Menino anjo escrita por Celso Innocente


Capítulo 12
Querido papai




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Quase uma hora daquela mesma tarde, Rafael, branco, cabelos negros, bem penteado, quase trinta anos de idade, vestido em traje social, com calça negra e camisa bege, acabara de sair do restaurante onde almoçara, no centro da cidade, se dirigindo a seu carro Fiat Palio Adventuri, preto, estacionado ao lado esquerdo da Rua Saldanha Marinho.

Abriu a porta normalmente, do lado do motorista e assentou-se ao volante, tendo imediatamente uma pequena surpresa, ao encontrar sentado no banco do passageiro um menininho pequeno.

— Quem é você moleque? — Se espantou o homem. — O que está fazendo em meu carro?

— Precisamos ter uma conversa de macho pra macho! — advertiu-o o menino, fazendo gesto com o dedo.

— Oh machão! — Ironizou Rafael.

— Talvez eu seja mais macho do que pareço.

— Quem é você? Como entrou em meu carro?

— Entro até dentro de você, se preciso for!

— Sai de mim meu! O que você está fazendo em meu carro?

— Jura que não me reconhece?

— Nunca o vi mais...

De repente, antes de completar a frase, percebendo no menino sua própria fisionomia em tamanho miniatura, insinuou:

— Você é... Meu filho?

— Nãããão! Hipócrita! — Gritou o menino. — Filho é algo muito sagrado! É uma benção Divina a qual você nunca terá!

— Pois não é o que parece! — Gracejou Rafael. — Foi você quem invadiu meu carro e veio me dizer que é meu filho.

— Sou o filho de uma mulher, que quando era apenas uma criança ingênua, se entregou a um cafajeste, que só queria diversão erótica e quando soube de minha existência a abandonou e foi contar a seus machos que já podia fabricar um filho!

— Menina idiota. Já arranjou outros... Machos?

— Depois daquela maldita noite com você, eu sou o único macho que minha mãe tem! E assim mesmo será por pouco tempo— respondeu o menino, faiscando de ódio.

— Por quê? Você vai morrer?

— Eu não! Mas você já está morto!

— Sai de mim moleque! — protestou Rafael. — Sou jovem e ainda tenho muito o que divertir.

— Destruindo outras mulheres ingênuas? Ou em noitadas com outros machos?

— Saia fora de meu carro! — Gritou o homem. — E faz favor de nunca mais me procurar!

— Jamais me reencontrará! — Abriu a porta do carro, o menino.

— O que pretendia vindo dentro de meu carro?

— Ver se você tem coragem de me encarar!

— Por que não teria? Quantos anos você tem? Doze!

— Se souber fazer contas saberá que tenho apenas nove. Ou se esqueceu da noite de diversão em que destruiu a vida de uma mulher que só estava começando a sonhar?

— Sua mãe era uma imbecil!

— Não fale... assim... de minha... mãe! — Gritou o menino, faiscando de ódio. —Por que pelo menos não usou camisinha?

— Você tem que me agradecer — ironizou o homem. — Você não teria nascido!

— Mas minha mãe teria uma vida! Um futuro!

— Ouça aqui moleque, eu também não quero, mas eu e você queiramos ou não, você é meu filho...

— Não sou! — Negou Regis franzindo o nariz e a boca. — Sou filho de minha mãe com uma gota do esperma de um crápula, em mera noite de diversão erótica!

— Erótica... Esperma... — riu o homem. — Avançadinho pra sua idade! Você sabe o que é isso? Seu corpo já produz isso?

— Ainda não chegou a minha hora! — Calou-se por um momento e profanou. — Mas a sua... Já acabou!

— Que isso!

— A partir de hoje sua máquina de diversão erótica pifou!

— Sou jovem e saudável. Tenho muito que divertir na vida.

— Claro! — riu o menino. — Com outros machos.

— Outras ninfetas! — Ironizou Rafael. — Quem sabe você tenha puxado ao pai.

— Não tenho pai!

— E por que me procuraste?

— Pra ver se tinha coragem de me encarar!

— Já falou isso! Encaro até o capeta, quanto mais um pivetinho que saiu de dentro de meu ser.

— Sou mais cruel do que o capeta. Não gostarás de me conhecer de verdade.

— Como seu pai que sou vou tirar sua calça e lhe dar umas palmadas na bunda.

O menino desceu do carro e antes de fechar a porta ainda concluiu:

— Só vim lhe dar um recado, o uso errado de sua maquina de fazer filhos, esgotou sua bateria.

— Bateria a gente recarrega — riu o homem.

— Não a sua.

©©©

No grande espaço para exposição agropecuária da cidade, fora então montado um grande e luxuoso circo zoológico, com vários animais; entre eles: dois elefantes, um casal de leões, vários macacos pequenos, um rinoceronte, uma zebra e vários cavalos, incluindo quatro belos pôneis.

Era final de tarde de sexta-feira, dia da estreia do grande circo e durante manuseio, nos cuidados com os animais, houve um grande descuido por falta dos tratadores e o casal de leões, se vendo livres, acabaram escapando pelo grande pátio cheio de adultos e crianças curiosos com a beleza do grande circo.

Quando alguém percebeu a gravidade da situação, os leões, apressados, desciam assustados em sentido aos portões do evento e quanto mais às pessoas gritavam assustadas para que fechassem os portões, mais rápido os leões seguiam para a saída, chegando à avenida que margeia a rodovia, que segue para as cidades de Poços de Caldas e Campinas, virando em sentido direito, entrando na ruazinha estreita ao lado do centro de exposições e já sendo seguidos por alguns carros, que sem noção de segurança os acompanhavam, sem mesmo saber o que fazer para recapturá-los.

Quanto mais carros e pessoas fazendo barulho seguiam as feras, mais assustadas elas ficavam. As pessoas dentro dos carros gritavam para os poucos transeuntes que encontravam, para que corressem para dentro dos quintais, evitando assim provável acidente com os animais, que ainda não teriam se alimentado.

Poucos minutos depois, seguidos, inclusive pelos policiais, armados com fuzis e munição real, pois nem mesmo os donos do circo tinham munição de anestésico para dominar tais feras, que já seguiam em total alvoroço pelo bairro do Solário da Mantiqueira.

O pessoal do circo gritava a todo instante para que os policiais não atirassem nos animais. Estes, porém, comandado por um sargento, diziam que a uma leve percepção de que um humano corresse risco, eles derrubariam as feras. Estas com certeza, estavam mais apavoradas do que os humanos e corriam desesperadas, tentando encontrar o caminho de volta para suas jaulas, de onde não deveriam ter saído, ou mesmo, qualquer local seguro, o qual pudessem se proteger de tal multidão perigosa.

Regis, que ao longe, ouvira o alvoroço de carros e gritos de pessoas, saiu para a rua, indo, talvez sem saber direito, ao encontro de tal multidão alvoroçada.

— Saia da rua, moleque! — Gritou um homem que vinha no carro à frente das feras confusas.

Por que será que todo mundo gosta de chamar criança de moleque? Apesar da palavra não ser tão feia trás um significado de vadio, safado, ou arteiro.

O menino não se preocupara com o grito do homem, porém, voltou até a frente de sua casa, permanecendo junto ao portão aberto.

— Entre pra dentro agora e feche este portão, rápido, moleque!

Quando o menino viu corretamente do que se tratava, antes que pudesse ser impedido, entrou rapidamente na frente dos dois leões, que continuavam até rugindo de ansiedade. Os policiais, percebendo a tragédia que aconteceria, apontaram suas armas e antes de disparar, caiu no olhar do menino, que gritou:

— Não atire!

Seria muito tarde, se a arma, apesar de ter sido acionado uma vez o gatilho, não tivesse falhada.

Apesar da tragédia aparente, os policiais resolveram não disparar mais, pois corria o risco de atingir alguém, no vasto número de perseguidores, inclusive o próprio menino, que seria no mínimo pisoteado pelas feras apavoradas.

Mas para surpresa de todos, os animais, provavelmente cansados, diminuíram a velocidade e entraram juntos, no portão da casa do menino, que os seguiu imediatamente, fechando o portão.

Todos, inclusive os policiais, pararam diante da casa e de armas em punho chegaram até o muro, onde, para surpresa maior, encontraram o menino acariciando o pescoço das duas feras, enquanto bebiam água em grande balde de plástico, sob uma torneira de jardim, ligada.

Alguns minutos depois, acompanhados por uma multidão, principalmente funcionários do circo e policiais, Regis seguia montado sobre o leão, segurando sua juba, como se fosse um dócil pônei, seguido calmamente pela leoa, em direção ao grande circo, onde foram colocados normalmente em suas jaulas.


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Notas finais do capítulo

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