu controlar as chamas, mas ficou com o rosto um pouco deformado.

— Não diga que não foi avisado. — riu levemente o menino entre as lágrimas.

Regis levantou os pulsos, se desprendendo com facilidade das correias que o amarravam nas argolas, então se levantou sobre a mesa e saltou para o solo.

— O menino é mágico! — riu o homem com ironia. — Quanto mais difícil mais saboroso tornará seu sangue!

— Ainda quer saboreá-lo? — Ironizou o menino colocando a mão direita sobre o ferimento do braço esquerdo, fazendo com que desaparecesse imediatamente.

— Mestre dos mágicos — riu o homem.

Regis, calmamente sentou-se sobre uma velha cadeira e perguntou:

— Por que massacraste meus anjos com violência e crueldade?

— Para lhes dar um mundo eterno.

— Um mundo na escuridão do inferno?

— Um reino eterno.

— Cortaste o peito de meus anjos; eles ainda vivos, arrancaste-lhes o coração e bebeste todo seu sangue...

— Você sabe das coisas — riu sarcasticamente o homem. — Mas teve mais!

— Castraste um anjinho cortando-lhe os genitais e deixando-o sangrar até a morte terrena; sugaste-lhe o sangue, deixando-o agonizar em prantos por mais de duas horas...

— Meus anjos já não sofrem mais — riu o homem. — Foi um mal necessário.

— Sua crueldade não terá perdão, nem dentro do reino de Satanás!

— Foi apenas um sacrifício para meu deus! O sangue de sete anjos para minha imortalidade.

— Pagarás no inferno por toda crueldade praticada a estes sete anjos. Em cada dia de sua eternidade sofrerá as mesmas dores com que meus anjos sofreram aqui na Terra.

— Já lhe disse que foi um sacrifício necessário!

— Vou resgatar meus sete anjos e transformá-los em uma legião.

— De Querubins?

— Meu reino não se mede assim!

O homem caminhou em direção ao menino, que, calmamente se levantou e encarando-o insinuou:

— Por que vendeste sua alma que meu Pai lhe consagrou, ao rei das trevas?

— Minha imortalidade — riu.

— Sua imortalidade será em tal reino, a partir de agora.

— Uma mísera e frágil criatura terrena acredita que tem poderes de derrotar o mais poderoso dos anjos do Céu?

— Você nunca foi anjo de nenhum céu! — O rosto do menino se transformara em horrenda face de ódio e revolta. — Se vendera a Satanás em troco de sete almas inocentes, mutilando-os e matando-os sem um mínimo de piedade.

Regis começou a caminhar por aquele galpão. O homem passou a segui-lo de longe. Como ele era bem maior e andava rápido, se aproximava com muita rapidez, então o menino passou a andar muito rápido, quase correndo e por caminhos que, embora fosse a primeira vez que passasse, parecia conhecer muito bem.

Depois de perseguição por quase todo o galpão, Regis passou devagar sobre algumas tábuas consideravelmente podres, parando um metro depois. O homem, andando rápido pisou sobre as tábuas, que não suportando seu peso quebraram, fazendo com que ele caísse em um fosso largo e profundo. Durante a longa queda, ele foi sendo estraçalhado por diversas estacas de madeira pontiagudas, que estavam de pé sobre o grande fosso, sem, contudo chegar ao fundo, pois ficou preso às estacas de madeira, muito ferido e agonizando, enquanto seu sangue era jorrado como chuveiro para o fundo daquele fosso.

Alguns minutos se passaram e um vulto negro muito grande, em forma de sombra desfigurada, apoderou-se daquele local e adentrou ao fundo do fosso, recolhendo para si tal espectro daquele seu servo, demônio e admirador do mau e se afastando tão rápido quanto chegou.

Um campo de luz e de beleza incomparável brilhou por todo aquele velho galpão e no canto próximo a Regis, anjo Regis estendia os dois braços, recebendo em leve sorriso sete anjinhos inocentes, que eram então resgatados das trevas para brilharem em reino Celestial.

Caminhando sozinho de volta a estação rodoviária da cidade, Regis foi alcançado por sua mãe, que apavorada por não ter encontrado o filho em casa e sabendo seu destino teria ido lhe procurar.


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Notas finais do capítulo

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