Menino anjo escrita por Celso Innocente
Notas iniciais do capítulo
Ah! Esse pequeno anjo com jeito de capetinha!
Poucos minutos depois, após seguirem por uma estrada esburacada, sem asfalto, pararam e desembarcaram em uma grande casa de chácara, entrando imediatamente para seu interior, onde, fazendo uso de um cadeado de tamanho médio, trancaram a porta por dentro.
— Onde vamos soltar este pivete? — Insistiu o homem moreno.
— Ele vai ficar conosco... por enquanto!
— Ah, não vai mesmo! — Negou o moreno. — O que a gente não precisa aqui é de um pivete!
— Ele vai ficar! Até que a gente resolva o que fazer!
— Já sei o que devemos fazer — decidiu o homem mais alto. — Você não deveria ter arrastado este moleque pra cá!
— Não pensem besteira — insistiu o homem de cabelos castanhos. — Não precisamos pôr as mãos no menino.
Voltou-se ao menino e insinuou amigavelmente.
— Você ficará conosco um tempo, depois te devolvo. Ninguém fará nada com você. Tudo bem?
— Está tudo bem! — concordou calmamente o menino. — Não tenha medo. Tudo vai se resolver.
Todos os homens riram juntos.
— Estão rindo de mim? — Perguntou sério, o menino.
— Não se preocupe. Piada boba!
Regis segurou a mão do homem e para sua surpresa, disse:
— Mateus! Por que tem que ser assim?
O homem se apavorou e se virou para os demais:
— Já não combinamos de não falar nosso nome em público?
—Viu o que aprontou? — Insistiu o homem mais alto. — Esta coisa pode acabar muito mal!
— Não teriam coragem de matar uma criança! — Exclamou Regis, muito sério.
— Ninguém falou em matar uma criança! — Negou este homem.
— Pensou — insinuou o menino.
— Até quando vamos manter este moleque conosco?
— Até eu convencê-los a irem pra cadeia! — foi incisivo o pequeno.
Todos voltaram a rir.
— Ninguém vai pra cadeia, menino! — Negou Mateus.
— Esta é a melhor opção — ironizou Regis.
— Você tem medo da gente? — Perguntou-lhe o homem de face com sorriso.
—Não! Cachorro que late não morde.
Todos riram.
— Não deviam rir de coisa tão séria! Joseph, seu sorriso é nervoso.
— Quem lhe disse meu nome? — Ficou ainda mais nervoso o tal homem de sorriso bobo.
O homem mais alto se aproximou, colocou as mãos sobre o braço do menino e perguntou:
— Você é vidente?
— Não sou! — Pensou um pouco e prosseguiu — Reinaldo... Sou apenas alguém que veio pra lhes convencer a irem em segurança pra cadeia.
— Cadeia, moleque! Você está me deixando muito nervoso. Já me decidi que você não pode mesmo sair daqui!
— Não sairei.
— Amarrem este moleque na cadeira! — Ordenou Reinaldo com voz de mentor. — Ele vai ficar com a gente!
— Nem precisam me amarrar — insistiu Regis.
Mas ele foi amarrado bem apertado naquela cadeira e enquanto os homens foram separar o dinheiro em partes iguais ele ainda ironizou:
— Não se esqueçam de separar a minha parte.
— Este moleque não é moleque! — Reclamou Reinaldo, nervoso.
O outro homem, o qual Regis ainda não sabia o nome, apanhou seu revólver calibre trinta e oito e insinuou nervoso:
— Vou estourar a cabeça dele!
Dirigiu-se ao menino e grudando firme em sua garganta o especulou irado:
— Quem você acha que é? Um anjo de Deus?
— Se eu fosse Deus ou um de seus anjos, você poderia apontar esta arma pra minha cabeça e despedaçá-la com um tiro, porque o livre arbítrio em que eu sendo Deus teria criado pra você lhe permitiria interferir em meu próprio livre arbítrio. Porém... não tente fazer isto... pois você não gostará das consequências.
O homem, desorientado, praticamente enfiou o cano da arma dentro da boca do menino e até rangendo os dentes, nervoso, chegou a forçar o gatilho.
— Está sentindo o gosto desse ferro, moleque? Não gostará do gosto do quem tem dentro dele!
De repente, lentamente tirou a arma da boca do menino e a levantou até sua própria garganta, onde, tremendo muito, ainda forçava o gatilho, quando o menino gritou:
— Basta!
O homem soltou a arma, que devido o efeito gravitacional da Terra, caiu imediatamente ao solo.
Os demais parceiros arrastaram tal homem e o obrigaram a continuar na separação do dinheiro. Notas de cem e cinquenta Reais.
Ao final, noventa e sete mil Reais para cada um dos quatro integrantes. É claro que não dividiram com o novo integrante.
Todos, inclusive Regis, se alimentaram normalmente durante aquele dia e à noite o levaram a um quarto, onde Mateus lhe disse:
— Não que quero lhe fazer mal, mas preciso que entenda que tenho que mantê-lo amarrado. Tenho que dormir e apesar da porta trancada, não podemos correr o risco que fuja, ou nos cause nenhuma surpresa.
— Não se preocupe — pediu o menino. — Não posso fugir. Não enquanto não convencê-los a irem para a prisão.
— Ninguém irá para a prisão e ninguém vai ferir você!
— Pode tirar a venda de meus olhos? Está machucando!
— Desculpe — pediu o homem ajeitando a venda. — Para sua proteção e... nossa, é melhor que fique com ela.
Regis balançou os ombros.
— Logo você irá pra casa e nós seguiremos nossa rotina — afirmou Mateus. — Nada de errado acontecerá a ninguém.
— Me deem algumas horas.
Mateus ficara realmente preocupado com as palavras do corajoso menino. Ele temia não estar lidando com uma criança, pois sabia que o natural de uma criança de oito ou nove anos era estar chorando desesperada, ao passo que Regis, até ironizava da atitude dele e seus companheiros. Mas, enfim, amarrou o menino pelos dois braços e pernas sobre uma cama e mantendo-lhe os olhos vendados, o deixou dormir assim, enquanto ele mesmo e Joseph dormiam em outras duas camas, no mesmo quarto.
Quando, praticamente juntos, os quatro bandidos apareceram na sala na manhã seguinte, encontraram Regis sentado sobre o sofá, desamarrado e embora ainda de olhos vendados, assistindo ou sei lá, pelo menos ouvindo a televisão ligada.
— Vocês deixaram esse menino solto? — Cobrou Reinaldo. — Isso aqui tá parecendo um parque de veraneio!
— Poderia ser — ironizou Regis. — O local é muito bonito!
— Quem desamarrou você, menino? — Perguntou-lhe Mateus.
— Quem sabe você não tenha me amarrado direito!
— Amarrei direito sim! Quem soltou você? Quem foi?
— A temperatura que cai durante a noite pode afrouxar os nós das cordas — explicou Regis.
— Como você se chama? — Insistiu Mateus.
— Não é importante.
O único homem, o qual Regis ainda não sabia o nome, foi até um armário alto e voltou a seguir reclamando preocupado:
— Onde foi parar o meu dinheiro?
Os outros homens correram a seus esconderijos e tendo também uma surpresa, se voltaram contra o menino.
— Menino — chamou nervoso Joseph. — Você escondeu nosso dinheiro?
— Estou de olhos vendados. Não veem?
— Pra quem está desamarrado olhos vendados é uma farsa! — Cobrou muito nervoso Reinaldo, apontando o revólver para a cara do menino. — Se você continuar se fingindo de gênio estouro sua cara e acabo com isso.
— Estou de olhos vendados. Não consigo sentir sua reação.
Reinaldo se aproximou mais do menino, esfregou o cano do revólver em sua garganta e nervoso prosseguiu:
— Agora você está sentindo minha reação? Onde você colocou meu dinheiro?
— Não acha cruel esfregar um revólver gelado no pescoço de uma criança indefesa? — Questionou-lhe o menino, deixando dúvidas se estava nervoso ou com ironia.
— Quando eu apertar o gatilho ele deixará de ser gelado!
Mateus afastou a arma do amigo e disse:
— Como pode ter sido ele? O dinheiro estava escondido no alto!
— Não sei! Este moleque tem parte com o capeta! E eu vou mandá-lo pra lá!
— Calma — pediu Joseph. — Se foi ele quem escondeu a gente vai encontrar.
— Será que não foi um de vocês? — Ironizou o menino. — Será que alguém entre vocês não me desamarrou pra despistar sua traição?
Todos se entreolharam. Era uma boa hipótese. Talvez a mais viável. Uma traição entre companheiros. Realmente o menino não poderia ter se desamarrado sozinho e encontrado o dinheiro escondido em quatro lugares distintos. Mas eles eram amigos, parceiros de tantas missões juntos, nunca se traíram; não iriam fazer agora.
— Coloque este moleque amarrado na cama! — Ordenou Reinaldo. — Bem amarrado! E se ele sair de lá! Juro que eu... Corto o saco dele!
Mateus obedeceu à ordem do companheiro, amarrando o menino bem apertado, pelos pés, braços e corpo.
— Precisa tanto? — especulou choroso Regis.
— Precisa tanto! — gracejou o marginal.
E então, passaram quase o dia todo em busca do dinheiro desaparecido. O refém permaneceu amarrado na cama e não recebera nenhuma alimentação e nem mesmo fora ao banheiro, para lavar os dentes ou outras eventuais necessidades.
Por varias vezes, durante todo o dia, um ou outro dos marginais adentravam ao quarto e insistiam com o menino, sobre o local que porventura ele teria escondido o dinheiro, sem, contudo o maltratar além das correias apertadas. Regis, porém, sempre respondia com muita ironia a todas suas interlocuções.
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Ah! Como um comentário me deixaria feliz!