II
06:50

O DIA MAL TINHA COMEÇADO, MAS O BARULHO SIM. O despertador novamente encheu o quarto de Jack com o barulho perturbador, que acabou fazendo ele desligar violentamente o aparelho com uma super mãozada.
— Filho, hora de acordar. — A voz feminina pairava do outro lado do cômodo, na porta. Ela estava em pé, e as roupas estavam em cima da cabeceira.
— Hora de acordar? Geralmente meu despertador começa a apitar as 07 e 50. — Jack bufou, soltando um suspiro de raiva.
— Bom, eu ajeitei seu despertador pra você ter tempo de tomar seu café da manhã. — Ela falou.
— Ah. — Ele mudou a expressão para normal e inspirou o ar. — Você fez waffles?
— Sim, com cauda de caramelo e chocolate. E tem achocolatado e...
Ela foi interrompida, porque quando percebeu, o filho já estava descendo pelas escadas desesperadamente para a cozinha.
A mãe desceu alegre, com um sorriso no rosto. Jack já comia waffles com o pai do outro lado da mesa, um homem alto, muito musculoso, barbudo e calvo, que estava lendo um jornal e parecia bem preso ao que se passava.
— Seu primeiro dia foi bom? — O homem perguntou.
— Mais ou menos. Foi normal, eu acho. — Jack respondeu para o pai.
— Fez alguma amizade?
— Ah, sim. Com uma garota, ela é...
A mãe interrompeu ele, se juntando a mesa, ao lado do pai.
— Futura namorada? — Ela disse.
— Não. Ela é minha colega da aula de química, eu mal a conheço.
— É assim que as coisas começam. Lembra que sua mãe e eu nos conhecemos em um jogo de boliche e... — O pai começou.
— E depois marcaram de se encontrar pra competir quem fazia mais pontos e depois se apaixonaram? Tá, eu sei. — Jack falou, interrompendo o rapaz. — Mas é diferente. Ela é minha colega de classe, eu não a conheço e tem um cara que diz que ela é namorada dele.
— Tem outra que você gostou ou ele está te impedindo? Posso resolver isso. — O pai disse, estalando os dedos com as mãos fechadas.
— Não, pai. — Jack riu. — Talvez eu precise dos seus serviços mais tarde, se não acontecer o que aconteceu na terceira série. — Ele esboçou um sorriso, puxando as roupas e subindo as escadas para o banheiro. Tomou banho e trocou as roupas, pegou o onibûs e foi para a escola. Já estava na sala de aula. Era a aula de inglês de novo. O professor que tinha sido simpático no outro dia: Charlie Hastings, estava sentado em sua cadeira giratória com um olhar amigável para o garoto. Ele sempre o esperava porque ele vinha antes da aula começar devido aos valentões. E isso era bom, eles conversavam sobre inglês, seus termos e sobre literatura inglesa e britânica, trocavam livros e Hastings já o via como um futuro e excepcional professor ou escritor famoso.
— Aliás, o que vamos estudar hoje? — Jack falou, puxando um livro que o professor tinha o dado.
— Vamos entrar a bordo da literatura, que vai ser a matéria principal nesse primeiro semestre. Vou ensinar sobre a bilheteria. — Respondeu.
— Ah, sei. Vai ser moleza então. Eu estudei bilheteria no primeiro ano passado e adorei mentalmente a autoria de Os Desordenados. — Comentou.
— Você leu esse livro? — Charlie falou, boquiaberto e impressionado. — Temos um futuro grande nome da literatura aqui. Você é de longe, um prodígio literário.
Jack riu com o elogio. O sinal tocou e uma multidão enorme entrou pela sala, se espalhando. O garoto valentão do dia anterior tinha se alojado ao lado dele. Drake, era o nome do babaca.
A aula passou. Drake ficou cutucando o ombro de Jack, mas ele ignorou e prestou atenção na aula e fez os exercicícios. E isso foi pela maioria das aulas: história, física, filosofia, sociologia. Em sociologia, Jack chegou a mudar de lugar e Drake mandou um olhar de raiva para ele. Agora que sociologia tinha acabado, faltava química. Jack gostava da última aula, química, por causa de uma de suas únicas amigas: Isabella. Ele foi para a sala rapidamente, percebeu que Drake o seguiu na mesma velocidade e bateu em um armário perto dele. Lians ignorou novamente, entrou na sala e se sentou. Isabella chegou ao lado dele logo após.
— Oi. — Ela disse, dando um sorriso.
— Oi. — Ele falou, olhando para Drake que estava localizado atrás deles. — Seu colega está bem perseguidor hoje. — Ele comentou.
— Vou falar com ele hoje, relaxa. — Ela disse.
A professora Sam chegou na sala e começou a dar a aula. Estavam aprendendo sobre a reprodução e multiplicação artificial feita por outros métodos de uma única célula.
Eles estavam averiguando agora a célula se multiplicando usando líquido fluído gelado.
— Qual a solução? — Jack perguntou.
— Unófâse. — Ela disse, dando o averiguador (microscópio) químico para ele.
— O.k. Minha vez. — O loiro pegou, trocando o disco celular e colocando outro. Pingou o líquido fluído e colocou na vista do microscópio, olhando.
— No meu deu unófâse e uma célula estranha. Multiplicou a partir da unôfase antiga e da nova, mas eu não sei qual é. — Falou.
— Deixa eu dar uma olhada. Talvez eu saiba. — Isa riu, puxando o telescópio químico para si.
— Ah. A terceira célula multiplicada é uma prófâse. Temos uma triplicação celular devido a irregularidade do disco. — Disse, rindo.
— Entendi. Mas acho que isso é legal, porque nenhuma outra pessoa achou. — Jack disse.
— É, você tem razão. — Ela soltou uma risadinha. Drake soltou um suspiro para eles.
A professora Sam estava passando pelos assentos para verificar a multiplicação celular. Ela parou nos dois, Jack e Isa e ficou impressionada. Mas ao mesmo tempo, com desgosto nítido no rosto, puxou uma folha com um A+ escrito em azul e colocou na mesa deles. Andou para a de Drake e viu que não tinha nada, reclamou e toda a sala riu. Deu uma folha com um F vermelho.
— Ei. Hoje vai ter uma aula de história extra no auditório que vai dar ponto. Quer ir? — Ela disse.
— Eu não sou muito fã de aulas extras, sabe. Estudo a mais... eu como todas as outras pessoas, tento evitar. — Ele falou, rindo. Ela riu também.
— Mas eu vou. — Finalizou.
— Amanhã vai ter uma festa de comemoração na quadra. Vou te apresentar minhas amigas lá, vê se aparece. — Ela pegou os materiais e guardou na mochila florida. Drake soltou outro suspiro de raiva e saiu, se juntando ao grupo de valentões jogadores de futebol americano, indo para o outro lado. Jack tinha se livrado deles até amanhã. Drake não devia ser MESMO um fã de aulas extras.
Na recepção perto da saída, tinha uma porta azul ao lado da porta vermelha da sala de detenção. O ar estava frio perto dali, causado pelo ar condicionado. Eles entraram. A sala era escura e tinha várias fileiras de cadeiras parecidas com a de cinema, com um grande telão e um palco perto dali. O professor Hugo e a professora Gabbe estavam dando a aula, vestindo roupas sociais padronizadas.
— A aula de história é uma recepção ao tema que iremos abordar nesse ano todo. A mitologia grega. — Ela falou.
— E essa primeira aula, falaremos dos três irmãos principais. Zeus, Poseidon e Hades. — Agora, Hugo que falara. Jack se sentiu um pouco desconfortável e sentiu um arrepio no corpo todo.
— Após a derrota dos titãs, os três irmãos se decidiram em uma aposta. O que ficasse com a maior parte, no caso, o maior graveto, ficaria com o céu. O segundo graveto, médio, ficaria com o mar. E o terceiro graveto, pequeno, ficaria com o mundo inferior. O submundo. — Explicou.
Jack levantou a mão instantâneamente, como se fosse um robô.
— Diga? — Hugo falou.
— Professor... a informação que o senhor passou, está errada. — Lians disse. — Zeus tinha brigado com Hades após a derrota dos titãs e quando se decidiram, Zeus com sua ganância e egoísmo, deixou Hades com o submundo por causa disso. Poseidon que era basicamente o neutro dos irmãos, ficou com o mar e Zeus, egoísta, ficou como o rei dos deuses. — Ele disse, sem gaguejar, como se soasse em certeza absoluta. Alguns falaram: "ah, senta aí, nerdão" "você não sabe de nada", mas mesmo assim, ele ainda ficou em pé esperando resposta. Hugo pegou o celular e pareceu pesquisar algo. Isa percebeu que a postura de Jack tinha ficado estranhamente reta, como se ele tivesse esquecido sua timidez e ficado totalmente sério. Por um segundo, ela pensou ter visto os olhos azuis-verdes de Lians ficarem negros como a noite.
— Você tem razão. Pesquisei aqui, e é a informação certa. Mas ela ainda está em grego, nunca foi transliterada do Hesíodo. Como soube disso? — Perguntou o professor, curioso.
Jack pareceu ter voltado em si, se sentou e ficou um pouco tímido.
— Bom... eu gosto de mitologia grega. — Respondeu, agora em um tom mais baixo do que antes.
— Continuando e corrigindo, Zeus com seu egoísmo e ganância, pela briga com seu irmão Hades, fez ele ficar com o submundo. — Ele continuou falando.
Isa apertou o ombro dele e sorriu.
— Jack, isso foi incrível. Você é um nerd total. — Ela falou. Jack corou.
— Acho que sim. — Concordou ele.

Depois da aula extra, Jack ganhou seis pontos no primeiro semestre. Se despediu de Isa e pegou o ônibus para casa. Não tinha sido tão difícil aquele dia.